Mostrando postagens com marcador Paranóia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Paranóia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, julho 06, 2016

Motivação, alquimia e rebelião: 7 cenas sobre demissão no cinema


Por decurso de prazo e fim do prazo de validade, depois de 30 anos lecionando e pesquisando na Universidade esse humilde blogueiro foi demitido. Para espiar os demônios internos, nada melhor do que dar uma olhada em como o cinema representa esse divisor de águas na vida de qualquer um. Representações alquímicas, mensagens motivacionais, meta-demissões, cruel antropologia corporativa e mergulhos nas águas profundas da rebelião, com direito a automutilação e chantagens, estão nas sete melhores sequências de demissão no cinema recente selecionados pelo “Cinegnose”.

sexta-feira, julho 01, 2016

Nikola Tesla e a paranoia do detetive em "The American Side"


Onde foi parar o caderno de anotações do físico sérvio Nikola Tesla, com segredos capazes de mudar o mundo? Está nas mãos de agências do Governo? Corporações já aplicam seus segredos? Ou esses segredos já são conhecidos por sociedades secretas como o Bohemian Grove? Ao investigar um caso corriqueiro de infidelidade conjugal, um detetive barato tropeça por acaso numa das maiores conspirações do século XX. Esse é o filme “The American Side” (2016) onde nos revela como o personagem do Detetive sofreu profundas alterações desde Sherlock Holmes de Conan Doyle: enquanto Holmes contava com a lógica dedutiva, o detetive atual tem unicamente ao seu lado a intuição, a experiência e paranoia que comprovam que a realidade em muito supera a ficção. Por isso esse traços pós-moderno vão aproximar o Detetive da mitologia gnóstica. Mais um filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

domingo, junho 26, 2016

A paranoia gnóstica no filme "Luciferous"


O projeto cinematográfico de um casal rodado em seu próprio apartamento em Toronto, Canadá. Junto com sua pequena filha, uma família real atua como uma família ficcional em um suposto "found footage" (vídeo achado como se fosse real) encontrado e anexado como prova das investigações de um crime que aconteceu. Mas essa é uma sinopse simplista (apenas uma versão) do filme Luciferous (2015) onde uma família real é manipulada por alguma força sobrenatural que parece atuar no apartamento, levando a família a uma lenta desintegração. O filme explora temas gnósticos clássicos como a paranoia, memória e a confusão entre ilusão e realidade. O que torna tanto os protagonistas como os espectadores em detetives que tentam compreender as pistas falsas e estranhas metalinguagens ao longo do filme. Assim como no arquétipo contemporâneo do Detetive, a resolução do enigma pode se voltar contra o próprio detetive que tenta achar a verdade. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Gnostic paranoia in the film "Luciferous"


A cinematographic project produced by a couple, who shot the film in their own apartment in Toronto, Canada. Along with their little daughter, a real family acts as a fictional family in a so-called “Found Footage” film... (using video footage that appears to be real), found and attached as evidence of a crime investigation. But this is a simplistic synopsis (only one version) of the film Luciferous (2015) where a real family is manipulated by a supernatural force that appears to exist in their apartment, one that slowly tears the family apart. The film explores classic Gnostic topics such as paranoia, memory and confusion between illusion and reality... turning both actors and film viewers into detectives who try to understand the false clues and strange metalanguages throughout the film. As is the case for the contemporary archetype of the Detective, the act of solving the puzzle can lead to an attack on the detective himself, the one who tries to seek the truth. The film was suggested by our reader Felipe Resende.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

O Universo foi criado por alguém que não nos ama em "Christmas On Mars"


Um filme estranho, trash e psicodélico que confirma que o rock é um gênero musical que sempre retirou suas energias da mitologia gnóstica contemporânea: Detetives, Viajantes e Estrangeiros sempre vagando em nowhere – o Espaço, o Deserto, o Lugar Nehum como símbolos da condição humana, assim como o Major Tom de músicas de David Bowie. Dessa vez no filme “Christmas On Mars” (2008, escrito e performado pela banda de rock indie “Flaming Lips”) vemos Major Syrtis tentando superar uma crise de niilismo, psicose e paranoia que se abateu sobre a tripulação de uma base marciana através da organização de uma festa natalina. Mas terá que superar a confrontação com a “realidade cósmica” – que o Universo foi criado por alguém que não nos ama.

“Ele está vivendo a terceira etapa de um episódio psicótico. Está observando algo que realmente não está ali... isso é causado pela confrontação com a realidade cósmica”, explicam personagens que habitam uma colônia em Marte sobre o comportamento do Major Syrtis – está parado, catatônico, olhando através de uma das janelas da colônia dois técnicos trabalhando no solo marciano.

Christmas On Mars inicia com o pensamento do Major Syrtis ao observá-los: “parecem duas mariposas lutando pela sobrevivência... nunca conheceram uma força do Universo que lhes mostrasse piedade”. A “realidade cósmica” para a qual o Major Syrtis catatonicamente olha é “uma estranha máquina onde todos estão presos”. O Espaço, para onde jamais o homem deveria ter ido porque lá são destruídas todas as nossas crenças internas. Onde a Criação não demonstra a menor piedade ou compaixão.

domingo, dezembro 13, 2015

Curta da Semana: "The Box Man" - somos todos homens-caixa?



Um curta inspirado em um livro surrealista do escritor japonês Kobo Abe. “The Box Man” (2003) é uma animação em stop motion que mistura elementos do cinema “Noir” com o Fantástico: em uma chuvosa cidade sombria um homem encontra uma misteriosa caixa de papelão. Algo ou alguém o observa do interior da caixa através de uma fenda. “The Box Man” reflete a atual cultura da paranoia e do medo criada por nós mesmos e como a figura da caixa se transformou em uma estratégia para supostamente nos protegermos.

domingo, dezembro 06, 2015

Curta da Semana: "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais


O que você faria se encontrasse no seu local de trabalho uma folha com um círculo preto que revela ser um buraco tridimensional? Você seria dominado pela curiosidade metafísica ou pela possibilidade de ganhos pessoais? Essa é uma das leituras possíveis do curta inglês “The Black Hole” (2008). Com um afiado humor negro, o curta mostra o quanto opressivo pode ser a atmosfera da verdadeiras Matrix corporativas que são os escritórios atuais. Tão opressivas e amorais que são capazes de nos fazer passar batidos diante de um evento potencialmente além da imaginação.

segunda-feira, novembro 16, 2015

Atentados em Paris não aconteceram


Acumulação, consonância e onipresença. Esses três palavras definem a atual cobertura da grande mídia brasileira aos ataques em Paris. Ao contrário da autêntica Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental e humana em Mariana/MG com o rompimento da barragem de detritos da Vale do Rio Doce/Samarco. Por que essa diferença de tratamento? Há muitos motivos políticos e econômicos em não expor uma empresa privada anunciante na grande mídia. Mas também porque a essência do terrorismo é midiática para ser midiatizável. Os atentados em Paris foram praticamente um kit imprensa dado de mão beijada para as redações com personagens, histórias e roteiros prontos. Será que esse é o motivo da recorrência de relatos sobre a sensação de irrealidade em depoimentos de vítimas e testemunhas? E também o motivo da espiral de especulações sobre uma suposta Operação False Flag? E se os mais de 100 mortos não forem prova de que testemunhamos um acontecimento real?

Terminado o jogo França X Alemanha no Stade de France na fatídica noite de sexta-feira 13 dos ataques em Paris, os torcedores se dirigiram ao gramado à espera da autorização para deixar o local. Depois a TV mostrou ao vivo a multidão dirigindo-se aos corredores de saída. Cantavam a Marselhesa, agitando a bandeira da França e erguendo os punhos.

Certamente não era pela comemoração da vitória da França por 2 a 0. Informados pelos celulares sobre o que transcorria fora do estádio, o clima era de ódio, revolta e evidente desejo de revide contra os terroristas. Essa talvez tenha sido a imagem mais emblemática daquela noite, porque mostrou ao vivo o resultado imediato dos ataques terroristas, de conveniência política e geopolítica – com a maior população muçulmana da Europa e uma das sociedades mais divididas do continente, reforça ainda mais a xenofobia contra a atual onda de imigrantes fugidos da guerra na Síria e Afeganistão.

terça-feira, setembro 01, 2015

A reencarnação é o inferno da repetição no filme "The Scopia Effect"


Ideia central presente em diversos sistemas filosóficos e religiosos, a reencarnação muitas vezes é concebida como oportunidade de aprendizado, jornada de evolução espiritual ou simplesmente a oportunidade de uma segunda chance. Ao contrário, o filme de estreia do diretor ingles Christopher Butler, “The Scopia Effect” (2014), apresenta uma visão bem diferente: uma regressão hipnótica faz uma jovem ter acesso a partes do cérebro que contém detalhes de suas vidas passadas. E o resultado é a descoberta, da pior maneira possível, do porquê esquecemos nossas vidas anteriores. Aproximando-se de uma concepção gnóstica sobre a reencarnação e inspirado em animes japoneses, “The Scopia Effect” mostra não só como esquecemos os fantasmas não resolvidos de outras vidas, como também o esquecimento nos condena a revive-los em um eterno retorno.

quarta-feira, julho 01, 2015

Pegue a pipoca vermelha: Cinegnose atualiza a lista dos melhores filmes gnósticos


O Cinegnose apresenta a atualização dos melhores filmes gnósticos da história do cinema, que agora conta com 66 filmes. É uma atualização da lista anterior de 2013 onde constavam 41 filmes.  Atualmente esses filmes apresentam uma grande variação de interpretações da mitologia gnóstica clássica espalhado por diversos gêneros fílmicos.   Por isso, nessa atualização trouxemos uma novidade metodológica na classificação dos filmes: dividimos em subcategorias (CosmoGnósticos, PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos) e apontamos em cada filme os principais temas gnósticos abordados.

sexta-feira, abril 10, 2015

Em Observação: "Antes de Dormir" (2014) - o sono gnóstico do esquecimento

Cinema, percepção e memória têm uma longa parceria temática: se a percepção humana funciona como um mecanismo cinematográfico, como dizia o filósofo Henri Bergson, compreende-se o fascínio pelo tema da amnésia no cinema. De Hitchcook a “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004, “Antes de Dormir” (2014) é mais um filme dessa longa tradição.  Lembra o clássico “Amnésia” (2000) de Nolan – uma mulher não consegue manter as memórias por mais de um dia e diariamente acorda sem saber onde está e também sem saber quem  é o homem que dorme ao seu lado. Perda das memórias levam sempre os protagonistas à condição paranoica. A paranoia é um estado alterado de consciência que pode levar tanto à autodestruição quanto à libertação das aparências que encobrem a realidade. A paranoia pode abrir duas portas: a narcísica ou a gnóstica. E é isso que o “Cinegnose” vai conferir no filme.

sábado, fevereiro 28, 2015

Morsas e ostras mataram John Lennon?

A música mais enigmática dos Beatles aparece no maior fracasso comercial do grupo, o filme “Magical Mystery Tour” de 1967, hoje reavaliado como obra de arte ao nível do humor do grupo Monty Python ou do surrealismo de Buñuel. Inspirado no poema “A Morsa e o Carpinteiro” de Lewis Carroll, a música “I’m The Walrus” composta por John Lennon apresenta uma letra sombria, obscura e misteriosa com referências a genocídios, drogas e jovens que seriam seduzidos por uma “Morsa” que estaria levando-os para a destruição – no poema de Carroll aparecem “jovens ostras” . Será que a música foi alguma espécie de acerto de contas de Lennon com a culpa e o remorso de saber ter feito parte de uma gigantesca estratégia de engenharia social por trás da cultura pop? Em declarações dadas em uma entrevista em 1980, ele indica evidências, falando de “artesãos” que estiveram por trás dos Beatles e a ligação entre CIA e a droga LSD. Alguns meses depois, Lennon seria assassinado.

O grande e misterioso fracasso dos Beatles: o filme Magical Mystery Tour de 1967. “Beatles Mystery Tour desconcerta os espectadores”, estampava em uma manchete na primeira página do jornal Mirror da Inglaterra, dizendo que milhares de espectadores protestaram quando foi exibido na TV pela BBC.

“Bobagem sem sentido”, “lixo flagrante” e “ultrajante” foram as críticas mais leves sobre um filme que não se importava com qualquer sentido narrativo: mostrava um grupo de turistas em um ônibus que iniciava um “misterioso tour” pela Inglaterra em um ônibus panorâmico, onde “coisas estranhas começam a acontecer”, ao capricho de quatro magos performados pelos próprios Beatles que tudo observam, manipulando os acontecimentos.

segunda-feira, dezembro 29, 2014

Blog censurado pelo delírio digital do Google AdSense

Para minha surpresa, o blog “Cinema Secreto: Cinegnose” foi acusado, julgado e executado às vésperas do Natal. Acusação: disseminação de conteúdos “chocantes” de “violência”, “pornografia”, “sangue” e “atitudes repulsivas”. Pelo menos é o que disseram os robôs e scripts do Google AdSense, lembrando a elite de juízes de rua do filme “Judge Dredd” que julgava e executava instantaneamente os violadores – “veiculação de anúncio do Google AdSense foi desativada no seu site por violação do regulamento do programa”, informava o e-mail executor!. Esse será o admirável mundo novo do Google: o delírio digital dos códigos binários que, sem compreender contextos, reduzirá a realidade ao denominador comum do 0/1. Como um blog que analisa filmes e a mídia como sintomas do imaginário social de uma determinada época, poderá tratar dessa temática sem cair na “malha fina” dos onipresentes e oniscientes robôs digitais? Bem vindo à futura blogosfera “disneyficada” e pacificada em tons pastéis semelhantes à cidade cenográfica de Seaheaven do filme “Show de Truman”.

Entre um e-mail e outro na caixa de entrada na véspera de Natal, com os tradicionais desejos de boas festas, surge um com título ameaçador: “A veiculação do anúncio do Google Adsense foi desativada para o seu site”. Um estranho e-mail cujo conteúdo narra algum tipo de julgamento feita à minha revelia no qual fui acusado, condenado e executado! Isso depois de seis meses de anúncios adsense no blog.

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Série "Além da Imaginação" e a sensibilidade gnóstica atual

A comparação do episódio “Special Service” da terceira temporada da série de TV “Além da Imaginação” (1988-89) com o filme “Show de Truman” (1998) revela didaticamente com a sensibilidade gnóstica atual está por trás de adaptações dos clássicos da TV e do cinema. O episódio de 1988 inspirou  Andrew Niccol a escrever o roteiro de “Show de Truman”: enquanto no episódio original vemos uma típica ficção científica orwelliana onde a paranoia e conspirações dominam o protagonista, na adaptação de Niccol vemos esses mesmos elementos transmutados em drama e sátira social. Mas Niccol colocou algo mais: a suspeita de que o reality show não seja apenas televisivo, mas cósmico.

A postagem anterior sobre o filme brasileiro O Efeito Ilha (1994) e a possibilidade sugerida pelo diretor Luís Alberto Pereira de que Peter Weir teria “chupado” a ideia do filme para construir o roteiro de Show de Truman (Truman Show, 1998), provocou polêmica aqui no blog – clique aqui.

Como vimos, essa suspeita não procede, já que o tema do controle da privacidade que é transformado em show pela mídia são tratados de forma invertida: em O Efeito Ilha, a transmissão televisiva involuntária da vida do protagonista é tratada como “dissonância cognitiva, isto é, elemento dissonante que faz os espectadores tomarem consciência da TV como instrumento de alienação; enquanto em Show de Truman, a vida do protagonista é transformada em um autêntico reality show, como instrumento de alienação para as massas.

terça-feira, outubro 28, 2014

O humano, demasiado humano no filme "Relatos Selvagens"



O homem atual seria um Sísifo moderno? Assim como o personagem da mitologia grega, condenado a carregar eternamente uma enorme pedra ao topo da montanha, o homem estaria condenado a não encontrar Deus, sentido ou propósito na existência, a não ser encontrar a si próprio – o humano, demasiado humano. Esse é a desconcertante co-produção Argentina/Espanha “Relatos Selvagens”, seis curtos relatos de pessoas comuns diante de circunstância incomuns: situações extremas com muito humor negro (e bota negro nisso) onde acabam sendo despertados em cada um os instintos mais básicos de vingança e violência. Em falso tom de comédia, o diretor Damián Szifrón parece querer brincar com o espectador: afinal, estamos rindo do quê?

sexta-feira, junho 20, 2014

Por que Nova York precisa ser destruída?

Quantas vezes Nova York já foi destruída no cinema, literatura, rádio e TV? Monstros, alienígenas, catástrofes geológicas, climáticas, destruições provocadas por lutas de super-heróis com vilões.  Por que essa insistência das imagens de destruição da “Big Apple” na cultura norte-americana? Pode parecer uma questão supérflua de um cinéfilo diletante, mas se considerarmos que essas imagens são irradiadas para todo o planeta pela indústria do entretenimento norte-americana, passa a ser uma questão ideológica: o que na verdade Hollywood exporta para o mundo: paranoia? Motivação subliminar para a obsolescência de produtos? Ou a elaboração de um neoapocalipse necessário para a criação de uma nova religião global? Vamos explorar algumas hipóteses sobre os porquês dessa obsessão norte-americana.  

Meridth Blake, 28, vive no Brooklyn, Nova York. Ele relata uma insólita cena quando estava em uma estação do metrô: “Saí do trem e dei de cara com um pôster do filme Cloverfield com a Estátua da Liberdade decepada. Subi as escadas para, em seguida, ver o pôster do filme Eu Sou a Lenda com a ponte do Brooklin em ruínas. Pensei, ora! Outro filme que destrói Nova York!”.

Com uma diferença de um mês de lançamentos, ambos os filmes contavam as desventuras de protagonistas em uma Nova York destruída por monstros ou por epidemias. Isso foi em 2008, quando os nova-iorquinos ainda sentiam os ecos da queda das torres do WTC em 2001: “lembro-me da cena do filme Cloverfield com pessoas correndo para se esconder em uma delicatessen com poeira e escombros por toda parte. É tão obviamente uma alusão ao 11/09...”, destacou Blake - leia "Filmakers View New York as a Disaster Waiting to Happen".

sábado, abril 19, 2014

A televisão excremental no filme "Edtv"

Ao lado de “Show de Truman”, o filme “Edtv” (1999) de Ron Howard, mais do que antecipar uma TV atual onde o conceito de reality show contamina de reportagens a programas de gastronomia e decoração, anteviu uma nova função social - a “TV excremental”. Uma televisão que há muito abandonou a pretensão de ser uma “janela aberta para o mundo” para assumir um papel fisio-psicológico: processar os excrementos psíquicos. Assim como o corpo que depois de ingerir, acumular, metabolizar e produzir tem que no final excretar para manter o ciclo vital, da mesma forma milhões de telespectadores necessitam excretar fluxos psíquicos (sacrifício, disciplina, vigilância e violência) para que o ciclo se renove no dia seguinte após um dia inteiro de alimentação e trabalho para acumulação de méritos e riqueza alheia.

Desprezado pela crítica e pelo público. Esse foi o destino do filme Edtv (1999) do premiado diretor Ron Howard (Oscar de melhor diretor em Uma Mente Brilhante, 2001) que se quer chegou a ser exibidos nos cinemas brasileiros. Muitos creditaram o fato desse filme ter caído no esquecimento à coincidência de ter sido lançado no mesmo ano de Show de Truman de Peter Weir: assim como em Edtv, também antecipava a questão dos reality show que, mais tarde, se tornaria um gênero televisivo mundial.

O sucesso de Show de Truman eclipsou Edtv, mas olhando hoje percebemos que embora tratem do mesmo objeto, a proposta de discussão é bem diferente: enquanto Weir contava a história de um protagonista cuja vida foi fabricada para ser entretenimento de milhões sem ele saber, Howard quer discutir não só a questão das celebridades instantâneas produzidas pelos reality show como também os destinos da TV em um novo milênio dominado pela cultura digital em tempo real.

sábado, fevereiro 22, 2014

A miséria da estética e da linguagem do trabalhador precarizado

No passado era o proletariado, os explorados e os excluídos. Hoje temos os precarizados: trabalhadores terceirizados, estagiários, temporários e todo um conjunto de profissionais treinados espontaneamente para suas funções através da manipulação de ícones em telas de celulares e mensageiros instantâneos usados no dia-a-dia, desde o velho ICQ até o atual Skype. Participantes incautos de uma ordem que foi secretamente gestada no interior de gigantescos prédios espelhados, com o apoio de uma estética e linguagem igualmente precarizadas criadas por planilhas eletrônicas e elegantes gráficos e tabelas projetadas em reuniões onde orgulhosos gestores professam discursos que misturam efeitos de ciência, religião, misticismo e fenômenos da natureza.

“Aquele que é duro consigo mesmo também é com os demais” (Theodor Adorno)

No início foi o gerundismo dos telemarketings e SACs de empresas que invadiu a fala cotidiana. Ao mesmo tempo, imensos prédios corporativos em concreto e vidros espelhados tomavam a paisagem urbana como fossem bunkers isolados do contato com o mundo exterior por meio de seguranças privados e sistemas centrais de climatização.

E no interior desses prédios foi secretamente gestada uma nova ordem estética e linguística para dar sentido imaginário a um novo tipo de organização de trabalho: a precarização – trabalhadores terceirizados, temporários, por tempo parcial, estagiários, trabalhadores da “economia subterrânea” etc.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Filme "Resolution" faz jogo mental com o espectador

O filme Resolution (2012) é um desafio conceitual ao espectador. Em uma estimulante combinação de desconstrução metalinguística e misticismo gnóstico o filme é um verdadeiro sopro de renovação no subgênero “horror-em-cabanas-remotas” de filmes como “A Morte do Demônio”, “A Cabana do Inferno” ou “A Bruxa de Blair”. Não espere festas com jovens bebendo e fazendo sexo enquanto demônios estão à espreita para matar. Ao contrário, o filme oferece um enigmático jogo mental onde, enquanto o protagonista tenta desintoxicar um amigo viciado em crack, cresce o mistério entorno daquela cabana onde estão: será que os estranhos acontecimentos fazem parte de alguma conspiração de seitas ocultistas, de alienígenas ou apenas de traficantes? Ou a realidade é tão ilusória quanto uma película cinematográfica. A resposta pode ser mais radical do que filmes como "Matrix" e "A Origem".

Dentro da história da linguagem cinematográfica vivemos uma momento cada vez mais auto-referencial e metalinguístico. E não estamos falando de filmes de arte ou de vanguarda, mas de filmes que integram circuitos comerciais de distribuição, filmes que parecem querer desconstruir o gênero, a cultura pop e a própria linguagem cinematográfica.
Após o gnosticismo pop de filmes como Show de Truman, Matrix e A Origem onde a realidade é desconstruída a tal ponto que o protagonista não consegue mais distinguir o que é simulação e realidade, acompanhamos nesse início de século uma nova tendência de desconstrução, dessa vez do próprio cinema, onde o roteiro, produção, linguagem etc. acabam se tornando o próprio tema dos filmes.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Você sabe que é gnóstico quando...


Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011 publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano Miguel Conner, apresentador do programa radiofônico online Aeon Bytes Gnostic Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude mental gnóstica.

Essa lista, ao mesmo tempo séria e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum, político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?

Por isso atraiu o ódio das religiões e escolas filosóficas institucionalizadas: tal ceticismo não funciona muito bem com hierarquias e estruturas de poder, ainda mais aquelas cujos mandatários teriam sido nomeados pelo próprio Deus.

Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review