segunda-feira, janeiro 30, 2017
I Ching, Cinema e mundos quânticos na série "The Man in The High Castle"
segunda-feira, janeiro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a relação entre o milenar livro-oráculo "I Ching", o Cinema no século XX e a hipótese dos Múltiplos Mundos da Física
Quântica? A busca dessas conexões é o desafio para o espectador que assiste à
série da Amazon Studios “The Man In The High Castle” (2015 - ) livremente
inspirado no livro do escritor sci-fi gnóstico Philip K. Dick de 1962. Um mundo
invertido no qual os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) ganharam a Segunda Guerra Mundial e os EUA,
destruídos pela Grande Depressão, foram conquistados pelo Reich e o Império do
rei Hirohito. Porém, a posse de estranhos rolos de filmes de procedência
misteriosa passa a ser politicamente importante tanto para Resistência como
para Hitler: neles, outros mundos são revelados. Tal como no I Ching, devemos
encontrar o imutável em mundos fugazes e em constante mutação. Mas pode
tornar-se uma arma política: o controle do Tempo, passado e futuro de toda a
humanidade.
quinta-feira, janeiro 26, 2017
O filósofo Kierkegaard vai a Hollywood no filme "Passageiros"
quinta-feira, janeiro 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que diante do precipício ao mesmo tempo em que temos medo, também sentimos o impulso de saltar para o fundo do abismo? Em 1844 o
filósofo S∅ren Kierkegaard disse que isso deriva da ansiedade da descoberta de
sermos livres para saltar ou não saltar. E sempre temos medo daquilo que mais
desejamos. “Passageiros” (Passengers, 2016) retoma essas ideias do filósofo
dinamarquês, inclusive com a referencia do abismo: só, no espaço sideral,
diante do vazio do Universo, o homem teme por descobrir que é livre, como se
retornasse ao mito do Paraíso, antes de Adão e Eva terem descoberto a árvore do
conhecimento. “Passageiros” é mais uma amostra da recente guinada metafísica de
Hollywood sob camadas de entretenimento e efeitos digitais. Assim como a
animação “WALL-E” (2008), também faz uma releitura gnóstica do Gênesis bíblico:
como o homem, prisioneiro numa gigantesca espaçonave-resort que ruma para a
destruição, pode conquistar a liberdade e autoconhecimento.
terça-feira, janeiro 24, 2017
Globo virou black bloc
terça-feira, janeiro 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo ainda tinha a tênue esperança de que
delegados dissidentes do Colégio Eleitoral não ratificassem a vitória de Trump.
Mas a cerimônia da posse e o discurso “porrada” do presidente arrasaram
qualquer sonho dos ainda incrédulos correspondentes da emissora nos EUA. Mais
eis que os esquecidos black blocs voltam a ação nas manifestações anti-Trump em
Washington, tirando os analistas da emissora da depressão. Entusiasmada, a
Globo News até reprisou o documentário sobre os black blocs exibido na época
das manifestações de rua em 2013 no Brasil. Agora a Globo assume uma espécie de
anarcotautismo: entrar na onda de turbinar as manifestações contra Trump, assim
como fez nas manifestações anti-Dilma. Mas o tautismo crônico da sua bolha
virtual não consegue perceber os movimentos do “deserto do real” que Trump
representa: a crise do “neoliberalismo progressista” que sustenta a ordem da
Globalização: o alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais
(feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de
negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e
Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a
financeirização.
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo.
sábado, janeiro 21, 2017
Paraty é o Triângulo das Bermudas da política brasileira?
sábado, janeiro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesses momentos de tragédias que abrem
possibilidades de inesperadas mudanças no cenário político (Quem perderá? Quem
ganhará?) é sempre interessante ver as reações reflexas da grande mídia pega de
surpresa. Ela parece sempre ter uma “narrativa reflexa”, pronta, que se
manifesta como um ato falho: descrever um mundo onde os eventos são sempre
aleatórios, fora de contextos, desconectados e sempre sujeitos a “trapaças da
sorte”. A morte do Ministro do STF Teori Zavascki no acidente aéreo em Paraty
rapidamente foi enquadrada em uma narrativa protocolar como se a grande mídia
já tivesse o resultado antes mesmo das investigações: foi tudo uma fatalidade!
Não importa a existência de estranhas anomalias, depoimentos contraditórios,
sincronismos e o oportuno timing dos acontecimentos. Será que a grande mídia
quer impor à sociedade uma “narrativa reflexa” para criar um fato consumado?
Criar uma atmosfera de pressão política nas investigações oficiais que ora se
iniciam? Ou será que, desde o desaparecimento de Ulysses Guimarães em 1992, a
região de Paraty se transformou numa espécie de Triângulo das Bermudas
brasileiro onde impasses políticos são resolvidos de forma drástica?
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre
tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um
bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter
as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina
com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês
hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo,
2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de
robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos
ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três
contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas
transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a
sociedade.
terça-feira, janeiro 17, 2017
Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua
terça-feira, janeiro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se no passado falar que o homem jamais pousou
na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do
Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual
com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de
produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo
Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart
Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar
sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick
envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos
anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele
momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos
envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de
lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de
cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque
vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente
comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos
astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho
da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certo dia um cientista do MIT criou um
“computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas
digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando
como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando
horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais
íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia
toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que
controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma
das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis.
Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a
fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo
real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às
vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.
sexta-feira, janeiro 13, 2017
O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida
sexta-feira, janeiro 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mudança de pensamento”. “Reflexo das
pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova
vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida,
decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas
e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer
digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de
uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial
e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora
transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um
sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é
binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre
foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel
decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o
Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e
hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela
diferença cambial.
quinta-feira, janeiro 12, 2017
A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"
quinta-feira, janeiro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez o colapso econômico da antiga
União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado,
seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”:
manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam
a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida
como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática
copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro
de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal
ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas
pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente”
chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC
“HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história
de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas
desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso,
corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.
terça-feira, janeiro 10, 2017
David Bowie: a morte mais bem encenada do rock
terça-feira, janeiro 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o
futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso
Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente
do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de
artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez
John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas,
estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a
própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia
irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a
própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e
vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do
aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências
pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda
está vivo...
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Curta da Semana: "Reset" - nada é o que parece
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No curta sueco “Reset” (2013) nada é o que parece. Uma amorosa mãe lê rotineiramente para a filha cartas de um pai ausente que promete retornar em breve ao lar. Uma fazenda remota e isolada do resto do mundo guarda um mistério que, para ser resolvido, dependerá que a menina compreenda o sentido de estranhos códigos numéricos. Um surpreendente drama alusivo às mitologias gnósticas sintetizado em 16 minutos – a mitologia do retorno de Sophia à Plenitude, a função consoladora e ilusória das religiões para nos manter esperançosos dentro de uma prisão e a diversidade de mundos simulados.
domingo, janeiro 08, 2017
Em "Don't Blink" podemos ser apagados como fotogramas em um filme
domingo, janeiro 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, “Don’t Blink” (2014) é mais
um filme sobre um grupo de jovens que se hospeda em uma cabana em algum lugar
remoto para serem punidos por seus vícios e pecados, por algum serial killer.
Mas estamos no terreno do horror independente e nada é o que parece: sem
explicações um a um começa a desaparecer assim que o grupo tem a atenção desviada ou
simplesmente fecha os olhos. Mais um filme inspirado no misterioso
desaparecimento, sem deixar qualquer rastro, de uma colônia inteira no início
da colonização dos EUA em 1587. Filmes como “O Mistério da Rua 7” e adaptações
de Stephen King como “A Tempestade do Século” e “A Fenda no Tempo” (“The
Langoliers”) também exploraram esse misterioso acontecimento, cada um com sua
própria interpretação. “Don’t Blink” discute as consequências morais (o que
você faria, sabendo que desapareceria nas próximas horas?) e deixa uma série de
pistas narrativas para o espectador montar sua própria explicação. De uma hora
para outra poderíamos ser arbitrariamente apagados como se a realidade fosse um
conjunto de fotogramas, assim como o cinema? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Os 10 filmes mais estranhos de 2016
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça os filmes oscarizáveis e assista a uma lista de filmes com “estranhas” narrativas: um cadáver flatulento que evita o suicídio de um náufrago, a filha de Deus que hackeia o computador divino para se vingar do Pai, uma mulher grávida de um vírus fetal e dois filmes sobre salsichas sencientes: um sobre homens-salsicha nazis que invadem uma cidadezinha no Canadá para serem enfrentados por protagonistas que utilizam o poder da Yoga; e outro sobre salsichas em um supermercado que questionam a religião que esconde o terrível destino – no “Grande Além” serão comidas pelos próprios deuses que veneram. São os chamados “filmes estranhos” (“weird movies”) que exploram o duplo sentido da palavra “weird”: “destino” e “surreal, estranho”. Muitos deles aproximam-se da noção de “filme gnóstico” pela forma como desconstrói conceitos religiosos, morais e a própria percepção daquilo que chamamos de “realidade”. Para o leitor, uma lista do “Cinegnose” com os 10 melhores Filmes Estranhos de 2016.
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Tautismo fonoaudiológico da Globo quer legitimar capitalismo de desastre
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de entrar em metástase e, a partir das
“hardnews” dos telejornais, contaminar o jornalismo esportivo, teledramaturgia
e entretenimento, encontramos uma das origens da doença do tautismo (autismo +
tautologia) da TV Globo: o método fonoaudiológico responsável há décadas pela fala dos atores, repórteres,
radialistas e âncoras da emissora. É o chamado “Método do Espaço Direcional”
cujas estratégias vocais reforçam subliminarmente a descrição que a Globo faz
de si mesma - a crença de um destino manifesto que na fase metastática atual assume um delirante messianismo religioso: tons de voz graves, ressonância e
ritmo da fala cada vez mais lúgubres e patibulares dos âncoras como se a Globo testemunhasse algo que já foi profeticamente gravado a ferro e fogo nas pedras
da História desde tempos imemoriais: “Vejam, já estava escrito!”. Cânone do “Método”, é sintomático que
Cid Moreira tenha virado um apóstolo bíblico que decidiu levar o Evangelho “até
os últimos dias”. Afinal, esse é o subtexto diário das inflexões de voz dos
apresentadores globais que procuram conformar os telespectadores ao atual
“capitalismo de desastre” implantado no País.
terça-feira, janeiro 03, 2017
O Gnosticismo politicamente incorreto em "Festa da Salsicha"
terça-feira, janeiro 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma das teses do Cinegnose é que as animações
atuais cada vez mais exploram temas gnósticos de desconstrução da realidade.
Afinal, em relação aos filmes live action, as animações são meta-ilusões dos movimentos reais criadas pela ilusão do desenho e computação gráfica. “Festa da Salsicha” (“Sausage
Party”, 2016) leva essa tendência às últimas consequências. Alimentos
antropomorfizados em gôndolas de um supermercado estão imersos em uma religião
na qual acreditam que serão escolhidos por “deuses” (os clientes do
supermercado) e levados para o “Grande Além”. Lá viverão na paz e amor, em
comunhão com os “deuses”. Mas a religião esconde um destino cruel: os deuses
são monstros insaciáveis que comem alimentos para ficarem fortes. Uma comédia
politicamente incorreta e desbocada na qual o espectador cria forte
empatia com o drama das salsichas – será que vivemos também em um gigantesco
supermercado? Como elas, também partilhamos de ilusões religiosas apenas porque
nos tornam felizes e otimistas?
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