Três coisas incomodaram as irmãs Wachowski após a “Trilogia Matrix” (1999-2003): a crítica frontal do pensador francês Jean Baudrillard (uma das fontes de inspiração da Trilogia) de que “Matrix é o filme que a Matriz teria sido capaz de produzir”; a apropriação da extrema-direita dos simbolismos de “Matrix”; e as intromissões da Warner Bros na produção do filme. Por isso, Lana Wachowski retomou para si a narrativa de Matrix na continuação “Matrix Resurrections” (2021), não só recriando o clássico universo cyberpunk, mas tornando-o ainda mais complexo na chamada "narrativa em abismo": muita metalinguagem e autorreferências: um filme dentro de um game de computador criado pela empresa que na verdade é o estúdio que produziu o filme que assistimos. Além de atualizar a mitologia gnóstica original (do CosmoGnóstico ao PsicoGnóstico), Lana fugiu da crueza esquemática de 1999 (Matrix versus deserto do real) para mergulhar na complexidade do mix hiper-real da ficção com a realidade. Incorporou as críticas de Baudrillard, além de tentar blindar o filme de quaisquer apropriações reacionárias através de uma narrativa ambígua.