1. “200 Cigarrettes” – Ano Novo, cigarros e a geração MTV
O
filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de
comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças
da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z.
Por
que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão
nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200
Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar,
aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip.
Porém,
não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que
ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez
renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece
porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma
comercial.
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2. Curta “Dinner For One” – tenha um final de ano politicamente incorreto
Por que TVs europeias,
principalmente alemãs, a cada 31 de dezembro exibem um velho curta em preto e
branco chamado Dinner For One, desde 1963? Alemanha, Leste Europeu e
países nórdicos exibem todo final de ano o curta original ou versões com um
humor mais politicamente correto.
Dinner For One
é a síntese da fleugma e humor negro inglês: uma senhora da alta sociedade
comemora seus 90 anos e um mordomo finge servir a convidados em uma grande
mesa de jantar com cadeiras vazias – são os lugares de amigos de outras
comemorações, já falecidos. Um bizarro mix de embriaguez involuntária, morte
e aniversário. Por que a cada final de ano os europeus continuam assistir
fascinados a esse estranho curta?
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3. “A Roda da Fortuna” – a gnose de Ano Novo
Vale a pena
assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos
irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos
parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será
passado.
Por isso, “A Roda da
Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos
de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre
presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas
promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que
tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos
que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.
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4. “Last Night” – Ano Novo e o fator humano no fim do mundo
Não sabemos como e
porque o mundo vai acabar à meia noite nas comemorações do Ano Novo.
Habitualmente nos filmes-catástrofes hollywoodianos temos muita ação,
destruição e explosões que acabam desviando a atenção do espectador do
sintoma cultural que representa a recorrência do tema fim do mundo no cinema.
Ao contrário, no
canadense Last Night (1998) a narrativa disseca uma variável que
nenhum filme-catástrofe desenvolve: o fator humano. No filme não há ônibus
espaciais, generais estressados ou cientistas heroicos. Apenas pessoas comuns
que tentam realizar seus últimos desejos antes do fim. E esses desejos
transformam-se em termômetro do mal estar cultural que estava por trás da
histeria midiática do “novo milênio” no final do século XX.
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5. “Lua de Fel” – quando a contagem regressiva do final de ano é uma bomba-relógio
Mais um final de ano e
outra contagem regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como
fosse uma bomba relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean
Baudrillard até chegarmos ao filme Lua de Fel (Bitter Moon,
1992) de Roman Polanski.
A poucas horas da
festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro triângulo
amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em
ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem destruído pela
paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se Polanski.
A aproximação que o
diretor faz dessa questão com a festa do réveillon, sugere uma resposta: a
percepção do tempo como bomba-relógio cria as doenças espirituais
contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
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