sexta-feira, abril 22, 2011
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Banalização do consumo de antidepressivos e inibidores de apetite estaria criando uma nova forma de conservadorismo: o fármaco-consevadorismo? O chamado "efeito zumbi" (efeito colateral desses medicamentos caracterizado pelo mix de euforia, apatia, perda da capacidade crítica e sensação de irrealidade) estaria criando indivíduos meramente replicadores de clichês conservadores nas redes sociais?
Com a experiência de usuária assídua de redes sociais na Internet, minha esposa Tatiane fez recentemente uma interessante constatação e levantou uma hipótese. Primeiro a constatação: a crescente banalização do consumo de medicamentos antidepressivos e inibidores de apetites entre jovens na faixa dos 20 anos. Nas redes sociais trocam-se informações e experiências sobre estes medicamentos como se trocassem receitas culinárias ou links de vídeos do Youtube.
Ao mesmo tempo, Tatiane tem observado nessa faixa etária um mix de conformismo e apatia em relação aos problemas políticos ou do dia-a-dia (trânsito, enchentes, violência etc) combinado com conservadorismo político e moral.
Agora a hipótese: seria esse mix de apatia e conservadorismo uma decorrência de um chamado “efeito zumbi” desses medicamentos? Explicando melhor, sabendo que os efeitos comportamentais desses medicamentos vão desde a euforia até sonolência e sedação, isso não afetaria as avaliações cotidianas do indivíduo resultando em perda da capacidade crítica, incapacidade de se indignar e apatia gerando um novo tipo de “conservadorismo” baseado na mera replicação de clichês políticos conservadores e até de direita ? Estaríamos diante de um novo fenômeno de, por assim dizer, “fármaco-conservadorismo”?
Pesquisadores como o psicanalista francês Christophe Dejour e o historiador norte-americano Richard Sennett constataram que os problemas psíquicos como depressão, esquizofrenia, ansiedade são sintomas não apenas decorrentes da “vida moderna nas grandes cidades”, mas de um específico tipo de moderna organização do trabalho de empresas dos setores financeiros e de serviços.
Indo mais além na hipótese descrita acima, sabendo-se que o Estado de São Paulo (o estado onde é mais presente a tendência da des-industralização pela expansão dos setores financeiros e de serviços) é, atualmente, um dos estados de maior conservadorismo político (a perpetuação dos governos tucanos por 20 anos seria um exemplo), poderíamos estabelecer uma relação de causalidade entre o fármaco-conservadorismo e o conservadorismo político?
Hipótese meramente paranoica e conspiratória? Ou estaríamos diante de um novo conservadorismo das classes médias, desta vez não mais explicada por instâncias ideológicas, morais ou religiosas, mas, agora, resultante de uma fármaco intervenção que resulta em controle (intencional ou efeito colateral) comportamental e psíquico?
Vamos reunir algumas informações que talvez ajudem a corroborar com essa hipótese.