segunda-feira, maio 18, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
B.B.
King talvez tenha sido um dos últimos músicos a ver a guitarra elétrica não
como um meio para demonstrar velocidade, técnica e virtuosismo (valores caros
para a atual indústria do entretenimento que alimenta o mito dos artistas
virtuosos e narcisistas que divertem o público), mas como instrumento para
expressar os sentimentos antagônicos do Blues: dor/alegria, tristeza/redenção e
melancolia/celebração. Sua morte não significou apenas a passagem de alguém que
inspirou gerações de músicos de Jimi Hendrix a Steve Ray Vaughan. Morreu um
pouco mais um tipo de gênero musical cujas origens anteriores à indústria do
entretenimento conferia a sua arte uma, por assim dizer, “dialética negativa”:
uma música que produzia alegria e diversão e, ao mesmo tempo, invocava a
memória de que o Blues tinha surgido em meio à injustiça e segregação. B.B.
King viveu ainda a tempo de ver o Blues se transformar em um standard de
entretenimento que concilia a música com um mundo injusto no qual ela própria
nasceu.
Eu vou fazer as malas
E seguir o caminho
Sim
Eu vou fazer as malas
E seguir o caminho
Onde
Não há ninguém preocupado
E não tem ninguém chorando
(“Every Day I Have the Blues”,
Elmore James)
Dizem que o nome da guitarra de B.B. King,
Lucille, surgiu de um incidente em um show num salão de danças no Arkansas em
1949.
Para aquecer o ambiente foi aceso um barril
cheio de querosene, solução bastante comum naquela época. Durante o show dois
homens começaram a brigar, esbarrando no barril que espalhou o conteúdo por
todo lado e iniciando um incêndio. Com as chamas em todo salão, todos correram
para fora do lugar quando B.B. King percebeu que na fuga deixara sua guitarra, a
amada Gibson de 30 dólares. Voltou ao edifício em chamas e a recuperou. No dia
seguinte soube que dois homens morreram naquele incêndio e o motivo da briga
que iniciou a tragédia: o pivô de tudo teria sido uma mulher chamada Lucille.