terça-feira, dezembro 31, 2019
Descoberta do "entrevistado onipresente" deixa jornalismo corporativo de calças na mão
terça-feira, dezembro 31, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Entrevistado cativo”, “cosplay de povo”, “popular onipresente”, “entrevistado profissional”... Ele virou um hit nas redes sociais enquanto a grande mídia foi pega com as calças nas mãos – ele é a carta na manga de repórteres e a revelação do modus operandi do jornalismo atual: a “editorialização dos acontecimentos”. A fabricação de acontecimentos e entrevistas para cumprir uma pauta pré-elaborada pelas chefias de redação. Ele chama-se Henrique, aparentemente um entrevistado aleatório, mas sempre pronto para dar a opinião sobre qualquer assunto em diversos noticiosos da Globo Nordeste e em outras emissoras locais. Um “papagaio de pirata” (categoria organizada que caça links ao vivo de TV na busca de alguns minutos de fama) promovido a especialista em generalidades que sempre acerta na mosca sobre aquilo que a pauta espera que o “povo” fale. Henrique Filho é apenas a ponta folclórica de um fenômeno mais amplo: a produção de não-acontecimentos no jornalismo. Quer seguir carreira no jornalismo? Aprenda a confirmar as pautas confiadas a você pelos aquários das redações. Aprenda a encontrar a “notícia certa”.
domingo, dezembro 29, 2019
A banalidade do tédio conjugal e da pós-morte na série "Forever"
domingo, dezembro 29, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Amor, casamento, rotina, tédio. Uma série sobre amor e a rotina da vida conjugal onde duas pessoas casadas e entediadas tentam não ser chatas uma com a outra. Até o momento em que essa tragédia banal se transforma numa questão cósmica entre a vida e o pós-morte. Essa é a série da Amazon “Forever” (2018-), uma estranha “quase-comédia” sobre pessoas absolutamente banais: e se você decidisse transformar a sua vida em tudo aquilo que será, como você continuaria encontrando alegria na banalidade familiar, dia após dia, ano após ano? Será que até mesmo depois da morte? E se o inferno for mesmo a repetição, como fala Stephen King, onde até mesmo os segredos do pós-morte são tão banais quanto a rotina entediante dos vivos?
sábado, dezembro 28, 2019
Ataque ao "Porta dos Fundos": canastrice, false flags e psi-zumbis
sábado, dezembro 28, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sim... Nós também temos terroristas! Mas não importa se estão em vídeos mal produzidos ou dirigidos, falando um espanhol com sotaque carioca ou mesmo um português macarrônico, e soltando palavras-clichê como “burguês” ou “revolucionário” a cada cinco segundos. Dizem representar “Comandos” ou “Sociedades” cujos nomes fariam rolar de rir os integrantes do grupo de humor Monty Python. Bem-vindo ao mundo das false flags Tabajara, terroristas canastríssimos de segunda mão em vídeos toscos, como o da “Frente Integralista Brasileira” que reivindicou a autoria do ataque à produtora do Porta dos Fundos. O que é mais engraçado? O vídeo “terrorista” ou um esquete do Porta dos Fundos? Clamam por uma ação da Justiça contra um “atentado terrorista”, cuja prova é uma “false flag” tosca e mal produzida. Então o que há de real e mais preocupante nesse não-acontecimento? Certamente o vídeo deve ter vindo das insondáveis profundezas da Deep Web. Mas não de Integralistas. Mas de “Incels” (Celibatários Involuntários), Hominis Sanctus ou de algum tipo de supremacismo branco e hetero ressentido – o farto exército industrial de reserva psi-zumbi pronto para servir ao primeiro cripto-comando de um Estado Policial que busca o pretexto para impor o “Patriot Act Tabajara”.
quinta-feira, dezembro 26, 2019
A sensibilidade cosmológica gnóstica do filme "Ad Astra - Rumo às Estrelas"
quinta-feira, dezembro 26, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“... para a exploração de novos mundos, para pesquisar novas vidas, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”. Essa abertura da série clássica “Jornada nas Estrelas” (1966-69) mostrava como o gênero ficção científica sempre buscava um significado do homem no cosmos. Mas “Ad Astra – Rumo às Estrelas” (2019) é mais um filme que desconstrói essa premissa do sci-fi clássico: ao lado de “Prometheus” de Ridley Scott e, indo além para outros gêneros, como “Apocalypse Now” e “As Aventuras de Pi”, “Ad Astra” transforma a jornada do filho em busca do pai nos confins do sistema solar como a alegoria da própria busca humana por Deus. O peregrino cristão em busca da Cidade Celestial e a Jornada do Herói são os grandes arquétipos explorados pela narrativa, porém com a atual sensibilidade cosmológica gnóstica - uma jornada semelhante a uma espiral que nos conduz para dentro de nós mesmos, diante de um Universo vazio, hostil e sem propósito.
segunda-feira, dezembro 23, 2019
A invenção do não-acontecimento do Natal
segunda-feira, dezembro 23, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessas épocas de festas de final de ano, não faltam as críticas de que tudo não passaria de manipulação de uma sociedade consumista. Presentes, comidas e bebidas nos entorpeceriam, fazendo-nos esquecer dos verdadeiros valores cristãos da fé, perdão e compaixão. Mas o dinheiro não arruinou o Natal: ele fez o Natal. Ao lado de outros megaeventos importados como Halloween e Black Friday, o Natal é mais uma tradição inventada a partir do século XIX nos EUA: primeiro, como invenção de um país jovem e carente de tradições e que, por isso, invejava a Europa com seus castelos e reis. E segundo, pelas lojas de departamentos a partir de 1841 – a invenção de uma narrativa mercadológica que criou, por exemplo, o embrulho natalino para sacralizar os presentes e criou o Papai Noel como figura secular de Cristo. Como o espírito natalino foi inventado, escondendo sua natureza de não-acontecimento? Isso é que o “Cinegnose” explica nessa véspera de Natal – jamais existiu o “verdadeiro Natal”.
sábado, dezembro 21, 2019
O pub inglês e o espírito do tempo no filme "Heróis de Ressaca"
sábado, dezembro 21, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Heróis de Ressaca” (The Word’s End, 2013) é o filme final da chamada “Three Flavours Cornetto Trilogy” do diretor inglês Edgar Wright – iniciada com “Quase Todo Mundo Morto” (2003) e “Chumbo Grosso” (2007). Um filme profético por ter conseguido captar o chamado “espírito do tempo”: a onda cultural que mais tarde se cristalizaria na vitória da campanha do “Leave” – o Brexit que faria o Reino Unido afundar na crise política. Um bizarro e engraçado mix de sci-fi, comédia e ação, uma conspiração extraterrestre e o típico pub inglês e todo o seu “ethos” (beber, brigar e transar) como o símbolo de resistência de uma invasão. Em “Heróis de Ressaca” os britânicos sentem-se literalmente ilhados, resistindo a uma invasão globalista ou extraterrestre que quer tirar deles seu principal símbolo: o pub. Um grupo de jovens adultos retorna à cidade natal trinta anos depois para cumprir um desafio não realizado: finalizar a odisseia de um circuito composto de 12 pubs. Mas o que encontram é uma sinistra conspiração que coloca em xeque a própria humanidade. Filme sugerido pelo nosso leitor Dudu Guerreiro.
quarta-feira, dezembro 18, 2019
No décimo aniversário do Cinegnose, o Top 10 dos filmes gnósticos de 2019
quarta-feira, dezembro 18, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esse é um aniversário especial: o Cinegnose completa nesse mês uma década no ar! Foram dez anos de evolução em três fases bem distintas – primeiro, como um site sobre Gnosticismo (filmes e filosofia gnósticas); segundo, como um site Gnóstico (desenvolvendo um “olhar gnóstico” sobre cultura, mídia, cinema e audiovisual); e na fase atual, um olhar gnóstico mais amplo se estendendo para os aspectos políticos da comunicação e crítica midiática. Fase atual e controvertida cuja atmosfera de polarização no País atingiu em cheio o Cinegnose, com a perda de muitos leitores que questionaram a “politização” de um blog sobre cinema. Comemorando essa primeira década, o Cinegnose apresenta o Top 10 dos melhores filmes gnósticos que passaram pelo radar do blog em 2019. São filmes PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, CosmoGnósticos e CronoGnósticos.
segunda-feira, dezembro 16, 2019
Fabricando a "pirralha" Greta Thunberg: a engenharia social do consenso climático
segunda-feira, dezembro 16, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bolsonaro é o “Meu Malvado Favorito” da esquerda. Que, irritado, chama a ativista ambiental sueca de 16 anos, Greta Thunberg, de “pirralha”. Pronto! A esquerda adere acriticamente à ativista que de repente se tornou uma heroina por se tornar um desafeto do capitão da reserva. Esse é o gênio da atual guerra semiótica criptografada dentra da qual todas as oposições políticas estão como sob o encanto de um feitiço. Greta Thunberg é a atual peça “femográfica” chave da engenharia de opinião pública por trás do “Green New Deal”, a estrela do momento do maior experimento de mudança comportamental já realizado em escala global. A fabricação da narrativa da “garota solitária” indignada diante das mudanças climáticas é a superfície publicitária de um crucial momento do Capitalismo. Uma ação de engenharia social para criação de consenso sem - privatização da questão climática e o crescimento explosivo das ONGs que se transformaram numa indústria turística disfarçada de voluntariado para jovens privilegiados do Ocidente. E, principalmente, como as celebridades fetichizadas em uma sociedade de rápida erosão cultural se transformaram em um poderoso ativo do capitalismo e militarismo para a criação de soluções corporativas para o clima.
sábado, dezembro 14, 2019
Lula joga um balde de água fria na guerra da comunicação
sábado, dezembro 14, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Acho que o PT não tem que fazer o jogo rasteiro que eles fazem. Contra a raiva deles, precisamos vender sorrisos...”. Dessa maneira, Lula jogou um balde de água fria nas pretensões de que a esquerda poderia pensar em uma virada na guerra da comunicação. A entrevista concedida ao blog “Nocaute”, do jornalista Fernando Moraes, foi sintomática por expor dois erros fundamentais em como a esquerda avalia a questão da Comunicação: (a) o poço de lama em que se transformaram as redes sociais seria intrínseco à militância digital – a única maneira de fazer politica digital seria por meio de baixarias, porque rende mais cliques e audiência do que a “verdade”; (b) o que ocorreu nas eleições de 2018 teria sido uma novidade tecnológica, cara e bancada ilegalmente. A questão é que não há nada de novo sob o Sol, a não ser a tecnologia digital que turbinou uma descoberta de 70 anos atrás nas pesquisas em Comunicação e que a esquerda insiste em ignorar: apesar de todo poder hegemônico, as mídias não têm o poder em massificar conteúdos – as informações somente circulam na sociedade quando líderes de opinião sancionam conteúdos em suas redes de influência social. Enquanto a esquerda continua na ilusão da massificação a direita domina o campo viral dos líderes de opinião, sejam eles analógicos ou digitais.
quarta-feira, dezembro 11, 2019
O espelho humano sombrio do Vale do Silício no filme "Empathy, Inc."
quarta-feira, dezembro 11, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Misture dois filmes gnósticos como “Quero Ser John Malkovich” (1999) com “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), numa atmosfera que lembra o episódio “Play Test” da série “Black Mirror” e filmado em preto e branco como fosse um clássico filme de mistério noir. Esse é “Empathy, Inc.” (2018), um típico produto do subgênero independente “alt sci-fi”: os temas da ficção científica são usados como pano de fundo para críticas sociais e existenciais. Um avanço extremo de Realidade Virtual de uma startup tecnológica leva um protagonista desesperado financeiramente a uma armadilha de aparências e perigos – uma “máquina de criar empatia” capaz de supostamente curar depressões e frustrações de clientes, mas que na verdade revela o que esconde: o capital financeiro especulativo de curto prazo que alimenta o Vale do Silício. E se nossos corpos forem apenas criações virtuais que nos aprisionam? Seríamos apenas fantoches em uma condição gnóstica de prisão tecnológica? Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.
domingo, dezembro 08, 2019
Série "The Morning Show" abre a caixa-preta de um telejornal
domingo, dezembro 08, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A série “The Morning Show” (2019-) é o carro-chefe da estreia do novo serviço de streaming da Apple TV + da gigante empresa de tecnologia. Tem tudo para ser tão impactante como foram outras séries como “House of Cards” ou “Breaking Bed” - trata de questões complicadas como má conduta sexual, misoginia descontrolada, mulheres em posição de poder e como o jornalismo atual está perdido num cenário geral de radicais transformações tecnológicas e midiáticas. E nesse cenário, como o chamado “infotenimento” aos poucos vai deixando de ser apenas um gênero para redefinir o próprio jornalismo: transformado em protagonista da informação, o jornalista torna-se ele próprio a notícia para entreter o telespectador sob a aparência da investigação e da busca da verdade. “The Morning Show” promete na primeira temporada abrir a caixa-preta dos bastidores de um telejornal.
quinta-feira, dezembro 05, 2019
Mídia não dá nomes aos bois em Paraisópolis e reforça amnésia social
quinta-feira, dezembro 05, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um fantasma ronda o País: a desconexão entre as palavras e as coisas. Aquilo que no começo desse século a coluna de humor de José Simão na “Folha” chamava de “tucanês” (inspirado na linguagem prolixa de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB) se hipertrofiou como discurso jornalístico e da própria mediação da realidade em um arco de vai das corporações a ONGs: eufemismos, neologismo, discursos indiretos, etc. O resultado é uma espécie de “amnésia social” na qual são denegados os três traumas que fundam essa nação: a escravidão, o golpe militar que instaurou a República e a ditadura militar de 1964 a 1985. As mortes na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, pela ação repressiva policial em outro estigmatizado “pancadão”, são recorrências do retorno do reprimido do inconsciente coletivo nacional. Para a mídia não há extrema direita, ditadura e reprodução da desigualdade. Há “conservadores”, “governo polêmico” e “desafios” a serem superados por “boas práticas”. Sem dar nomes aos bois, a grande mídia e o País estão condenados a viver no ciclo vicioso de depressões e crises de euforia.
domingo, dezembro 01, 2019
Curta da Semana: "Black Friday": como salvar-se do Marketing do Apocalipse?
domingo, dezembro 01, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Amélie é uma ex-funcionária de uma rede de varejo chamada New Price. Ela é assombrada pelas lembranças da última Black Friday, quando retorna à cena traumática. Esse é o curta-metragem canadense “Black Friday” (2018), inspirado na história de um funcionário da rede Wal-Mart que morreu pisoteado em 2008 na abertura das portas de uma loja na Black Friday. Do discurso motivacional do gerente da loja aos funcionários análogo a um culto religioso, à corrida selvagem de consumidores invadindo a loja como zumbis no filme “Amanhecer dos Mortos”, tudo nos conduz a uma estranha relação com as mercadorias no Capitalismo pós-crash de 1929 – a salvação do sistema de produção-consumo através de uma espécie de “Marketing do Apocalipse”: todo dia é o última dia para a Salvação. Há muito o consumo abandonou o valor de uso para se esgueirar pelo imaginário da moralidade e da religião. Se o consumo em si é moralmente bom, então temos que consumir sua inutilidade como forma de merecermos a aprovação “divina”. É sincrônico que a Black Friday ocorra no mesmo mês do histórico crash da Bolsa de Nova York e um dia após o feriado religioso de Ação de Graças.
sábado, novembro 30, 2019
A tecnologia toma o lugar do sobrenatural no gótico norte-americano em "The Room"
sábado, novembro 30, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O gênero Gótico tem suas origens no Velho Mundo europeu com seus castelos e masmorras de sociedades que desapareceram. Já o gótico norte-americano é um interessante subgênero originado numa sociedade puritana que produziu ficções em torno de culpa, pecado original, abominações humanas decorrentes da miscigenação racial, incesto etc. E ainda mais interessante quando um filme desse subgênero é escrito e dirigido por um olhar europeu. Esse é o filme franco-belga “The Room” (2019): cansado de viver em Nova York, um jovem casal muda-se para um casarão vitoriano no interior de New Hampshire. Lá encontrarão não o sobrenatural, mas o horror produzido por uma misteriosa tecnologia por trás das paredes daquele casarão, capaz de materializar qualquer desejo que for dito. Mas, como em todo conto fantástico há um alerta: “A única coisa mais perigosa do que alguém que não consegue o que quer, é uma pessoa que possa ter tudo o que quiser”. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
quarta-feira, novembro 27, 2019
O Chile é aqui: Bolsonaro e grande mídia inflam o balão de ensaio da esquerda nas ruas
quarta-feira, novembro 27, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Esquerda pode pegar nas armas”... “alguma resposta terá que ser dada”... “se a esquerda radicalizar?”... “novo AI-5”... Mas quem falou que as esquerdas secretamente planejam tomar as ruas? Logo agora que os movimentos sociais estão enfraquecidos e desorganizados? Logo agora que a esquerda está dividida e o povo apático, apenas de olho nos aplicativos para fazer seus corres e ver se o ano termina? O clã Bolsonaro e o super ministro Paulo Guedes se dizem preocupados com uma possível contaminação do Brasil pelos protestos do Chile, Equador e Colômbia. Mas na verdade estão morrendo de inveja: simplesmente, a inércia, passividade e a incapacidade da esquerda em mobilizar as ruas estão incomodando Bolsonaro. Ele precisa urgentemente de um oponente, uma crise, uma situação de urgência para mobilizar seu núcleo duro de fundamentalistas. Principalmente quando o dólar dispara e a grana dos fundos de investimentos estrangeiros fogem do País. Por isso a grande mídia começa a inflar o balão de ensaio dos Bolsonaros – eles anseiam um incêndio do Reichstag que justifique o punho de ferro sobre as instituições democráticas. É a economia, estúpido!
segunda-feira, novembro 25, 2019
Temporada final de "The Man in The High Castle": a banalidade do Mal e os mundos quânticos
segunda-feira, novembro 25, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mundos paralelos quânticos nos quais encontramos as melhores versões de nós mesmos e a permanência da estrutura que reproduz a banalidade do Mal, não importa o mundo ou o governo que ocupe o Estado. Com esses temas a série da Amazon “The Man in The High Castle” amarra a narrativas das três temporadas anteriores e encerra com o episódio final “Fire from the Gods”. Baseada no livro homônimo no escritor gnóstico sci-fi Philip K. Dick, a série figura um mundo alternativo no qual o Terceiro Reich e o Império Japonês ganharam a Segunda Guerra Mundial e mudaram a face da História. Mas há um fantasma que assusta os vencedores e inspira a Resistência: a descoberta da existência de mundos quânticos paralelos onde a História foi diferente e encontramos nossas próprias versões alternativas que tomaram decisões diferentes. Mas há algo que permanece: nossas almas permanecem prisioneiras na banalidade do Mal.
quarta-feira, novembro 20, 2019
Curta da Semana: "Animal Behaviour" - animais humanizados, sociedade animalizada
quarta-feira, novembro 20, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estamos em mais uma sessão semanal de psicoterapia. Só que ao invés de humanos, encontramos animais atormentados por obsessões, compulsões, culpa, agressividade e ansiedade. E o terapeuta é o Dr. Clement, um cão que conseguiu sublimar muitos impulsos instintivos como, por exemplo, cheirar o traseiro de outros cachorros. Até que chega um novo paciente: um macaco agressivo e antissocial que irá inverter todos os papéis daquela sessão. Esse é o curta de animação, indicado ao Oscar desse ano, “Animal Behaviour” (2018) – uma narrativa em tom adulto de uma fórmula que o selo Disney/Pixar explora costumeiramente em suas animações: a antropomorfização dos animais. Porém aqui os animais funcionam como o nosso reflexo invertido: enquanto humanizamos os animais, animalizamos os distúrbios psíquicos na sociedade.
sábado, novembro 16, 2019
Bike elétrica é a resposta neoliberal à resistência do ciclismo
sábado, novembro 16, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Inconformismo, revolta, veículos de libertação da tediosa rotina diária, liberdade... Essas são as representações mais comuns que o cinema faz sobre as bicicletas. Principalmente porque as bikes andaram, por assim dizer, na contramão da modernidade industrial: recusou-se a ser transformada em máquina, mantendo-se como ferramenta cuja fonte de energia e equilíbrio é exclusivamente o corpo humano. As bikes resistem à queda de braço do controle do Tempo entre Capital e Trabalho. Porém, vemos agora bikes elétricas circulando por ruas e ciclovias. Com a expansão da solução ciclística como resposta à crise neoliberal urbana (concessão privada dos transportes e colapso do transporte individual automobilístico), o neoliberalismo contra-ataca ao se apropriar de um veículo que resistia ao imaginário maquínico – com a motorização elétrica, as bicicletas se rendem ao ritmo do trabalho, ao sedentarismo e parasitismo humano tecnológico, ao mito da energia limpa ecologicamente correta e ao consumo bárbaro como símbolo de distinção e prestígio social.
quinta-feira, novembro 14, 2019
O que Roland Barthes diria sobre Lula versus Bolsonaro?
quinta-feira, novembro 14, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dentro da guerra simbólica, a libertação de Lula foi semioticamente perfeita: refez de maneira inversa o trajeto que o levou à prisão do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo a Curitiba no ano passado. Mas enquanto Lula falava para os convertidos, a grande mídia começou a contra-atacar para a maioria silenciosa, no seu habitual modo alarme: analistas começaram a alertar para os perigos da “radicalização” e “polarização” que representa a volta de Lula ao jogo. Está no início a criação de uma cilada simbólica que o semiólogo francês Roland Barthes chamava de “mitologia da crítica Nem-nem” ou “ninismo”. Colocar Bolsonaro e Lula num mecanismo de dupla exclusão – reduzir a realidade histórica a uma polaridade simples, quantificar o qualitativo em uma dualidade e equilibrar um com o outro, de modo a rejeitar os dois. Qualificar ambos através de palavras com culpabilidade prévia. Mas também está em início uma revolução semântica nos telejornais para despolitizar a política, preparando a chegada da conclusão do silogismo “Nem-nem”, depois que as premissas Bolsonaro e Lula mutuamente se excluírem: o paradigma Luciano Huck.
quarta-feira, novembro 13, 2019
O estranho mundo crepuscular que envolve os vivos em "O Fantasma da Sicília"
quarta-feira, novembro 13, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1993 um jovem de 14 anos foi sequestrado pela Máfia siciliana como resposta ao seu pai, ex-membro da organização criminosa, que passou a delatar companheiros para a polícia. “O Fantasma da Sicília” (“Sicilian Ghost Story”, 2017) traz ao cinema essa história de uma forma inusitada, misturando a realidade brutal com fantasia onírica: elementos de romance adolescente, psicodrama gótico, fantástico e suspense político. A namorada do jovem estranha porque todos naquele vilarejo (da polícia local aos colegas de escola) são complacentes com o sequestro. Então ela passa a procura-lo não só no mundo físico, mas também com os olhos da mente. “O Fantasma da Sicília” abre para o espectador um estranho mundo crepuscular que envolve o mundo dos vivos: onde o mundo onírico se encontra com o plano astral.
domingo, novembro 10, 2019
O "lixo branco" Ocidental na série "The End of the F***ing World"
domingo, novembro 10, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filmes e series cada vez mais estão escolhendo o “White Crap” Ocidental como anti-herois: o “lixo branco” – depois de negros, hispânicos e imigrantes terem sido explorados até o bagaço, agora é a vez dos brancos caucasianos, filhos de uma classe média que acreditou no sonho que deu errado. São niilistas, ressentidos e cheios de raiva. Esperando apenas que o mundo acabe ou que apareça algum tipo de botão “eject”. Essa é a série Netflix “The End of the F***ing World” (2017-): um jovem tem certeza de que é um psicopata. E escolhe como vítima de estreia uma garota da escola, tão ou mais niilista e cínica que ele. Também à espera do fim do mundo para acabar com uma vida suburbana medíocre. Surge uma improvável estória de amor. Uma espécie de Romeu e Julieta pós-moderna que evolui para Bonnie e Clyde, com assassinatos e fugas. Jovens que vivem numa espécie de “Nowhere” psíquico sem um plano: não querem ficar onde estão, e muito menos chegar a parte alguma.
sábado, novembro 09, 2019
Irrealidade midiática cotidiana: onda de protestos no mundo e o fiasco do leilão que deu certo
sábado, novembro 09, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dois didáticos episódios para dissecar as operações semióticas do atual jornalismo corporativo: a cobertura dos protestos no Chile e do megaleilão do pré-sal. No primeiro, tenta-se encaixar a grave crise social chilena no script da “onda de protestos pelo mundo”: Hong Kong, Jordânia, Líbano e... Quito, Chile. Propositalmente misturando Revolução Popular Híbrida (RPH) com protestos genuínos – operação semiótica de “naturalização” para dissimular o significado politico bem diferente dos protestos sul-americanos. E o megaleilão do pré-sal: de um lado, a esquerda e mercado petroleiro falando em “fiasco”; e do outro a grande mídia falando em sucesso do “maior leilão do mundo”. Um “fiasco” muito bem-sucedido dentro da guerra semiótica criptografada: jogar com informações dissonantes para esconder o objetivo mais sombrio do mercado internacional que financiou a guerra híbrida brasileira: não colocar mais um centavo no País para, pacientemente, esperar a hora da xepa.
quarta-feira, novembro 06, 2019
Os sinistros arquétipos dos hospitais em "Fratura"
quarta-feira, novembro 06, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado de parques de parques de diversões, hospitais e suas variações (asilos, manicômios e enfermarias) são um dos principais “locus” de ação nos filmes de terror ou thrillers. Assim como os parques de diversões, hospitais também perpetuam arquétipos das suas origens medievais brutais e violentas. A produção Netflix “Fratura” (Fractured, 2019) é mais um filme que renova essa mitologia, acrescentando a paranoia contemporânea, típico traço das sociedades burocratizadas cujos propósitos fogem do nosso controle. Pais desesperados levam sua pequena filha com suspeita de fratura a um hospital. Lá, mãe e filha desaparecem. Ninguém lembra da entrada delas no hospital enquanto o pai suspeita de que está ocorrendo algum tipo de conspiração. Ou ele está enlouquecendo? Mais uma sugestão do nosso onisciente colaborador Felipe Resende.
domingo, novembro 03, 2019
O terror e o mal vêm de nós mesmos em "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite"
domingo, novembro 03, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um relacionamento que se desintegra em dor, culpa e ressentimento no meio de um festival pagão de nove dias de sagração ao solstício do verão e à fertilidade, num vilarejo remoto no interior da Suécia. Como o terror se manifestaria em meio a tanto sol, brilho e cores de um campo aberto com flores campestres alucinógenas, festa, dança com homens e mulheres em túnicas brancas de linho cantando e tocando flautas? Esse é o “terror pastoral” (“folk terror”) do diretor e escritor Ari Aster ("Hereditário") no seu novo filme “Midsommar: O Mal Não Espera a Noite”, 2019. A ambição de Aster é criar um novo subgênero no terror: o Mal que vem à tona de dentro de nós mesmos, na incomunicabilidade dos relacionamentos, fazendo aflorar o nosso mal-estar diante da própria civilização, da morte, alteridade e do outro. E, quando determinados eventos convergem, encontramos o horror.
quinta-feira, outubro 31, 2019
Operação Psicológica: Globo e Bolsonaro querem criar a conspiração perfeita
quinta-feira, outubro 31, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O timing de uma sequência narrativa análoga às ficcionais: a perfeita marcação de cena dos atores, um teaser, o thriller, a live action e, no final, a “escada” perfeita do ator coadjuvante para o sucesso final do esquete... Estamos falando do timing da sequência desses eventos: o vídeo das hienas inimigas simbólicas do Rei Leão Bolsonaro seguida pelo depoimento-bomba do porteiro do condomínio do presidente no JN da Globo, a live action paródia de Bruno Ganz no filme “A Queda” perpetrada por um presidente indignado na Arábia, finalizado pelo rabo entre as pernas da Globo em respostas protocolares. A denúncia-escada do JN não passou de um conjunto de ilações, a participação numa operação psicológica ao estilo de uma “false flag” típica das agências de inteligência – “Operação bandeira falsa” ou “inside job”, espécie de auto-terrorismo onde atentados são criados pelo próprio Estado para justificar uma agenda política. Típica operação militar de guerra híbrida para criar a Conspiração Perfeita: protestos no Chile, virada à esquerda argentina, Lula solto, Globo sacaneando, "PSL traindo", ecoterrorismo de ONGs no Nordeste. Códigos para a criação do cenário perfeito para um golpe dentro do golpe.
quarta-feira, outubro 30, 2019
O buraco negro e o Mal no filme "Portals"
quarta-feira, outubro 30, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Portais interdimensionais têm uma má fama no cinema: em uma longa lista de filmes como “Stargate”, “Quero Ser John Malkovich”, “Monstros S/A”, “Alice no País das Maravilhas”, “Bandidos do Tempo”, “Donnie Darko”, “Os Vingadores” etc. portais são aberturas para mundos estranhos, desequilíbrios cósmicos e passagem através da qual demiurgos tentam invadir nosso mundo. “Portals” (2019) traz inovação ao tema: é uma antologia não episódica de curtas sci-fi e terror cujas narrativas correm em paralelo e se conectam no mesmo tema – o primeiro buraco negro artificial foi criado, provocando um apagão energético global e o aparecimento de misteriosos portais que podem surgir em qualquer lugar a qualquer momento: no meio de um Call Center, num estacionamento subterrâneo de shopping center e no meio de uma estrada. A Ciência tenta compreender as leis últimas da realidade. Mas pode se deparar com o elemento que participa da Criação desde o início: o Mal. Mais uma sugestão do nosso colaborador Felipe Resende.
domingo, outubro 27, 2019
Jornalismo volta ao modo Alarme: as saias justas dos protestos no Chile e óleo no Nordeste
domingo, outubro 27, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez uma grande mídia vitoriosa após os anos de jornalismo de guerra quando, finalmente, conseguiu engrenar a agenda liberal das privatizações e reformas pós-impeachment. Depois do modo Alarme, agora era chegada hora da autorregulação tranquila, com operações semióticas de naturalização de eventos eventualmente negativos como, por exemplo, as bizarrices da guerra criptografada de Bolsonaro. Mas os violentos conflitos no Chile e o agravamento da catástrofe ambiental do óleo nas costas do Nordeste fizeram o jornalismo corporativo entrar numa saia justa e acender o sinal amarelo: voltar ao modo Alarme - abre seu kit semiótico de manipulação de fotos, imagens e vídeos: contaminações metonímicas, dessimbolização e uma novidade apontada pelo jornalista Ricardo Kotscho: o “jornalismo drone”.
sábado, outubro 26, 2019
"A Garota na Névoa" nos coloca entre Civilização ou Barbárie, Justiça ou Mídia
sábado, outubro 26, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma menina desaparece na neblina em uma pequena vila nos Alpes italianos. Um investigador da polícia, famoso por casos de repercussão midiática, surge para resolver o mistério. Mas ele quer qualquer coisa, menos encontrar a verdade. Sua estratégia de investigação consiste em nada mais do que vazar deliberadamente informações para jornalistas, a fim de pressionar suspeitos pelo escândalo. Forçando delações e denúncias contra um professor do ensino médio: a vítima perfeita pelo appeal midiático que busca culpados de primeira hora para o linchamento pela opinião pública. Será que esse plot não lembra alguma coisa da atual história brasileira? Esse é o filme italiano “A Garota na Névoa” (“La Ragazza nella Nebbia”, 2017) baseado no romance policial best seller de Donato Carrisi. Uma alegoria da promiscuidade entre mídia e Justiça promovida pela “Operação Mão Limpas” italiana, modelo para a “Lava Jato” brasileira. Promiscuidade que se alimenta dos impulsos mais regressivos da sociedade, colocando-nos numa encruzilhada: Civilização ou Barbárie? Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
quinta-feira, outubro 24, 2019
A adaptação esquizofrênica numa sociedade pós-moderna em "Greener Grass"
quinta-feira, outubro 24, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Freud acreditava que a
civilização cobrava um preço ao indivíduo: o mal-estar, a neurose. Ele e toda a
sociologia clássica temiam a “anomia”, o momento em que o mal-estar explodiria
contra a civilização. Mas a sátira do filme “Greener Grass” (2019), da dupla de
humor de improvisação stand up, Jocelyn DeBoer e Dawn Luebbe, mostra que no
mundo pós-moderno paradoxalmente o mal-estar e alienação se tornam ferramentas
de adaptação. Em um típico condomínio suburbano de classe média (algo como o
sonho americano dos anos 1950 que caiu no Instagram do século XXI) temos uma
visão maluca e surreal do tédio da vida suburbana kitsch e brega, vivendo um
estilo de vida esquizoide: sentimentos confusos que tentam conciliar interações
sociais competitivas com uma polidez politicamente correta neurótica. O
resultado é uma sociedade à beira da depressão e, por isso, mais adaptada pela
incapacidade de ousar.
terça-feira, outubro 22, 2019
Show midiático criptografado continua: óleo no Nordeste e reality show da crise do PSL
terça-feira, outubro 22, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“A situação é teratológica. Fico com a sensação que é tudo combinado”, tuitou a conhecida “musa do impeachment”, a jurista Janaina Paschoal, deputada estadual pelo PSL. As palavras da indefectível jurista talvez expressem muito mais do que espanto diante da suposta crise do partido. A chamada crise de Bolsonaro com o PSL ocupa a pauta midiática junto com a catástrofe ambiental do derramamento de óleo cru na costa do Nordeste, coincidentemente a poucos dias do megaleilão da cessão onerosa do gigantesco Pré-sal. A “situação teratológica” é a guerra semiótica criptografada, a ópera bufa para entreter o respeitável público – de um lado, uma crise fabricada com mentidos e desmentidos para ocupar a pauta de analistas e colunistas; do outro, colocar a culpa na Venezuela pelas manchas de óleo depois de um silêncio obsequioso da mídia por um mês. Tática diversionista para blindar o megaleilão do Pré-sal e toda a agenda neoliberal com muito thriller político e reality show. Afinal, para quê valeu todo o esforço organizacional da guerra híbrida brasileira cujo ápice foi o impeachment?
domingo, outubro 20, 2019
Curta da Semana: "Garden Party" - Sapos, semiótica e humor negro
domingo, outubro 20, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um sapo pula em uma piscina cheia de detritos. Logo se juntam outros sapos que exploram uma mansão aparentemente abandonada. Enquanto acompanhamos os batráquios curiosos explorando a cozinha, quartos e jardim, percebemos que há algo mais: por todos os lados há indícios de que algo sinistro aconteceu ali. O curta de animação indicado ao Oscar de 2018, “Garden Party” (2017) foi um trabalho de conclusão de curso de uma escola de cinema francesa. Produção surpreendente: hilária e com refinado humor negro – incita o raciocínio semiótico indutivo do espectador além do argumento se inspirar na simbologia arquetípica dos sapos: a grande cadeia simbólica água-noite.
quarta-feira, outubro 16, 2019
Capitalismo gore: o diálogo necessário entre "O Clube dos Canibais" e "Bacurau"
quarta-feira, outubro 16, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme cearense “O Clube dos Canibais” (2018), de Guto Parente, facilmente dialoga com o celebrado “Bacurau” – são produções nordestinas que, além de incursionarem no cinema de gênero, refletem o atual cenário de crise política e social brasileira. Mas diferem-se pela utilização da fórmula do maniqueísmo, essencial no gênero fílmico gore e exploitation. Se em Bacurau a luta de classes cede lugar a figura do político como inimigo de uma comunidade e que facilita as coisas para o necroturismo, em “O Clube dos Canibais” temos a luta de classes no próprio cotidiano de trabalho e sobrevivência dos subalternos – o dia a dia de dominação e exploração pode terminar no pior: o explorado servir de prato do dia na mesa dos ricos. Um clube exclusivo formado por capitães da indústria, empresários de finanças e donos de empresas de segurança transforma a exploração e a desigualdade na sua literalidade: explorar significa conjugar de inúmeras maneiras e sentidos o verbo comer.
terça-feira, outubro 15, 2019
Filme "Coringa": cultura cosplay e copycat gerou o Palhaço do Crime
terça-feira, outubro 15, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento autônoma, um arquétipo que paira sobre o tempo. Mas como produto da indústria do entretenimento, ele também reflete o espírito de cada época, do Coringa bufão de Cesar Romero nos anos 1960 psicodélicos à inteligência sinistra do Coringa de Heath Ledger. Em “Coringa” (Joker, 2019) o Príncipe Palhaço do Crime ganha uma atualização, dessa vez um “spin off”: as origens do Coringa numa Gotham City vintage, mas que pode muito bem ser o espelho da nossa época. O Coringa de Joaquim Phoenix (numa interpretação assustadora onde, mais uma vez, um ator pagou o preço psíquico para encarnar o personagem) reflete a atual onda de ódio e ressentimento articulados pela Deep Web, fóruns e chans na Internet e pelo populismo de direita. Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual dominada por um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle.
sábado, outubro 12, 2019
Filme "Bacurau" perde no cabo de guerra forma versus conteúdo
sábado, outubro 12, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De um lado as atrizes Sonia Braga e Bárbara Colen. E do outro Udo Kier, ator notório nos gêneros gore e nazi-exploitation. De um lado a urgência da dupla de diretores Mendonça e Dornelles em expressar a atual crise sócio-política brasileira. Do outro, as demandas dos cânones do gênero para o mercado internacional. O aclamado filme “Bacurau” (2019) já foi suficientemente analisado, dissecado e, principalmente, sobrecodificado como um libelo libertário em tempos de obscurantismo. Porém, é necessário ver “Bacurau” por ele mesmo, como narrativa fílmica. E, principalmente, como o público não-intelectualizado interpreta o filme. Por isso, este “Cinegnose” preferiu assistir ao filme no circuito Spcine em um CEU de São Paulo, com um público não-cinéfilo. E o público refletiu a tensão entre forma (os cânones do gênero) e conteúdo (a crise brasileira) – a derrota no cabo de guerra forma X conteúdo para o maniqueísmo e soluções mágicas do gênero fílmico. Catarse da punição dos “políticos corruptos”, desvalorização da política e a “pílula mágica” que faria o povo sair da letargia é o que ficou na recepção de “Bacurau” para o distinto público. Para dialogar com o filme “Bacurau” é necessário também assistir ao filme cearense “O Clube dos Canibais”, produção que venceu esse cabo de guerra: luta de classes e “capitalismo gore”.
terça-feira, outubro 08, 2019
Metástase do envenenamento psíquico nacional: os efeitos midiáticos "Copycat" e "Heisenberg"
terça-feira, outubro 08, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O atentado de um procurador da Fazenda Federal contra uma juíza do TRF-3 em São Paulo revela a existência de um mundo crepuscular de sinais e símbolos (“formas-pensamento”) do qual o Bolsonarismo e a direita alternativa se nutrem – uma psico-esfera nacional psiquicamente envenenada resultante da guerra híbrida e anos de “Efeito Copycat” e “Efeito Heisenberg”. Efeitos midiáticos da saturação do discurso anticorrupção que, de tão ambíguo ou polissêmico, criou um perverso “acontecimento comunicacional”: o encontro da narrativa midiática com a jornada pessoal de receptores - todo um subconjunto de pessoas vulneráveis, homicidas e suicidas em um nível inconsciente quem podem infectar a população em geral a acreditar que a “meganhagem” e “justiçamento” são o paradigma tanto para as soluções nacionais como para as mazelas pessoais afetivas, emocionais e familiares.
sábado, outubro 05, 2019
Uma batalha de deuses no plano astral da humanidade na série American Gods
sábado, outubro 05, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem surgiu primeiro: os deuses? A humanidade? Nós os criamos ou fomos criados por deidades cósmicas. Essas questões perpassam as duas temporadas da série da Amazon "American Gods" (2017-): acompanhando um protagonista ex-presidiário, vamos descobrindo as camadas mágicas que compõem o mundo no qual deuses antigos caminham livremente sobre a Terra misturados com os humanos em atividades banais como, por exemplo, uma garçonete de beira de estrada – divindades nórdicas, celtas, hindus, eslavas, egípcias, africanas e babilônicas. Pagãs e sagradas. Todas encontram-se nos Estados Unidos, trazidas pelos corações e mentes dos imigrantes de todo o mundo, e que lá descobriram os novos deuses: os deuses do Mercado, da Mídia e do Dinheiro. Deuses impiedosos que querem destruir as antigas deidades, numa batalha cósmica travada no plano astral da humanidade. A série é uma grande metáfora parapolítica dos tempos atuais: a propaganda política e o marketing das marcas e do consumo manipulam formas-pensamentos que se transformaram em entidades invisíveis e autônomas. O controle ideológico-político ou psíquico tiraria sua força e letalidade de uma luta travada no plano astral humano.
terça-feira, outubro 01, 2019
Seminário internacional "Democracia em Colapso?" ignora Ciência da Comunicação
terça-feira, outubro 01, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ativistas, sociólogos, filósofos, cientistas políticos e psicanalistas participam do Seminário Internacional “Democracia em Colapso?”, que ocorrerá em outubro no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Discutirá as perspectivas históricas e políticas da democracia atual. A oportunidade do seminário é obviamente o cenário atual da ascensão da chamada “direita alternativa” - Brexit, Trump, Bolsonaro etc. Mas há um sintoma nesse evento: a ausência de pesquisadores da área da Ciência da Comunicação. Se a questão da Comunicação está no centro das crises das democracias atuais (a forma como, através da manipulação das novas mídias, plataformas e dispositivos de convergência de maneira relacional e fática, pegou de surpresa todo o espectro político), causa espanto a ausência da pesquisa em Comunicação no evento. Certamente a Comunicação entrará nos debates. Porém, será sempre uma “sociologia da comunicação”, “filosofia da comunicação” ou uma “psicanálise da comunicação”. A Comunicação analisada “a posteriori”, sem entender o fenômeno como evento autônomo e silencioso. Que passa à margem da representação. É o sintoma de que a esquerda ainda não entendeu a centralidade dos fenômenos comunicacionais na atualidade.
sábado, setembro 28, 2019
O todo nunca é a soma das partes no filme "The Square: A Arte da Discórdia"
sábado, setembro 28, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Distraído por uma afluente vida pós-moderna, cercado por mantenedores de arte milionários e artistas e instalações conceituais, um bem-sucedido curador de um museu de Estocolmo vive em uma bolha social. Lá fora, o crescente problema dos refugiados e sem-tetos deitados nas limpas calçadas suecas. Até que o roubo da sua carteira e celular e a chegada de uma enigmática exposição chamada “O Quadrado” fazem o caos invadir a vida do protagonista: um incidente catastrófico de relações públicas para o museu somado ao inferno pessoal o fazem descer à realidade. Esse é o novo filme do diretor sueco Ruben Östlund “The Square: A Arte da Discórdia” (2017), no qual a arte continuará alienada da realidade enquanto acreditar que a soma de boas intenções individuais poderá mudar o mundo. Porque o todo é muito maior do que a soma das partes.
quarta-feira, setembro 25, 2019
Cinco novas ferramentas semióticas de manipulação em tempo de paz de cemitério
quarta-feira, setembro 25, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Jornalismo possui duas funções no Sistema: alarme (“jornalismo de guerra”) e autorregulação sistêmica (unir o jornalismo à linguagem publicitária e do entretenimento em períodos de “paz” - de cemitério - para manter o equilíbrio e normalidade do cotidiano). Desde o desfecho bem-sucedido da guerra híbrida brasileira com o impeachment de 2016, a função de alarme deu lugar ao de autorregulação na grande imprensa dos jornalões e telejornais – manter na normalidade o moral do distinto público e a agenda neoliberal nos trilhos. As bombas semióticas do período de guerra dão espaço a cinco novas ferramentas do kit semiótico de manipulação da opinião pública: Naturalização, Empirismo, Contaminações Metonímicas, Rocamboles Informativos e Metalinguagem - autorreferência. É como se diariamente o jornalismo afirmasse para nós: “Não olhe muito de perto!”; “Aqui não há nada demais para se ver!”; “1 + 1 é sempre igual a 3”; “A culpa é mesmo do povo” e, diariamente, “Tenha um bom infotenimento!”
domingo, setembro 22, 2019
Curta da Semana: "Rust in Peace" - perto de Deus, rejeitado por Ele
domingo, setembro 22, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um robô velho e enferrujado desperta em um depósito de ferro-velho. Ele se levanta e vai em direção a um deserto para dar início a sua caminhada solitária em busca do seu criador. O curta metragem “Rust in Peace” (2018) adiciona um novo ângulo ao tema clássico das relações disfuncionais entre criador e criatura. Robôs, androides ou replicantes são revivals modernos do impulso humano da “teurgia”: tentar aproximar-se de Deus ao criar vida, assim como a Alquimia e a Cabala idealizavam seres como o “Homúnculo” e o “Golem”. Mas desde Frankenstein de Mary Shelley, o homem decepcionou-se com o seu criador, ao descobrir que, na verdade, ele é um Demiurgo que nos rejeita. Assim como o pobre robô de “Rust in Peace” descobrirá na sua jornada solitária: ele revive a própria condição humana gnóstica.
terça-feira, setembro 17, 2019
Guerra Criptografada: Prefeitura faz limpeza semiótica nas ciclofaixas de São Paulo
terça-feira, setembro 17, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Requalificação”, “manutenção”. Assim o prefeito Bruno Covas vem justificando a retirada da pintura em vermelho das ciclofaixas da cidade de São Paulo. De repente incensado pela imprensa progressista como “moderado” e “conciliador”, com esses neologismos Covas na verdade requenta a querela do “vermelho subliminar do PT” das ciclofaixas do prefeito Haddad, como alertou em 2014, imbuída de urgente “dever cívico”, a professora de Semiótica da PUC/SP, Lúcia Santaella. Não importa se a cor é uma convenção internacional justificada pelas pesquisas de percepção visual. A uberização dos desempregados em bikes de entregas de comida por aplicativos e os transportes alternativos de start ups tecnológicas, colocaram em evidência as ciclofaixas. Por isso, se faz necessário uma “limpeza semiótico-ideológica” dessas vias. E dar mais um lance no xadrez da atual guerra semiótica criptografada, para manter em constante estado de beligerância e adrenalina alta as milícias digitais e físicas dentro do sombrio projeto político do clã Bolsonaro.
domingo, setembro 15, 2019
O preço sombrio da felicidade em "A Porta"
domingo, setembro 15, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por trás de uma grande fortuna há um crime. O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo e consertar decisões erradas? Essas duas ideias são combinadas em um curioso filme sobre viagem no tempo, sem o tradicional tom sci-fi e muito mais com uma atmosfera de conto de fantasia ao estilo “Alice no País das Maravilhas”. É o filme alemão “A Porta” (“Die Tür”, 2009) sobre um artista plástico bem-sucedido remoído pela culpa com a morte da sua filha, destruindo seu casamento e a si mesmo. À beira do suicídio, descobre uma estranha porta nos fundos de um jardim que o conduz ao dia exato da morte da sua filha. É a chance de consertar o erro. Mas também descobrirá que há um preço sombrio a pagar pela felicidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
sábado, setembro 14, 2019
Satanás é o último dos humanistas na série "Lucifer"
sábado, setembro 14, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Séculos de desinformação e mentiras, das religiões até filmes e livros, fizeram nos confundir a figura de Lúcifer com o próprio Mal – com “Satanás” ou o “Diabo”, o príncipe dos infernos e da perdição. Como um produto audiovisual mainstream, a série “Lucifer” (2015-) parte dessa visão estereotipada para, ao longo dos episódios das quatro temporadas, retornar ao significado original dos antigos ensinamentos gnósticos: Lúcifer como a “Estrela da Manhã”, “o portador da Luz” – o anjo da Luz que com seu intelecto individual se rebela contra autoridades obscuras externas. Na série, Lúcifer volta à Terra depois de se entediar como governante do Inferno, um castigo imposto pelo seu Pai, o Criador. Vai para Los Angeles e se torna dono de uma badalada casa noturna e consultor de uma detetive da LAPD. Torna-se então um estudioso da natureza humana, um "humanista": seus crimes e sentimentos de culpa. Ou seja, aquilo que nos faz criar o Inferno dentro de nós mesmos.
quarta-feira, setembro 11, 2019
Ao invés de conquistar corações e mentes, Esquerda prefere ser o cão de Pavlov
quarta-feira, setembro 11, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “cão de Pavlov” foi o protagonista de uma experiência que revolucionou a propaganda política e a publicidade do século XX. Há 100 anos o médico russo Ivan Pavlov descobriu o reflexo condicionado: apenas o som de uma sineta fazia o cão salivar de fome, mesmo sem ter na sua frente um prato de comida. Diante da repetição de estímulos diários através de bravatas, provocações escatológicas, chulas e autoritárias do Governo, a guerra semiótica criptografada tem jogado a esquerda e oposições num labirinto de informações desconexas, transformando-as em um cão de Pavlov pós-moderno que reage de forma reflexa aos estímulos. Saliva de ódio e reage com o fígado, ficando apenas nas trincheiras da “guerra cultural”. Enquanto o patrimônio nacional é rapidamente vendido na xepa do mercado. Em sua guerra particular, esqueceu das massas silenciosas, supostamente anestesiadas. Anestesiadas porque não conseguem ver as relações causa-efeito entre a xepa e a sobrevivência cotidiana uberizada. Sem nenhuma iniciativa de comunicação didática para esclarecer ao brasileiro comum essa relação causal e conquistar corações e mentes, prefere assumir o confortável papel de cão de Pavlov.
sábado, setembro 07, 2019
Por que rimos no filme "Iron Sky - The Coming Race"?
sábado, setembro 07, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2012 o filme “Iron Sky” (em português “Deu a Louca nos Nazis”) foi um fenômeno cult: produzido através de crowdfunding, ganhou uma legião de fãs. Mais uma vez, com o financiamento coletivo dessa legião de adeptos, o diretor finlandês Timo Vuorensola fez a sequência “Iron Sky – The Coming Race” (2019) – um pastiche alucinado sobre uma base nazista secreta no lado oculto da Lua, Teoria da Terra Oca, Atlântida, Ocultismo Nazi, energia esotérica do Vril, conspirações reptilianas na política etc. Um humor que chega às raias do non sense. Porém, o que torna tudo tragicômico é que a maioria das ideias inverossímeis de “Iron Sky” foram retiras das doutrinas que inspiraram grupos radicais políticos do início do século XX que culminaram no nazi-fascismo, Segunda Guerra Mundial e Holocausto. “Iron Sky” virou um cult imediato porque arranca seu humor da atual onda anti-intelectualista criada pela chamada “direita alternativa” (“alt-right”), na qual a Teoria da Terra Plana é o seu principal hit de sucesso.
“Rimos para o fato de que não há nada de que se rir”
(Adorno e Horkheimer)
(Adorno e Horkheimer)
quarta-feira, setembro 04, 2019
Cada hora de telejornal da Globo rende pouco mais de 10 minutos de "notícias reais"
quarta-feira, setembro 04, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2003 o pesquisador Martin Howard no seu livro “We Know What You Want” descobriu que em cada hora de notícias da CNN, o noticiário transmitia pouco menos de cinco minutos de “notícias reais” (fatos espontâneos, históricos, externos à existência da mídia) – o restante é ocupado por metalinguagem e autorreferências. Sem falar no chamado “Efeito Heisenberg”: a mídia não consegue mais reportar o real – transmite apenas os efeitos que ela produz ao cobrir os eventos e, também, o esforço que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia. O “Cinegnose” aplicou essa mesma metodologia na análise de quatro edições do telejornal local “Bom Dia São Paulo” da Globo. E chegou a resultados próximos: duas horas de telejornal resultam em 27 minutos de “notícias reais” – ou média de 13 minutos de notícias por hora. No restante, o telejornal passa o tempo falando de si mesmo – metalinguagem, autorreferencialidade fática e efeito Heisenberg. Resultando num híbrido de jornalismo e propaganda. Infotenimento.
domingo, setembro 01, 2019
A burrice e estupidez do futuro já estão entre nós em "Idiocracia"
domingo, setembro 01, 2019
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme que originalmente era uma comédia e que se tornou um documentário. Assim é definido o filme “Idiocracia” (“Idiocracy”, 2006) do diretor e escritor Mike Judge (“Beavis e Butthead” e “O Rei do Pedaço”): um casal acorda de uma longa hibernação criogênica de 500 anos para encontrar um mundo no qual a burrice, estupidez e preguiça (e suas consequências como o machismo e a intolerância) se tornam virtudes. O presidente dos EUA é um ex ator pornô e lutador de Telecatch e a água potável foi substituída por um isotônico produzido por uma gigantesca corporação, gerando uma catástrofe ambiental. E a política se confunde com entretenimento e vídeo-game. Um filme tão profético que o próprio estúdio 20th Century Fox resolveu boicotar o lançamento da sua própria produção, escondendo “Idiocracia” das grandes redes de exibição. “Idiocracia” é visionário: como uma sociedade inteira não percebeu que emburrecia enquanto as expectativas sobre o que é ser inteligente cada vez mais diminuíam com o avanço tecnológico e da indústria do entretenimento.
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