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sábado, julho 27, 2024

Descendo pela toca do coelho da cismogênese política em 'Sombra Lunar'



A produção Netflix “Sombra Lunar” (In the Shadow of the Moon, 2019) é peculiar. Primeiro, que é impossível fazer uma análise sem incorrer em spoilers, pela sua natureza: reflexo do zeitgeist político atual de cismogênese. Segundo, porque o filme é um mush-up arriscado: imagine cruzar o filme “Seven” com o “Exterminador do Futuro”. Por isso, “Sombra Lunar” vai do típico trillher policial noir para a ficção científica. Em 1988, um policial, aspirante à detetive, depara-se com uma série de assassinatos estranhos e simultâneos. Enquanto sua esposa está na maternidade tendo sua filha. Fatos cujas consequências marcarão o restante da sua vida. Série de assassinatos que se repetirão a cada nove anos, acompanhando o ciclo da chamada “Lua sangrenta”. Quanto mais os ciclos se sucedem, mais profunda é a decida pela toca do coelho. 

sexta-feira, junho 28, 2024

Uma guerrilha epistemológica entre a mesa e o fogão no filme 'Histórias de Cozinha'


Cozinha é um lugar alquímico: ingredientes são mixados para transmutar em algo totalmente outro. Um espaço confessional onde conversas e conexões acontecem. Como, então, transformar esse espaço num objeto de observação científica: um observador “neutro” do alto de um cadeirão observando movimentos e ergonomia doméstica para tabular os dados em rígidos modelos matemáticos numa pesquisa industrial da década de 1950. Esse é o filme escandinavo “Histórias de Cozinha” (Salmer fra kjøkkenet, 2003). Uma espécie de rali científico levado com um humor sutil, no qual o observador estoicamente tenta manter a neutralidade para não comprometer os dados que coleta, enquanto o observado conspira num tipo de guerrilha epistemológica para sabotar o experimento.

quinta-feira, maio 23, 2024

'Alice Através do Espelho' de Lewis Carroll vai ao multiverso quântico na série 'Constelação'


Vários efeitos colaterais da viagem ao espaço são estudados, dos efeitos da radiação cósmica na cognição e visão dos astronautas, à perda de massa óssea, muscular e alto risco de câncer. Além de misteriosos relatos de visões de luzes cegantes provenientes de aparições no espaço semelhantes a anjos. A série Apple TV+ “Constelação” (2024-) dá a sua interpretação para tudo isso. E na atual onda de produções sci-fi, somente pode ser dentro do campo dos multiversos quânticos. Mas aqui, a “sobreposição quântica” na verdade é a sobreposição da ficção-científica com o conto de fadas: a Alice de “Alice Através do Espelho” de Lewis Carroll encontra-se com o experimento imaginário de Schödinger do gato numa caixa ao mesmo tempo morto e vivo.

quinta-feira, maio 16, 2024

Série 'Matéria Escura': por que o século XXI está tão obcecado pelo multiverso?


A vida é feita de escolhas que fazemos em momentos cruciais que irão nos definir para sempre. Desde que os paradoxos da mecânica quântica, o experimento imaginário do gato de Schrödinger e a sua interpretação de Hugh Everett que abriu a possibilidade da existência de muitos mundos com diferentes versões de nós mesmos, parece que a angústia do “para sempre” ficou ainda maior, na literatura e no cinema: será que fiz a escolha certa? E se fosse possível ver a escolha da minha outra versão? Poderia ter uma segunda chance? A série Apple TV “Matéria Escura” (Dark Matter, 2024-) é mais uma produção na onda atual de filmes sobre multiverso. Embora o impacto cultural dos enigmas quânticos esteja no século XX, é nesse século que a angústia da escolha é ampliada, no estranho zeitgeist que domina a atualidade. Um gênio da física bem-sucedido cria uma maneira de viajar pelo multiverso para trocar de lugar com o sua outra versão menos bem-sucedida, invertendo a premissa tradicional do gênero.

Essa não é minha linda casa/Essa não é minha linda esposa
Meu Deus! O que eu fiz?
(“Once a Lifetime”, Talking Heads)

sexta-feira, março 29, 2024

Viagem no tempo vira ferramenta para consertar a vida ordinária em 'Questão de Tempo'


Richard Curtis é um especialista em filmes levemente românticos e supostamente cômicos como “Notting Hill”, “Quatro Casamentos e um Funeral” e “O Diário de Bridget Jones”. Quando o tema da viagem no tempo cai nas suas mãos, o desfecho não poderia ser outro. Um tema potencialmente tão disruptivo acaba se diluindo naquilo que exatamente o tema desafia: a realidade institucional. No filme de Curtis “Questão de Tempo” (About Time, 2013) a viagem no tempo se transforma numa ferramenta para consertar as desordens da vida ordinária do presente, incorrendo no velho clichê da “quebra-da-ordem-retorno-à-ordem”. Tão conservador que a mecânica temporal do filme ainda funciona dentro da causalidade newtoniana, ignorando os paradoxos quânticos que caracterizam a abordagem fílmica e literária contemporâneas do tema. Tim descobre que os homens da sua família têm o exclusivo poder de viajar para o passado. Então, decide transformar o mundo num lugar melhor. Para começar arranjando uma namorada.

segunda-feira, março 11, 2024

'Oppenheimer': sete estatuetas para a Guerra Total e a destruição amoral de mundos



As sete estatuetas para o filme “Oppenheimer” (2023) na premiação do Oscar 2024 foram para as três obsessões que acompanham a filmografia de Christopher Nolan: protagonistas que buscam a perfeição, a escala épica e como o tempo narrativo altera a percepção do espectador. É o tom certo para descrever a vida do físico norte-americano que transformou na América todas as discussões teóricas quânticas e relativísticas do Velho Continente em tecnociência: a Guerra Total, livre de quaisquer dos antigos pruridos morais, éticos ou diplomáticos. J. Robert Oppenheimer temia que a explosão da bomba atômica deflagrasse uma reação em cadeia na atmosfera e que incendiasse todo o planeta. Sim. A reação em cadeia aconteceu, mas não como ele imaginava: a bomba atômica de Los Alamos inaugurou a nova era – a destruição amoral de mundos.No mundo atual com guerras e genocídios, as sete estatuetas para "Oppenheimer" fazem sentido.

sexta-feira, março 08, 2024

Do "gato de Schrödinger" à parapolítica no filme 'Infinitum: Subject Unkown'


O famoso experimento imaginário do “Gato de Schrödinger” proposto pelo físico quântico em 1935 incendiou a imaginação tanto literária quanto cinematográfica: mundos paralelos coexistindo no mesmo tempo-espaço. O filme experimental “Infinitum: Subject Unkown” (2021, disponível na AmazonPrime Video), feito em pleno lockdown da Covid em Londres com um Iphone por uma equipe remota, é mais um exemplo. Conecta Schrödinger com especulações de como todas as grandes potências mundiais têm trabalhado em universos paralelos e telecinesia por décadas - operações geopolíticas através da parapolítica. Uma mulher acorda em um sótão estranho, amarrada a uma cadeira, ela não tem ideia de onde está ou quem é. Está presa também em um loop temporal. Escapa e embarca em uma jornada por um mundo paralelo vazio, levando-a a um laboratório de pesquisa de ciência quântica no meio do nada. Um quebra-cabeças que terá que resolver para encontrar a verdade. Seja em que mundo for.

sexta-feira, novembro 24, 2023

Determinismo quântico e existencialismo gnóstico na série 'Corpos'


Liberdade versus Determinismo foi um tema que sempre assombrou a Filosofia. Com a morte de Deus e da causalidade newtoniana por meio da Relatividade e da mecânica quântica, parecia que o livre-arbítrio tinha ganhado a discussão. Até surgir o paradoxo quântico do “Closed Timelike Curve” (CTC), linha do tempo fechada na qual se inspirou o clássico “Em Algum Lugar no Passado” (1980) - situações paradoxais nas quais partículas parecem ter surgidas do nada, revivendo o determinismo em um outro nível. A série Netflix “Corpos” (Bodies, 2023- ) eleva o paradoxo da CTC ao nível do existencialismo gnóstico da “Teodiceia”: é possível existir livre-arbítrio num mundo criado por um ser que tudo sabe? Quatro detetives em quatro períodos diferentes no tempo investigam um mesmo crime – um corpo que aparece numa mesma viela em Londres. Todos unidos em um loop tempo/espaço envolvido em uma conspiração em um ciclo fechado de 150 anos. 

quinta-feira, abril 20, 2023

Série 'Devs': uma Big Tech em busca de um "Rosebud" quântico


Causalidade versus acaso; determinismo versus livre-arbítrio. O velho dilema da Filosofia resolvido deterministicamente por um supercomputador quântico que consiga processar todas as variáveis possíveis do Universo até se transformarem em informações quânticas computáveis, prevendo todas as causas e efeitos. Até o momento em que o mapa se confunda com o próprio território, lembrando o clássico conto de Jorge Luís Borges. É a série de Alex Garland “Devs” (2020), na qual o gênio dono de uma Big Tech está em busca de seu “Rosebud”: secretamente reencontrar a pequena filha falecida manipulando o mapa da linha do tempo de todas as causas e efeitos. E em torno de tudo isso, espionagem industrial, assassinatos e a Inteligência do governo.

segunda-feira, março 13, 2023

'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo': Matrix na era quântica vence Oscar 2023


Passamos metade da nossa vida cometendo erros, e a outra metade tentando corrigi-los. O impacto da física quântica na cultura moderna foi estender ainda mais a angústia existencial: e se tivéssemos feito outras escolhas? Quais teriam sido minhas outras linhas do tempo? Viagens exponenciais no tempo e multiversos são os impactos na cultura pop de paradoxos quânticos como “o gato de Schrödinger” e a Interpretação dos Muitos Mundos de Hugh Everett. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (2022) é uma rara visão cinemática que extrapola ao limite esses paradoxos, levando sete dos 11 prêmios que concorria no Oscar 2023: uma estressada sino-americana dona de uma lavanderia quase falida e com relações familiares em crise é arrastada para uma batalha cósmica em um anárquico redemoinho narrativo de multiversos - uma verdadeira Matrix da próxima era da computação quântica.

quarta-feira, novembro 16, 2022

Depois do espaço, o capitalismo quer colonizar o tempo na série 'The Peripheral'


“Eu anexaria os planetas, se pudesse”, queixava-se o homem de negócios colonialista britânico Cecil Rhodes na década de 1930: o mundo já estava todo parcelado e colonizado. Portanto, onde o Capitalismo encontraria novos mundos para colonizar. A guerra sempre foi uma solução paliativa. Se os espaços de conquista acabaram, resta o Tempo. Se hoje a microinformática é a ferramenta para as negociações em tempo real do financismo global, a imaginação do escritor sci-fi William Gibson pensou na mecânica quântica como um novo salto: a colonização das realidades paralelas nas diversas linhas do tempo. A série Amazon Prime “The Peripheral” (2022-), baseada no romance de 2014 de William Gibson, traz para a ficção científica esse realismo capitalista. Uma jogadora de games em RV testa uma versão Beta de um novo jogo que na verdade transfere seus dados de consciência para um futuro alternativo na qual um Instituto de Pesquisas oferece uma solução político-econômica inédita: a colonização do Tempo.

sexta-feira, agosto 26, 2022

Viagem no tempo e a angústia dos millennials no filme 'Efeito Flashback'


A Relatividade e a mecânica quântica alteraram radical nossa percepção tempo-espaço, ao ponto do tema da viagem no tempo se tornar um tema recorrente – o fascínio da “segunda chance” em que o passado poderia ser alterado. Mas nada como nesse século, em que o boom de produções sobre o tema reflete a angústia existencial da geração millennial: a angústia do crescimento, maturidade e a necessidade de fazer escolhas. “Efeito Flashback” (2020) é um bom exemplo: um jovem analista de informações que renunciou ao desejo de se tornar um artista visual encontra casualmente um antigo amigo do ensino médio. Um encontro que traz do passado memórias esquecidas que retornam como um flashback. Na verdade, o efeito de uma droga misteriosa da época que permitia escapar do espaço-tempo linear e experimentar vidas alternativas. Passado e presente se misturam em loop e deslocamentos, sem o usuário ter em que se apegar. O que traz a questão central desse boom sobre viagens no tempo: e SE eu tivesse feito outra escolha? Como seria a minha vida?

quarta-feira, janeiro 05, 2022

A incerteza do detetive gnóstico e pós-moderno na série 'Gente Ansiosa'


Conan Doyle e Agatha Christie criaram os detetives arquetípicos da Modernidade: Sherlock Holmes e Hercule Poirot: embora conhecedores da natureza humana, tratam a investigação como uma ciência exata - lógica e raciocínio. Porém, a descoberta do princípio quântico da incerteza do observador, mais do que uma descoberta da Física, impactou a cultura do século XX. E, principalmente, a figura literária do Detetive: a tentativa de solucionar um enigma sempre se volta para ele mesmo. O Detetive sempre será também uma peça do mistério que tenta solucionar. A série Netflix sueca de humor negro “Gente Ansiosa” (Folk Med Ångest, 2021) é mais um exemplo desse Detetive pós-moderno e gnóstico, cuja solução de um enigma (um assalto frustrado que terminou com reféns improváveis) passa pela compreensão de uma ferida psíquica da juventude de um obsessivo investigador da polícia.

quarta-feira, agosto 04, 2021

Descendo a toca do coelho quântico no filme "The Mandela Effect"


Muita gente possui em comum falsas memórias: de filmes que jamais foram feitos, de lembranças de nomes, logotipos, caixas de jogos de mesa e personagens de desenhos animados bem diferentes do que são na realidade. Mas qual realidade? Essa é a questão principal do chamado “Efeito Mandela”, fenômeno viral no qual muitas pessoas começam a descobrir que têm as mesmas falsas memórias dos mesmos eventos – produzindo conspirações quânticas como a experiência do gato de Schrödinger, a hipótese dos Muitos Mundos e a teoria do Universo como uma simulação computacional. Tudo isso inspirou o filme independente “The Mandela Effect” (2019): inconformado com a morte da sua pequena filha em um acidente, um designer de games de computador desce pelo buraco da toca do coelho quântico do Efeito Mandela acreditando que em alguns desses mundos das suas falsas memórias ela esteja ainda viva. Mas o filme apresente indícios de que a explicação do Efeito Mandela pode estar no fenômeno da hiper-realidade. 

quarta-feira, abril 14, 2021

Experiência sensorial e anomalias telefônicas na série 'Calls'



Nove episódios constituídos por áudios de telefonemas que, pelo menos de início, não estão relacionados mas que eventualmente serão peças de um quebra-cabeças envolvendo um mistério. Áudios acompanhados de formas abstratas constituídas por ondas senoidais, oferecendo uma experiência sensorial inédita para o espectador, pelos menos em plataformas de streaming. É a série da Apple TV + chamada “Calls” (2021-). Uma espécie de podcast narrativo cuja virtude é o minimalismo e a imprecisão, instigando nossa imaginação a completar as informações que faltam. Em cada episódio acompanhamos diálogos telefônicos que são interrompidos por eventos inexplicáveis. O que quer que esteja acontecendo em um nível global tem elementos desagradáveis ​​de terror corporal com pessoas gritando sobre coisas que não podemos ver e apenas imaginar – há algum tipo de anomalia exponencial envolvendo uma estranha dessincronização entre os interlocutores das conversas telefônicas. 

segunda-feira, março 08, 2021

China nega que está fazendo uma 'máquina do tempo' em meio a sincronismos


Vazado de uma plataforma de informação de financiamentos, uma apresentação em Power Point detalha um estranho projeto envolvendo o laboratório estatal de física de partículas da China e uma startup chinesa chamada Ruitai, intitulado “Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo” que seria utilizado para “viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc.”. Será que a reação de uma superpotência em desmentir o projeto de forma tão rápida e veemente entraria nos anais do “não há nada para ver aqui”? O fato é que essa notícia esta cercada de sincronismos: em 2011, o governo já havia proibido a produção de filmes sobre viagem no tempo no país. Além de que, desde o início da civilização chinesa, prever, dominar o futuro e subjugar o tempo foram os objetivos estratégicos principais - Fo-Hi (mítico imperador da China e considerado o mestre do tempo) criou o “I Ching” ou “O Livro das Mutações”, forma de entender as diversas ramificações do tempo, lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Em postagem anterior, em 2011, este Cinegnose noticiava que autoridades chinesas estavam proibindo a produção de filmes sobre o tema viagem no tempo, no ano do 90o aniversário do Partido Comunista chinês. Na oportunidade, discutíamos a notícia no sentido estrito da linguagem cinematográfica: o governo chinês cobrava produções audiovisuais e cinematográficas com maior realismo, seja no campo ficcional ou documental. E temas de ficção como viagem no tempo seriam por demais “escapistas” – clique aqui.

Agora, de uma maneira sincrônica, novamente temos uma notícia que envolve o governo chinês com o tema da viagem no tempo. Porém, agora no sentido literal!

O maior laboratório estatal de física de partículas da China refutou de forma enfática uma informação que passou a circular a partir de uma apresentação em Power Point vazado on line de uma plataforma de informação de financiamentos Tourongjie. O documento sugere que o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências estaria fazendo parceria com a Ruitai Technology Development Technology Co. em algo chamado "Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo".




O noticioso chinês The Paper Journalist, via 6Park News, vazou as informações do projeto com uma seguinte descrição do aparelho:

O dispositivo pode distorcer o tempo e o espaço, controlar a taxa de fluxo do tempo, romper a barreira do tempo e do espaço e pode ser amplamente utilizado para viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc. O projeto planeja selecionar um local na China, e arrendar uma área de cerca de 16 acres para construir uma base de experimentos científicos. Espera-se que o dispositivo seja capaz de transportar com sucesso o experimento espaço-tempo de 7 a 12 meses após os fundos estarem disponíveis.

O PowerPoint também afirma que a equipe por trás do projeto "chegou a um acordo de cooperação preliminar com uma equipe de pesquisa e desenvolvimento composta por renomados especialistas e acadêmicos do Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências", e que o Prêmio Nobel Charles Kao “reconheceu e elogiou” o dispositivo, além de outros conceituados cientistas como Li Jing, Zhao Guangheng e Niu Shuqiang.



De acordo com o plano, a Ruitai pretendia levantar US $ 200 milhões (US$ 30,9 milhões) para o projeto que estava "conservadoramente" avaliado em US$ 838,2 bilhões. 

Não muito tempo depois que o documento do PowerPoint vazou, o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências emitiu um comunicado negando veementemente seu envolvimento no projeto:

Não é verdade que nosso instituto e a 'Shanxi Ruitai Technology' mencionada no artigo Development Technology Co., tiveram algum contato ou cooperação, e nossa empresa não assumirá qualquer responsabilidade legal por quaisquer perdas causadas por sua falsa propaganda. 

A Ruitai também negou seu envolvimento com a estatal chinesa. A empresa alegou que a plataforma de informações de financiamento “gerou por engano” a apresentação, o que faz a Ruitai encerrar a cooperação com a plataforma, como informou o presidente Guo Weiwei, segundo o Chongqing Morning News – clique aqui

Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa


“Não há nada para se ver!”

Será que a China está construindo uma máquina do tempo? A notícia gerou muitas piadas e memes geeks nas redes sociais como, por exemplo, que se a China tem a tecnologia 5G é porque teria roubado dos americanos no futuro para trazê-la ao presente...

Para além desse folclore, jornalistas como Caroline Delbert, da revista norte-americana de ciência e tecnologia Popular Mechanics, considerou a estranheza de um desmentido tão rápido e veemente de um laboratório estatal: entraria nos anais do “não há nada para ver aqui!” – clique aqui. Quando uma superpotência faz um esforço especial para negar que está fazendo algo, o desmentido passaria a ter uma natureza ambígua. Produzindo uma espiral especulativa. Um plano de negócios em uma apresentação supostamente gerado “acidentalmente” e “vazado” por uma plataforma de informações de financiamentos poderia gerar uma negação tão forte de uma superpotência?

A estranheza é que nem mesmo diante da “teologia do COVID-19” espalhado pela mídia ocidental (um vírus chinês que se espalhou pelo mundo) o governo chinês foi menos enfático em desmentir ou criar sua própria narrativa do que veículos noticiosos do Japão e Taiwan que começaram a levantar evidências de que o novo coronavírus teria sua origem nos EUA – clique aqui. Menos enfático do que o atual desmentido de um vazamento de em estranho plano de negócios vazado na Internet.

I Ching e o mestre do tempo

Além desse sincronismo do governo proibir o tema específico “viagem no tempo” na produção fílmica e televisiva em 2011 e, agora, o vazamento de um estranho plano de negócios em torno da construção de “túnel no espaço-tempo” com uma startup chinesa, temos outra conexão sincrônica: tudo ocorre num país que que sempre se interessou muito mais pelo tempo do que pelo espaço – a geometria só entrou na cultura chinesa por meio de missionários ocidentais.



Algumas das teorias sobre o tempo datam  de mais de três mil anos e atualmente retomada por cientistas chineses. Esse conhecimento milenar afirma que o espaço não existe e que os objetos podem atuar uns sobre os outros a distâncias absolutamente fantásticas. Lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Portanto, prever e dominar o futuro e subjugar o tempo forma desde o início os objetivos da civilização chinesa.

Fo-Hi, a enigmática personalidade (imperador da China que pertencia ao reino Xia), foi considerado o mestre do tempo pelas crônicas chinesas dando a data do seu nascimento entre 5000 e 5000 A.C. 

Ele foi o criador do I Ching ou O Livro das Mutações. A tradição atribui a Fo-Hi a aplicação de oito trigramas essenciais de forma a desvelar fenômenos celestes que se desenvolvem na natureza, e tudo compreender. Esses trigramas compreendem duas linhas fundamentais: a linha contínua que representa o céu (yang) e a linha quebrada que representa a terra (yin).

I Ching  foi concebido para ser uma ferramenta à disposição do homem para desvendar as ramificações do tempo e basear suas ações nas informações no mais profundo inconsciente coletivo. O curioso é que a base do I Ching corresponde à moderna concepção quântica do tempo: a cada ponto do seu percurso, o tempo se separa em ramificações diferentes, das quais poderíamos dispor segundo a nossa vontade. Consequentemente, o Livro das Mutações fornece orientações para a escolha de uma decisão, de uma das ramificações do tempo.

Pela sua importância, foi estudado por Confúcio, pelo filósofo Leibniz, pela psicologia profunda de Carl Jung. O I Ching teria servido igualmente ao almirante japonês que tomou a decisão para o ataque a Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial.

I Ching teria sido a primeira conquista do tempo pelo homem. Para Jung, as escolhas em torno dos 64 hexagramas que compõem o I Ching seriam comandadas pelo fenômeno da sincronicidade – determinados eventos se influenciam também perpendicularmente a um fluxo temporal, como ondas produzidas na água por um navio, cujas ondas podem perturbar a trajetória de outros navios, ou de outras ondas.

Portanto, seria mera coincidência ou sincronismo  essas especulações em torno de um misterioso projeto de viagem no tempo justamente numa potência geopolítica tão obcecada pelo controle tático e político do tempo? 

Com informações de Popular Mechanics, Yicai Global, The Debrief, Planeta, Weird Theory, 6Park News.

 

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