sábado, outubro 30, 2010

A Experiência Cinematográfica pode ser Transcendente? - 2: O Prazer do Espectador

Dando continuidade a nossa trilogia de postagens sobre a transcendência e experiência cinematográfica vamos nos deter no duplo vínculo que envolve o prazer cinematográfico: monotonia versus princípio do prazer, profano versus sagrado, tédio versus fascinação, arquétipo versus civilização. A articulação desses dois pólos dentro da narrativa fílmica é uma ritualística que mimetiza o drama da quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem. Por trás do prazer do espectador cinematográfico esconde-se o conflito potencial entre o espírito humano que aspira por transcendência e a ordem social e política que procura o oposto: o controle e a estabilidade.

Toda estrutura da obra de arte busca ultrapassar a si mesma. Vimos na postagem anteriora que o cinema, da mesma forma, contém elementos que buscam transcender o próprio meio. Por ser o cinema, desde o início, uma síntese criativa de diversas artes ou mídias (fotografia, pintura, literatura, música etc.), sua evolução estética e tecnológica força os limites das regras do ambiente perceptivo.

terça-feira, outubro 26, 2010

A Experiência Cinematográfica pode ser Transcendente?

Aproximar o conceito de “transcendência” de Theodor Adorno (a experiência da alteridade, do “inteiramente outro”) com a experiência de transcendência como evento espiritual ou místico decorrente de um estado alterado de consciência é o desafio para a pesquisa atual sobre as conexões entre o Cinema e o Audiovisual com o Sagrado e Religioso. Se, como em toda obra de arte, o cinema busca ultrapassar a si mesmo ("transcendência"), talvez aí esteja uma explicação para o crescente interesse dos roteiros fílmicos pelo fantástico, o espiritual, o sincrônico, o místico e o gnóstico.

Quando Adorno apontava para a alteridade e transcendência contidas na arte, ele aproximava-se da temática central da Teologia Negativa: a busca do “inteiramente outro”, do “plenamente diferente”, do “diferente por excelência”, ou seja, aquilo que está além da representação. Adorno pensava o conceito de transcendência não no sentido religioso como epifania ou experiência mística de fato, de uma forma positiva. 

sábado, outubro 23, 2010

Sophia e a Gnose são derrotados pelo Clichê no filme "Sonhando Acordado"

Tom de falso documentário, sonhos como uma realidade paralela, frases com filosofias gnósticas e a personagem mítica de Sophia interpretada por Penélope Cruz nos fazem pensar estarmos diante de um novo Vanilla Sky, ou seja, um filme gnóstico e crítico. Engano! Todos esses elementos de fantasia presentes nesta comédia romântica servem para, além de sintonizar o filme com a agenda tecnognóstica vigente em Hollywood, aprisionar os potenciais elementos transcendentes e críticos no velho clichê da "quebra-da-ordem-e-retorno-à-ordem".

Gary (Martin Freeman) é um músico talentoso, porém frustrado por fazer jingles para campanhas publicitárias. No passado foi músico de rock pop, até a banda acabar e ver seu parceiro de composições de sucesso (Paul - Simon Pegg) se tornar bem sucedido financeiramente no campo da Publicidade, enquanto ele se deprime numa atividade profissional frustrante e sua vida conjugal cada vez pior, vítima da sua melancolia e depressão crescentes.

domingo, outubro 17, 2010

Uma "teologização" do Espiritismo no filme "Nosso Lar"

Se aspectos da divisão do trabalho na produção e o meio de distribuição e produção influenciam a estética e conteúdo do filme, então "Nosso Lar" é um bom exemplo. Para adequar o livro original às exigências internacionalizadas de produção e distribuição, "Nosso Lar" teologiza o Espiritismo e o enquadra dentro de um "ecumenismo pós-moderno" da ideologia da nova ordem mundial globalizada.

Muito se discute nos estudos acadêmicos sobre cinema como o meio produtor dos filmes (grupo de autores, técnicos, colaboradores da criação) ou os aspectos socioeconômicos (filme de produção independente ou não, aspectos de distribuição etc.) influenciam ou condicionam os conteúdos das produções.

O que mais vem chamando a atenção na área das pesquisas cinematográficas nas últimas décadas são as consequências da crescente internacionalização e globalização da divisão do trabalho da produção cinematográfica.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Ciclismo e Estado Alterado de Consciência: Gnose no Esporte?

Qual a representação do imaginário da bicicleta na cultura pop? Para nossa surpresa encontramos uma conexão entre o estado de consciência que a bicicleta proporciona (pela seu singular design que funde homem e máquina) e o gnosticismo de Basilides: o estado mental de "suspensão" que permite silenciar o ruído da linguagem para que ouçamos o espírito que busca a Gnose.

Basilides, um dos primeiros professores gnósticos em Alexandria, Egito, no século II da Era Cristã, nutria uma radical desconfiança em relação à capacidade da linguagem apreender a realidade. Sua teoria pode ser resumida na ideia da Grande Negação: se a verdade sobre Deus está além do conhecimento humano, a negação do conhecimento e da linguagem é o sagrado caminho.

No seu escrito “Sete Sermões aos Mortos” Basilides afirma que diante da plenitude (Pleroma – a origem de onde tudo foi emanado) “pensamento e existência cessam porque o eterno é desprovido de qualidade”. O mundo criado (o cosmos físico), ao contrário, é regido pelo princípio de “diferenciação” onde aquilo que era uno é cindido em qualidades opostas. Através da linguagem e do conhecimento o homem torna-se obcecado em apreender as qualidades do devir nomeando-as através de conceitos e palavras uma realidade que é difusa, fluída, relativa. Se as qualidades do Pleroma são pares opostos que se anulam mutuamente (a união dinâmica dos opostos: plenitude/vazio, belo/feio, tempo/espaço, energia/matéria etc.), ao contrário, a linguagem humana as diferencia, discrimina, tonando-nos vítimas dos pares de opostos.

O resultado é o Mal: na busca do Belo, o homem produz o feio; na busca da paz acaba produzindo a guerra, na busca do eficaz por meio da tecnologia acaba produzindo a inutilidade, etc. Essa reversão irônica da linguagem (a não transitividade entre linguagem e realidade) acaba tornando o homem prisioneiro dos próprios conceitos e palavras, não conseguindo ouvir, dentro de si, a reminiscência do Uno, do Pleroma, da plenitude original que o uniria a Deus.
“O que não deveis esquecer jamais é que o Pleroma não tem qualidades. Somos nós que criamos essas qualidades através do intelecto. Quando lutamos pela diferenciação ou pela igualdade, ou por outras qualidades, lutamos por pensamentos que fluem para nós a partir do Pleroma, ou seja, pensamentos sobre as qualidades inexistentes do Pleroma. Enquanto perseguis essas idéias, vós vos precipitais novamente no Pleroma, chegando ao mesmo tempo à diferenciação e à igualdade. Não a vossa mente, mas o vosso ser constitui a diferenciação. Eis por que não deveríeis lutar pela diferenciação e pela discriminação como as conheceis, mas sim por VOSSO PRÓPRIO SER. Se de fato assim o fizéssemos, não teríeis necessidade de saber coisa alguma sobre o Pleroma e suas qualidades e, ainda assim, atingiríeis o vosso verdadeiro objetivo, devido à vossa natureza. No entanto, como o raciocínio aliena-vos de vossa real natureza, devo ensinar-vos o conhecimento para que possais manter vosso raciocínio sob controle.”(BASILIDES, “Sete Sermões aos Mortos” disponível em: http://www.gnosisonline.org/teologia-gnostica/sete-sermoes-aos-mortos/)

Por isso Basilides propõe um singular estado de consciência: o silêncio, o estado de “suspensão”, o esvaziamento da mente por meio da suspensão de toda atividade dos mecanismos de abstração da linguagem (diz-se que os discípulos de Basilides eram obrigados, como ritual de iniciação, a ficarem em silêncio por três anos...). Manter o “raciocínio sob controle”, lutar “contra a diferenciação”. Com esses termos Basilides refere-se a um estado de suspensão entre os pares opostos, o “tertium quid”, o terceiro elemento que solde as qualidades.


A Experiência da Bicicleta: estado de "suspensão"


E o que essa longa introdução tem a ver com ciclismo? Se fizermos um sobrevoo nas representações da cultura pop em relação à bicicleta e ciclismo, veremos que essa prática desportiva e meio de transporte ocupa uma posição especial, uma especial confluência entre especiais estados de consciência e esforço físico, corpo e mente.

Um primeiro exemplo é o Kraftwerk (grupo pop alemão considerado os padrinhos da música Techno e industrial), cujos membros são apaixonados pelo ciclismo e que, a partir do mecanismo, ergonomia e design da bicicleta, destilaram o “ethos” da sua proposta musical: a união entre Homem, Máquina e Natureza. Certa vez, um dos integrantes do grupo, Ralf Hütter, fez a seguinte afirmação após a elaboração do clássico single “Tour de France” de 1983: “a bicicleta é mais do que um mero instrumento de lazer, é algo mais próximo da declaração política. Não é para férias, É o homem-máquina. Sou eu, o homem-máquina na bicicleta. Velocidade, equilíbrio, uma certa liberdade de espírito, manter a forma, técnica e perfeição tecnológica, na aerodinâmica”.

Para ele, a bicicleta é em si um instrumento musical: o som ritmado da corrente, engrenagens, a respiração e batimento cardíaco, tendo como fundo o som contínuo “shhhhhh” do contado do pneu no asfalto. Tal como um mantra, confere uma “liberdade ao espírito” ao esvaziar a mente, seja pela repetição de sons e movimento, seja pelo esgotamento físico.

Aqui podemos fazer uma surpreendente conexão entre Basilides e a bicicleta: o estado de consciência de suspensão na bicicleta é, ao mesmo tempo, simbólico e literal. Montar na bicicleta e se deslocar velozmente como se estivesse suspenso e, ao mesmo tempo, o som ritmado do corpo e do mecanismo anulando o trabalho mental.

Por experiência própria, é surpreendente os “insights” ou ideias que, paradoxalmente, advém desse vazio mental. A união dos opostos. Assim como na criação por brainstorming onde um estado caótico de ideias desconexas produz, ao longo do tempo, uma massa crítica que, de repente, produz um salto qualitativo: do nada, do caos, surge repentinamente a ordem, uma ideia.

É como se o barulho da atividade mental racional e cotidiana não nos deixasse ouvir as camadas mais profundas do nosso interior. É necessário silenciar a mente, nem que seja por meios violentos como no filme “O Clube da Luta”: a luta tem um aspecto de disciplina, ascese, tal qual um mantra onde os pensamentos e a racionalidade são subjugados à disciplina da repetição até que se convertam no oposto: o estado de suspensão de sentido para a libertação da consciência.

Músicas como “Bicycle Race” do Queen apontam para esse silêncio da racionalidade.
Você diz preto eu digo branco
Você diz barca eu digo picada
Você diz tubarão eu digo ei, cara
Tubarão nunca foi minha cena
E não gosto de “Guerra nas Estrelas”
Você diz Deus dê-me uma escolha
Você diz Deus eu digo Cristo
Eu não acredito em Peter Pan, Frankenstein ou Super Homem
Tudo o que quero fazer é
Bicicleta, Bicicleta, Bicicleta
Eu quero montar na minha bicicleta
Conceitos, escolhas, palavras são como ruídos que impedem a liberdade do espírito ouvir a si mesmo, suas reminiscências que o faça se conectar de volta à plenitude.

Esvaziamento da mente e liberdade de espírito alcança o estado alterado de consciência que chega à catarse e transcendência que altera a maneira como enxergamos a relidade, como na música “Bicycle, Bicycle, You are my Bicycle” da banda "Be Your Own Pet":
Vamos mudar a cor dos olhos
De cada senhora
Somos rápidos, nós somos rápidos
Somos rápidos, estamos explodindo
Tudo porque

Estamos sobre duas rodas, garota
Estamos sobre duas rodas, garota

Mude as cores da sua maquiagem
Todos os dorminhocos vão acordar
Tudo porque todos, porque todos, porque
Porque, porque ...

Sem engrenagens, sem freios
Nada real, nem falso

Transcender ao ponto das engrenagens e freios da bicicleta desaparecerem. Tal liberdade conduz à suspensão: nada real e nem falso, a busca de uma experiência que supere o dilema dos pares opostos, da armadilha que a linguagem e o conhecimento não conseguem se libertar. Ir além das engrenagens e freios (razão e linguagem).

A arquetípica figura em contra-luz de um ser extraterrestre montado em uma bike BMX no pôster do filme ET de Spielberg é uma síntese das representações pop em torno do imaginário da bicicleta: suspenso no ar tendo a Lua como fundo. A representação icônica de todo um imaginário gnóstico que envolve a bicicleta: suspensão como um estado alterado de consciência que possibilite o silêncio que nos faça ouvir a voz íntima da gnose.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Os sonhos contra-atacam no filme "Sonhando Acordado"

Rompendo com a tradição romântica do cinema que vê o universo onírico sempre submetido ao píncípio da realidade, em "Sonhando Acordado", Michel Gondry anarquicamente inverte a fórmula, ao apresentar os sonhos subvertendo a realidade. Ao partir do princípio freudiano da "teoria das sentinelas", Gondry mantém sua crítica às "tecnologias do espírito" apresentada no filme anterior "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças"(2004).

Ao escrever e dirigir “Sonhando Acordado” (La Science dês Rêves, 2006), o francês Michel Gondry continua afiado em seu posicionamento crítico em relação às chamadas “ciências do espírito” (neurociências e toda a gama de subprodutos de técnicas e terapias que prometem felicidades e realização pela autoprogramação da mente).

Se em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) ele satiriza as tecno-ciências que pretendem trazer a felicidade mediante o apagamento das memórias “ruins”, para que prossigamos em frente sem culpas ou mágoas, em “Sonhando Acordado” Gondry foca na defesa do sonho diante de toda tentativa da realidade em domesticá-lo para atender às suas finalidades.

Stéphane Miroux (Gael Garcia Bernal) faz um rapaz que retorna à Paris sob a promessa de sua mãe que lhe arranjara um emprego supostamente criativo como ilustrador. Stéphane, segundo sua própria definição, nunca consegue terminar nada a que se propõe e vê nesse novo emprego uma chance de se firmar na vida. Mas o emprego é uma chatice e nada criativo, na verdade apenas fazer past up para produção de calendários populares com mulheres nuas. Ao mesmo tempo, começa a flertar com a nova vizinha, Stephanie (Charlotte Gainsbourg). Com a ajuda desajeitada do colega de trabalho Guy (Alain Chabat), tenta conquistá-la, mas sem resultados.

O problema de Stephane é que ela “sonha acordado”, na verdade ele vive em constantes sonhos lúcidos que misturam sonho e realidade, dificultando a interação com as pessoas. Consciente do problema, inicia uma espécie de investigação (a “ciência do sono”, do título original) com direito inclusive a um talk-show onírico onde discorre sobre receitas de sonhos, recebe convidados, tudo na tentativa de descobri um porquê.

A primeira sequência do filme é impagável: o talk-show da Stephane TV, dentro da cabeça do protagonista, onde Stephane apresenta em um estúdio com câmeras de papelão e parede de caixas de ovos. Ele procura encontrar os ingredientes dos sonhos, resultando na fórmula que será base da sua “ciência do sono” que tenta entender e aplicar ao longo do filme:
“Como podem ver, é a combinação de ingredientes complexos. Primeiro, inserimos os pensamentos. Logo, acrescentamos um pouco de reminiscências do dia misturadas a algumas lembranças do passado. De duas pessoas. Amor, amizade, relações, e todos esses tipos, com canções ouvidas durante o dia e coisas que viram. E também, com um toque pessoal... Certo, certo. Acho que já é um... Já funcionou, sim! Sim...”

E vai jogando todos os ingredientes numa panela como um programa de receitas culinárias.

Ao longo da narrativa, quanto mais tenta controlar os sonhos para se adaptarem às exigências da realidade, mais realidade e sonho se confundem, agravando os problemas do protagonista. Entre as suas invenções malucas para entender o porquê dos sonhos e as complexas relações da mente com o encadeamento dos fatos inventa uma máquina de controlar o tempo que antecipa e atrasa alguns segundos da vida e uma técnica de controlar o sono REM com fios fixados nas órbitas dos olhos.

Dentro das cenas dos seus sonhos (engenhosamente elaboradas em animações stop motion com papelão, papel-machê, céus com algodão e água em papel celofane) ele tenta controlar os elementos da fórmula descrita no talk-show da abertura do filme, porém, cada vez menos bem sucedido.

Como vimos em postagens anterioras (veja links abaixo), essa é a ambição da atual agenda tecnognóstica: escanear, mapear e, no final, apresentar uma cartografia e topografia da mente para aplicação prática de controle e a mais fácil inserção de programações, ideias e memes nas mentes. Em referência a esta ambição tecnognóstica, as falas de Stephane são carregadas de termos que lembram física quântica e neurociências: “é simplesmente uma aplicação da teoria do caos”, “Causalidade Paralela Sincronizada”, “vínculo complexo” etc.

Suas invenções são ironizadas pela vizinha Stephanie como, por exemplo, quando o protagonista apresenta óculos para ver tudo em 3-D: “Mas a vida já não é em 3-D?”, pergunta Stephanie diante da inutilidade da invenção.

Freud e os mecanismos de defesa do sono

A originalidade do filme “Sonhando Acordado” está em apresentar um novo viés no confronto Sonho X Realidade, velho tema da história do cinema: tudo sempre gira em torno do choque ou confronto entre as duas esferas e dos mecanismos conspiratórios da Realidade (Estado, Governos, Cientistas etc) mobilizados para dominar e derrotar o mundo onírico. Por exemplo, os filmes de Terry Gilliam (“Brazil, o Filme”, “O Pescador de Ilusões” ou o recente “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus”) insistentemente abordam esse tema comum, resultando numa abordagem romântica onde o mundo onírico e da imaginação sempre perde no confronto com o mundo frio e cruel da racionalidade.

Ao contrário, “Sonhando Acordado” apresenta a reação dos sonhos onde, através de um engenhoso mecanismo de defesa, vai incorporando os estímulos da realidade exterior até incorporá-la dentro da lógica onírica, conduzindo à vitória final.

Esse “mecanismo de defesa” é a chamada “teoria das sentinelas”, apresentada por Freud na abertura do seu livro “A Interpretação dos Sonhos” e, por muito tempo, ignorado. Desse livro de Freud, o que sempre foi colocado em destaque foi a interpreção simbólica dos sonhos por meio das condensações e deslocamentos. Mas o que primeiro chamou a atenção de Freud foram conteúdos dos sonhos que tinham a ver com elaborados mecanismos de proteção do sono contra fatores perturbadores internos (desde dores de cabeça ou preocupações) ou externos (barulhos de trovões ou sons de relógios despertadores).

Por exemplo, se o despertador toca é muito comum o sonho disfarçar a campainha de alarme, tecendo com ela um história qualquer...Você está na igreja, com os sinos tangendo; ou então num escritório, onde um telefone estridente reclama que o atendam". Dado o estímulo, o sonho cria o cenário, fornece atores e adereços para as cenas, tudo isso extraído das experiências e impressões do dia-a-dia de quem está dormindo. O sono é uma necessidade fisiológica e o sonho tenta protegê-lo.

Parece que Gombry inspirou-se nessa característica dos conteúdos dos sonhos para apresentar a reação do universo onírico frente a invasão da realidade. Como grita, a certa altura do filme, a personagem Stephanie: “Anarquia para os Celofanes!” para defender a supremacia dos sonhos sobre a Realidade. Quanto mais a narrativa avança, os sonhos vão se sobrepondo à realidade, dando uma continuidade onírica a cada evento do mundo real. Quando, por exemplo, Stephanie abre a torneira e sai água em papel celofane. A cada estímulo externo, o mundo onírico responde incorporando-o para dar a continuidade dentro do sonho, até dominar a realidade e o protagonista cair no sono final.

A “ciência do sono” é derrotada na vã esperança de tornar produtivas as relações do protagonista no mundo real (no amor, no trabalho, na família). É a defesa do sonho e do inconsciente frente ao assalto das tecnologias do espírito tecnognósticas. Portanto, ANARQUIA PARA OS CELOFANES!

Ficha técnica
  • Filme: Sonhando Acordado (La Science dês Rêves)
  • Direção: Michel Gondry
  • Roteiro: Michel Gondry
  • Elenco: Gael Garcia Bernal, Charlotte Gainsbourg, Alain Chabat, Miou-Miou
  • Produção: Gaumont, France 3 Cinema, Partizan Films
  • Distribuição: Warner Independent Pictures
  • País: França, Itália
  • Ano: 2006



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sexta-feira, outubro 08, 2010

Livros "Cinegnose" e "O Caos Semiótico" lançados na Universidade Anhembi Morumbi

Entre as várias palestras e atrações do Encontro de Comunicação da Universidade, os dias 6 e 7 de outubro foram marcados pelo lançamento dos livros "Cinegnose" e "O Caos Semiótico" para a comunidade docente e discente. Em edições sob demanda ("on demand") em breve os títulos estarão disponíveis para venda em sites como da Livraria Cultura e da Giz Editorial, inclusive em versão e-book. Aguarde!

Os livros “Cinegnose” e “O Caos Semiótico” tiveram o seu debut no Primeiro Encontro de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. Anderson Meneses, seguidor desse humilde blog, foi o primeiro a adquirir um exemplar do “Cinegnose”. Entusiasmado, falou que vai lê-lo detalhadamente para partilhar suas opiniões através de comentários nesse blog.

Pela natureza paradidática do livro, “O Caos Semiótico” foi bastante procurado pelos alunos do curso de Comunicação. Bem conhecido por ex-alunos, agora é re-lançado em uma nova versão atualizada e ampliada para ser aplicado em sala de aula, tanto nas aulas de Comunicação Visual como na disciplina Estudos da Comunicação.

Já o livro “Cinegnose” chamou a atenção do corpo docente pelo ineditismo do tema: a
confluência entre gnosticismo e cinema. Esse livro é o primeiro dentro da bibliografia nacional a explorar esse tema dentro do campo da produção cinematográfica, audiovisual e cultura pop. Embora seja um tema já conhecido e discutido entre pesquisadores norte-americanos e europeus (Erik Davis, Erik Wilson, Victoria Nelson etc.) ainda no país essa discussão é incipiente.

Ambos os títulos foram impressos em processo digital e sob demanda (“on demand”). Portanto, o livro brevemente poderá ser adquirido através da Internet pelo sites da Livraria Cultura e da Giz Editorial. Também estará disponível para venda no site da editora a versão e-book dos títulos.

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sábado, outubro 02, 2010

Noites de Lançamento dos livros "Cinegnose" e "O Caos Semiótico"

Os livros "Cinegnose" e "O Caos Semiótico", cujo autor é esse humilde blogueiro que lhes escreve, terá seu lançamento dentro da programação do I Encontro de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, nos dias 06 e 07 de outubro. O evento é aberto para o público, em especial para os seguidores e leitores desse Blog. Estão todos convidados!

Finalmente teremos as noites de lançamento e autógrafos dos livros "Cinegnose" e "O Caos Semiótico", pela Giz Editorial de São Paulo. Ocorrerão nos dias 06 e 07 de outubro dentro do I Encontro de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. No dia 06 o evento começará às 21h na sala 511B, no primeiro andar do prédio da Unidade 5 no Campus Vila Olímpia (Rua Casa do Ator, 294). No dia 6, o evento ocorre no mesma unidade, dessa vez na sala 515 (também no primeiro andar) com início também às 21h.

O livro "Cinegnose: a Recorrência de Elementos Gnósticos na Recente Produção Cinematográfica Norte-americana" é o livro que deu origem a esse blog. O livro é a dissertação de Mestrado defendida na Pós em Comunicação Contemporânea (Análise de Imagem e Som) da Universidade Anhembi Morumbi-São Paulo no ano passado.

Nesse trabalho analiso a produção cinematográfica norte-americana recente (1995 a 2005) onde é marcante a recorrência de elementos temáticos inspirados em narrativas míticas do Gnosticismo (conjunto de seitas sincréticas de religiões iniciatórias e escolas de conhecimento nos primeiros séculos da era cristã).

Temos a frequência de temas como conspirações cósmicas, universos paralelos, amnésia e paranóia, além da ambivalente relação entre o sujeito e a realidade, consciência (especialmente alterada por estados de consciência iluminados) e revolta contra sistemas autoritários de controle. Filmes como Cidade das Sombras (Dark City, 1998), a Vida em Preto e Branco (Pleasantville, 1998), Show de Truman (Truman Show, 1998), Vanilla Sky (Vanilla Sky, 2001), entre outros, apresentam uma idéia geral de que o mundo que percebemos é uma ilusão criada por alguém que não nos ama e que a chave para revelar a ilusão e descobrir a realidade reside numa forma de autoconhecimento ou iluminação. Uma pista para descobrirmos essa conexão entre gnosticismo e cinema passa pela discussão entre misticismo e imaginário tecnológico. Esse período da produção cinematográfica norte-americana refletiria um imaginário tecnológico que alguns autores definem como “gnosticismo tecnológico” ou “tecnognose” (veja o Sumário do livro abaixo).


O Caos Semiótico

Já o livro "O Caos Semiótico - Ensaios Críticos de Estudos da Comunicação" é um relançamento, atualizado e ampliado. Lançado em 1996 teve duas edições pela Editora Terra. Esgotado o livro, não houve tempo para uma terceira edição com o fechamento da Editora Terra lá pelos idos de começo desse novo século.

Bem conhecido entre meus alunos da Universidade Anhembi Morumbi, passou, então, a frequentar sebos reais e virtuais na Internet e diversas cópias digitais em PDF.

Pois bem, finalmente teremos um relançamento com uma versão atualizada e ampliada. Composto por seis capítulos, o livro é estruturado em duas partes distintas: a primeira parte a “Psicanálise da Comunicação” e, a segunda, “Da Semiótica ao Pós-Moderno”( veja abaixo o Sumário do livro).

A novidade é o último ensaio do livro: “Tecnognose: do Vale do Silício à Hollywood”. Foi um artigo apresentado no II Simpósio Nacional da ABCIBER – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura realizado em outubro de 2008 na PUC/SP. Esse trabalho foi o ponto de partida de um projeto desenvolvido no Mestrado em Cinema da Universidade Anhembi Morumbi sobre como o imaginário místico (ou gnóstico) por trás novas tecnologias computacionais vão contaminar a produção cinematográfica da recente produção norte-americana nos aspectos temáticos, narrativos, iconográfico e simbólico.


Lançamento dos livros "Cinegnose" e
"O Caos Semiótico"
  • Dia 06/10/2010 - 21h às 23h na sala 511B (primeiro andar) Unidade 5 Campus Vila Olímpia.
  • Dia 07/10/2010 - 21h às 23h na sala 515 (primeiro andar) Unidade 5 no Campus Vila Olímpia.
  • Local: I Econtro de Comunicação - Universidade Anhembi Morumbi (Rua Casa do Ator 294, Vila Olímpia, São Paulo).
Sumário do livro "Cinegnose"


Sumário do livro "O Caos Semiótico"


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