Depois
de 17 anos de construção do túnel ferroviário mais longo do planeta que
atravessa a base dos Alpes suíços, ligando aquele país à Alemanha, foi
inaugurado no dia 01 de junho desse ano o “Gotthard Base Tunnel”. A cerimônia
foi transmitida ao vivo pela grande mídia europeia como um grande show teatral
multi-mídia. E o que críticos e espectadores descreveram nas redes sociais como “a cerimônia mais bizarra e confusa da História”: “ritual ocultista bizarro”,
“satânico”, “manifestação pós-cristã da Nova Ordem Mundial”, “celebração
Illuminati” diante de espectadores formados pelos mais altos dignitários da
elite política europeia . Não precisa dizer que o evento incendiou a imaginação
dos teóricos da conspiração. O fato é que o espetáculo teatral pareceu alguma
coisa entre o “Teatro da Crueldade” de Artaud e a performance do grupo catalão
“La Fura dels Baus. E turbinado por uma massiva simbologia hermética, pagã e
religiosa. Sabemos que não é a primeira que lemos notícias sobre membros da
elite global assistindo a rituais ou cerimônias ocultistas. Como interpretar
esse estranho evento midiático, sem cair em um conspiracionismo rasteiro?
Algumas hipóteses do Cinegnose: Sincromisticismo e Ecumenismo Pós-Moderno. Pauta sugerida pelo nosso leitor Antonio Manuel da Silva Filho.
A
lenda é contada nos cantões suíços. Moradores pediram ajuda ao Diabo em pessoa na construção de uma ponte para poderem
atravessar um perigoso despenhadeiro naquele montanhoso país. O Diabo concordou,
mas exigiu, em troca, a primeira alma da pessoa que atravessasse a ponte.
Ponte
pronta, chegara a hora de honrar o sinistro compromisso. Mas os aldeões enganaram
o Diabo e enviaram uma cabra no lugar de um homem para passar pela ponte.
Enfurecido, o Diabo se dirigiu a uma grande pedra que pretendia jogar na ponte
para destruí-la. Antes disso, uma mulher colocou a marca da cruz sobre a rocha,
impedindo que o Diabo a tocasse. Percebendo a impossibilidade de punir aqueles
que romperam o contrato, em seguida o Diabo desceu para o interior da montanha.
Foi
inspirado nessa lenda que o diretor teatral alemão Volke Hesse concebeu a
cerimônia de inauguração considerada por muitos a mais bizarra e confusa da
história das inaugurações de grandes obras de engenharia.
Foi
a cerimônia de abertura do projeto Gotthard Base Tunnel em 01 de junho desse
ano, uma obra que levou 17 anos para ser concluída ao custo de 8,5 milhões de
libras. O túnel tem 57 kms (o mais longo túnel ferroviário do mundo) através da
base dos Alpes suíços, ligando a Suíça à Alemanha. Esse feito de engenharia
encurta a viagem de trem entre os dois países em uma hora.
Celebração da “cultura alpina”
Mas,
a estranha cerimônia parece ter ofuscado em muito a proeza de engenharia.
Nesses últimos meses a Internet e as redes sociais estão explodindo em
interpretações e denúncias de que, na verdade, tudo não passou de uma
celebração satânica que comemorou a libertação do Diabo dos fundos da montanha
para emergir ao mundo!
Ou seja,
na verdade a cerimônia teria sido uma suposta celebração de um novo epílogo
para aquela lenda transmitida oralmente pelos aldeões dos cantões suíços.
Para
a BBC, a cerimônia foi uma “celebração da história da cultura alpina”. Para os
cristãos, a apresentação do Satanás libertado e a conquista diabólica do mundo.
E para os teóricos da conspiração, um inacreditável e explícito ritual illuminati.
Assistiram
ao espetáculo altos dignitários europeus, entre eles o presidente francês
François Hollande, o chanceler austríaco Christian Kern, a chanceler alemã
Angela Merkel e o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi.
A
cerimônia foi transmitida para todo o continente. E, segundo a própria BBC e o Daily Mail, a maioria do público ficou confusa e perplexa com o
desempenho de 600 atores e dançarinos com figurinos, adereços e imagens
simbólicas que sugerem temas do Apocalipse, paganismo e magia negra – atores
representados trabalhadores do túnel mortos em acidentes sendo levados por um
anjo andrógeno com imensas asas e uma estranha e enorme máscara de um bebê
(certamente não era um “anjo de luz”), bestas cabras sugerindo atos sexuais, a
presença de um cordeiro morto (o cordeiro de Deus?), homens cobertos por um
tecido branco e transparente acompanhando como fossem seguidores de um
“homem-cabra” sugerindo a imagerie de
discípulos seguindo Jesus etc.
Vamos
tentar analisar de forma objetiva essa cerimônia que, para começar a partir das
fotos, já é logo de cara bizarra. Parece ser alguma coisa entre Teatro da Crueldade de Artaud, a
percussão crua do grupo inglês Stomp
e as acrobacias do grupo de teatro catalão La
Fura dels Baus. Mas tudo turbinado com uma massiva simbologia
mítico-ocultista e religiosa.
A Cerimônia
O
espetáculo iniciou no túnel, no interior da montanha. Uma carruagem puxada por
cinco cavalos sai veloz do interior do túnel. Com olhares fixos e rostos
inexpressivos um grande grupo de mineiros, com macacões laranja, sai marchando
como uma legião de zumbis. Na imagem projetada na parede ao fundo, um grande
rosto com olhos como vigiando aquele grupo.
Trabalhadores
que morreram nas obras são simbolizados por mineiros em véus brancos. Voa um
estranho anjo com uma grande máscara de bebê deformado – um anjo recolhendo a
alma das vítimas?
Salta
um ator com o figurino de uma espécie de homem-cabra que ritualisticamente
parece consumir o acasalamento com dançarinos velados. Durante essa sequência é
projetado rosto de um ator “homem-cabra” com seus longos chifres em um fundo
preto e vermelho e fogo absorvendo o entorno do rosto, enquanto três
escaravelhos egípcios flutuam na frente da tela.
Repentinamente,
tudo se transforma em um ritual pagão com atores em roupas negras e nas suas
cabeças ninhos, plantas e árvores.
A
cerimônia termina com o homem-cabra ressuscitado, após os atores cantarem uma
canção que misturava germânico antigo com italiano. A figura híbrida
homem/animal passa a ser adorado como a representação da tecnologia, indústria
e a sociedade moderna.
Como
interpretar tudo isso? Exposição explícita da simbologia Illuminati?
Confirmação de que a elite global pactua com o Oculto? A celebração de uma Nova
Ordem Mundial Satanista?
Teatro da agitação e Bohemian Grove
Em
primeiro lugar, o diretor do espetáculo, Volker Hesse (premiado com a maior
honraria do teatro suíço, o Hans Reinhart Ring), em uma entrevista dada a Swissinfo (SWI) explicou que seu estilo
é o “teatro da agitação”, um teatro político. A certa altura, afirma, para
arrepiar os leitores em busca de uma explicação, que “celebrou missas negras
selvagens...”. Só não detalhou se ele se referia à suas produções teatrais ou à
vida pessoal – clique aqui.
Por
outro lado, casos de membros da alta elite político-financeira global
participando de espetáculos sobre rituais bizarros não é nenhuma novidade. O
mais notório e documentado é o evento anual promovido pelo Bohemian Grove, clube exclusivo masculino fundado em 1872 em Monte
Rio, Califórnia.
Todo
verão, no mês de julho, seus 2.500 membros participam de um “acampamento” no
qual, além de participar de palestras sobre conjuntura mundial, assistem ao
ápice do evento: um estranho ritual conhecido como “Cremation of Care”,
realizado aos pés de uma estátua de coruja com 12 metros de altura. Cerimônia
que, por anos, foi narrada pelo apresentador de TV Walter Cronkite.
Uma
cerimônia “mística, religiosa, luciferiana e babilônica”, segundo o jornalista
Alex Jones que, munido de uma câmera digital secreta, filmou todo o ritual no
ano 2.000: banqueiros, políticos, executivos da grande mídia e atores de
Hollywood estão lá, parados, observando sacerdotes em hobbies negros e
vermelhos fazendo um estranho ritual – depositam em uma pira incendiária um
boneco encenando um sacrifício humano em meio a cânticos e efeitos
pirotécnicos. A filmagem de Alex Jones resultou no documentário The Dark Secrets Inside Bohemian Grove.
Ecumenismo Pós-Moderno
O que levou outro pesquisador, Jon Ronson,
a concluir: “A minha impressão é que em tudo isso permeia uma sensação de
imaturidade: imitadores de Elvis, assustadores rituais pseudo-pagãos e
bebedeiras. Essas pessoas podem ter atingido o ápice das suas profissões, mas
emocionalmente parecem ainda presos aos seus anos de faculdade” – veja RONSON,
Jon, Them: Adventures with Extremists, Simon and Schuster, 2002, p. 321.
Outra
interpretação possível: Ecumenismo Pós-Moderno. A elite há séculos persegue o
ideal da criação de uma Nova Ordem Mundial Global. O fenômeno contemporâneo da
chamada “New Age” (“Nova Era”, movimento espiritual buscando a fusão Oriente/Ocidente ao mesclar
autoajuda, psicologia motivacional, Budismo, Taoísmo e física quântica) é a
construção de uma superestrutura espiritual que legitime uma ordem globalista
baseada na liquidez, financeirização e
moeda sem pátria.
Uma nova
religião, igualmente sem pátria, global, construída a partir do pastiche dos
escombros das religiões monoteístas do passado (cristianismo, judaísmo,
islamismo) e tradições herméticas e pagãs.
O Nazismo
tentou fazer isso objetivando a “Nova Ordem”: a mescla de Budismo Tibetano,
mitologia nórdica, paganismo e cristianismo.
Senhores dos seus próprios infernos
O Cinegnose não
crê em “conspirações”, no sentido de uma ação arquitetada e friamente planejada
por homens fechados em salas secretas traçando metodicamente planos. Esse
humilde blogueiro crê numa realidade mais caótica na qual essa elite até tenta
fazer isso: mas desperta forças tão explosivas (desse e do “outro mundo”) que
acabam por criar conjunturas incontroláveis. As quais, claro, vão explodir nas
costas das classes sócio-economicas inferiores.
Como chegamos a
concluir em postagem anterior (clique aqui), podemos interpretar essa
bizarra cerimônia na Suíça como um evento principalmente sincromístico.
Partindo do argumento de Jon Ronson (a imaturidade e irresponsabilidade das
elites) chegamos a estas conclusões:
(a)
De forma imatura e sensacionalista
manipulam egrégoras, formas-pensamento ou arquétipos com forças reais (criações
mentais que utilizam matéria fluídica capazes de criar formas autônomas no
Plano Astral,) amplificando suas programações ocultas inadvertidamente através
das mídias, produzindo esse “oceano de pensamentos” que constitui o contínuo
midiático atmosférico. Em dadas circunstâncias podem entrar em contato com o
mundo real, produzindo eventos ou conexões significativas como violência,
guerras, assassinatos e demais formas perversas de comportamentos individuais
ou coletivos – sobre isso clique aqui;
(b) A manipulação dessa magia ritual, mitos e
simbolismo antiquíssimos por uma elite política refletiria o desejo profundo
desses indivíduos se libertarem da má consciência (culpa ou ódio) que os
acompanha e dos poderes corporativos ou políticos aos quais devem se submeter.
Em outras palavras, tentam se tornar os senhores dos seus próprios infernos.
Assim como o famoso mago Aleister Crowley pretendia transformar o próprio
Satanás em seu subordinado.
Postagens Relacionadas |