domingo, abril 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que acontece quando
o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"?
Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011),
um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao
gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos
e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à
indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de
sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que
fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano?
É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.
Quando Sam Reimi escreveu e
dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a
situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma
floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited”
movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com
requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.
Mais do que isso, talvez não
imaginasse que nesse meio tempo o mainstream
hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em
“Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em
“Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de
roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky,
Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de
distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema
comercial.
Somente é possível compreender
integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011)
colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada
vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões
críticas no meio do mainstream
hollywoodiano, como no caso desse filme.