sábado, abril 25, 2015
Retrospectiva 50 anos tenta exorcizar fantasmas da TV Globo através do "tautismo"
sábado, abril 25, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Competentes jornalistas como Caco Barcelos e Ernesto Paglia
colocados frente a frente numa mistura de “Roda Viva” da TV Cultura com o “Galeria
dos Famosos” do Domingão do Faustão. E todos confrontados com suas imagens do
passado (mais novos, mais magros e com mais cabelos) na expectativa de que
depois a câmera em close arranque algum tipo de emoção dos experientes
profissionais. A retrospectiva “Jornal Nacional – 50 Anos de Jornalismo”,
projeto idealizado pelo apresentador William Bonner (ansioso e sempre meneando
a cabeça na tentativa de exorcizar os fantasmas da história da TV Globo),
mostra de forma didática em seus cinco episódios o que foi o início e o que
será o fim da hegemonia da emissora: o modelo melodramático de jornalismo que
ajudou a encobrir informações no auge da ditadura e o tautismo (tautologia +
autismo) atual como manobra desesperada para sobreviver aos novos tempos de
queda de audiência.
Quando
fazia a faculdade de jornalismo lá pelo início da década de 1980, minha geração
via na TV Globo uma referência negativa para qualquer estudante que iniciava a
carreira. Brincávamos com o tique melodramático dos repórteres que buscavam
muito mais os sentimentos do entrevistado do que depoimentos objetivos da realidade.
“O que você está sentindo?...”, era a pergunta clichê feita para a vítima de
uma enchente no Sul do País naquele momento, com água até a cintura, dirigida
por um repórter da Globo em uma canoa, protegido por uma capa de chuva e o
rosto consternado.
terça-feira, abril 21, 2015
O Top 10 do bestiário neoconservador para o século XXI
terça-feira, abril 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Explosão
populacional, antropologia criminal do século XIX, o hype dos assexuados,
fantasmas vermelhos soviéticos e a fantástica revelação de que a Terra é plana
e que há uma conspiração para esconder de todos essa verdade extraordinária.
Prepare-se! O futuro poderá ser construído a partir de ideias que supostamente
teriam sido superadas pelo progresso científico, processo civilizatório ou
simplesmente pelas transformações políticas e sociais das últimas décadas.
Ideias conservadoras que no passado foram criadas para deter mudanças ou revoluções, hoje são resgatadas pela mentalidade neoconservadora sob uma
nova roupagem high tech, nova nomenclatura e o charme das teorias
conspiratórias. O “Cinegnose” fez uma lista dos 10 principais renascimentos de
ideias antigas e até sinistras que parecem encontrar o fértil terreno no
radicalismo e fundamentalismo atuais.
sábado, abril 18, 2015
"Lost River": o estranho filme incompreendido pela crítica
sábado, abril 18, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vaiado no
Festival de Cannes e trucidado pela crítica, o filme de estreia na direção do
ator Ryan Gosling, “Lost River” (2014), teve um destino injusto. Filmado em
Detroit, Gosling transformou-a numa cidade gótica que lembra Louisiana pós
furacão Katrina – crise econômica, ruínas e um mistério que envolve uma parte
submersa pela construção de uma represa na fictícia cidade de Lost River. Por
trás das camadas de estilizações da fotografia, personagens e cenografias (que
fizeram a crítica chamar o filme de “um David Lynch de segunda mão”), estão
alusões à crise econômica dos EUA pós explosão da bolha especulativa de 2008
combinados com misticismo gnóstico: qual o mistério que torna os protagonistas
prisioneiros daquela cidade? O filme tem estreia prevista nos cinemas
brasileiros em julho desse ano.
Recentemente
poucos filmes foram tão destruídos pela crítica como Lost River, produção que marca a estreia na direção do ator Ryan
Gosling - A Passagem (2007) e Drive
(2011). Quando estreou no Festival de Cannes em 2014 foi muito mal recebido
pelo público: nos créditos finais a plateia respondeu com assovios e vaias como
uma torcida irritada em um estádio de futebol. Depois disso Gosling e seu filme
desapareceram e nada foi falado deles por dez meses.
Mas
agora Lost River reaparece com nova
edição (foram retirados 10 minutos da edição original) para ser exibido em
alguns cinemas selecionados em Nova York e Los Angeles, além de canais de TV
pay-per-view e arquivos torrent na Internet – no Brasil é esperado nos cinemas
em julho.
sexta-feira, abril 17, 2015
"Whiplash" fala de qualquer coisa... menos de música
sexta-feira, abril 17, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Corremos
diariamente contra o tempo para atender aos valores da eficiência, desempenho e
produtividade que regem a sociedade atual. Ao contrário, na música o tempo é
uma ferramenta de expressão artística e não um inimigo. E também um meio para a
improvisação e surpresa. Mas no filme "Whiplash" o tempo não é musical: é
disciplina e performance – um baterista de Jazz iniciante tem que tocar cada
vez mais rápido até sangue e suor caírem sobre o set do instrumento. Em um
conservatório de Nova York, alunos de Jazz vivem sob o fascínio dos grandes
virtuoses do passado sob a regência de um professor ditatorial e manipulador.
Para eles, a música é disciplina e os mestres do passado se tornaram virtuoses do Jazz porque
foram disciplinados através aprendizado pela dor e humilhação. Em "Whiplash", a
música se rende ao “no pain, no gain” – “sem dor, sem recompensa”, ao pé da letra – princípio
opressivo da meritocracia atual.
Na
música, e principalmente no Jazz, a expressão artística manifesta-se através de
quatro recursos: Tempo, Sensação,
Dinâmica e Prática. O Tempo é um
recurso, é o ritmo através do qual nos entregamos à música; a Sensação é como o Tempo nos envolve – a
sensação sinestésica da batida transformando o corpo do músico e o instrumento
em uma coisa só; a Dinâmica são as
forças que produzem o movimento determinando o quanto tal alto ou baixo tocamos
ou cantamos; e a Prática tem a ver
com disciplina e tenacidade.
A Prática refere-se a como o músico vai passar incontáveis
horas aperfeiçoando sua arte para comunica-se sem esforço com aqueles ao redor,
plateia e outros músicos. Assim como na linguagem oral e fonética, o músico
passa muito tempo desenvolvendo seu vocabulário para ter capacidade de
expressar sentimentos e emoções em um nível mais profundo.
sábado, abril 11, 2015
O Homem-Aranha e a auto derrota do PT
sábado, abril 11, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma das suas
intermináveis lutas na franquia Homem-Aranha, o super-herói, cansado e perplexo
depois de mais uma batalha contra vilões bizarros, desabafa: “de onde vem toda
essa gente?”. Diante das manifestações Anti-Dilma as esquerdas parecem tentar
responder à mesma pergunta perplexa do Homem-Aranha:de onde vêm os manifestantes? Eleitores do Aécio?
Classe média branca? Conspiração de magnatas do petróleo dos EUA de olho no
pré-sal? Há um “elemento de auto derrota” histórico nas esquerdas, como afirmava
o filósofo Herbert Marcuse – o pragmatismo e o economicismo que ignoram a base
imaginária e psíquica do funcionamento das ideologias. Enquanto isso, a Direita
sabe “de onde vem toda essa gente”: ouve a sociedade profunda por meio de
pesquisas etnográficas que perscrutam os novos perfis psicográficos chocados
pelo neodesenvolvimentismo do PT.
Depois
de enfrentar o Homem-Areia que tentava roubar o dinheiro de um carro-forte, o
Homem-Aranha dispara sua teia e salta para um topo de um prédio. Exausto, tira
sua máscara e as botas cheias de areia depois de ter sido obrigado a se
engalfinhar com o vilão. E então, o herói desabafa: “de onde vem toda essa
gente?...”.
Essa
é uma sequência do filme Homem-Aranha 3,
mas o estado de espírito do herói ao mesmo tempo cansado e perplexo guarda suas
analogias com as reações das esquerdas ao ver a escalada neoconservadora que
culminou com os protestos anti-Dilma do dia 15 de março.
sexta-feira, abril 10, 2015
Em Observação: "Antes de Dormir" (2014) - o sono gnóstico do esquecimento
sexta-feira, abril 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinema,
percepção e memória têm uma longa parceria temática: se a percepção humana
funciona como um mecanismo cinematográfico, como dizia o filósofo Henri
Bergson, compreende-se o fascínio pelo tema da amnésia no cinema. De
Hitchcook a “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004, “Antes
de Dormir” (2014) é mais um filme dessa longa tradição. Lembra o clássico “Amnésia” (2000) de Nolan – uma mulher não
consegue manter as memórias por mais de um dia e diariamente acorda sem saber
onde está e também sem saber quem é o
homem que dorme ao seu lado. Perda das memórias levam sempre os protagonistas à
condição paranoica. A paranoia é um estado alterado de consciência que pode
levar tanto à autodestruição quanto à libertação das aparências que encobrem a
realidade. A paranoia pode abrir duas portas: a narcísica ou a gnóstica. E é isso que o “Cinegnose”
vai conferir no filme.
sábado, abril 04, 2015
Viajantes, Detetives e Estrangeiros vagam por Hollywood em "Mapas Para as Estrelas"
sábado, abril 04, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Hollywood tem
uma tradição de filmes que mostra a cidade dos sonhos como um inferno de
ganância, narcisismo e perversões. A crítica especializada tem considerado
“Mapas para as Estrelas” de David Cronenberg como mais um filme com esse viés
moralista sobre a indústria do cinema. Porém, ao lado do roteirista Bruce
Wagner, Cronenberg foi muito além disso: conseguiu criar uma pequena galeria de
personagens que consegue sintetizar os principais arquétipos que dão vida aos
nossos sonhos: Viajantes, Detetives e Estrangeiros. E também a fragilidade
emocional por trás de profissionais bem pagos para produzir o nosso
entretenimento: a busca desesperada por amor, adoração e aceitação
incondicional. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
Cronenberg
sempre foi fascinado pelas metáforas da invasão do corpo e a fragilidade da
carne diante da tecnologia em filmes como Videodrome,
Scanners, Crash ou eXistenZ. Seus filmes até podem sugerir
cenas de horror, mas na verdade o diretor transita entre a comédia, o humor
negro e o drama. Cronenberg está menos interessado em sangue, e muito mais na
natureza monstruosa das nossas obsessões e desejos, na dificuldade de
escaparmos de nós mesmos e como a sociedade cruelmente explora esse ponto fraco
humano.
Guerra
psíquica (Scanners), o domínio mental
da TV (Videodrome) e games digitais
mortais (eXistenZ) são algumas
amostras dessa temática recorrente de como a sociedade é capaz de criar
sistemas que envolvem tanto a carne como a alma. Mapas para as Estrelas é mais um filme desse veio crítico de
Cronenberg. E dessa vez é o alvo é Hollywood, tal como descrito pelo roteiro de
Bruce Wagner: um inferno de ganância, narcisismo e perversidade sexual.
quarta-feira, abril 01, 2015
Ação e Reação na crise da telenovela "Babilônia"
quarta-feira, abril 01, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em
comum entre a física newtoniana e os estudos sobre psicopatologia do
psicanalista Wilhelm Reich? Tudo, pelo menos no caso da atual crise de
audiência da novela da TV Globo “Babilônia”. A rejeição de telespectadores e
grupos evangélicos pregando o boicote à telenovela nas redes sociais (tudo
motivado pelo beijo de um casal de idosas lésbicas) tem uma relação direta com
a pesada atmosfera política atual alimentada diariamente pela TV Globo através
do telejornalismo e teledramaturgia. Lei newtoniana de ação e reação: clima de intolerância e radicalismo político converte-se em
conservadorismo moral, sexual e de caráter que atinge em cheio o principal
produto da grade da TV Globo – a novela do horário nobre. Além disso, a crise
de “Babilônia” guarda paralelos com outra crise global: a da novela “O Dono do
Mundo” de 1991, também de Gilberto Braga, em um contexto pré-impeachment de
Fenando Collor de Mello.
Toda ação resulta numa reação oposta e de igual intensidade. Não há como deixar de lembrar desse princípio clássico da física newtoniana na atual crise que envolve a novela do horário nobre da TV Globo chamada Babilônia. Depois dos 46 pontos que a novela anterior Império marcou na sua última semana, Babilônia despencou para 23 pontos. Portanto, abaixo da novela das 19h e do reality Big Brother Brasil. Isso, no horário mais caro da TV brasileira.
A novela de Gilberto Braga surge nas telas
num momento onde se acirra a contradição vivida pela TV Globo: de um lado, nos
últimos anos vem assumindo o papel de partido de ferrenha oposição política ao
Governo Federal; e do outro, a necessidade comercial de reerguer a audiência em
queda com a crescente concorrência da Internet e os novos dispositivos móveis
de comunicação.
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