segunda-feira, março 28, 2016
Em "O Cérebro Que Não Queria Morrer" o pesadelo da ciência tecnognóstica
segunda-feira, março 28, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que assombrou a infância desse humilde blogueiro. Assistido
décadas depois, o filme de terror sci fi “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The
Brain That Wouldn’t Die, 1962) comprova ser uma verdadeira cápsula do tempo: mostra uma
Hollywood onde a herança cultural europeia ainda estava presente na crítica
à ética do progresso científico – a consciência ou “alma” não se localiza
exclusivamente no cérebro (ecos da psicologia Gestalt e da Fenomenologia), o
que torna a experiência do protagonista (o transplante da cabeça de sua noiva)
moralmente abominável. Bem diferente da atualidade, onde a agenda tecnognóstica
na Ciência crê numa consciência descorporificada que poderia ser traduzida
em bytes e aspirar à eternidade.
domingo, março 27, 2016
Curta da Semana: "This House Has People In It" - o terror em transmídia
domingo, março 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esse curta tornou-se viral e muitos internautas tentam desvendar o
mistério que envolve o destino daquela família. “This House Has People In It” é
um curta assustador que aponta para o futuro do gênero terror: as narrativas
transmídias onde os espectadores participam de forma imersiva em um ARG –
Alternate Reality Game. Um site de uma suposta empresa que comercializa vídeos
de vigilância e um misterioso vídeo de um escultor em argila disponível no
YouTube são as pistas para que cada usuário monte sua narrativa e crie
hipóteses para o que aconteceu naquela casa onde todos pareciam estar
preparando uma inocente festa de aniversário.
O gênero “found footage” encontra-se com o tema “drama familiar”,
argumento que vem fascinando os cineastas nos últimos anos.
sábado, março 26, 2016
Em "Closer To God" o mito de Frankenstein enfrenta a Ciência, Mídia e Religião
sábado, março 26, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como o clássico terror gótico “Frankenstein” seria contado no século
XXI? Certamente o cientista teria a sua disposição a clonagem e contra ele o
sensacionalismo midiático alimentando uma turba enfurecida de fundamentalistas
religiosos pregando o fim da Ciência e uma nova Idade Média. Esse é o terror
independente “Closer To God” (2014) de Billy Senese, onde vemos o drama de um
geneticista criador do primeiro clone humano e que terá que enfrentar uma
extensa cobertura midiática que o transforma em alvo de diversos grupos
religiosos radicais e violentos. Um filme que evita os clichês hollywoodianos
do “cientista louco” e do maniqueísmo “Ciência versus Religião”. Todos os lados
(Ciência, Mídia e Religião) têm suas mazelas e culpas. E o único ser próximo de
Deus é a pequena Elizabeth, o bebê clone inocente de toda a tragédia ao redor. Filme sugerido pelo nosso leitor Antonio Oliveira.
terça-feira, março 22, 2016
Agenda Hollywood e os super-heróis: ingovernabilidade para o mundo
terça-feira, março 22, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa manhã de domingo de 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do
presidente Bush, reuniu-se em Beverly Hills com os chefões de Hollywood. Era o
início da criação da “Agenda Hollywood” para esse século – mais uma vez, a
indústria do entretenimento norte-americana era convocada a servir de braço político para o jogo
geopolítico mundial. Na época, o terrorismo da Al Qaeda. Hoje, as várias
“primaveras”, árabe e brasileira, e o xadrez político jogado contra os países
que compõem os BRICS. Sincronicamente quando a Agenda Hollywood intensifica a
presença das franquias de super-heróis nas telonas, as diversas “primaveras”
(manifestações e protestos em diversos países) são tomadas por bizarros
adereços do super-heróis do cinema como metáforas de solução para crises
políticas nacionais. Com isso, a Agenda Hollywood avança da simples propaganda
para o “neurocinema”: moldar a percepção de que problemas podem ser resolvidos
através da amoralidade dos super-heróis. A palavra-chave do jogo é indução à
ingovernabilidade em países emergentes, como o Brasil.
domingo, março 20, 2016
Em "Boneca Inflável" somos tão vazios quanto uma boneca de sex shop
domingo, março 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma fábula moderna inspirada em um mangá, onde é feita uma releitura de
Pinóquio com um toque erótico: uma boneca inflável de sex shop
inexplicavelmente ganha vida, ganha as ruas e procura entender o que nos define
como humanos. Mas tudo que descobre é que nós somos tão vazios espiritualmente
como uma boneca é vazia fisicamente. O filme “Boneca Inflável” (“Kûki Ningyô”,
2009) de Hirokazu Koreeda baseia-se em um específico problema sócio-cultural japonês (o
“kodokushi”, morte solitária), mas sua reflexão sobre a solidão urbana,
inércia, sonhos derrotados e a perda da inocência de uma boneca erótica aspira
a um tema bem universal: o fetichismo dos produtos e serviços.
Ao longo do século XX a sociedade japonesa conseguiu combinar muitos
hábitos e instituições feudais com o moderno dinamismo cultural e econômico do
Capitalismo Tardio. Mas com um preço alto: fragilização dos laços familiares e
uma conduta de boa parte da sociedade japonesa de evitar qualquer tipo de
situação que possa incomodar outra pessoa. Chamam essa atitude de “meiwaku”.
sábado, março 19, 2016
Curta da Semana: "Bright Future My Love" - o amor em uma distopia gnóstica
sábado, março 19, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Da Sérvia vem esse enigmático curta distopico sobre uma mulher que tenta
despertar através do amor um homem vazio de espírito e consciência num mundo que lembra "1984" de George Orwell. Mas o Big Brother não é mais um Estado opressor, mas telas de TV que
exibem mensagens de publicidade e propaganda que mantém todos isolados e sós
numa rotina de trabalho sem sentido. Os mitos gnósticos da Queda e de Sophia encontram-se em um mundo sombrio filmado em preto e branco. É o curta “Bright Future My Love” (2014) de Marko
Zunic, um profissional de engenharia da informação de Belgrado que parece ter
transformado o hobby de fazer curtas-metragens em uma expressão fílmica da
distopia do mundo corporativo.
sexta-feira, março 18, 2016
De anti-Collor a anti-Dilma: 24 anos depois midiatização e neomoralismo
sexta-feira, março 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de pouco mais de duas décadas o País está às voltas com
manifestações de apoio ao impeachment de um presidente da República. As
manifestações do último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, foram
consideradas “sem precedentes”, tanto em número de participantes quanto à
infraestrutura formada por trios elétricos, canhões de luzes, áreas VIP e todo
um aparato voltado para o “ethos” de um perfil sócio-econômico acostumado a
serviços e hábitos de consumo de alto nível. Pesquisas como a do Datafolha confirmaram
isso. É importante comparar por dentro, nas ruas, as manifestações anti-Collor
de 1992 e a atual anti-Dilma em aspectos como atmosfera, comportamento, marcas
geracionais, signos de consumo etc. Essa comparação pode revelar as profundas
mudanças na opinião pública brasileira – midiatização, neomoralismo e a
ascensão do “cinismo esclarecido”.
Vinte quatro anos depois surgem nas ruas do País manifestações de apoio
a um impeachment de um presidente da República. Esse humilde blogueiro tem
idade suficiente para ter vivido essas duas épocas: das manifestações marcadas
pelo protagonismo dos jovens chamados “caras-pintadas” em 1992 aos protestos
atuais cercado de toda uma parafernália de adereços e fantasias como patos
amarelos gigantes, bonecos infláveis “pixulecos” e Dilma presidiária chagando a
grupos vestidos de Batman e toda a sorte de super-heróis.
domingo, março 13, 2016
Comercial de lavadora reforça estereótipos da empregada doméstica da classe média
domingo, março 13, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Toda obra audiovisual é um sintoma de cada época. E algumas vezes esse
sintoma é um ato falho, como na atual série de comerciais para a TV da Lavadora
Black Panasonic onde o pensamento ecologicamente correto e tecnologia
sustentável convivem confortavelmente com uma remanescência das relações entre Casa
Grande e Senzala da época da escravidão brasileira: a figura da empregada
doméstica uniformizada. A modelo/apresentadora Fernanda Lima aparece andando na
área de serviço contracenando com uma alegre empregada que dança imitando os movimentos da máquina, em diversas situações que sugerem o estereótipo
de segregação do imaginário das classes médias. Os sofisticados
eletrodomésticos do século XXI tornam o cotidiano mais prático, o que
dispensaria a necessidade de uma “assistente do lar”. Mas ela permanece,
uniformizada, como signo da permanência da distinção de classes.
sábado, março 12, 2016
A vida é uma gigantesca piada cósmica no filme "Entertainment"
sábado, março 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma produção que está na lista dos dez filmes mais estranhos de 2015. Em "Entertainment" (2015) um comediante de “stand up comedy” chamado Neil Hamburger (o alterego do humorista Gregg Turkington) vive uma espécie de autoexílio em uma turnê de shows improváveis por hotéis, bares de beira de estrada e toda sorte de espeluncas em lugares perdidos em desertos na fronteira EUA-México. Um comediante sisudo, desajeitado e amargo que conta piadas enquanto toma copos de drinks no canudinho. A incauta plateia espera piadas que a faça rir das desgraças alheias para se sentirem melhor nas suas vidas tão cinzentas quanto o deserto. Mas tudo que Neil Hamburger lhes apresenta são piadas carregadas de raiva. E também a suspeita de que todos nós estamos metidos em alguma gigantesca piada cósmica.
terça-feira, março 08, 2016
Somos todos perdedores no filme "Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre A Existência"
terça-feira, março 08, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine se o leitor fosse um ser extraterrestre que chegasse na Terra e
visse pela primeira vez aspectos do cotidiano da vida dos terrestres em bares,
casas, escritórios e ruas. Certamente veria tudo com um misto de estranheza e
espanto pelo artificialismo, tensões, angústias e humor involuntário de muitas
situações cotidianas. Pois essa é a proposta do diretor sueco Roy Andersson no
filme “Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre A Existência” (2014) que
fecha a sua Trilogia iniciada há 15 anos
sobre “como ser um ser humano”. São 39 esquetes de pequenos flagrantes
da rotina diária, mostrando principalmente os “perdedores” num olhar
radicalmente diferente dos losers hollywoodianos. Se nos filmes de Hollywood
os “losers” são orgulhosos e viram um estilo de vida, em Andersson os
perdedores são a própria essência gnóstica da condição humana: estrangeiros em seu
próprio planeta, sociedade, família e amigos.
domingo, março 06, 2016
Lula prisioneiro em narrativa transmídia da série "House of Cards"
domingo, março 06, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinco horas da manhã de sexta-feira: o Netflix libera no Brasil a quarta
temporada da série “House of Cards”. Uma hora depois a TV Globo começa a
transmitir ao vivo a 24a etapa da Operação Lava Jato onde 200
agentes da Polícia Federal rumam a São Bernando/SP para o ex-presidente Lula
ser alvo de condução coercitiva para “prestar depoimentos”. Coincidência?
Sincronicidade? Para os fãs a série do Netflix apresenta semelhanças com a
atual crise política brasileira. E o cálculo midiático da vara judicial de
Curitiba parece saber disso. Se isso for verdade, a Operação Lava Jato
demonstra ser uma grande operação semiótica: da narrativa tradicional em três
atos de um reality show, agora está evoluindo para um tipo especial de narrativa transmídia conhecida como “Alternate
Reality Game” (ARG) – Jogo de Realidade Alternativa. Objetivo: criar uma "zona incerta"entre ficção e realidade que faça alusões ao universo de filmes e séries para dar legitimidade ficcional a ações que carecem de base jurídica.
Que a Operação Lava Jato é antes de tudo um show midiático sob o pretexto de
combater a corrupção, não restam dúvidas a cada vazamento seletivo de informações
para a grande mídia cujos âncoras dos telejornais chamam cinicamente de
“investigações sigilosas”.
sábado, março 05, 2016
No filme "Spotlight - Segredos Revelados" um réquiem para o Jornalismo
sábado, março 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As representações do Jornalismo feitas por Hollywood sempre
foram ambíguas, com uma tendência ao negativo. Isso deve ser levado em
consideração ao analisarmos o Oscar de Melhor Filme para “Spotlight – Segredos
Revelados”. O filme muda o foco sobre o escândalo do acobertamento de padres
pedófilos pela Igreja Católica para mostrar o porquê de repórteres e editores
do jornal Boston Globe terem ignorado essa pauta tão explosiva no passado. O
filme é sobre a culpa de uma comunidade e do seu jornalismo por terem
involuntariamente colaborado com o acobertamento de um escândalo e como
“estrangeiros” (um editor judeu e um advogado armênio) sem laços com a
comunidade terem conseguido perceber isso. “Spotlight” é um réquiem ao velho
jornalismo local e comunitário, agora substituído pela Internet.
Ao lado da forte história sobre abusos de crianças acobertados pela
Igreja por décadas (se não séculos), para quem é jornalista assistir ao filme Spotlight – Segredos Revelados provoca
sentimentos nostálgicos: clippings de notícias pré-web, repórteres pesquisando
em arquivos empoeirados e gastando a sola dos sapatos correndo pelas ruas atrás
das fontes, jornalistas pendurados ao telefone, rotativas e caminhões levando
pilhas de jornais recém-impressos cuja edição mostra na primeira página matéria
resultante de longas investigações.
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