terça-feira, julho 29, 2014
Em "O Teorema Zero" Terry Gilliam revela seu niilismo gnóstico
terça-feira, julho 29, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em “O Teorema Zero” (The Zero Theorem, 2013)
Terry Gilliam retorna aos temas das produções anteriores “Brazil, O Filme”
(1985) e Os 12 Macacos (1995), porém em um tom mais intimista e filosófico:
enquanto espera uma misteriosa ligação telefônica que revelaria o verdadeiro
sentido da vida, um analista de dados e programador é obrigado a comprovar
matematicamente o contrário: que um dia todo Universo acabará sugado por um
buraco negro e a vida não tem qualquer sentido ou propósito. Esse é o projeto
secreto de uma gigantesca corporação, comprovar matematicamente o “Teorema Zero” –
zero é igual a 100%. Gilliam vai abraçar alegremente esse niilismo gnóstico como
a última esperança de libertação – zero é igual a 100% se aproxima da filosofia
do filme “O Clube da Luta” de David Fincher: depois que perdermos tudo é que estaremos livres. Então encontraremos as
respostas dentro de nós mesmos.
Quem não se lembra daquela situação nas aulas de álgebra
e equações de segundo grau na escola onde você olhava para o enunciado da
equação e intuitivamente já sabia o valor de X? Você escrevia X = 15, mas o
professor não aceitava a reposta, embora correta, pois exigia que demonstrasse
o método resolutivo que fez chegar ao resultado.
Pois é exatamente sobre isso que trata o novo filme
de Terry Gilliam O Teorema Zero onde
Christoph Waltz faz um “triturador de entidades” (Qoen Leth, um analista e
programador de dados) que é incumbido de montar computacionalmente uma
gigantesca equação cujos enunciados comprovem que 0 = 100%, ou seja, que todo o
Universo um dia vai ser encolhido em uma pequena singularidade e engolir a si
mesmo em um buraco negro. Colocado em termos filosóficos, ele deve comprovar
matematicamente que a vida não possui qualquer sentido ou propósito, embora
intuitivamente suspeite (e procure negar) isso.
sábado, julho 26, 2014
Por que "E.T. O Extraterrestre" tornou-se um clássico AstroGnóstico?
sábado, julho 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase três gerações depois o filme “E.T. O Extraterrestre” (1982) continua emocionando, tornando-se um clássico como “O Mágico de Oz”. Como uma produção cinematográfica alcança esse estágio atemporal? O filme oferece mais do que uma história de amizade e amor entre um menino e um ser extraterrestre: de um lado refletiu a incipiente cultura adolescente dos subúrbios norte-americanos da época, mas também o arquétipo contemporâneo do Estrangeiro, a condição humana de alienação e estranhamento através de uma fantasia AstroGnóstica: o paralelo da condição humana com a de um ser extraterrestre querendo retornar para casa.
terça-feira, julho 22, 2014
"Killer Cuisine" faz paródia surreal dos chefes de cozinha midiáticos
terça-feira, julho 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A série de curtas “Killer Cuisine” (2010) do norte-americano Ross Goodman é uma surreal e hilária paródia dos clichês da gastronomia midiática: um cozinheiro, cujo avô foi um açougueiro na Alemanha à época do nazismo, fuma compulsivamente na cozinha enquanto manipula alimentos e facas de forma agressiva, sob uma trilha sonora que varia de um melancólico blues às músicas de terror B nos anos 1950. Enquanto isso uma mulher é amarrada e embebedada com vinho branco à espera de ser o próximo ingrediente culinário. Os curtas são uma verdadeira aula sobre aquilo que em linguagem cinematográfica se chama “efeito Kuleshov” e também suscitam um debate sobre os alimentos regidos pela lógica do “look” e do “light” dos chefes de cozinha midiáticos. Veja os curtas.
domingo, julho 20, 2014
"Transcendence" mostra fábula nietzschiana sobre tecnologia e poder
domingo, julho 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Crítica e público estão massacrando o filme “Transcendence
– A Revolução” (2014). Todos esperavam um sci fi clássico com super-heróis e
narrativas de ação e terror. Mas o filme nos oferece uma extrapolação do atual
discurso autopromocional das neurociências e ciências da computação através do
olhar de uma autêntica fábula nietzschiana sobre o Poder: a grande questão da
onisciência e onipresença de uma suposta superinteligência digital por trás de corporações
como Google e do projeto da Internet das Coisas não é a do Poder vulgar em
conquistar mais dinheiro e controle político: é o Poder pelo Poder, como jogo,
vontade de potência em transcender os limites da ética e moral humana
representado pela superação do próprio corpo.
Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra.
Certamente essa máxima pode ser aplicada à forma como a crítica e o público
está recebendo o filme Transcendence – A
Revolução. Bilheterias decepcionantes nos EUA e Brasil e péssimas críticas
tanto aqui como lá.
“Muito conceito e pouca história para contar”,
“explicações incessantes”, “elenco estrelado (Johnny Deep, Morgan Freeman e
Cillian Murphy e Paul Bettany) que parecem não saber o que fazer trocando
frases soltas entre si”, “pretensioso e chato” etc. O que parece criar
estranhamento para os críticos são os desempenhos “contidos” ou até “robóticos”
do protagonista Deep e um filme que parece investir muito mais nas rimas
visuais e em conceitos abstratos do que em uma história dramática.
Crítica e público esperavam um “filme de ficção
científica” com super-heróis ou narrativas de ação e terror com um “sabor” de sci-fi, que é o que normalmente
Hollywood oferece. Mas o que o diretor Wally Pfister (desde o filme Amnésia diretor de fotografia dos filmes
de Christopher Nolan) foi uma verdadeira ficção científica: a partir da agenda
tecnologia atual, extrapolar para onde estamos indo e o que isso pode
significar para a raça humana, intelectual e espiritualmente.
sexta-feira, julho 18, 2014
Lição para trainees da TV Globo: análise de um vídeo "fractal"
sexta-feira, julho 18, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sintoma? Ato falho? Autoparódia? Provocação?
Talvez seja tudo isso, um verdadeiro vídeo “fractal” (figura geométrica similar
a um padrão que se repete em escala maior) feito para promover o Programa de
Trainees 2014 da TV Globo. Certamente, a primeira lição para os trainees da
emissora poderia ser a de analisar esse vídeo performado por Marcius Melhem e
Marcelo Adnet: um general estilizado recruta jovens de 18 anos para o
alistamento na “maior emissora de comunicação do... Brazziilll” (o nome do País
em sotaque inglês). Sabendo-se das polêmicas origens da TV Globo no período da
ditadura militar, podemos encontrar no “teaser” promocional o reflexo da corda
bamba em que se encontra atualmente a TV Globo entre ter que ser politicamente
de oposição e, ao mesmo tempo, aparentar transparência e modernidade.
O “Banco de Talentos”, site de recrutamento onde a
TV Globo forma sua verdadeira reserva de mão de obra cadastrando candidatos a
diversos programas corporativos da emissora, publicou uma página do Programa de Trainee Globo 2014. Visualmente a página é interessante e até saudosa: lembra os
projetos visuais da extinta MTV Brasil com as fontes de texto irregulares, o
grafismo com ares retro e no destaque Marcelo Adnet em cena do vídeo
promocional do programa.
Se o gigante se conhece pelo dedo, esse vídeo
promocional é uma ótima oportunidade para os jovens candidatos conhecerem o DNA
da emissora na qual pretendem trabalhar. O site possui até uma página intitulada
“Conhecendo a Rede Globo” onde encontramos um daqueles textos com estilo
corporativo eufemístico falando de “missão”, “sonhos” e “líderes”.
quarta-feira, julho 16, 2014
Em Observação: "Teorema Zero" (2013) - o sentido da vida pela via negativa
quarta-feira, julho 16, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase 20 anos depois, o diretor inglês Terry
Gilliam está de volta ao gênero ficção-científica, mas as suas preocupações
filosóficas continuam as mesmas. Misturando distopia e religião, Gilliam em “O
Teorema Zero” (2013) pretende discutir qual o sentido da vida, já que a ciência
nos informa que todo o Universo um dia acabará em uma singularidade no interior
de um buraco negro. No interior de uma igreja abandonada o protagonista espera uma
ligação telefônica que lhe traga a resposta, mas o diretor parece pouco
preocupado com isso: ele abraça alegremente a ausência de sentido (a chamada "via negativa" da Filosofia), lembrando a
máxima do personagem Tyler Durden em “O Clube da Luta”: “Depois que perdermos
tudo, então estaremos livres”. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
terça-feira, julho 15, 2014
Mídia esportiva sofre de transtorno semiótico bipolar
terça-feira, julho 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Entre as palavras e as coisas existe uma
estrutura fixa, pronta, que tenta capturar a dinâmica das coisas para
congela-las em mitos. Com a mídia esportiva não seria diferente: a cada Copa do
Mundo entra em funcionamento um discurso bipolar pronto para explicar os
fracassos do futebol brasileiro – ora nos falta racionalidade, organização e
planejamento; ora precisamos retornar “às nossas raízes” sufocadas pela mesma “modernidade”
defendida na Copa anterior. Essa mitologização do futebol teria duas funções:
neutralizar o acaso e a incerteza, eliminando a natureza lúdica do esporte, e
evaporar a História – deixar de fora desse discurso bipolar os fatores
midiáticos e político-econômicos que parasitam o futebol.
Na postagem anterior discutíamos que a goleada
acachapante sofrida pela Seleção no jogo contra a Alemanha tinha sido mais do
que um evento, mas o sintoma de fatores de influência midiática (“efeito
Heisenberg” e esquizofrenia midiática – clique
aqui). Mas nessa discussão acabamos achando outra coisa: descobrimos que a
imprensa esportiva parece ter um discurso pronto a cada fracasso do futebol
brasileiro em copas.
Embora seja um discurso estruturado e fixo, também é
dinâmico como fosse um pêndulo semiótico: ora os jornalistas especializados
culpam as derrotas pelo atraso, desatualização e falta de “modernidade” do
futebol brasileiro (que chamaremos de “fase 1”), ora falam de um excesso de
pragmatismo que faria a Seleção abandonar suas “raízes” (“fase 2”).
quinta-feira, julho 10, 2014
"Efeito Heisenberg" e esquizofrenia midiática derrubam a Seleção
quinta-feira, julho 10, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A mídia parece ter um discurso pronto para
cada traumática desclassificação nas Copas, em um movimento semioticamente pendular:
ora diz que falta “modernidade”, ora defende “tradição” ao futebol brasileiro. Mas
dessa vez, nada explica a anomalia de um 7 X 1. Pelo menos os comentários da
imprensa especializada foram unânimes: não foi placar de um jogo de futebol
profissional. Quem lida com semiótica e sincromisticismo sabe que quando
eventos tornam-se bizarros e anômalos deixam de ser meros acontecimentos para
se converterem em sintomas. No caso dessa partida, sintoma de dois fatores
extra-esportivos: o chamado “efeito Heisenberg” (a patologia de toda cobertura midiática
extensiva) e a esquizofrenia de uma mídia sob o desgaste de politicamente ter
que sabotar o evento e ao mesmo tempo faturar comercialmente.
Holanda 2 X Brasil 0, o jogo na Copa de 1974 que desclassificou o Brasil
para as finais; Itália 3 X Brasil 2, jogo que tirou a Seleção da Copa de 1982;
Holanda 2 X Brasil 1, jogo que eliminou a Seleção nas quartas na Copa da África
do Sul em 2010.
É interessante perceber nesses momentos de aguda comoção nas crises da
chamada “pátria de chuteiras” a construção de um script midiático para
racionalizar as catástrofes. Um script pendular que vai do discurso da necessidade
de “modernização” ao do “retorno às raízes”: de um lado a ideia de que o
futebol brasileiro está ultrapassado diante da modernidade europeia (a
revolução tática do “carrossel holandês” em 1974 ou a crítica ao futebol bonito
da seleção em 1982, mas sem a eficiência e aplicação europeias) e do outro um
futebol que ficara tão pragmático que teria esquecido “a arte” – como no caso
da comemoração do “fim da Era Dunga” acusada de abandonar o “futebol bem
jogado” em 2010. Ora a modernidade, ora a tradição.
terça-feira, julho 08, 2014
Matemática e Surrealismo: Carroll, Escher e matemagos
terça-feira, julho 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em que momento a Matemática, a ciência do raciocínio lógico e abstrato, pode converter suas deduções rigorosas em surreais paradoxos visuais e lógicos? Surrealismo e matemática não se opõem, mas podem ser excelentes aliados. A férrea lógica matemática pode contribuir eficazmente em desmascarar a falta de lógica dos esquemas de pensamento e o funcionamento de sistemas opressivos. Muitos paradoxos, charadas e falácias matemáticas constituem autênticas sátiras dos vícios de pensamento da nossa cultura. Os romances matemáticos de Lewis Carroll e o insólito fascínio pelas imagens de M.C. Escher acabaram criando a lógica do “non sense” presente tanto em escritores como Kafka quanto em filósofos como Jean Baudrillard. Vamos explorar as possibilidades de encontros entre o Surrealismo e a Matemática.
domingo, julho 06, 2014
Em Observação: "Equilibrium" (2002) - totalitarismo, artes marciais e anti-depressivos
domingo, julho 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Equilibrium” um daqueles filmes que a gente nunca ouviu falar,
mas que quando assistimos ficamos surpresos pelo anonimato. Com visual,
figurino e fotografia que lembra muito Matrix dos irmãos Wachowski, o filme
mostra um sistema totalitário baseado na repressão de tudo aquilo que poderia
estimular no homem a expressão de sentimentos – arte, principalmente. Os
sentimentos seriam a pior parte da natureza humana, capaz de provocar guerras e
mortes. Por isso, todos seriam induzidos a tomar uma droga capaz de inibir
qualquer expressão de sentimentos. “Sacerdotes” especializados em lutas marciais e concentração Zen caçariam todos os “ofensores”
que teimam em manter objetos artísticos. Como um documento de época, “Equilibrium”
representaria o imaginário atual da banalização de drogas como Prozac ou
Ritalina onde um secreto sistema totalitário se desenha baseado na seletividade
dos sentimentos que devemos ter.
sexta-feira, julho 04, 2014
"L'Immortelle" criou a mulher metafísica para o cinema
sexta-feira, julho 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem não se recorda da personagem Sofia (Penélope Cruz) em Vanilla Sky (2001) despertando o
protagonista David Aymes aprisionado em uma simulação de realidade em um sonho
lúcido? Ou de Trinity (Carie-Anne Moss) que, graças ao seu amor, fez Neo
descobrir que era O Escolhido em Matrix
(1999)? Ou ainda da personagem Sylvia que fez Truman descobrir que sua vida era
uma prisão dentro de em um gigantesco reality show em Show de Truman (1998)? Personagens femininos fortes, sem história,
que surgem de repente na vida do protagonista para despertá-lo do sono das
ilusões que o prendem a esse mundo. Mulheres que muitas vezes sacrificam o seu
amor e a si mesmas pela redenção do herói e de toda humanidade.
Pois essas mulheres por trás de todos esses heróis do gnosticismo pop
cinemático descendem mitologicamente do personagem gnóstico de Sophia, o aeon que vai despertar no homem a
fagulha de luz interior (a gnose) para conectá-lo de volta à Plenitude. Mas
cinematograficamente, são devedoras de um cult
do cinema onde a mulher foi elevada a outro patamar, depois de décadas de
mulheres objetos, femme fatales e pin-ups: o filme francês L’Immortelle (1963). Aqui o diretor
Alain Robbe-Grillet (romancista e roteirista indicado ao Oscar no filme de
Allain Renais The Last Year at Marienbad
- 1961) eleva a mulher a um patamar metafísico - mas sem deixar de ser carnal e
provocante.
quarta-feira, julho 02, 2014
"Agnosia" revela formas alternativas da mente no cinema
quarta-feira, julho 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme espanhol “Agnosia” de Eugenio Mira e “A Origem” de Christopher
Nolan foram lançados no mesmo ano de 2010. São dois filmes com versões
diferentes para o mesmo tema: um thriller de espionagem industrial que envolve
a invasão da mente de alguém para extraírem um segredo que envolve interesses
corporativos. Um exercício de análise comparativa entre os dois filmes revela
diferentes formas de representar a mente humana: se na Europa a Psicanálise e a psicologia da percepção possuem prestígio no meio artístico e intelectual, nos
EUA a mente não é pensada como uma máquina desejante, mas informática onde
dados são deletados ou inseridos. Enquanto “Agnosia” é um conto gótico inspirado
em psicanálise, “A Origem” é o inconsciente traduzido pelas neurociências.
A análise comparada em cinema (o exercício de analisar diferentes visões
de filmes e diretores sobre um mesmo tema) sempre dá surpreendentes resultados
ao revelar as diferenças ideológicas e culturais de países ou de polos de
produção cinematográfica.
Um exemplo evidente é o filme espanhol Agnosia (2010) do diretor Eugenio Mira e escrito por Antonio
Trashorras. Assistindo ao filme, é impossível não comprarmos com o filme de
Christopher Nolan A Origem
(Inception, 2010), produção norte-americana lançada no mesmo ano da produção
espanhola. Ambos exploram o tema da espionagem industrial: há um segredo de
grande interesse industrial que está na mente de uma pessoa e que deve ser
extraído.
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