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terça-feira, janeiro 26, 2021

A fé é uma bomba semiótica da guerra híbrida na série "Messiah"


Certamente a série “Messiah” (2020), produção original da Netflix, é uma das produções audiovisuais recentes que melhor detalha o fenômeno de psicologia de massas de como fé, religião e propaganda podem intencionalmente convergir numa bomba semiótica capaz de aglutinar as dores individuais em um denominador comum, criando um sentido coletivo: o acontecimento comunicacional. Surge um homem misterioso em pleno ataque do Estado Islâmico na Síria, que a pessoas acreditam ser o verdadeiro Messias. Ganha as manchetes internacionais para reaparecer nos EUA e provocar comoção cultural e política. Uma farsa? Um terrorista cultural? Mas se for verdade, é um Messias do quê? Católicos, Evangélicos, Muçulmanos, Judeus, CIA, FBI, governos de Israel, EUA, Estado Islâmico, Hamas, cada qual cria interpretações numa espiral alucinante. Provocando polarização, confusão e caos político e social. Os reais objetivos de uma Guerra Híbrida. Mas de quem? Da Rússia? De algum trabalho interno do próprio governo norte-americano? Ou será mesmo o final dos tempos?

sexta-feira, janeiro 01, 2021

A história secreta do Natal e Réveillon: Jesus, Iemanjá e Cabala Hermética, por Claudio Siqueira


2020 foi um ano retratado como catastrófico de forma profética por várias obras distópicas como Blade Runner e a HQ Visões de 2020. E nesse primeiro dia do ano, o Cinegnose fala sobre os dois grandes acontecimentos de todo fim de ano: o Natal e o Réveillon. Porém, sem querer contar a origem do Natal ou do Papai Noel, como sempre o jornalismo tenta fazer nessa época do ano. Mas dessa vez vamos contar uma história secreta: três das muitas versões do mito de Jesus Cristo e a presença de Iemanjá e da cabala hermética nos tradicionais rituais de final de ano.

sábado, junho 15, 2019

Um ensaio poético sobre a morte e perdas em "Onirica"


“Onirica” (2014), do diretor e poeta polonês Lech Majewski, é uma produção que entra na categoria de “filme estranho”: com densas linhas de diálogo filosóficas, inspirado na “Divina Comédia” de Dante Aligheri e uma narrativa surreal e enigmática, acompanhamos a história de Adam – ele perdeu em um acidente de carro aqueles que mais amava e agora se encontra perdido entre a realidade e os sonhos com fortes simbologias sobre Deus, pecado e redenção. Sem encontrar na religião uma explicação para a impotência humana diante da perda e da morte, Adam encontrará na filosofia de Heidegger e Sêneca a redenção que o levará do Purgatório ao Paraíso.

domingo, dezembro 16, 2018

Como envenenar psiquicamente um povo no filme "Os Demônios"


“Os Demônios” (“The Devils”), de Ken Russel, é um filme tão blasfemo, obsceno e relevante hoje quanto foi em 1971. Um terror religioso épico e uma contundente crítica do abuso do poder político. Um filme sobre fatos históricos ocorrido no século XVII (um padre condenado à fogueira acusado de bruxaria), filmado no século XX, mas que continua atual no século XXI: os tribunais eclesiásticos da Inquisição foram muito mais do que produtos do fanatismo religioso. Foram instrumentos de “lawfare” para a dominação política da Igreja. Em “Os Demônios” a Inquisição é um instrumento de uma estratégia mais ampla que hoje chamamos de “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma cidade através da sua maior vulnerabilidade: um Convento de freiras dominadas pela histeria de massa é o pretexto para derrubar a liderança do padre Urbain Grandier, opositor à monarquia absolutista de Luís XIII e do Cardeal Richelieu.

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Satanás é o último dos humanistas em "Últimos Dias no Deserto"


A maior história AstroGnóstica de todos os tempos. De “Jesus Cristo Superstar” a “A Última Tentação de Cristo”, Jesus já foi humanizado de todas as maneiras: dúvidas, tentações, medos etc. Mas nada igual ao despretensioso filme “Ultimos Dias no Deserto” (2015) de Rodrigo Garcia. Nos 40 dias que Jesus passou no deserto orando, jejuando e pedido orientação do seu Pai, a única voz que ouviu foi a de Satanás. Logicamente, o demônio no início vai explorar as fraquezas de uma divindade prisioneira em um corpo humano. Mas Satanás fará (e se revelará) muito mais do que isso. Enquanto Jesus tenta minimizar os conflitos da relação pai e filho de uma família que lhe deu água e abrigo, Satanás mostrará que está sempre um passo à frente. Como se antecipasse todos os pequenos detalhes de uma história que parece já conhecer de antemão. Como se a Criação fosse uma repetição na qual, curioso, Satanás tenta entender o propósito de tudo. Olhando pelo ponto de vista da humanidade prisioneira em uma repetição cósmica. Seria Satanás o último dos humanistas em “Últimos Dias no Deserto”? Filme sugerido pelo nosso leitor Matheus de Alcântara.

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Mídia dilui significado da descoberta de papiro com "ensinamentos secretos" de Jesus


As notícias foram dadas como alguma coisa entre Indiana Jones, conspirações do “Código da Vinci” de Dan Brown ou sobre Jesus convenientemente próximo do Natal. As notícias sobre a descoberta do manuscrito em grego do “Primeiro Apocalipse de Tiago” (manuscrito apócrifo gnóstico até então conhecido em linguagem copta da chamada “Biblioteca de Nag Hammadi”), perdido no acervo da Universidade de Oxford, foram cercadas por uma mitologia midiática que sempre é acionada para diluir aquilo que é de mais virulento e revolucionário no Gnosticismo (razão pela qual foi tão perseguido por toda a História): os conflitos políticos e econômicos como parte do drama de uma luta cósmica entre o Bem e o Mal, sem superação dialética ou solução evolutiva. A grande mídia cobriu a descoberta como “religiosa”, diluindo a potencial ameaça às instituições desse mundo: de que Jesus não veio para nos “salvar”, mas para nos revelar algo que já existe dentro de nós – apenas nos fazem esquecer através de ilusões. E a mídia que “noticia” a descoberta do manuscrito é uma delas.

quarta-feira, agosto 23, 2017

A imortalidade é um monstro criado pela Ciência e Publicidade em "Proyecto Lázaro"


Se Jesus ressuscitou Lázaro não para esse mundo, mas para a vida eterna, a Ciência promete realizar esse milagre literalmente – clonagem, bioengenharia e implantes biônicos ressuscitando humanos em estado criogênico. No filme “Proyecto Lázaro” (2016), co-produção Espanha-França dirigida por Mateo Gil, um jovem publicitário no auge do sucesso profissional, financeiro e amoroso, descobre que está com um câncer em estado terminal, sobrando pouco tempo de vida. Opta pela criogenia para ser ressuscitado 60 anos depois em um mundo bem diferente, porém a realização do ideário da atual geração millenials: a religião ou qualquer significado espiritual para a vida e a morte foram substituídos pela Publicidade, marketing e Ciência. Mas o protagonista descobrirá da pior forma possível que o drama da criatura do Dr. Frankenstein (ao qual foi negado o direito de morrer) repete-se agora com ele. E que os velhos cientistas loucos foram substituídos por corporações, acionistas e investidores. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, abril 08, 2017

A incomunicabilidade produz a Religião e a Política em "A Vida de Brian"


A Vida de Brian” (1979) do grupo inglês de humor Monty Python é um filme que não só se tornou atemporal como, depois de 38 anos, ganhou novas leituras. Paradoxalmente, com a expansão das novas tecnologias de comunicação como Internet e redes sociais. Por que? Porque o filme explora a incomunicabilidade humana: Religião e a Política como subprodutos da mentira, ilusão e ideologias que sempre tentam justificar algum mal entendido resultante da radical incomunicabilidade da espécie: o fato de que cada um vê o que quer ver e ouve o que quer ouvir. Brian é confundido com o Messias e passa a ser perseguido não só pelos romanos como também por uma multidão de seguidores que veem nele apenas aquilo querem ver. Pedem de Brian um “sinal” da sua suposta divindade. Não importa o quanto Brian se esforce para tentar desfazer o mal entendido. Involuntariamente criou uma nova religião. E o que é pior: a multidão está ávida por um mártir que morra por ela na cruz...

sexta-feira, maio 06, 2016

O despertar xamânico no filme "O Abraço da Serpente"


Uma jornada antropológica, científica, histórica, mística e espiritual. E conduzida pelo animal de poder da serpente, simbolismo central na cosmologia xamânica. Ela desceu da Via Láctea, criou o mundo e está presente em cada um de nós, adormecida, à espera de algo que a desperte e nos faça deixar de ser instrumentos de morte. Esse é o tema central do filme “O Abraço da Serpente” (2015) que teve por base os diários de dois cientistas cujas expedições na região amazônica contribuíram para a compreensão dos povos indígenas. O diretor colombiano Ciro Guerra consegue tratar o tema do misticismo xamânico de forma a direta e crua numa selva onde o homem branco em busca da borracha extermina povos indígenas, seja pela arma ou pela catequese religiosa. E a última esperança para Karamateke, o último sobrevivente do seu povo, é fazer aqueles cientistas conhecerem um flor sagrada que os faça “abraçar a serpente” (a gnose através da destruição do Ego) e levem essa sabedoria cósmica para a civilização.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

O Universo foi criado por alguém que não nos ama em "Christmas On Mars"


Um filme estranho, trash e psicodélico que confirma que o rock é um gênero musical que sempre retirou suas energias da mitologia gnóstica contemporânea: Detetives, Viajantes e Estrangeiros sempre vagando em nowhere – o Espaço, o Deserto, o Lugar Nehum como símbolos da condição humana, assim como o Major Tom de músicas de David Bowie. Dessa vez no filme “Christmas On Mars” (2008, escrito e performado pela banda de rock indie “Flaming Lips”) vemos Major Syrtis tentando superar uma crise de niilismo, psicose e paranoia que se abateu sobre a tripulação de uma base marciana através da organização de uma festa natalina. Mas terá que superar a confrontação com a “realidade cósmica” – que o Universo foi criado por alguém que não nos ama.

“Ele está vivendo a terceira etapa de um episódio psicótico. Está observando algo que realmente não está ali... isso é causado pela confrontação com a realidade cósmica”, explicam personagens que habitam uma colônia em Marte sobre o comportamento do Major Syrtis – está parado, catatônico, olhando através de uma das janelas da colônia dois técnicos trabalhando no solo marciano.

Christmas On Mars inicia com o pensamento do Major Syrtis ao observá-los: “parecem duas mariposas lutando pela sobrevivência... nunca conheceram uma força do Universo que lhes mostrasse piedade”. A “realidade cósmica” para a qual o Major Syrtis catatonicamente olha é “uma estranha máquina onde todos estão presos”. O Espaço, para onde jamais o homem deveria ter ido porque lá são destruídas todas as nossas crenças internas. Onde a Criação não demonstra a menor piedade ou compaixão.

sábado, janeiro 30, 2016

No filme "O Novíssimo Testamento" Deus não morreu - apenas se tornou inútil


Deus existe, e ele está em algum lugar em Bruxelas. Arrogante e grosseiro, passa os dias digitando em um computador ultrapassado regras para tornar a vida de todos um inferno. Mas o que ninguém sabe é que Ele tem uma filha que está decidida a ser mais bem sucedida do que seu irmão, Jesus – libertar a humanidade do jugo de um Demiurgo através do Novíssimo Testamento. Esse é o filme “O Novíssimo Testamento” (Le Tout Nouveau Testament, 2015) do belga Jaco van Dormael, uma comédia de humor negro blasfema, herética mas, principalmente, gnóstica: se soubéssemos o momento exato da nossa morte, paradoxalmente viveríamos melhor a vida que nos resta, sem o medo do caos e do aleatório que impedem o nosso livre-arbítrio. Para Van Domael, Deus não morreria, mas se tornaria inútil.

O que faria o leitor se soubesse o dia, a hora e o minuto exato da sua morte? Continuaria levando a vida normalmente cumprindo seus deveres e reponsabilidades à espera do fim? Ou mandaria tudo às favas e realizaria tudo aquilo que seus deveres e responsabilidades não deixavam?

Mas quem enviou essa informação tão precisa e perturbadora? Uma pessoa que teve acesso ao computador de Deus, roubou as informações e, por vingança, as enviou para todos os celulares do planeta via mensagem SMS.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Jesus foi o primeiro criador de memes?

Além de ressuscitar mortos, multiplicar peixes e pães e supostamente redimir a humanidade, Jesus também realizou um milagre semiótico: através das parábolas superar o problema da memória da comunicação oral presencial – passado o calor do momento, tendemos a esquecer o conteúdo da comunicação. Graças às fortes alegorias e a narrativas curtas e circulares, suas parábolas se tornaram virais, assim como os atuais memes nas redes sociais. Os memes repetem a mesma estrutura narrativa alegórica, dessa vez em uma outra mídia efêmera – as timelines e chats dos ambientes digitais. Uma estrutura narrativa marcada por dois fatores que impulsionam o alcance de vídeos e imagens: “importância e “ambiguidade”. Se os memes são as “neoparábolas” atuais, Jesus poderia ser considerado o primeiro criador de memes da História?

Em uma churrascada alguém anuncia aliviado que ainda há latas de cerveja na geladeira: “É o milagre da multiplicação das cervejas!”, jubila; um grupo discute e o seu líder reivindica: “precisamos separar o joio do trigo!”; “aqui tem lobo em pele de cordeiro!”, diz desconfiado o político na reunião de um partido. O que há em comum em todas essas falas? São alusões a milagres e parábolas de Jesus encontrados em diversos versículos do livro bíblico de Mateus.

Talvez o grande milagre de Jesus, além de fazer mortos ressuscitarem e multiplicar pães e peixes, tenha sido também o semiótico – conseguir transformar suas alegorias e parábolas em imagens persistentes e virais que atravessaram 2.000 anos e continuam com força de disseminação.


quarta-feira, julho 15, 2015

Euro crise e a Metafísica vingam-se da Grécia

Há um fantasma que assombra a História, o fantasma da Metafísica. Há uma ironia sincromística na crise econômica de um país que contribuiu com a Metafísica de Sócrates, Aristóteles e Platão e que agora cai de joelhos diante da Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), representantes de um sistema financeiro do capital volátil e especulativo, sem lastros com a “economia real”, mas com forte poder de destruição. Foram necessários 25 séculos de Filosofia para a Metafísica realizar-se – do “Logos” de Heráclito, passando pela metafísica platônica e a Trindade de Santo Agostinho até chegar à abstração das transações simultâneas, do cálculo probabilístico das transações financeiras e equalização das tendências das bolsas de valores:  tornou-se o no “Logos” (ou no álibi) em nome do qual falam economistas ou técnicos para empurrar goela a baixo a suposta racionalidade das austeridades. O ator Jeremy Irons parece ter percebido isso em um talkshow na TV portuguesa.

O “Não” do povo grego em plebiscito contra as medidas de austeridade da Troika foi saudado como a primeira intervenção da “vontade popular” contra a chantagem da receita neoliberal da financeirização. No país que contribuiu com a Democracia para a história da filosofia política, nada mais natural que a voz do povo vencesse o medo e a chantagem.

Mas a renúncia do Ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis (figura “mal vista” pela Zona do Euro) um dia depois do “Não” foi o prenúncio do que viria: a humilhante capitulação final do governo grego  de Alex Tsipras diante da plutocracia financeira representada pela chanceler alemã Angela Merkel.

quarta-feira, julho 08, 2015

"Uma Aventura Lego" faz evangelho gnóstico pop


Por trás da inocência de uma animação infantil podem estar antigas mitologias que ainda repercutem em nossos corações e mentes. “Uma Aventura Lego” (“The Lego Movie”, 2014) já foi interpretado como uma grande comercial de 100 minutos do brinquedo Lego ou uma sátira metalinguística da cultura pop atual que faz uma mistura maluca de “Matrix”, “Toy Story” e “Os Simpsons”. Mas na verdade é um evento religioso: um evangelho gnóstico pop onde é apresentada uma crítica mordaz às noções de Verdade, Deus e Salvação. Um tirano controla todos os mundos Lego passando-se como o único construtor daquele universo. Mas a resistência secreta formada pelos “mestres construtores” sabe que “o cara lá de cima” enviará um Salvador: Emmet, um operário comum com a cabeça tão vazia que, somente ele com seu "silêncio" interior, poderá ouvir a voz da Verdade.

Com as férias escolares esse humilde blogueiro tem a oportunidade de acompanhar os filhos ao cinema e exposições assistindo a uma série de curtas e animações, como os leitores devem já ter percebido nas últimas postagens do Cinegnose. E assistindo a esse conjunto de audiovisuais não dá para passar despercebido como cada vez mais produções atuais voltadas, a princípio, para o público infanto-juvenil  são baseadas em argumentos filosóficos e/ou místicos.

Uma Aventura Lego (The Lego Movie, 2014) é mais um exemplo desse mix de entretenimento com viés gnóstico que, de início, parece ao espectador como alguma coisa entre o non-sense e o surreal. A melhor primeira impressão que a animação pode passar foi dada por Susan Wlosczyna no site de crítica de cinema Roger Ebert. com:  “imagine Toy Story feito por Mel Brooks depois de comer cogumelos mágicos enquanto lia 1984 de George Orwell”.

domingo, maio 24, 2015

Parapolítica e subversão ocultista no filme "A Montanha Sagrada"

Em 1980 John Lennon concedeu entrevista à “Playboy” onde dizia que caíra fora dos Beatles porque eles teriam sido criados por “craftsmen” (termo ambíguo que pode designar tanto “artistas” ou “artesãos” quanto “iniciados ao ocultismo"). Sete anos antes Lennon ajudou a financiar o filme “A Montanha Sagrada” (1973) do chileno Alejandro Jodorowsky, sobre oito "craftsmen" (poderosos industriais e políticos) que são iniciados por um alquimista na busca da verdadeira fonte do Poder: a imortalidade e o aprimoramento espiritual. Verdadeiros magos negros donos dos mercados de armas, moda, arte, brinquedos, drogas e sexo. Pretendem alcançar a chamada “montanha sagrada” em uma distante ilha. Jodorowsky buscou no filme uma dupla subversão: denunciar a dimensão parapolítica onde magos ocultistas formariam a elite mundial que aplicaria sofisticadas técnicas psíquicas de controle social; e do outro didaticamente mostrar para os espectadores os passos da iniciação ocultista que poderia nos livrar das ilusões que nos prendem ao mundo material e ao julgo dessas elites ocultistas.

Depois de conseguir a atenção do público alternativo e das chamadas “sessões da meia-noite” em cinemas underground de Nova York com o filme El Topo (1970), o diretor chileno Alejandro Jodorowsky conseguiu o suporte financeiro de John Lennon e Yoko Onno para o seu projeto espiritual cinematográfico A Montanha Sagrada – a princípio, um filme que continuaria a temática de El Topo, isto é, sobre purificação, a descoberta da Verdade por trás das aparências do mundo (Maia) e, por fim, a constante busca pelo aprimoramento espiritual.

quarta-feira, dezembro 24, 2014

Cristo já está dentro de nós nesse Natal?

“Aquele que beber da minha boca se tornará como eu e eu serei ele”. Essa frase atribuída a Jesus no evangelho gnóstico de São Tomas encontrado no Egito há quase 70 anos é fonte de controvérsia por inspirar uma visão herética de Cristo e da sua missão aqui na Terra: Ele não veio nos “salvar”, mas nos “curar”, isto é, despertar Ele dentro de nós mesmos.

O historiador e mitólogo Joseph Campbell no livro O Poder do Mito nos oferece uma didática interpretação dessa passagem do Evangelho de São Tomas. “Que blasfêmia”, teria observado um padre na plateia em uma conferência de Campbell. Claro, "somente um deus pode se equiparar a outro deus."

Para além da sua figura histórica, como Mito, Jesus Cristo reflete nossas potencialidades espirituais, evocando poderes em nossas próprias vidas. Para Campbell é uma ideia potencialmente revolucionária: além da fé em Cristo suplantar a própria religião institucionalizada, significa, também, superar o nosso próprio ego ao voltarmos à raiz da palavra “religião”: religio, religar, onde a nossa vida isolada é ligada a uma vida una.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

O Inferno alquímico de Dante no filme "O Reflexo do Medo"


Conhecida como "Cidade Luz", Paris também é escura e misteriosa: sob a cidade se estende uma vastíssima rede de mais de 300 quilômetros de túneis e labirintos. São as chamadas “catacumbas de Paris” ou “cidade dos mortos” onde jaz os restos de seis milhões de pessoas, além de vestígios de cultos celtas, franco-maçons, gravuras e sinais ritualísticos sagrados. Nessa atmosfera claustrofóbica e sombria se movem os arqueólogos urbanos do filme “O Reflexo do Medo” (As Above, So Below, 2014), misturando terror com thriller psicológico no estilo falso documentário ou “found footage”. Como informa o título original, a narrativa explora o princípio alquímico da Correspondência, repleto de referencias ao chamado esoterismo cristão presente na obra de Dante Alighieri “A Divina Comédia”, na qual o diretor John Erick Dowdle se inspirou para escrever o roteiro.

terça-feira, dezembro 17, 2013

"A Classe Dominante": o mais estranho filme de Peter O'Toole


O Deus do Velho Testamento (o “messias elétrico”) faz um duelo surreal com o Deus do Novo Testamento; um sádico psiquiatra alemão faz experiências com “ratos esquizofrênicos”; uma família de aristocratas trama a internação de um conde esquizofrênico para conseguirem ficar com o seu título e fortuna. Com a recente morte aos 81 anos do grande ator inglês Peter O’Toole, não poderíamos deixar de reverenciar o filme mais estranho da sua carreira: “A Classe Dominante” (The Ruling Class, 1972). Uma comédia de humor negro repleta de ultraje moral e religioso que após ser restaurada e relançada em DVD, teve recuperados os 20 minutos cortados no lançamento comercial da época. Um filme profético ao mostrar que mesmo após todos os movimentos libertários da época, a aristocracia não morreu: persiste através de uma classe dominante que opta por um deus vingativo e intolerante.

Peter O’Toole para sempre será lembrado pelo filme Lawrence das Arábias. Mas temos também que pagar tributo ao mais estranho filme da sua carreira: A Classe Dominante (The Ruling Class, 1972) que desde o seu lançamento passou a ser seguido por um grupo restrito de fãs como um filme cult. Ainda mais que a versão para o lançamento nos EUA teve uma redução de 20 minutos para tornar o filme mais rentável, poupando ao público daquele país de algumas cenas bizarras e de extremo humor negro que chega, algumas vezes, as raias da violência e ultraje religioso. Pois o filme foi restaurado no relançamento em DVD pela  The Criterion Collection em 2001 e retornou às suas quase duas horas e meia da duração original.

Embora o filme seja um mix de sátira, farsa, musical, drama shakespeariano e muito humor negro, a narrativa é uma descida sombria na loucura, caos e simbolismos religiosos nas tramas envolvendo cobiça e poder no seio de uma elite aristocrática apodrecida, mas que tenta manter sua fleugma e pompa: um conde esquizofrênico, um bispo anglicano sem fé, um sádico psiquiatra alemão, um mordomo comunista que vive em um constante estado de embriaguez, e toda uma galeria de personagens inesquecíveis.

sábado, novembro 30, 2013

Cristo retorna como super-herói gnóstico e trash no filme "Ultrachrist!"

Por trás do “trash” e “non sense” da produção independente atual esconde-se um submundo místico-esotérico-religioso da subliteratura da cultura de massas contemporânea. Uma espécie de “sub-zeitgeist” formado por toda uma literatura de HQs, magazines, filmes B sci fi, horror e fantasia com elementos heréticos e gnósticos. O filme “Ultrachrist!” (2003) é um flagrante exemplo: Cristo como um super-herói que oferece a autodivinização para o homem superar o medo e a sedução.

A professora de crítica literária da University of California at Berkeley Victoria Nelson em seu livro “The Secret Life of Puppets” (Cambridge: Havard UP, 2001) descreve “a estranha história do Fantástico norte-americano”:  de um lado a formação da “religião americana” (a espécie de uma “auto-divinização através de um encontro pessoal com o Sagrado) e, do outro, o desenvolvimento de um “sub-zeitgeist” místico, religioso e sobrenatural formado por toda uma literatura de HQs, magazines, pulp fictions e filmes B sci-fi, horror e fantasia.

Enquanto na Europa o desenvolvimento do fenômeno religioso e do Fantástico sempre esteve associado a filósofos, teólogos e às grandes manifestações artísticas literárias de vanguarda (Romantismo, Gótico, Expressionismo etc.), nos EUA, ao contrário, desde o início se associou a formas culturais populares: das narrativas puritanas do século XVIII, passando pelas notíciais bizarras e sensacionais em magazines e livros de bolso do séc. XIX até a subliteratura de massas da indústria do entretenimento do séc. XX.

quarta-feira, agosto 28, 2013

O demônio é um anjo caído em "O Advogado do Diabo"


Apesar de flertar com temas místicos e espirituais não ortodoxos, Hollywood ainda precisa manter as convenções dos gêneros cinematográficos. Um dos exemplos dessa dualidade vivida pelo cinema comercial é o filme “O Advogado do Diabo” (Devil’s Advocate, 1997) onde o diretor Taylor Hackford tenta inserir uma visão mais matizada e ambígua da figura do Diabo em meio aos tradicionais clichês satânicos reforçados por efeitos de computação gráfica. Através da inesquecível performance de Al Pacino, o filme nos apresenta uma sutil visão do Diabo como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

O ano é 1997. Na segunda metade dessa década Hollywood vive uma espécie de guinada metafísica. Desde “Dead Man” (1995) do diretor Jim Jarmusch, um western místico onde as religiões institucionalizadas são ridicularizadas, roteiristas e produtores começam a flertar com temas e abordagens místicas ou espirituais não ortodoxas, tal como o gnosticismo. Nesse ano estão em produção “Show de Truman” e “Cidade das Sombras” (que serão lançados no ano seguinte) e o filme “Matrix” está sendo gestado pelos irmãos Waschowski. Esses filmes fazem parte de uma tendência cinematográfica da época repletas de temas, arquétipos e simbolismos religiosos, mas com uma abordagem mística e gnóstica.

Também, nesse ano é lançado o filme “O Advogado do Diabo” dirigido por Taylor Hackford, adaptação do livro de Andrew Neiderman. Se no livro há uma ambiguidade fundamental em relação ao personagem principal (não sabemos se ele é um louco ou a própria encarnação do Diabo, ambiguidade resolvida no monólogo final), no filme percebe-se uma ambiguidade de outra natureza: o conflito entre as convenções do gênero terror/suspense imposta pelos produtores em apresentar o Diabo na tradicional visão judaico-cristã e a adaptação ao livro que procura apresentar esse personagem de uma forma mais matizada – uma visão alternativa do Diabo, própria da literatura do Romantismo que o via como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

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