Sentir-se como estrangeiro (seja em outro ou no próprio país) torna-se condição existencial crescente num capitalismo de exclusão – a produção constante de refugos sociais, aqueles que são excluídos até da própria exploração do mercado. Redundantes e inúteis, se apegam nos últimos destroços de um naufrágio social: sua própria cultura e as formas de comunicações possíveis entre alteridades, organizadas como grupos de resistência. O filme brasileiro “Era o Hotel Cambridge” (2016), da cineasta Eliane Caffé, retrata essa condição num híbrido de documentário e ficção, ao fazer o relato da ocupação do outrora glamouroso Hotel Cambridge, abandonado, entre outros edifícios no Centro de São Paulo. Uma questão aparentemente local, mas que ganha alcance universal através da linguagem ficcional que dramatiza a questão central nesse momento: somos todos refugiados, do país e de nós mesmos.