segunda-feira, junho 29, 2015
Por que jornalistas estão migrando para programas de entretenimento?
segunda-feira, junho 29, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1983 Sérgio Chapelin deixou a Globo para apresentar o “Show Sem
Limites” no SBT. Mas depois voltou ao telejornalismo global. Agora a migração
para o entretenimento não tem mais volta: tudo começou com Fausto Silva nos
anos 80 e atualmente a tendência cresce com Fátima Bernardes, Pedro Bial,
Patrícia Poeta, Britto Jr., Ana Paula Padrão, Zeca Camargo e o recente anúncio
da saída definitiva de Tiago Leifert do jornalismo esportivo para um programa
de entretenimento na TV Globo. Como explicar essa onda migratória? Maneira mais
fácil de ganhar dinheiro com merchandising? Mas também pode representar o sintoma de
um duplo fenômeno que assola um jornalismo terminal diante do crescimento das
tecnologias de convergência: o infotenimento (informação + entretenimento) e o
tautismo (tautologia + autismo).
Quando o
colombiano Juan Carlos Osorio chegou ao Brasil para ser o novo técnico do São
Paulo Futebol Clube, ao vivo o jornalista Tiago Leifert não se conteve : “vamos
fazer uma matéria especial com Osorio, ele é um personagem!”, disse o
apresentador do Globo Esporte, sobre um
técnico com o seu curioso método de entregar bilhetes aos jogadores, escritos
ora com caneta vermelha, ora com caneta azul... canetas que depois são enfiadas
em cada meia.
Essa é uma pequena
amostra do atual modus operandi do
jornalismo baseado não mais em relatos de acontecimentos, mas que agora está em
busca de casos e personagens como se editores e repórteres se assemelhassem a
roteiristas ou produtores de cinema.
sábado, junho 27, 2015
Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"
sábado, junho 27, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção
dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que
já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de
Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar –
protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito
maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”,
“Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série
entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava
o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas
regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém
os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais
um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.
Os irmãos
Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das
suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao
estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz
esse blog Cinegnose, a série
apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica
dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de
diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas
míticas do Gnosticismo.
Uma tendência que
se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico
foi certamente o filme Matrix dos
Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A
Vida em Preto e Branco (1998), Show
de Truman (1998), O
Décimo Terceiro Andar (1999), Clube
da Luta (1999) entre outros.
segunda-feira, junho 22, 2015
Grande mídia aproxima-se de uma vitória de Pirro?
segunda-feira, junho 22, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao declarar seu “susto” com o posicionamento da revista “Veja” contra o
desarmamento em 2005 no referendo sobre armas, Bárbara Gancia foi uma dos
primeiros jornalistas a perceberem uma contradição na grande mídia que vem
crescendo desde então: como ser politicamente conservador e ao mesmo tempo
liberal nos costumes? O vale-tudo atual da grande mídia de buscar em águas
turvas o apoio de setores política e culturalmente retrógrados para desgastar o
Governo Federal pode ser uma vitória de Pirro. Serginho Groisman e Jô
Soares estão percebendo isso. E o
recente editorial do jornal “Folha de São Paulo” contra o “obscurantismo” do
outrora incensado líder da Câmara Eduardo Cunha foi mais um sinal. Para a
grande mídia a questão não é apenas política mas trata-se de sua própria
sobrevivência diante da tecnologia de convergência que lhe arranca nacos de
audiência. Após a vitória final com a terra arrasada, a mídia tradicional
encontraria uma nova geração de jovens conectados aos seus dispositivos móveis
e Internet e nem um pouco receptivos a uma agenda política baseada no
conservadorismo de costumes.
Em 2005, a
jornalista Bárbara Gancia percebeu os primeiros sinais de uma tendência de cobertura
política da grande mídia que nos anos posteriores só cresceu: a defesa de uma
agenda conservadora política e de costumes com uma visão de mundo
segregacionista dentro de uma estratégia de vale-tudo para disseminar o ódio
contra o Governo Federal e as próprias esquerdas.
“Deu a louca na
revista Veja?”, perguntava perplexa a jornalista, ao ver o semanário sair em
defesa “histericamente” pela opção do não desarmamento no referendo sobre armas
que era realizado naquele momento. “Assino Veja há 20 anos, leio a revista de
cabo a rabo e faço parte do grupo que acredita que o governo do PT é um
embuste”, afirmava Gancia, sentindo-se traída pelo conservadorismo da Veja que
acreditava que andar armado é um direito fundamental do indivíduo.
sábado, junho 20, 2015
Entrelaçamento quântico, moral e livre-arbítrio em "Frequencies"
sábado, junho 20, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Co-produção britânica e australiana, “Frequencies” (aka “OXV: The
Manual, 2013) foi uma surpresa em festivais de Cinema Fantástico como o Fant 2014 de
Bilbao. Embora parta da premissa da atual onda de filmes sci fi distópicos com
adolescentes (amores impossíveis em mundos totalitários como em “Divergente”),
o filme pretende ser um ambicioso ensaio metafísico sobre o problema da Moral e
do Livre-arbítrio: quão livre nós somos em nosso querer agir? Em um mundo onde
o conhecimento determina o destino, jovens tropeçam em uma descoberta: o Manual
OXV baseado em uma “antiga tecnologia” onde palavras podem interferir nos
padrões de frequências que criam entrelaçamentos quânticos entre as pessoas.
Isso pode ser usado para o amor... mas também para o mal.
Uma história de amor
impossível entre dois adolescentes que vivem em uma ordem social totalitária
que impede a concretização dos seus sentimentos. Sintetizando dessa forma o
filme Frequencies (aka OXV: The Manual), parece que estamos
diante de mais um filme da atual onda de “distopias teens” como Divergente, Jogos Vorazes, Eu Sou o Número 4
etc.
Uma onda de filmes classificados pelo rótulo “ficção científica” pelos
seus aspectos mais superficiais do gênero: futuros distópicos, efeitos
especiais e alta tecnologia.
segunda-feira, junho 15, 2015
"Veja", Simples Descolados e Coxinhas 2.0 gourmetizam festas juninas
segunda-feira, junho 15, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O chamado “raio gourmetizador” atinge também as festas juninas, como mostra matéria da revista "Veja SP" em seu
diligente trabalho semanal de elevar a moral da classe média. A complexa
retórica dos “ingredientes” e das “harmonizações” agora constrói a mitologia do “rústico”,
do “artesanal” e do “nativo” em quermesses e arraiais. Simples descolados e
“coxinhas 2.0” (a versão autossustentável do coxinha tradicional) seriam os
arautos de uma suposta simplicidade perdida pelo consumismo desenfreado de uma classe C sem
educação. Parece que a “Teoria da Classe Ociosa” elaborada há cerca de 100 anos pelo economista Thorstein Veblen torna-se cada vez mais atual: a afetação
sócio-linguística da gourmetização como um “trabalho ocioso” que busca
reconstituir uma distinção de classes ameaçada pela política econômica neodesenvolvimentista. Com a midiatização
da tendência, hoje a gourmetização assumiria um duplo papel: gourmetizar não apenas
a elite, mas também as massas como função disciplinar e ideológica.
Chegamos às festas juninas onde nos quatro cantos do País se comemora os
santos populares Santo Antônio, São Pedro e São João. Em seu diligente trabalho
de elevação da moral de uma classe média que ainda vê nela alguma relevância, a edição da Veja São Paulo de 10/06/2015 quis nos mostrar que as festas juninas já não são mais as
mesmas. Daqui em diante, expressões como “arraial” e “quermesse” se confundirão
com balada para jovens aspirantes a uma suposta elite descolada.
Esqueça o quentão, o “buraco quente” (pão francês recheado de carne ao
molho) com carne louca, o pinhão e a barraquinha de pesca. Pense agora em
uísque, “buraco quente” recheado com carne de costela de boi da raça angus (porque
“harmoniza” melhor com cervejas artesanais), pista de dança com DJs e sanduíches
feitos diretamente de food trucks com
letreiros em handshop.
sábado, junho 13, 2015
No curta "Alma" o fascínio gótico pelos bonecos e brinquedos
sábado, junho 13, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Trabalhando
desde 2002 na Pixar, o animador espanhol Rodrigo Blaas resolveu em 2009 colocar
em prática algumas ideias pessoais que não podiam se encaixar nas produções
comerciais do estúdio. O resultado é o curta “Alma” que trás para uma animação
aquilo que a assepsia comercial da Pixar retira dos seus produtos: o Estranho e
o Gótico, a essência do fascínio humano pelos bonecos, marionetes e,
modernamente, androides, robôs e animações. Blaas devolve ao universo infantil
dos bonecos e brinquedos o seu arquétipo central: a rememoração das relações homem/Deus – através da brincadeira e do jogo a rememoração da
própria condição humana prisioneira em um universo onde alguém nos manipula.Curta sugerido pela nossa leitora Luiza Hernandez.
Rodrigo Blaas é um artista
gráfico espanhol que trabalha nos estúdios da Pixar desde 2002, animando
personagens como a Dory em Procurando
Nemo, a dupla Luigi e Guido em Carros,
as cenas de ação em Os Incríveis e a
sequência final da luta do capitão da nave Axion contra o piloto automático em Wall-E. Depois de muito trabalho em equipe
e aborrecido em ter muitas ideias que não podiam ser encaixadas nas produções
de um estúdio mainstream, resolveu
reunir alguns colegas para fazer um curta.
O resultado é Alma (2009), com uma protagonista
infantil com olhar doce e um visual que lembra o estilo da Pixar. Mas as
semelhanças param por aí: há algo de estranho, tão sinistro quanto a atmosfera
dos episódios da clássica série de terror e mistério Além da Imaginação - veja o curta abaixo.
terça-feira, junho 09, 2015
A "maldição" do Coringa ameaça também o ator Jared Leto?
terça-feira, junho 09, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Tenho
medo de aproximar-me dele... Eu o conhecia antes dele ser o Coringa... não
quero envolver-me com isso”, relatou o ator Scott Eastwood sobre a experiência de
acompanhar Jared Leto ("Sr. Ninguém", "Clube de Compras Dallas") nas filmagens interpretando o Coringa, no filme
“Esquadrão Suicida” com lançamento previsto para 2016. Vazam na Internet
declarações de que, tal como Heath Ledger em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”,
Leto também não estaria conseguindo “abandonar o personagem”. Estaríamos
acompanhando mais uma recorrência sincromística que envolve o sombrio palhaço
do crime? Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa
surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento
autônoma, envolvido em repetidos relatos de atores sobre o desconforto em
interpretá-lo. Jack Nicholson ficou furioso por Ledger não tê-lo consultado
sobre como lidar com o papel. “Bem, eu o avisei!”, teria dito ao saber da morte
de Ledger. Jared Leto pode ser o próximo?
Considere essas duas declarações
abaixo feitas durante a produção de dois filmes diferentes:
(a) “A performance de Heath
Ledger interpretando o Coringa nos sets de gravação era tão assustadora que
muitas vezes chegava a esquecer as minhas próprias linhas de diálogo” Michael
Caine durante a produção do filme Batman:
O Cavaleiro das Trevas;
(b) “Eu tinha medo de aproximar-me dele
[Jared Leto] porque eu não queria me envolver naquilo que estava acontecendo.
Eu o conhecia, antes dele ser o Coringa. Eu o conheci como Jared Leto. Não
quero envolver-me com isso” (Scott Eastwood, sobre as filmagens do filme Esquadrão Suicida com Jared Leto
interpretando o Coringa).
sábado, junho 06, 2015
Em Observação: "Strange Angel": a explosiva combinação da Ciência com o Ocultismo
sábado, junho 06, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual
o interesse do diretor Ridley Scott ("Blade Runner", "Prometheus" e "Êxodus") em
produzir a nova minissérie “Strange Angel” do canal AMC sobre a vida de um
engenheiro químico inventor do combustível sólido usado em foguetes espaciais?
Nenhum, não fosse a minissérie sobre a vida de Jack Parsons, co-fundador do
Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa e, ao mesmo tempo, ocultista e
participante ativo da OTO (Ordo Templi Orientis), da Eclesia Gnóstica e
seguidor do mago Aleister Crowley. A combinação literalmente explosiva entre
Ciência e Ocultismo envolvia experiência com foguetes no deserto ao mesmo tempo
em que realizava rituais pagãos durante os experimentos. Para muitos ocultistas, o legado de Parsons
teria ido muito além do aprimoramento da tecnologia que levou a NASA ao espaço.
Ele também teria aberto estranhas portas dimensionais que influenciaram o século
XX.
quinta-feira, junho 04, 2015
Nietzsche se encontra com Inteligência Artificial no filme "Ex Machina"
quinta-feira, junho 04, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O roteirista e escritor Alex Garland (autor do livro “The Beach”, com versão cinematográfica em 2000) faz uma sombria estreia como diretor no filme “Ex Machina” (2015). Sombria porque, ao contrário da tradicional abordagem cinematográfica sobre a Inteligência Artificial (entre a apologia e o apocalipse tecnológico), Garland apresenta uma abordagem verossímil e atual, onde a IA é o resultado de uma singularidade produzida pelo chamado Big Data produzido pelas redes sociais, celulares e dos algoritmos de busca de uma empresa chamada Blue Book – em tudo análoga ao Google. Tão verossímil que se torna assustador: a IA surgirá como um fenômeno pós-humano orientado apenas pela "Vontade de Potência", no sentido atribuído pelo filósofo Nietzsche – um ser unicamente governado pela vontade de realizar-se como potencia em si mesma, para além do Bem e do Mal, tornando o homem uma primitiva ferramenta de linguagem. E esse novo ser é um androide feminino. Filme indicado pelo nosso leitor Felipe Resende.
segunda-feira, junho 01, 2015
Diga-me com o que fazes metáforas e direi quem és
segunda-feira, junho 01, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“O
gigante acordou”, “Vem pra rua”, “Padrão Fifa” e a camiseta da CBF escolhida
como símbolo da Pátria. Tantas vezes slogans publicitários e clichês midiáticos
foram apropriados pelas manifestações anti-Governo Federal na ruas desde 2013
que chegou-se a uma situação irônica: após as prisões efetuadas pelo FBI em
Zurique de cartolas do futebol mundial é irônico manifestações fazerem alusões
a instituições notoriamente corruptas em protestos contra
a corrupção. Nas redes sociais simpatizantes
desses movimentos respondem: foram apenas “leves metáforas”. Mas temos que
admitir: diga-me com o que fazes metáforas e direi quem és. Há um fato
semiótico novo – slogans e palavras de ordem deixaram o campo exclusivo da
propaganda política para entrar no pastiche das apropriações de criações
publicitárias. Porém, é da natureza do slogan publicitário interpelar muito
mais o indivíduo do que o coletivo. Estamos acompanhando uma tendência de
despolitização?
“Não
falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um determinado efeito”
(Joseph
Goebbels)
O escândalo da Fifa que resultou na prisão de sete
cartolas, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, sob acusação de
manterem um sistema corrupto de propinas e lavagem de dinheiro com direitos de
transmissão e comercialização de jogos criou uma inusitada ironia: desde as
grandes manifestações de rua de 2013, passando pelos protestos contra a Copa em
2014 para os atuais panelaços e mobilizações anti-Dilma, palavras de ordem como
“Padrão Fifa” (reivindicação por saúde e educação alusiva ao mesmo padrão dos
estádios construídos para a Copa) e manifestantes em massa vestindo camisetas
amarelas da CBF se transformaram em inesperada “piada pronta” – por que manifestações
por transparência e combate à corrupção constroem slogans e palavras de ordens
alusivas a instituições notoriamente corruptas?
Nas redes sociais os militantes e simpatizantes dos
protestos respondem que essas analogias eram “leves metáforas” – o padrão
exigido pela Fifa aos organizadores da competição deveria ser o mesmo para Saúde
e Educação e as camisetas da CBF por conta da cor amarela, para representar a
Pátria, sem partidarismos.
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