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sexta-feira, junho 07, 2024

Realismo capitalista e capitalismo distópico de Musk na série 'Fallout'


Seja no cinema como no audiovisual, o fim do mundo está ficando cada vez mais estranho. O fascínio de sabermos o que aconteceria após o apocalipse permanece. Porém, não temos mais o tom épico do apocalipse do século XX. Hoje impõem-se uma leitura mais introspectiva: como o que que restou da humanidade se comportaria sob pressão. O resultado é passagem do tom épico para o propagandístico: o fim do mundo sob olhar capitalista distópico do tipo Elon Musk e o realismo capitalista. É o exemplo da série Amazon Prime adaptada do videogame “Fallout” (2024-). Esteticamente é um mush-up dos arquétipos pop do século XX, de David Lynch ao western spaghetti de Sergio Leoni. Mas, dois séculos no futuro, mesmo depois do fim, o que restou mantém a viciosidade capitalista: guerras por fontes de energias não renováveis. Paz e fontes de energia livre não estão nos planos. Porque não geram lucros.

sexta-feira, fevereiro 09, 2024

A filosofia e geopolítica da inteligência artificial em 'Resistência'


Narrativas sobre inteligência artificial, robôs e replicantes nunca terminam bem no cinema. Principalmente com o discurso do Capitalismo High Tech Distópico de Elon Musk que inspira nove em cada dez roteiros sci-fi atuais. Mas “Resistência” (The Creator, 2023) é essa exceção, indo para além do maniqueísmo homem X máquina. O olhar do filme é tanto filosófico quanto geopolítico. Um soldado é recrutado para localizar e matar o Criador - misterioso arquiteto responsável por desenvolver uma arma capaz de acabar com um confronto mundial em que o Ocidente declarou guerra a toda forma de IA. Principalmente a IA da “Nova Ásia”: diferente do pensamento dualista ocidental, a nova IA oriental quer ser livre ao lado dos humanos. Entrando num embate militar com os EUA, um império decadente em 2070. “Resistência” ecoa o atual conflito EUA vs. China.

domingo, dezembro 24, 2023

Em 'Paisagem com Mão Invisível' o Capitalismo é extraterrestre



O filme “Paisagem com Mão Invisível” (Landscape with Invisible Hand, 2023, disponível na Amazon Prime Video), adaptação do livro homônimo de M.T. Anderson, é um curioso mix de Economia Política e ficção científica. Fazendo alusões a duas coisas bem atuais: exclusão e precarização do trabalho no novo salto tecnológico do capitalismo; e as teses de estudiosos do fenômeno Ovni de que governos e elites econômicas não só sabem da presença alien nesse planeta, como também o salto tecnológico das últimas décadas veio da colaboração dessas elites com extraterrestres. Uma conspiração entre a elite e aliens contra a maioria dos seres humanos tornados obsoletos por hologramas e Inteligência Artificial. O filme é uma sátira sombria de um contexto que o Fórum Econômico Mundial define como “Grande Reset Global do Capitalismo”.

sexta-feira, setembro 01, 2023

Descida ao inferno tragicômico da precarização em 'Tempos Super Modernos'


As engrenagens de uma máquina industrial engolindo Chaplin em “Tempos Modernos” foi o ícone do velho capitalismo industrial. E qual seria o melhor ícone que representaria o atual capitalismo de plataforma que “liberta” o trabalhador da linha de montagem para ser precarizado? Uma boa contribuição é dada pelo personagem Arturo, com sua bike, mochila e smartphone na comédia dramática italiana “Tempos Super Modernos” (“E noi come stronzi rimanemmo a guardare”, 2021). Acompanhamos a tragicômica saga do protagonista pelo inferno da precarização, depois de ter sido demitido pelo próprio algoritmo que criou. 

quinta-feira, julho 13, 2023

Na série 'Silo' a verdade não está lá fora... foi esquecida



Baseado na trilogia literária "Wool", de Hugh Howey, a série Apple TV+ “Silo” (2023-) é uma ficção científica distópica que foge do clichê clássico “a verdade está lá fora” ao contar a história de um bunker de 144 andares abaixo da superfície com o que restou da humanidade num mundo pós-apocalíptico. A paranoia permeia todos os cantos do Silo e os habitantes estão sob constante vigilância. Todos perderam a memória da História: quem construiu o Silo, com qual propósito e como vieram parar ali. O esquecimento é incentivado e a curiosidade reprimida. Ninguém pode sair, a não ser condenados à morte, para morrerem envenenados pelo ar tóxico exterior. Mas, e se tudo for uma mentira totalitária? O problema é que a verdade em “Silo” não é aquilo que simplesmente se opõe à mentira.

sábado, julho 01, 2023

Sexta temporada de 'Black Mirror': o que resta à série dizer sobre nosso futuro?


Com três anos de atraso, chega a sexta temporada da série “Black Mirror” (2011-). Que enfrenta uma dúvida existencial: se o mundo real e a série atingiram um ponto tão elevado de convergência, o que resta à série dizer sobre o nosso futuro?  Parece que todos os dias vemos uma nova profecia de “Black Mirror” sendo realizada. Por isso, nessa sexta temporada há uma estranha atmosfera na maioria dos episódios: ao invés de imaginar futuros hipo-utópicos (futuros que projetam de forma exagerada mazelas já existentes no presente), vemos narrativas em uma espécie de futuro do passado ou histórias fora dos temas clássicos da série. O criador Charlie Brooker estaria encontrado seu limite: a estranheza do mundo parece superar a imaginação ficcional.

quinta-feira, maio 25, 2023

O Capitalismo nos levará à nova Idade Média em 'Vesper'


“Vesper” (2022), co-produção franco-belga-lituana, não é apenas mais um ficção científica pós-apocalipse. Contrastando com o realismo capitalista das produções do gênero (é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do Capitalismo) em Vesper a maior ameaça foi o próprio Capitalismo: as formas artificiais de criar escassez para agregar valor cada vez maior às mercadorias acabaram com o meio ambiente e com o próprio Capitalismo, jogando o mundo em uma nova Idade Média. Uma ameaça muito maior do que a queima de combustível fóssil: a manipulação genética de sementes. Em seu pequeno laboratório, uma jovem tenta desbloquear o código DNA de sementes que produzem colheitas estéreis. Para todos ficarem dependentes de novas sementes vendidas por uma elite de cidades fortificadas. Exatamente como faz hoje conglomerados agroquímicos como a Monsanto e Bayer. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende. 

quinta-feira, março 16, 2023

Realismo capitalista e hipo-passado no filme '65 - Ameaça Pré-Histórica'


Se no final do século XX falava-se no “fim da História” (o triunfo do liberalismo político e econômico), agora nesse século temos uma ideologia mais expansiva e fluida, na cultura, entretenimento, jornalismo e publicidade: o “realismo capitalista” - uma percepção fluida, desesperançosa e impotente de que a realidade é incontornável. Tão incontornável que o realismo do presente pode ser projetado no passado, mesmo que seja em 65 milhões de anos atrás. Um astronauta cai na Terra, em pleno final do período Cretáceo, no meio de uma cadeia alimentar na qual os dinossauros dominam. Não, não é viagem no tempo. Ele vem de uma avançada civilização extraterrestre. Tão avançada que possui as mesmas mazelas econômicas da nossa Terra atual. É o filme “65 – Ameaça Pré-Histórica” (65, 2023), um thriller enxuto e direto de sobrevivência. Tão direto que as mazelas econômicas do presente estão em todo Universo, na pré-história. O capitalismo tão realista que se tornou interplanetário. Bem-vindo ao hipo-passado.

quarta-feira, novembro 16, 2022

Depois do espaço, o capitalismo quer colonizar o tempo na série 'The Peripheral'


“Eu anexaria os planetas, se pudesse”, queixava-se o homem de negócios colonialista britânico Cecil Rhodes na década de 1930: o mundo já estava todo parcelado e colonizado. Portanto, onde o Capitalismo encontraria novos mundos para colonizar. A guerra sempre foi uma solução paliativa. Se os espaços de conquista acabaram, resta o Tempo. Se hoje a microinformática é a ferramenta para as negociações em tempo real do financismo global, a imaginação do escritor sci-fi William Gibson pensou na mecânica quântica como um novo salto: a colonização das realidades paralelas nas diversas linhas do tempo. A série Amazon Prime “The Peripheral” (2022-), baseada no romance de 2014 de William Gibson, traz para a ficção científica esse realismo capitalista. Uma jogadora de games em RV testa uma versão Beta de um novo jogo que na verdade transfere seus dados de consciência para um futuro alternativo na qual um Instituto de Pesquisas oferece uma solução político-econômica inédita: a colonização do Tempo.

sexta-feira, setembro 23, 2022

A hipo-utopia de 'Rubikon': o futuro já está entre nós


Hipo-utopia: diferentes das distopias que imaginam mundos futuros totalitários com tecnologias e sociedades tão inéditas que se diferem das atuais, nas hipo-utopias vemos as tendências e mazelas atuais projetadas no futuro de forma hiperbólica. É o caso do filme austríaco “Rubikon” (2022) no qual vemos um futuro que é uma versão degradada e perversa do mundo que conhecemos. Em 2056 países e governos foram extintos, e cada região da Terra foi tomado e dividido entre corporações gigantes, cada qual com seu exército. Ricos escapam de uma atmosfera terrestre que virou tóxica enquanto a maioria luta para não morrer. Em uma estação espacial privada na órbita terrestre cientistas cultivam algas que produzem oxigênio. Dilema moral: entregam a descoberta para a empresa e salvam uma sociedade perversa ou assistem de camarote a erradicação da raça humana da superfície terrestre.  

quinta-feira, outubro 14, 2021

Em 'Settlers' o lado sombrio da conquista espacial é nós


No momento em que os empresários Jeff Bezos e Elon Musk estão reavivando de forma privatista a fantasia modernista da conquista do espaço, assistir à coprodução sul-africana/britânica “Settlers” (2021) é muito oportuna. Aqui não temos mais heróis ou cowboys da conquista espacial, mas “colonos”, com todas as suas implicações terrenas: a questão da propriedade da terra, conquista, pilhagem, traição e violência. Tudo em um microcosmo: um assentamento marciano com atmosfera controlada na qual uma pequena família vê a chegada de intrusos que reivindicam a posse do terreno. “Settlers” é mais um exemplo de uma tendência dos sci-fi independentes: não mais explorar utopias ou distopias no sentido clássico. Mas hipo-utopias pós-modernas: ficções científicas que, paradoxalmente, parecem se ressentir de ausência de futuro. O futuro não passaria de um espelho no qual mazelas do presente são projetadas. Na verdade, o futuro não existe - ele é apenas uma tela hiperbólica do presente.

quarta-feira, junho 16, 2021

A PsyOp militar que a crítica brasileira não entendeu no filme "Nova Ordem"



A crítica especializada brasileira simplesmente não entendeu o filme mexicano “Nova Ordem” (Nuevo Orden, 2020, disponível na Amazon Prime Video) de Michel Franco. Será que o filme descreve uma revolução? Um golpe militar? Algum fenômeno distópico como em “Uma Noite de Crime”? “Um filme que não decide qual discurso seguir”, sentencia a crítica. Ambientado em um futuro próximo, no México, vemos uma sociedade com divisões profundas entre classes sociais que, em questão de minutos, vai da ordem ao caos: a Cidade do México é sacudida por saques, violência e mortes onde massas de miseráveis invadem os bairros de elite para matar e roubar. O problema para a crítica é que Michel Franco descreve de forma seca e brutal não um golpe militar latino-americano clássico (quarteladas clichês no cinema, com generais ao estilo sargento Garcia, de “Zorro”), mas uma PsyOp militar operada como guerra híbrida que explora o demasiado humano: ódio, ressentimento e revolta. Qualquer semelhança com o Brasil NÃO é mera coincidência. 

segunda-feira, novembro 23, 2020

Não existe ficção científica no país do futuro em 'Branco Sai, Preto Fica'

O ano é 1986. Cidade-satélite de Ceilândia. Uma violenta repressão policial em um baile funk resulta em dois jovens negros com sérias sequelas: um, na cadeira de rodas; e o outro, andando com ajuda de uma prótese. Baseado nesse fato real, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2014), do documentarista Adirley Queirós, constrói uma curiosa ficção científica (gênero rarefeito no cinema brasileiro) “hipo-utópica”: o futuro não existe nem mesmo como distopia, sendo uma mera projeção hiperbólica do presente dos protagonistas – um apartheid racial e social em volta de uma Brasília sitiada. De um futuro que parece o Brasil atual, vem um “agente terceirizado do Estado brasileiro” investigar os responsáveis pela tragédia de 1986. A mistura de gêneros documentário e sci-fi é proposital: mostrar como no “País do Futuro”, passado, presente e futuro se estendem num estranho eterno presente. Sem existir o amanhã.

sábado, junho 06, 2020

Realidade realiza a ficção e Black Mirror não terá sexta temporada: é o fim da série?


“Tudo soa como algo que já assistimos, e penso: eu já imaginei isso!... realmente, tudo parece com coisas que já escrevi”, afirmou o criador da série “Black Mirror”, Charlie Brooker, diante dos atuais desdobramentos da pandemia COVID-19. Em entrevistas, Brooker tem sugerido que o não lançamento da sexta temporada da série se deve a um esgotamento criativo de “Black Mirror”: os mundos futuros descritos pelo roteirista já foram não só há muito realizados, como a realidade parece ultrapassar a imaginação ficcional – desde a minissérie “Dead Set” (2008), escrita por Brooker, na qual integrantes confinados de um reality show estão alheios a uma epidemia zumbi que se espalha no Reino Unido. O futuro, matéria-prima do gênero ficção científica, parece que não mais existe: ele já foi ironicamente realizado. 

quinta-feira, maio 07, 2020

Na série "Tales From The Loop" o futuro já passou e a gente não percebeu


Sempre estamos à espera do futuro, seja no gênero ficção científica na literatura e no cinema, seja nas utopias políticas ou religiosas. Ou então deixamos de acreditar no futuro, por meio de distopias ciberpunks ou totalitarismos tecnológicos. Mas, e se o futuro já aconteceu e nós não percebemos? As maravilhas tecnológicas já foram realizadas, mas ainda a humanidade se debate angustiada com velhas questões universais como morte, solidão, luto, amor e identidade. Na série “Tales From The Loop” (2020-) estamos em uma década de 1980 alternativa em uma cidadezinha pastoral e agridoce na qual os cidadãos convivem com robôs e tecnologias quase extraterrestres com a mesma naturalidade com que experimentam a hora do chá ou fazem a lição de casa escolar. Com delicadeza e calma, cada episódio lida com uma questão universal humana numa abordagem dos temas sci-fi que a crítica vem definindo como “anti-Black Mirror”: não há utopias ou distopias – o futuro já passou e a humanidade ainda se debate com o “demasiado humano” ainda sem respostas. 

domingo, setembro 01, 2019

A burrice e estupidez do futuro já estão entre nós em "Idiocracia"


O filme que originalmente era uma comédia e que se tornou um documentário. Assim é definido o filme “Idiocracia” (“Idiocracy”, 2006) do diretor e escritor Mike Judge (“Beavis e Butthead” e “O Rei do Pedaço”): um casal acorda de uma longa hibernação criogênica de 500 anos para encontrar um mundo no qual a burrice, estupidez e preguiça (e suas consequências como o machismo e a intolerância) se tornam virtudes. O presidente dos EUA é um ex ator pornô e lutador de Telecatch e a água potável foi substituída por um isotônico produzido por uma gigantesca corporação, gerando uma catástrofe ambiental. E a política se confunde com entretenimento e vídeo-game. Um filme tão profético que o próprio estúdio 20th Century Fox resolveu boicotar o lançamento da sua própria produção, escondendo “Idiocracia” das grandes redes de exibição. “Idiocracia” é visionário: como uma sociedade inteira não percebeu que emburrecia enquanto as expectativas sobre o que é ser inteligente cada vez mais diminuíam com o avanço tecnológico e da indústria do entretenimento. 

quinta-feira, dezembro 20, 2018

Em "Uma Noite de Crime 2: Anarquia" o Capitalismo quer eliminar o "excremento social"


São as raras as sequências que superam o filme original. “Uma Noite de Crime 2: Anarquia” (“The Purge: Anarchy”, 2014) é um desses raros casos. Não pela estética que, como no original, emula uma produção B. Mas porque é um perfeito documento do espírito de época atual, pós-globalização, no qual o hiper-capitalismo financeiro procura criar uma nova ordem a partir do rescaldo da crise de 2008: o aumento do "excremento populacional" (idosos, aposentados, inválidos, imigrantes, excluídos, miseráveis, refugiados etc.) que nem mais para serem explorados servem. Se o primeiro filme refletia as reações da ultra-direita contra o “Obama Care”, nessa sequência o roteiro de James DeMonaco reflete a nova ordem pós-globalização: formas invisíveis de controle populacional com o objetivo de exterminar o “excedente humano”. DeMonaco dá ao espectador nessa sequência uma noção mais ampla dos efeitos e propósitos da “Purgação” – a noite anual em que todas as formas de crime são permitidas, sob o pretexto de servir de válvula de escape para a besta interior presente em cada um de nós, garantindo a ordem social. Mas os propósitos de controle social são mais sombrios.

domingo, agosto 12, 2018

Série "Filhos do Caos": a combinação totalitária tecnologia, meritocracia e educação


Muitos consideram a série taiwanesa “Filhos do Caos” (“On Children”, 2018-), disponível no Netflix, como o “Black Mirror” oriental: nos cinco episódios estão modernas tecnologias (de uma espécie de controle remoto tempo-espaçial a neuro-dispositivos) que criam mundos distópicos. Porém, todo o controle, disciplina e opressão recaem sobre adolescentes – de um lado vivendo relações familiares disfuncionais de classe média (pais que jogam nos filhos a culpa pela renúncia e sacrifício), e do outro ambientes escolares meritocráticos e ultra competitivos onde entrar na melhores escolas e universidades significa honrar o status da família diante da sociedade. Cada um dos cinco episódios narra a totalitária combinação entre valores culturais milenares com as modernas tecnologias de vigilância e controle. Restando à juventude roubada a saída através do realismo fantástico e o suicídio. 

sábado, março 31, 2018

Em "Infinity Chamber" o homem enfrenta a versão mais diabólica de HAL-9000


Desde o duelo mortal entre o astronauta Dave Bowman e o computador HAL-9000 no filme “2001” de Kubrick, o cinema não havia conseguido repetir uma luta tão icônica entre a inteligência humana e a artificial. Isso até o filme “Inifinity Chamber” (2016), na qual o homem enfrenta a nova geração da IA: os aplicativos e algoritmos capazes de aprender até o ponto em que poderiam saber mais sobre nós do que nós mesmos. Um homem é raptado em uma cafeteria, para acordar em uma cela high tech observado por uma câmera de teto: é o olho artificial de um computador chamado Howard. Sua função: mantê-lo vivo, para escanear suas memórias e fazê-lo repetir mentalmente em infinitas vezes o mesmo dia em que foi raptado, para tentar achar a evidência da sua ligação com um grupo terrorista. Um filme sobre tecnologia, sonhos e memória. Uma metáfora de como atuais aplicativos que fazem a mediação dos nossos relacionamentos são apenas pretextos para escanear nossos sonhos e pensamentos.

segunda-feira, dezembro 25, 2017

Os sinais silenciosos que antecedem um golpe em "The Handmaid's Tale"


Para a revista “New Yorker”, publicação dos leitores bem pensantes liberais dos EUA, a série “Handmaid’s Tale” (2017-) é um “distópico conto feminista” da atual era Trump. Mas enquadrar a produção da plataforma de streaming Hulu nesse clichê é confirmar aquilo que a própria série alerta: ao qualificar os sinais do conservadorismo apenas como excrescências religiosas de gente ignorante é mau informada, reduzimos tudo a uma estranha normalidade, sem percebemos os sinais silenciosos cotidianos que antecedem os golpes políticos. Em “The Handmaid’s Tale” a América foi dominada por um estado teocrático fundamentalista cristão. Um desastre ambiental tornou a maioria das mulheres estéreis. As poucas mulheres férteis foram subjugadas e transformadas em “servas”, reduzidas a aparelhos reprodutores de uma elite dominante masculina. O Congresso, a Casa Branca e o Supremo Tribunal foram massacrados e a Constituição foi substituída pela leitura radical dos versículos da Bíblia.    

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