sábado, março 31, 2018
Em "Infinity Chamber" o homem enfrenta a versão mais diabólica de HAL-9000
sábado, março 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o duelo mortal entre o astronauta Dave Bowman e o computador
HAL-9000 no filme “2001” de Kubrick, o cinema não havia conseguido repetir uma
luta tão icônica entre a inteligência humana e a artificial. Isso até o filme
“Inifinity Chamber” (2016), na qual o homem enfrenta a nova geração da IA: os
aplicativos e algoritmos capazes de aprender até o ponto em que poderiam saber
mais sobre nós do que nós mesmos. Um homem é raptado em uma cafeteria, para
acordar em uma cela high tech observado por uma câmera de teto: é o olho
artificial de um computador chamado Howard. Sua função: mantê-lo vivo, para
escanear suas memórias e fazê-lo repetir mentalmente em infinitas vezes o mesmo
dia em que foi raptado, para tentar achar a evidência da sua ligação com um
grupo terrorista. Um filme sobre tecnologia, sonhos e memória. Uma metáfora de
como atuais aplicativos que fazem a mediação dos nossos relacionamentos são apenas
pretextos para escanear nossos sonhos e pensamentos.
sexta-feira, março 30, 2018
Episódio "O Mecanismo" revela a inépcia da esquerda com a comunicação
sexta-feira, março 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como era de esperar, a reposta da esquerda a “O
Mecanismo” foram denúncias contra o conteúdo factual da série brasileira. Mordeu a isca jogada pelo
diretor José Padilha e suas eminências pardas da atual guerra híbrida: de que a
série era supostamente “baseada em fatos reais”. E começou a acusar o
“assassinato de reputações” ao não respeitar “o tempo que os fatos ocorreram”,
condenar a “distorção da realidade” e produzir “fake news”. Foi como se a
esquerda levantasse a bola no outro lado da rede para o adversário dar uma
violenta cortada. Como uma “obra de ficção”, a série deve ser criticada no seu
próprio campo semiótico: a Operação Lava Jato foi um mero pretexto para o
roteiro explorar a combinação explosiva de ressentimento com a meritocracia.
Combinação que fez recentemente as ruas encherem de camisas amarelas batendo
panelas. Como não consegue se descolar da visão conteudística da comunicação, a
esquerda é incapaz de lutar no mesmo campo simbólico no qual Netflix milita.
Além de oferecer mídia espontânea a uma série tosca e malfeita.
segunda-feira, março 26, 2018
Nietzsche explica "O Mecanismo": série explora o veneno psíquico nacional do ressentimento
segunda-feira, março 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O diretor José Padilha rebate às acusações de “Fake News” à série brasileira
Netflix “O Mecanismo” alegando que é uma obra de ficção: uma “dramatização” da
Operação Lava Jato. Porém, como obra de ficção, Padilha atirou no que viu e
acertou no que não viu: sem a prisão de Lula, planejada para a semana do
lançamento de “O Mecanismo”, a série foi deixada por si mesma. Sem o apoteótico
final que a impulsionaria, a série revelou ser feita do mesmo material de
propaganda indireta da atual guerra híbrida brasileira – o envenenamento
psíquico pela doença do ressentimento. Como narrativa ficcional, “O Mecanismo”
nada mais é do que uma tentativa de transformar ressentimento, ódio e
frustração dos protagonistas em valores estoicos, nobres e patrióticos. A
grande “virtude” de “O Mecanismo” é ser uma prova de como a “doença do
ressentimento”, a “condição mais perigosa do homem” para Nietzsche,
transformou-se em matéria-prima de propaganda política indireta.
sábado, março 24, 2018
"La Antena", um filme sobre como o monopólio midiático nos rouba a voz e as palavras
sábado, março 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme obrigatório para estudantes de graduação em Comunicação.
Influenciado pelo cinema “noir” e pelo expressionismo alemão do clássico “Metrópolis”,
o diretor argentino Esteban Sapir fez o filme “La Antena” (2007): uma curiosa
estética inspirada no cinema mudo e metalinguagem das histórias em quadrinhos.
Um filme crítico sobre os meios de comunicação, a imaginação e as palavras. Em
uma cidade escura e invernal todos ficaram sem voz. O Sr. TV, dono de um
monopólio televisivo (o Canal 9) tem um malévolo plano para dominar todos os
cidadãos: sequestrar A Voz, a única pessoa que conservou o dom da fala. Para
transformá-la na atração principal da sua emissora enquanto ele arquiteta outro
plano ainda mais sinistro: roubar as palavras, para completar o seu regime de
Telecracia. “La Antena” é uma provocativa metáfora dos monopólios
latino-americanos de comunicação e de como a mídia é usada como arma para
sustentar regimes totalitários.
domingo, março 18, 2018
Sapos verdes e a execução de Marielle: sobe o grau da guerra semiótica brasileira
domingo, março 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um dia o industrial sem indústria e rentista Paulo Skaf lançava a
campanha “Chega de engolir sapo” (ironicamente contra os juros altos) em frente
ao prédio da Fiesp diante de um enorme batráquio verde inflado. E no dia
seguinte a vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco era executada com quatro tiros
certeiros na cabeça. Intensifica-se a guerra semiótica com a ocupação do campo
simbólico da sociedade pela direita. No primeiro caso, principalmente pela
ironia dos autores da campanha, uma mensagem prá lá de ambígua que ainda tenta
surfar na onda anti-PT/Lula, pela proximidade do “grand finale” da sua prisão.
E no trágico episódio do Rio, uma vítima exemplar, escolhida a dedo, para
detonar a “bomba identitária”, ato inaugural (assim como o “laboratório” da intervenção
no Rio) para “melar” a eleição desse ano através do discurso da ameaça de um
inimigo interno: o crime organizado. Fator até aqui ignorado pelos analistas
políticos, mas que tem parte importante na guerra semiótica brasileira, desde
os ataques de 2006.
sábado, março 17, 2018
Em "Corpo e Alma" a gnose possível através de um sonho lúcido
sábado, março 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, o filme húngaro “Corpo e Alma” (Teströl és Lélekröl,
2017), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um conto bizarro e
brutal sobre amantes em um matadouro de gado: um casal de funcionários que
consegue se encontrar apenas quando dormem, no mundo dos sonhos. Mais
exatamente, em um sonho recorrente: um veado e uma corça procurando folhas
verdes em uma paisagem de inverno coberta pela neve. A diretora Ildikó Enyedi
faz uma incursão no dualismo gnóstico Corpo/Alma: a matéria como uma prisão do
espírito. E o sonho como o meio para superar essa divisão. Sem incorrer
nos clichês hollywoodianos e motivacionais do tipo “todos os sonhos são
possíveis!”. Mas através da imersão em um tipo especial de sonho: o sonho
lúcido. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quarta-feira, março 14, 2018
" La Casa de Papel", segunda temporada: crítica brasileira não quer entender a série
quarta-feira, março 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a crítica europeia sobre a série da TV espanhola “La Casa de
Papel” (2017) é diversificada, a crítica brasileira da mídia corporativa
rejeita em bloco a produção do canal Antena 3. “Arremedo de Tarantino”, “série
absolutamente ridícula” etc. dão o tom, enquanto para os espectadores
brasileiros a série se transformou em um fenômeno. Os críticos da grande mídia
descontextualizam a atual safra de produções espanholas que tematizam as
consequências sócio-econômicas da crise do euro e da especulação financeira no país,
para ficarem no confortável discurso do “gosto ou não gosto”, tomando como
termo de comparação para análise os próprios clichês que Hollywood faz das
produções fora do seu eixo. Principalmente na segunda temporada, a série assume
o manifesto político contra o rentismo, a especulação e o fetichismo do
dinheiro. Talvez porque seus patrões também sejam rentistas, os críticos tentam
exorcizar de “La Casa de Papel” o fantasma do mal-estar que paira sobre a
Globalização: com a financeirização, as fronteiras entre legal e ilegal, crime
e virtude ou bem e mal desapareceram.
quinta-feira, março 08, 2018
Do futebol argentino, uma lição de guerra semiótica para as esquerdas brasileiras
quinta-feira, março 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “hit
de verão” começou nos estádios argentinos, como protesto contra suposto
favorecimento do Boca Junior na Federação de Futebol pela influência do
presidente Mauricio Macri. Um canto ofensivo que ultrapassou o futebol e nos
últimos dias se propagou para eventos culturais, shows de rock, memes e redes
sociais. Se há apagão ou um trem do metro quebra, indignados os argentinos
começam a cantar o “hit do verão”, canalizando o descontentamento. Um pequeno
conto sobre guerra simbólica na política: como o protesto transcende o futebol
e se transforma numa bomba em potencial. Enquanto isso no Brasil, um apagão de
quase uma hora no Pacaembu fez crescer um coro anti-Globo da torcida do Santos,
ao vivo na TV. Prontamente retalhado com a demonização da organizada “Torcida
Jovem” nos telejornais da emissora. Apenas a esquerda brasileira não percebe
esses sintomas simbólicos do descontentamento e como a grande mídia contra-ataca
sempre ganhando por WO a guerra semiótica. “Somente se ataca símbolos a partir
do simbólico”, afirma o pesquisador argentino Javier Bundio. Mas nunca as
esquerdas pensaram em ocupar esse plano da sociedade. Será que o papel da
derrota e da vitimização sempre lhes cai bem na velha narrativa de luta e
resistência?
segunda-feira, março 05, 2018
Curta da Semana: "The Walk Home" - Gnose e Política após a morte
segunda-feira, março 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos trunfos do blog “Cinegnose” para demonstrar as conexões que envolvem o Gnosticismo e a Política é o curta “The Walk Home” (2014) do animador e ilustrador inglês Steve Cutts. Sim! A gnose é um ato político. Principalmente após a morte quando conseguimos dissolver as ilusões que nos prendem à órbita terrestre e que nos capturam em um novo ciclo de reencarnação e esquecimento. Um jovem desperta em uma grande cidade violenta e dominada pelo crime organizado. Mas é também uma sociedade na qual a elite parece tirar vantagem dessa desordem e caos. Numa perigosa jornada noturna, o jovem tem uma revelação estarrecedora. Mas também libertadora.
domingo, março 04, 2018
Globo une gestão de imagem de Neymar com bomba semiótica da intervenção militar
domingo, março 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim como na Copa de 2014, mais uma vez Neymar sofre uma contusão que
o retira de uma cena catastrófica: lá atrás, livrou-se dos humilhantes 7 X 1 contra a
Alemanha; hoje, escapa de mais uma possível derrota para o Real Madrid que tiraria o PSG
da Champions League. O que tornaria ainda mais pesado o clima do craque com a
imprensa francesa. Mas parece que os interesses dos gestores da imagem do
jogador (o “Neymarketing”) estão se alinhando à estratégia diversionista da
grande mídia num momento de intervenção militar no Estado do Rio – ponto de
inflexão que representa o “laboratório” para “melar” as eleições desse ano pela
criação de inimigos internos: favelas e crime organizado. No dia da cirurgia do
jogador em Belo Horizonte, o veterano repórter esportivo Mauro Naves
protagonizou ao vivo uma desajeitada tentativa para criar um suposto clima de
comoção popular na frente do hospital. Sem um evento real, restou a
mise-en-scène e o não-acontecimento tautista: jornalista entrevistando outro
jornalista e as indefectíveis crianças com camisetas amarelas.
sábado, março 03, 2018
O estranho senso de justiça no filme "O Sacrifício do Cervo Sagrado"
sábado, março 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os deuses exigem de nós sacrifícios para que provemos nossa devoção.
Mas, e se for exigido um sacrifício pessoal a eles? Um cirurgião bem sucedido e
respeitado parece pairar como um Deus sobre a vida e a morte, até que encontra
com um garoto que o faz se confrontar com algum tipo de justiça cósmica, que
exigirá dele o sacrifício de um membro da sua família. “O Sacrifício do Cervo
Sagrado” (“The Killing of a Sacred Deer”, 2017), do diretor grego Yorgos
Lanthimos (“The Lobster” e “Dente Canino”), segue a tendência atual de filmes
estranhos dirigido por gregos que misturam horror, violência, amor e culpa em
thrillers com situações bizarras. Aqui, Lanthimos lança seu olhar para os
mundos assépticos dos hospitais e condomínios suburbanos que vendem para as
massas as ilusões de controle patrocinado pela Ciência e racionalidade
tecnológica. E, como em todos os filmes de Lanthimos, consegue extrair desses
universos o estranho e o incontrolável.
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