sábado, dezembro 29, 2018
Esquerda desarmada diante das operações psicológicas "alt-right"
sábado, dezembro 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Fotos de Bolsonaro e do futuro ministro da Casa Civi, Onix Lorenzoni, cuja angulação e recorte sugerem ao fundo expressões como “anta” ou “traição governa”; vídeo do capitão reformado lavando roupas no tanque; outro vídeo do presidente eleito com a faca na mão em um churrasco debochando do próprio atentado que sofreu. Tudo material distribuído pela assessoria do presidente, pautando a grande mídia e a indignação da esquerda, como matéria-prima para os protestos que acabam virando apenas “metamemes”. Continua em ação uma estratégia muito mais de comunicação do que de propaganda. Uma operação psicológica baseada nos mecanismos de dissonância e ambiguidade diante da qual a esquerda está paralisada e desarmada, incapaz de compreender a linguagem “alt-right”, a ultradireita alternativa, surgida diretamente de sites como o “4chan” (EUA) ou do “Corrupção Brasileira Memes”(CBM, Brasil). Uma linguagem cuja mão de obra criadora é farta: a geração NEET (Not currently engaged in Employment, Education or Training) ou “Nem-Nem”, cuja desesperança e niilismo ganharam expressão política depois de anos de animações politicamente incorretas como Os Simpsons, Beavis and Butt-head, South Park, American Dad e o Rei do Pedaço.
quinta-feira, dezembro 27, 2018
Algoritmos, novos aliens e psicologia reversa por trás do filme "Bird Box"
quinta-feira, dezembro 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há algum algoritmo do Netflix por trás do filme “Bird Box”? – pergunta-se a crítica especializada. Se algum tipo de Inteligência Artificial elaborou a narrativa do filme baseado em livro homônimo de Josh Malerman, certamente seus algoritmos devem estar bem atualizados com a nova tendência do subgênero “apocalipse alien”: Agora esses seres surgem furtivamente, com estratégias ambíguas que exploram, principalmente, as fraquezas humanas – medo, desconfiança, traição, ambição etc. Dessa vez, o gênio maligno alienígena veio explorar o maior ponto fraco sensorial humano na atual sociedade das imagens, do espetáculo e das mídias: a visão. Como se salvar anulando a visão numa sociedade que nos exalta a ver? “Bird Box” apresenta o ponto fraco da psicologia humana: a psicologia reversa – quando o aviso “não olhe!” torna-se uma persuasiva arma alienígena.
segunda-feira, dezembro 24, 2018
"Cinegnose" faz nove anos, na direção da primeira década
segunda-feira, dezembro 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em dezembro, o “Cinegnose” completa nove anos de existência, aproximando-se da primeira década de intensas atividades – postagens, cursos e palestras. Em todo esse tempo, o “Cinegnose” passou por dois momentos de mudança: no terceiro aniversário (2012), quando deixamos de ser um site “sobre Gnosticismo” para se tornar “Gnóstico” – a criação de um olhar gnóstico (ontológico, sincromístico, irônico e sintomático) mais amplo para Cinema, Cultura e Sociedade. E agora no seu nono aniversário: esse “olhar gnóstico” coverte-se num pressuposto metodológico para a Teoria da Comunicação, Semiótica e Crítica Ideológica. Por quê? Porque a realidade é uma ilusão. Mas não uma ilusão qualquer, como “mentira” ou “falsa consciência”. Mas porque a realidade cada vez mais imita roteiros cinematográficos e narrativas ficcionais. Cada vez mais se aproxima do Cinema, a moderna Caverna de Platão.
sábado, dezembro 22, 2018
A ilusão das festas de Ano Novo no filme "Goodbye, 20th Century"
sábado, dezembro 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sombrio, artístico, apocalíptico e surreal. Essas palavras sintetizam “Goodbye, 20th Century” (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), definitivamente um filme para cinéfilos aventureiros. Dirigido por dois diretores macedônios, Darko Mitrevski e Aleksandar Popovski, começa num deserto pós-apocalíptico ao estilo Mad Max para terminar num velório que se degenera em sangue e violência ao som de “My Way”, na versão punk rock de Sid Vicious. Um filme cujo pôster promocional da época resumia o filme da seguinte maneira: “como o Papai Noel, em fúria, destruiu o nosso mundo”. Uma reflexão para as festas de final de ano de que, na verdade, tanto o Tempo como a “passagem de ano” não existem. São uma persistente ilusão que escondem um eterno retorno. E como esquecemos do principal simbolismo das festas de Ano Novo: a dupla face do deus Janus – uma que olha esperançoso para o futuro; e a outra que procura entender os erros do passado. Assista ao filme aqui no “Cinegnose”.
quinta-feira, dezembro 20, 2018
Em "Uma Noite de Crime 2: Anarquia" o Capitalismo quer eliminar o "excremento social"
quinta-feira, dezembro 20, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
São
as raras as sequências que superam o filme original. “Uma Noite de Crime 2:
Anarquia” (“The Purge: Anarchy”, 2014) é um desses raros casos. Não pela
estética que, como no original, emula uma produção B. Mas porque é um perfeito
documento do espírito de época atual, pós-globalização, no qual o
hiper-capitalismo financeiro procura criar uma nova ordem a partir do rescaldo
da crise de 2008: o aumento do "excremento populacional" (idosos, aposentados, inválidos, imigrantes,
excluídos, miseráveis, refugiados etc.) que nem mais para serem explorados
servem. Se o primeiro filme refletia as reações da ultra-direita contra o
“Obama Care”, nessa sequência o roteiro de James DeMonaco reflete a nova ordem
pós-globalização: formas invisíveis de controle populacional com o objetivo de
exterminar o “excedente humano”. DeMonaco dá ao espectador nessa sequência uma
noção mais ampla dos efeitos e propósitos da “Purgação” – a noite anual em que
todas as formas de crime são permitidas, sob o pretexto de servir de válvula de
escape para a besta interior presente em cada um de nós, garantindo a ordem
social. Mas os propósitos de controle social são mais sombrios.
domingo, dezembro 16, 2018
Como envenenar psiquicamente um povo no filme "Os Demônios"
domingo, dezembro 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Os Demônios” (“The Devils”), de Ken Russel, é um filme tão blasfemo, obsceno e relevante hoje quanto foi em 1971. Um terror religioso épico e uma contundente crítica do abuso do poder político. Um filme sobre fatos históricos ocorrido no século XVII (um padre condenado à fogueira acusado de bruxaria), filmado no século XX, mas que continua atual no século XXI: os tribunais eclesiásticos da Inquisição foram muito mais do que produtos do fanatismo religioso. Foram instrumentos de “lawfare” para a dominação política da Igreja. Em “Os Demônios” a Inquisição é um instrumento de uma estratégia mais ampla que hoje chamamos de “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma cidade através da sua maior vulnerabilidade: um Convento de freiras dominadas pela histeria de massa é o pretexto para derrubar a liderança do padre Urbain Grandier, opositor à monarquia absolutista de Luís XIII e do Cardeal Richelieu.
quinta-feira, dezembro 13, 2018
Satanás é o último dos humanistas em "Últimos Dias no Deserto"
quinta-feira, dezembro 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
maior história AstroGnóstica de todos os tempos. De “Jesus Cristo Superstar” a “A
Última Tentação de Cristo”, Jesus já foi humanizado de todas as maneiras:
dúvidas, tentações, medos etc. Mas nada igual ao despretensioso filme “Ultimos
Dias no Deserto” (2015) de Rodrigo Garcia. Nos 40 dias que Jesus passou no
deserto orando, jejuando e pedido orientação do seu Pai, a única voz que ouviu
foi a de Satanás. Logicamente, o demônio no início vai explorar as fraquezas de
uma divindade prisioneira em um corpo humano. Mas Satanás fará (e se revelará)
muito mais do que isso. Enquanto Jesus tenta minimizar os conflitos da relação
pai e filho de uma família que lhe deu água e abrigo, Satanás mostrará que está
sempre um passo à frente. Como se antecipasse todos os pequenos detalhes de uma
história que parece já conhecer de antemão. Como se a Criação fosse uma
repetição na qual, curioso, Satanás tenta entender o propósito de tudo.
Olhando pelo ponto de vista da humanidade prisioneira em uma repetição cósmica.
Seria Satanás o último dos humanistas em “Últimos Dias no Deserto”? Filme sugerido pelo nosso leitor Matheus de Alcântara.
quarta-feira, dezembro 12, 2018
Com João de Deus, Manchinha e bonapartismo de Bolsonaro, Globo aperta os nós para 2019
quarta-feira, dezembro 12, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de décadas de controvérsias, acusações de assassinato, pedofilia e abusos sexuais, repentinamente “a verdade bateu à porta”, como disse Pedro Bial, e seu programa deu a partida para a caça ao médium-celebridade João de Deus, com atualizações diárias que já rivalizam com a meganhagem também diária das prisões da PF nas telas. Sabemos que para o jornalismo da Globo não basta apenas a verdade “bater a porta” – é necessário a “verdade” ter timing e oportunismo dentro das estratégias políticas da emissora. Soma-se a isso a também repentina indignação e atualizações diárias sobre o espancamento e morte do cão “Manchinha” em um hipermercado em Osasco/SP, uma notícia que na paginação tradicional dos telejornais seria colocada no bloco das notícias diversas. Tudo na semana do vazamento de movimentação atípica de dinheiro na conta de assessor de Flávio Bolsonaro, pressão da grande mídia por explicações e a resposta “bonapartista digital” de Jair Bolsonaro na sua diplomação no TSE: “o poder popular não precisa de intermediação”, apostando nas novas tecnologias para governar o País sem a grande mídia. Fala-se que a Globo “não dá ponto sem nó”: quais nós a TV Globo está apertando para 2019 com essas “anomalias” jornalísticas no final do ano?
domingo, dezembro 09, 2018
A civilização se enxerga no abismo no filme "Cold Skin"
domingo, dezembro 09, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nietzsche nos alertava que quanto mais olharmos para o abismo, mais ele se parecerá conosco. A co-produção Espanha/França “Cold Skin” (2017), do diretor Xavier Gens, vai desenvolver esse insight do filósofo alemão em um mix de Nietzsche (o abismo da não-razão que espelha a razão humana), Charles Darwin (monstros de uma ilha que parecem negar as leis da evolução) e o horror ao estilo de H. P. Lovecraft com elementos do fantástico. Um meteorologista vai trabalhar em uma ilha nos confins da Terra para lá encontrar o operador de um farol em uma guerra particular com criaturas humanoides que parecem negar toda a racionalidade humana representada nas leis evolucionistas. O simbolismo das luzes do farol que tenta iluminar as trevas é o das luzes da razão humana. Mas, como sempre, o homem esquece que essas mesmas luzes também produzem sombras.
sábado, dezembro 08, 2018
"Coletes Amarelos" na França: a revolução não será televisionada!
sábado, dezembro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Até aqui a grande mídia passa batida para “o déjà vu” dos protestos dos “coletes amarelos” na França: em 2013 as chamadas “Jornadas de Junho” no Brasil foram narradas da mesma maneira como hoje noticiam os protestos franceses – “espontâneos”, “apartidários” e que “começam de forma pacífica, mas que acabam tendo atos de vandalismo...”. Também como em 2013, surgem analistas que veem “o novo” na Política ou “quebra do monopólio da narrativa midiática”. Aqui no Brasil vimos no que deram as Revoluções Populares Híbridas. Na Europa estão sincronicamente conectadas com o tour de Steve Bannon (ex-assessor da campanha de Trump) pelo continente para unificar a direita num “movimento internacional de nacionalistas”. Os “coletes amarelos” são icônicos e as câmeras os amam, saturando de significados suas fotografias e vídeos. A revolução não será televisionada: a mídia não está relatando o que as pessoas fazem; relatam apenas o que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia para o Capitalismo dar um novo salto – o populismo de direita.
domingo, dezembro 02, 2018
Alarme do Ciberespaço! Tempo Real destruirá a Democracia
domingo, dezembro 02, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Einstein teria falado sobre a “segunda bomba”: A bomba eletrônica, depois da atômica. Uma bomba na qual o que o tempo real é para a informação corresponderia ao que a radioatividade é para a energia. Em artigo de 1995, publicado na “Le Monde Diplomatique”, intitulado “Vitesse et Information: Alerte Dans le Cyberespace!”, o urbanista e pensador francês Paul Virilio alertava para o “grande evento que dominará o século XXI”: a corrosão da Democracia pelo tempo real das redes digitais. Um novo complexo militar que o Pentágono iniciava naquele ano – uma “revolução no exército junto com uma guerra do conhecimento que substituirá a guerra de campo”. Eram os esboços cibernéticos que hoje se transformaram em engenharia política. A vitória de Bolsonaro foi um dos laboratórios da corrosão da representação política pelo tempo real. E agora, os protestos dos “coletes amarelos” na França promete que essa engenharia será global.
sábado, dezembro 01, 2018
Cartografias AstroGnósticas do Além em "Destino Especial"
sábado, dezembro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que ecoa John Carpenter, Spielberg e Stephen King. “Destino Especial” (Midnight Special, 2016) é muito mais do que um filme AstroGnóstico – categoria de filme gnóstico no qual nossa empatia se volta para aliens exilados nesse mundo tentando retornar para sua casa, como uma metáfora da própria condição humana. Um menino dotado de poderes especiais tenta retornar para seu lar, fora desse mundo, enquanto uma seita religiosa e o Governo tentam capturá-lo. Mas, diferente de muitos outros filmes Astro Gnósticos, o lar distante não está nas estrelas, planetas ou universos alternativos. Mas muito mais perto do que possamos imaginar numa espécie de nova "cartografia do além": se estamos exilados nesse mundo, de onde viemos?
domingo, novembro 25, 2018
Curta da Semana: "Big Data - L1ZY" - os fantasmas que assombram a Internet
domingo, novembro 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma típica família de classe média suburbana passa a ser assombrada por um novo dispositivo de Inteligência Artificial. “Big Data – L1zy” é um curta sombriamente satírico ao melhor estilo “Black Mirror”, mas emulando um “infomercial” típico das TVs norte-americanas. “L1zy” é uma paródia de assistentes pessoais inteligentes como Alexa ou Siri – como sob a aparência amigável de vozes sexies, nossas vidas são hackeadas pela mineração de Big Data e algoritmos que probabilisticamente preveem nossas desejos e comportamentos. “Big Data – L1zy” propõe uma amarga reflexão: como a Internet, da utopia da “biblioteca universal” e da “rede de inteligência coletiva” se transformou em um conjunto de plataformas que em segredo sequestra nossos dados pessoais com objetivos mercadológicos e políticos.
quinta-feira, novembro 22, 2018
Arte, Política e Guerra Antimídia em "Art of The Prank"... mas não conte prá esquerda!
quinta-feira, novembro 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Jornalistas são perigosamente ingênuos... não se interessam pela verdade, mas apenas por uma boa história”, afirma Joey Skaggs no documentário “Art Of The Prank” (2015). Joey Skaggs é um artista plástico que iniciou nos movimentos contraculturais de protestos nos EUA. Quando percebeu que o maior inimigo não era o Governo, mas a grande mídia que o sustenta. A partir dos anos 1970 tornou-se o principal criador de “Media Prank” e “Culture Jamming” – estratégias de guerrilhas semióticas antimídia. Skaggs passou então a criar uma série de personagens e histórias fictícias (pegadinhas) para enganar os jornalistas, revelando como a opinião pública é formada sobre mentiras: o “Bordel para Cachorros”, o “Banco de Esperma de Celebridades”, a “Pílula que cura tudo” produzida a partir de enzimas das baratas etc. CNN, ABC, CBS, todos caíram nas pegadinhas de Skaggs. Até o jornalista Pedro Bial mostrando na Globo a “revolucionária Terapia do Leão” do “célebre” Baba Wa Simba... “Art Of The Prank” mostra didaticamente como se faz uma guerra semiótica: fazer a mídia sentir o gosto do próprio veneno da mentira que ela produz... mas não conte para a esquerda! Dificilmente entenderá...
segunda-feira, novembro 19, 2018
Cultura, prostituição e barbárie no filme "Bibliothèque Pascal"
segunda-feira, novembro 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma mulher desesperada em recuperar a guarda da sua filha. Uma mãe que foi vítima de uma rede europeia de prostituição de mulheres e crianças que realiza sequestros no Leste Europeu para o mercado sexual da elite intelectual e corporativa inglesa. Para ter sua filha de volta, deve relatar onde esteve nos últimos dois anos. Ela descreve o cabaré-bordel chamado “Bibliotheque Pascal”, em Liverpool, repleto de estantes com livros e quartos que recriam em tons futuristas e sadomasoquistas cenas literárias das obras de Shakespeare, Nabokov, Wilde, Shaw entre outros. O filme húngaro “Bibliothèque Pascal” (2010) dança nas bordas entre fantasia e realidade, civilização e barbárie. É impossível não lembrar do pensador alemão Walter Benjamin, principalmente nas sequências do cabaré-prostíbulo. Lá a barbárie não parece ser o avesso da civilização, mas um pressuposto dela. O impulso bárbaro parece não estar fora, mas no interior do movimento de criação e transmissão cultural.
domingo, novembro 18, 2018
O assombro cósmico e psíquico de aranhas e fantoches em "Possum"
domingo, novembro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Possum” (2018) é terror silencioso e psicológico. E principalmente simbólico: consegue articular dois simbolismos cósmicos e psicológicos – a aranha e o fantoche, aglutinados num bizarro boneco com corpo e pernas de aranha e a cabeça rachada de uma boneca. Alguma coisa entre os brinquedos mutantes de Toy Story e as animações de Jan Svankmajer. Um estranho fantoche que exerce um poder sufocante sobre o seu titereiro. Depois de muitos anos, Philip retorna para a cidade da sua infância para confrontar o seu cruel padrasto e os segredos que torturaram sua vida inteira. Mas o bizarro fantoche aracnídeo continua assombrando-o, por mais que tente destruí-lo. Filme sugerido pelo nosso leitor... bem, você sabe quem...
sábado, novembro 17, 2018
Cinegnose e Coletivo Resistência discutem guerra semiótica e antimídia
sábado, novembro 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A convite do Coletivo Resistência, este editor do “Cinegnose” discutiu o tema “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” nessa última quarta-feira (14/11) no Sindicato dos Bancários no Centro de SP. Na pauta, o detalhamento das táticas de mineração de Big Data nas redes sociais nas campanhas de Trump e Bolsonaro, e a articulação entre mídias tradicionais e as redes – “frame set” + criação de “Co-Memes” (constelação de memes que se apoiam mutuamente). E a tríade de articulação de uma contra-comunicação: explorar o mesmo campo simbólico da direita, prospecção de líderes de opinião e estratégias de guerrilhas antimídia. Mas principalmente, como recuperar a aura antissistêmica do campo progressista – competentemente hackeada pelo discurso politicamente incorreto da direita. Como? Talvez a célebre e cínica revista de paródias incorretas underground “Mad” possa ser uma fonte de inspiração criativa.
sexta-feira, novembro 16, 2018
Gnosticismo e magia abrem estranhos portais em "A Dark Song"
sexta-feira, novembro 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Algumas
vezes não é a casa que está assombrada, mas as pessoas dentro dela. Inspirado
num “grimório”, uma coleção medieval de feitiços, rituais e encantamentos
mágicos cabalísticos chamado “O Livro de Abramelin” (escrito entre os séculos XIV e XV), A Dark Song (2016) é um conto sobre a aceitação da perda e da morte.
Duas pessoas em uma remota casa no interior do País de Gales ficarão trancados
por meses executando um intrincado ritual que os forçará aos limites físicos e
psicológicos. Ambos lidando com o luto – a perda de um filho e a perda do
interesse na própria vida. Um ritual gnóstico e herético: não se trata de lidar com o
divino, mas abrir portais para alguém ou algo totalmente desconhecido que pode
ser reflexo de nós mesmos ou de estranhas entidades. E sabermos reconhecer que,
sejam “bons” ou “maus”, todos não são filho de Deus, mas prisioneiros de uma
mesma Criação. Filme sugerido (insistentemente...) pelo nosso leitor Felipe Resende.
domingo, novembro 11, 2018
Cinegnose discute Guerra Híbrida e Guerra Semiótica nessa quarta em São Paulo
domingo, novembro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A convite do Coletivo Resistência, de São Paulo, esse humilde blogueiro participará como palestrante da discussão “Guerra Híbrida e Guerra Semiótica” nessa quarta-feira (14/11). O evento acontecerá no Salão Azul do Sindicato dos Bancários de São Paulo, às 19h. Este “Cinegnose” vem nesse ano participando de uma série de palestras sobre o tema, como em Ituiutaba/MG e no Rio de Janeiro, recentemente no Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz. Agora, é a vez de São Paulo também discutir: por que, desde o século passado, a direita sempre esteve na vanguarda das estratégias de comunicação? Está prevista transmissão ao vivo pela Internet pelo Jornalistas Livres.
A "rinocerontite" se alastra entre nós em "Rinocerontes"
domingo, novembro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era mais uma manhã de um domingo qualquer. Dois amigos conversam em um restaurante. De repente o chão estremece e ouvem-se urros do lado de fora. Um rinoceronte desce a rua em disparada destruindo portas e vitrines dos bares. Mais tarde, outros rinocerontes aparecem e um deles é reconhecido como um ex-colega de trabalho. Um bizarro contágio de “rinocerontite” se alastra, transformando humanos em ferozes paquidermes. Mas estranhamente as pessoas aceitam tudo como um “fato da vida”, e até começam a achar belo esse retorno da humanidade à “pureza” da natureza. Menos Stanley (Gene Wilder) que lutará para salvar das manadas enfurecidas o que restou da racionalidade humana. Esse é o filme “Rinocerontes” (Rhinoceros, 1974), adaptação da peça do Teatro do Absurdo do romeno Eugène Ionesco. Uma parábola sobre a ascensão do fascismo na pátria do dramaturgo. Mas ao revisitarmos esse filme de 1974, notamos que a “rinocerontite” continua ainda bem atual.
quarta-feira, novembro 07, 2018
Estamos todos à espera de algo que nunca chega em "Esperando Godot"
quarta-feira, novembro 07, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Obra-prima do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett, “Esperando Godot” sempre esteve à espera de uma adaptação cinematográfica. A qual Beckett resistia por temer que o espírito de dissonância original da peça fosse perdido na linguagem fílmica. Mas o projeto “Beckett in Film” do diretor irlandês Michael Lindsay-Hogg certamente superou esses temores de Beckett. Em “Esperando Godot” (2001), a peça em dois atos em que nada acontece ganha novos tons, principalmente gnósticos: por que dois mendigos à espera do misterioso Godot que nunca aparece, simplesmente não viram as costas e vão embora? O que temem? O absurdo e surrealismo de "Esperando Godot" é apenas a superfície de um horror metafísico de Beckett que parece remeter ao trauma do Holocausto: como foi possível uma barbárie jamais vista na Segunda Guerra Mundial? Que cosmos é esse em que vivemos que cria condições para acontecer horrores que jamais deveriam acontecer?
domingo, novembro 04, 2018
Vinte e seis anos depois, Brasil se parece com "Bob Roberts"
domingo, novembro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Num país onde a elaboração de um roteiro para o cinema e o planejamento do marketing político de um candidato são a mesma coisa, filmes como “Bob Roberts” (1992) não se limitam a fazer uma mera sátira da política. Vai mais além, misturando fatos reais da propaganda política com a ficção. Produzindo o paradoxal efeito “mockumentary” – acreditar na realidade por meio de um filme ficcional que simula ser um documentário sobre um candidato de extrema-direita ao Senado dos EUA. Um filme obrigatório, principalmente após o controvertido processo eleitoral brasileiro que levou outro candidato da extrema-direita ao poder, dessa vez à presidência. Após 26 anos da exibição de “Bob Roberts”, o filme continua assustadoramente atual, com surpreendentes semelhanças com as eleições brasileiras: manipular os fios da “política das emoções” (racismo, sexismo etc.) para esconder que por trás não existe nada.
sábado, novembro 03, 2018
Em "Await Further Instructions" a TV nos contamina com insanidade e obediência cega
sábado, novembro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma família tenta se reconciliar na noite de Natal depois de anos de estranhamento. Mas em breve, encontram-se presos e incomunicáveis com o mundo exterior em sua casa suburbana. Há algum tipo de entidade não identificada que se comunica exclusivamente através da televisão, por meio de teletextos (que lembram os velhos videogames de 8 bits) com ordens ambíguas que progressivamente provocam discórdia, histeria e violência. Será que tudo não passa de algum reality show televisivo? Um ataque terrorista? Ou algo pior? Ao lado de “Videodrome” (1982) de David Cronemberg, “Await Further Instructions”(2018) é um filme que nos mostra que a TV há muito deixou de ser uma janela aberta para o mundo para se converter em tela que nos passa comandos. Nós não temos ideias, mas é as ideias que nos têm, nos transformando em hospedeiros virais para replicar a insanidade e a obediência cega. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, novembro 02, 2018
Retrofascismo: na Guerra Híbrida o fascismo retorna como farsa
sexta-feira, novembro 02, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2011 este “Cinegnose” teve uma sombria antevisão: “o retrofascimo brasileiro só está à espera de uma tradução política para conquistar, mais uma vez, o Estado”, afirmava este humilde blogueiro. E este momento chegou! Só que dessa vez como farsa, diferente da tragédia do fascismo clássico do século XX. Conceito criado pelo pesquisador em Cultura e Tecnologia, Arthur Kroker, “retrofascismo” representa o mix dos motivos que fizeram surgiu o fascismo histórico com a hipertecnologia do século XXI. É necessário entender as nuances entre o fascismo do passado e o atual, como mais um lance no xadrez geopolítico da Guerra Híbrida brasileira: assim como no passado, o retrofascismo utiliza a matéria-prima psíquica da personalidade autoritária, mas dessa vez como estratégia de dissuasão midiática (e, por isso, como farsa) – criação da agenda da polarização em torna das questões identitárias, culturais e de costumes para esconder um programa de governo ruim de voto. Porém, produziu três efeitos residuais: o efeito “Uma Noite de Crime”; o efeito “A Ficha Caiu!”; e o efeito “Apertem os Cintos, a Grande Mídia sumiu!”.
sábado, outubro 27, 2018
Gil Gomes e Datafolha fazem a tradução política do fascismo brasileiro
sábado, outubro 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nos dias que antecederam a eleição de segundo turno dois fatos relevantes: a morte do radialista e jornalista Gil Gomes e os resultados da pesquisa Datafolha sobre os atributos dos candidatos à presidência. O primeiro, evento sincrônico cheio de significados – a morte do representante de uma extirpe da crônica policial que por décadas cultivou o ódio, medo e vingança dos telespectadores e ouvintes. Cuja colheita vemos na atual polarização política. E o segundo, divulga números sobre os atributos aos candidatos à presidência que relembram os resultados da célebre pesquisa “Personalidade Autoritária” liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA. Pesquisa representou as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”. Provando que o pensamento autoritário não é uma simples “aberração cognitiva”. Mas uma formação reativa psíquica à espera de uma tradução política.
sexta-feira, outubro 26, 2018
O capitalismo é apenas mais uma forma de gerir o hospício humano em "Insanidade"
sexta-feira, outubro 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme checo “Insanidade”
(“Silení, 2005) é para poucos pela sua alta carga de niilismo e humor negro. O
diretor Jan Svankmajer volta à crítica da sociedade de consumo do filme
anterior “Little Otik” (2000), mas dessa vez por um viés político e
ontológico: a história humana é comparada a um problema de gestão de um
manicômio no qual há duas formas de fazê-lo - ou a liberdade absoluta na qual o
prazer e orgia se aproximam do crime e da morte, ou o totalitarismo da dor e
castigo que também flerta com a morte. Um jovem tem recorrentes pesadelos até
encontrar um milionário excêntrico que emula o próprio Marquês de Sade. Ele
apresenta o médico gestor de um manicômio que apresenta uma técnica supostamente
revolucionária que irá livrá-lo dos seus pesadelos. “Insanidade” é uma fábula sobre
como a História até aqui não conseguiu conciliar Eros e Thanatos, prazer e
morte. E como o capitalismo é mais uma forma de gerir essa loucura.
quinta-feira, outubro 25, 2018
"Esquerda precisa de um novo Goebbels?", indaga Cinegnose na CEE-Fiocruz no Rio
quinta-feira, outubro 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessa segunda-feira este
humilde blogueiro participou da oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e
Saúde” após gentil convite da pesquisadora Letícia Krauss, coordenadora do
evento. A oficina foi no CEE-Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro). Procurei fazer um comparativo entre as
ações da direita e esquerda, no espectro político, dentro do campo da
comunicação. O problema: enquanto a esquerda mal compreendeu o funcionamento
das mídias de massa no século XX, nesse século a direita da um segundo salto
tecnológico com a guerra semiótica no campo das tecnologias de convergência –
Internet e redes sociais. Solução: lutar no mesmo campo simbólico da direita,
modular a comunicação para alcançar líderes de opinião de grupos e comunidades
(analógios ou digitais) e táticas de guerrilha antimídia. Será que para isso seria
necessário um novo Goebbels, agora na esquerda?
terça-feira, outubro 23, 2018
Memória, identidade e controle mental no filme "Upstream Colour"
terça-feira, outubro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme
inclassificável. Pode ser um romance com uma racionalização sci-fi. Uma jovem
engole uma capsula medicinal contendo um estranho verme cuidadosamente
cultivado em estufa, tornando-se hospedeira tanto da larva como do controle
mental de alguém que a transformou numa cobaia involuntária de um experimento.
Agora ela terá flashbacks, flashfowards e flahs periféricos tornando o filme “Upstream
Colour” , 2014, de Shane Carruth (“Primer”) num filme estranho, surreal. Num
verdadeiro quebra-cabeças que cobra do espectador esforço cognitivo para
restabelecer a linearidade. Uma experiência enigmática, única, hipnótica e
surreal. “Upstream Colour” nos dá a sensação de, através de um microscópio,
estarmos vendo a matéria-prima das nossas memórias e identidades: as sensações
mais básicas dos nossos cinco sentidos. Tão efêmeras e frágeis que podem ser
roubadas quando menos esperamos.
domingo, outubro 21, 2018
"Cinegnose" discute no Rio guerra semiótica nas políticas públicas de saúde
domingo, outubro 21, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais uma vez este humilde blogueiro do “Cinegnose” vai ao Rio de Janeiro. Dessa vez, no CEE Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz) para apresentar a oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e Saúde”. O evento será nessa segunda-feira às 13h30. Será abordado todo um espectro de conceitos teóricos, práticos e políticos associados à Teoria da Comunicação e Semiótica. Mas principalmente, como esses referenciais teóricos podem orientar práticas de política de comunicação no atual cenário brasileiro de guerra híbrida e semiótica. Em particular, atingindo as políticas públicas de saúde.
sábado, outubro 20, 2018
"ZapGate" é o último ato da guerra híbrida
sábado, outubro 20, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinicamente a Globo chama de “guerra virtual” para encobrir o caráter assimétrico da batalha do disparo de milhões de notícias falsas com apoio empresarial pela campanha de Jair Bolsonaro - o "ZapGate". Enquanto isso, mais uma vez o PT aciona seu Exército Brancaleone para pedir, dessa vez, medidas punitivas da Justiça Eleitoral – como se não estivéssemos testemunhando o previsível último ato de uma guerra híbrida metódica e sistemática iniciada em 2013. Aguarda-se um show de contorcionismo judicial-midiático para deixar o tempo passar mais rapidamente. Ou enfiarão a cabeça na terra e se fingirão de morto...Este é o último desafio para a esquerda: se ela mal compreendeu o porquê do sucesso da propaganda hipodérmica do nazi-fascismo do século XX, poderá entender e dar uma resposta estratégica à guerra da mineração de big data criadora de dissonâncias cognitivas e realidades paralelas? Apesar do ar pós-modernoso do “ZapGate”, as origens da sua estratégia de comunicação estão no século XX: a descoberta de que as redes dos líderes de opinião de grupos e comunidades é que sancionam os conteúdos midiáticos.
segunda-feira, outubro 15, 2018
"O Abrigo": o mais perturbador filme pós-apocalipse dos últimos tempos
segunda-feira, outubro 15, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pode parecer que “O Abrigo” (“The Divide”, 2011) é mais um filme pós-apocalíptico em que, outra
vez, Nova Iorque é destruída. Dessa vez por bombas nucleares em uma guerra
indeterminada. Mas dessa vez não temos uma narrativa épica de um herói que luta
em colocar ordem no caos para salvar o dia. As coisas irão de mau a pior num
grupo de sobreviventes em um abrigo subterrâneo. A obsessão pela temática pós-apocalipse
e do fim do mundo no cinema encobre a raiz de um sintoma que “O Abrigo” revela
de maneira explícita: o freudiano “Mal-Estar da Civilização” assentado no temor
da morte, da fragilidade do corpo e no inferno que representa o outro. Por
isso, o diretor Xavier Gens vai buscar inspiração em dois clássicos da literatura
do niilismo pós-guerra: a peça “Entre Quatro Paredes” de Sartre e “O Senhor das
Moscas” de William Golding. “O Abrigo” é um filme para cinéfilos com mente e
estômago fortes. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sábado, outubro 13, 2018
Uma psicanálise da engenharia da computação na série "Maniac"
sábado, outubro 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais do que entender “quem
é o dono do hardware” atrás dos aplicativos, gadgets e algoritmos que nos
envolvem e fazem a mediação de todas as nossas relações familiares, pessoais e
profissionais, é urgente também fazermos uma psicanálise da “classe virtual”: a
“tecno-intelligentsia” de neurocientistas, engenheiros, cientistas da computação,
criadores de jogos eletrônicos e toda gama de desenvolvedores digitais. Até que
ponto o atual paradigma digital (que confunde a mente com o próprio
funcionamento dos computadores) é a projeção de uma “ego trip” desses membros
da elite virtual: estariam traumas, fantasmas e obsessões íntimas dos próprios
desenvolvedores digitais projetados no modelo cognitivo que a ciência da
computação impõe para nós? Esse é o mais importante tema da nova série Netflix “Maniac”
(2018): uma radical técnica fármaco-computacional promete eliminar as memórias
de nossos traumas para voltarmos à realidade felizes e produtivos. Mas, e se
ficarmos aprisionados nos próprios traumas dos neurocientistas criadores do
experimento?
quarta-feira, outubro 10, 2018
Bolsonaro é um avatar. Como enfrentá-lo?
quarta-feira, outubro 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estamos à beira do
desfecho de uma guerra híbrida iniciada em 2013 com as chamadas “Jornadas de
Junho”. Num mecanismo tão exato quanto um “tic-tac”, passo a passo, um depois do outro, irresistível, sistemático: a Política foi demonizada,
um governo foi derrubado, o psiquismo nacional envenenado e a polarização
despolitizou e travou qualquer debate racional. Tudo iniciado pelas bombas semióticas
detonadas diariamente pelas mídias de massas. E nesse momento o desfecho ocorre na velocidade viral das redes sociais. Por isso, Bolsonaro converte-se em um “candidato-avatar”:
a Nova Direita descobriu a tática do “Firehose” – a espiral de boatos e
desmentidos pelos “fact-checking” cria paradoxalmente o subjetivismo e relativismo
que blinda o próprio candidato-avatar. Apesar de toda essa pós-modernidade, a
Nova Direita tem o mesmo elemento de estetização da política criada pelo fascismo histórico: a narrativa ficcional cômica
– de programas de humor da TV, Bolsonaro despontou como um “mito” de quem
ria-se e não se levava a sério. Por isso, circulou livremente. Hoje, é o
protagonista do “gran finale” da guerra híbrida. Como enfrentar um avatar?
domingo, outubro 07, 2018
Em "Jogador Número 1" a jornada moralista do herói de Spielberg
domingo, outubro 07, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de abordar temas
como tubarões, terrorismo, ETs e narrativas de aventuras que sempre tiveram a
marca do retrô pop, dessa vez no filme “Jogador Número 1” (“Ready Player One”,
1978) o consagrado diretor Steven Spielberg mergulha na tecno-mitologia dos
games de computador – uma vasta paisagem virtual de um jogo imersivo de
avatares lutando em um parque temático da cultura pop: um gigantesco museu
interativo sobre o século XX no futuro, um labirinto de referências e alusões
da mitologia pop. Como sempre, Spielberg entrega ao público a velha narrativa
da Jornada do Herói repleta de elementos herméticos e gnósticos. Mas Spielberg é
a nata da indústria hollywoodiana: mais do que tudo, sabe construir narrativas míticas e elementos esotéricos fascinantes (porque
prometem transcendência) embaladas com o moralismo da boa e velha dualidade
maniqueísta hollywoodiana. “Jogador Número 1” dá a reposta a uma questão que sempre
incomodou o “Cinegnose”: por que o Gnosticismo parou nas mesas de produtores e
roteiristas de Hollywood?
segunda-feira, outubro 01, 2018
Para grande mídia, cárcere do Lula é o Gabinete do Dr. Caligari
segunda-feira, outubro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o impeachment de 2016, aos poucos as bombas
semióticas na grande mídia foram dando lugar a estratégias narrativas: como
transformar uma má notícia em um “conto maravilhoso” (Vladimir Propp) em plenas
narrativas não ficcionais jornalísticas? Narrativas em que verossimilhança e
relações de causalidade são mandadas às favas – transmutações, pensamento
animista, magia, forças sobrenaturais, ação à distância por princípio de
semelhança etc. Em meio ao mal estar da grande mídia em ver, mais uma vez, o PT
ir ao segundo turno eleitoral (apesar das diversas mortes anunciadas do partido
e de Lula), o jornal "Estadão" nos brindou com mais uma dessas narrativas fantásticas:
tal como o clássico expressionista alemão de terror “O Gabinete do Dr.
Caligari” (1920), uma colunista alerta que Lula usa poderes hipnóticos e
paranormais – de dentro da prisão, Lula controla mídia, inventou Bolsonaro e o
anti-petismo para depois derrota-lo... e Haddad é o seu Cesare – hipnotizado,
às vezes até emula o “chefe” com a voz rouca em carros de som. Grande mídia
revela agora seu expertise narratológico – só mesmo a semiótica de Julien Greimas para
desmontar essa bomba narratológica.
domingo, setembro 30, 2018
Curta da Semana: "Nerd Cave" - a Caverna de Platão 2.0
domingo, setembro 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Nerd” deixou há muito
tempo de ser um termo pejorativo, principalmente porque por trás deles há uma
lucrativa indústria em expansão: os jogos de computadores. Alguns pesquisadores
em cibercultura acreditam que se tornou até mesmo uma “categoria psicológica”
motivada pelo desejo da imortalidade através da desconexão com a realidade.
Principalmente quando atualmente os games adquiriram o status de esporte. O
curta dinamarquês “Nerd Cave” (2017) um compulsivo gamer de jogos on line vive
em sua própria “Caverna de Platão”, com a sua mãe. Até que um dia, a energia do
bairro em que mora acaba e o seu mundo desmorona. Então, sua mãe tentará se
reconectar com o filho, através de peixinhos num aquário. Um curta repleto de
alegorias. Mas a principal é que agora vivemos a Caverna de Platão 2.0: também
podemos interagir e jogar com as sombras projetadas na parede.
sábado, setembro 29, 2018
Em "Branco Sai, Preto Fica" o tempo brasileiro é o eterno retorno
sábado, setembro 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1986 policiais
invadem um baile funk em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, ferindo física
e psiquicamente dois homens. Em 2014, um terceiro homem vem do futuro a procura
de evidências que ajudem um movimento identitário negro mover uma ação contra o
Estado pelos danos daqueles homens no passado. “Branco Sai, Preto Fica” (2014)
de Adirley Queirós é uma ousada experimentação em um gênero pouco visitado pelo
cinema brasileiro – o filme consegue construir uma espécie de “meta docudrama
sci-fi”. Com sua desolação, frieza e aridez, Brasília deixou de ser a utopia
modernista de uma possível civilização brasileira para se transformar na
perfeita cenografia de filmes distópicos, com uma vantagem: não é preciso
computação gráfica. No país do futuro, o tempo é um eterno retorno: se o
presente é um apartheid social, o futuro não deixa por menos – a “Vanguarda
Cristã” tomou o poder e ameaça o sucesso das investigações. Filme sugerido pelo nosso leitor Paulo Pê.
segunda-feira, setembro 24, 2018
Bolsonaro X Haddad no segundo turno? Guerra híbrida continua vencendo
segunda-feira, setembro 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais uma vez a sabedoria
desconfiada do velho Leonel Brizola. Acostumado com os truques da geopolítica
dos EUA, em 1989 Brizola acusava Lula de ser inflado pela direita para mais
facilmente a própria direita, representada então por Collor, vencer. Tudo leva
a crer que Bolsonaro e Haddad irão ao segundo turno. Otimismo e ufanismo ganham
a esquerda, saudando o gênio político de Lula, mesmo com todo massacre
midiático e “lawfare”. Como sempre, a esquerda apenas compreende a superfície
da atual guerra híbrida brasileira, em ação desde 2013. Para além do
impeachment e a prisão de Lula, há um objetivo semiótico mais insidioso:
polarização (petismo X anti-petismo) e despolitização (o jargão do
empreendedorismo e moralismo travando qualquer debate de macro-conjuntura) -
infantilização o debate político através do ódio e irracionalidade de uma opinião
pública que se acostumou a odiar a Política. E nesse momento, a grande mídia
busca mais uma “bala de prata” para turbinar a polarização. Será que o velho Brizola
tem mais uma vez razão? (ilustração: Felipe Lima, "Gazeta do Povo")
domingo, setembro 23, 2018
Estranhas portas que jamais foram fechadas em "Mandy"
domingo, setembro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que parece ter
saído de alguma capa de disco heavy metal dos anos 1980, começando pelo pôster
promocional. E que exige do espectador uma entrega ativa, ao invés de
passivamente analisa-lo. Por isso, a maioria da crítica considera “Mandy”
(2018), do diretor canadense Pano Cosmatos, um filme absolutamente insano,
estranho e difícil de ser resenhado. Na verdade, nem seria um “filme”, mas uma
“experiência” non-sense e surrealista com um mix alucinado de referencias a
comerciais, animações, HQs, rock metal e mais da cultura pop dos anos 1980.
Tirando as camadas de exercício de estilo, Cosmatos dá continuidade à reflexão
iniciada no filme anterior “Beyond The Black Rainbow” (2010): as consequências
do “despertar místico” do esoterismo e ocultismo na cultura pop em torno das
viagens alucinógenas psicodélicas do LSD. De como toda uma geração tentou
buscar um atalho para a iluminação espiritual, mas acabou encontrando uma “bad
trip”: o Demiurgo existente em cada um de nós.
terça-feira, setembro 18, 2018
Por que teledramaturgia da Globo está assombrada com o Tempo e a História?
terça-feira, setembro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dois temas parecem assombrar
a atual teledramaturgia da Globo: o Tempo (viagem no tempo, déjà vus, vidas
passadas, reencarnações etc.) e a História (pastiches da Idade Média,
releituras do Brasil do Império etc.). Algo que se distingue das tradicionais
“novelas de época” que marcaram a história do gênero na TV brasileira. Nunca se
verificou essa recorrência temática em tantas telenovelas, apresentadas
simultaneamente ou em sequência nos diferentes horários. Sabe-se que em ano
eleitoral o laboratório de feitiçarias semióticas da emissora funciona em tempo
integral. O que essa recorrência pode significar dentro desse contexto? Nova bomba semiótica? Ou o
sintoma do temor de uma emissora hegemônica que sabe da importância do atual
cenário eleitoral? – é matar ou morrer. É o momento de entendermos a célebre
afirmação de George Orwell: “Quem
controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o
passado”.
domingo, setembro 16, 2018
A tecnologia deixou de ser uma extensão humana em "Upgrade"
domingo, setembro 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A crítica vem definindo
a produção australiana “Upgrade” (2018) como alguma coisa entre a série
britânica “Black Mirror” e o clássico “Robocop” de 1987: em um futuro próximo,
um tecnofóbico (alguém que sempre gostou de “fazer as coisas com as próprias mãos”)
tem sua vida virada de ponta cabeça ao ficar tetraplégico e receber o implante
de um chip de computador que o fará andar novamente, porém com algumas
“atualizações”. Tudo que deseja agora é vingança contra os assassinos de sua
esposa, quando descobre estar em um plot conspiratório envolvendo algum tipo de
espionagem industrial. “Upgrade” é um filme que revela o atual imaginário que
anima o desenvolvimento computacional – Inteligência Artificial e
Singularidade, o momento em que a tecnologia deixa de ser a extensão do corpo
humano para se tornar sua própria negação.
terça-feira, setembro 11, 2018
Zygmunt Bauman e o incêndio "líquido" do Museu Nacional
terça-feira, setembro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conceito de Zygmunt Bauman, a “Modernidade
Líquida” aqui no Brasil assume aspectos
dramáticos, como um Projeto que deve ser colocado em prática a todo custo: a
drenagem do Estado até a sua liquefação e a transformação em mero gestor de “fluxos”.
Um sintoma foi o incêndio do Museu Nacional no Rio. Mas, principalmente, as
notícias em torno do futuro do Museu: investigações com alta tecnologia e a
possibilidade de imprimir réplicas em 3D a partir de fotos do patrimônio
perdido. É notável que toda essa sofisticação não estivesse disponível para
mantê-lo sólido e em pé. Só entrou em cena depois que o Museu desapareceu! A
ideia de liquidez transformou-se em algo muito além de uma categoria econômica:
virou uma espécie de “a priori” cognitivo, no qual não há sentimento de luto ou
perda que poderiam promover crítica ou indignação. O pensamento “líquido” transforma catástrofes e
tragédias como essas em vulgata ou banalidade: a tecnologia poderá trazer tudo
de volta mesmo...
domingo, setembro 09, 2018
Em "O Futuro" o maior inimigo da geração dos "millennials" é o tempo
domingo, setembro 09, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa época em que o trabalho, a
cultura e a tecnologia liquefazem e precarizam nossas vidas na fluidez e instabilidade, os “millennials”
tentam se agarrar nos destroços de uma suposta sabedoria do passado e nos
gadgets, aplicativos e plataformas digitais do presente. Um presente que se
torna eterno, pelo medo e ansiedade em relação ao futuro, porque nada parece
durar por muito tempo. Mas um jovem casal decide adotar um gato, e acredita que
tudo vai mudar. “O Futuro” (“The Future”, 2011) é uma fábula pós-moderna sobre
tecnologia e o futuro da geração mais tecnologizada da História. Mas o medo do
futuro e de compromissos, representado agora por um gato necessitando de intensivos
cuidados veterinários, é tão paralisante que ameaça dissolver a vida conjugal
pela mentalidade “líquida” da sua geração. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
sábado, setembro 08, 2018
Atentado a Bolsonaro foi um tombo para cima?
sábado, setembro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As eleições (?) aproximam-se e a
temperatura aumenta. E essa semana foi particularmente dramática como um bom
roteiro de ficção, sinalizando o que vem pela frente: começou com o simbólico
incêndio do Museu Nacional no Rio e terminou com o “timing” do atentado contra
o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Assim como nos atentados de
Londres, Paris, Berlim etc., as imagens da facada em Jair Bolsonaro repetem o
script: sincronismos, anomalias, timing e algo mais: repete o mesmo contexto do
controvertido acidente aéreo do candidato Eduardo Campos em 2014 – um contexto
de esgotamento das bombas semióticas da grande mídia e o baixo desempenho da
então esperança Aécio Neves frente à esquerda, forçando a procura de um “Plano
B”. De uma reunião sigilosa de Bolsonaro com o Grupo Globo no início da semana
à euforia dos 1.000 pontos do mercado financeiro ao saber da facada no
candidato terminando com uma cobertura emotiva e apelativa no Jornal Nacional
com vídeo exclusivo de Bolsonaro falando de Deus, da maldade humana e
descrevendo o atacante como um “lobo solitário”, fecha-se o roteiro típico de
um filme ou HQ: Bolsonaro foi promovido a “Mito Plano B” do consórcio
jurídico-midiático – um final feliz com um tombo para cima?
terça-feira, setembro 04, 2018
Tautismo Global, sincronismos e ironias no incêndio do Museu Nacional
terça-feira, setembro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No Manifesto Futurista, Marinetti
falava em “destruir museus” para libertar as consciências dos “inúmeros
cemitérios”, e nos prepararmos para o futuro. Em visita ao Rio em 1926,
Marinetti repetiu tudo isso e viu no Brasil um país futurista porque não teria
“nostalgia das suas tradições”... Claro, Marinetti era um iconoclasta. Mas o
Brasil é mais realista que o rei. Leva ao pé-da-letra coisas como “austeridade
fiscal” (cuja realização máxima foi, até aqui, a “PEC da Morte”) que até o
próprio FMI criticou em 2016. O incêndio do Museu Nacional foi um acontecimento
irônico e sincrônico, na cidade em que Marinetti via a “realização acidental”
do futurismo: resultado do neoliberalismo levado à sério num momento em que o
fascismo se aproxima no segundo turno das eleições – um fascismo próximo ao de
Marinetti. E, mais uma vez, o motor dessa austeridade levada à sério foi a
cobertura tautista (tautologia + autismo midiático) pela Globo da catástrofe
científico-cultural. Sinal dos tempos: a cobertura de Carlos Nascimento ao vivo
dos choques dos aviões contra as torres gêmeas em 2001 conseguiu ser mais
objetiva do que os relatos sobre o incêndio, encaixados nos dois eixos
narrativos globais: “esse país é uma merda!” e “corrupção, corrupção e
corrupção...”.
segunda-feira, setembro 03, 2018
"Videodrome - A Síndrome do Vídeo": como a tecnologia controla mente e carne
segunda-feira, setembro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um diretor de uma TV a cabo descobre o
sinal pirata de uma transmissão de “Snuff TV” (filmes que mostram violência,
abusos sexuais e mortes reais) chamada “Videodrome”. Mas da pior maneira
possível, ele descobrirá que é muito mais do que um show de TV: é um
experimento cujas ondas catódicas provocam danos cerebrais permanentes. Arma
para vencer a guerra pelo controle das mentes da América planejada por uma
obscura empresa que faz óculos de baixo custo para o Terceiro Mundo e sistemas
de orientação para mísseis da OTAN. Esse é “Videodrome – A Síndrome do Vídeo”
(1983), clássico filme de David Cronenberg que transformou em cinema toda uma
tradição de crítica à mídia e tecnologia canadense, de Marshall McLuhan a
Arthur Kroker: o momento em que a tecnologia deixa de ser mera extensão do
homem para se transformar em carne. E o homem se transforma num aparelho de
videocassete.
sábado, setembro 01, 2018
Curta da Semana: "O Futuro Será Careca" - Por que temos horror ao vazio em nossas cabeças?
sábado, setembro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vivemos uma sociedade de consumo que
ama tudo aquilo que está cheio: sonhos, sacolas de compras, cabelos. Odeia o
vazio porque cria uma “incontrolável sensação de desgosto”. E os carecas seriam
a síntese de tudo isso que as pessoas temem: carregam o vazio sobre suas
cabeças. Esse é o tema do surreal curta francês “O Futuro Será Careca” (“Le
Futur Sera Chauve”, 2016), de Paul Cabon. Um jovem protagonista cabeludo
descobre numa refeição em família o futuro que lhe espera: a calvície
hereditária. E revela o sintoma de uma sociedade que criou o mito da juventude
como estratégia publicitária sedutora e pervasiva – a inabilidade de crescer e
envelhecer.
quarta-feira, agosto 29, 2018
A nova bomba do laboratório de feitiçarias semióticas da Globo: "1+1=3"
quarta-feira, agosto 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O leitor deve conhecer ou ter ouvido
falar daquela velha cartilha escolar de alfabetização de priscas eras chamada
“Caminho Suave”, o be-a-bá do mundo das letras. Pois é nesse nível que
interesseiramente se situam as chamadas “ferramentas de fact-checking”. Tática
diversionista para desviar a atenção da opinião pública de uma outra cena na
qual as notícias de fato funcionam: não no campo da representação (verdade ou
mentira), mas no deslizamento metonímico das edições, escaladas, justaposição
narrativa para criar percepções, impressões e relações de causa e feito. Como,
por exemplo, a nova bomba que o laboratório de feitiçarias semióticas do
telejornalismo da Globo criou em ano eleitoral para blindar o seu candidato
campeão Alckmin: a bomba semiótica “1+1=3” – comece narrando uma notícia... e
de repente dê uma guinada e passe a falar de outra notícia, criando duas linhas
narrativas simultâneas e tão confusas que o telespectador começará a criar
relações de causa e efeito que acabarão criando uma terceira notícia. Aquela
verdadeira notícia que a emissora gostaria de informar para esconder uma
realidade comprometedora.
segunda-feira, agosto 27, 2018
A estrada para o Inferno está pavimentada por convites no filme "Hereditário"
segunda-feira, agosto 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Hereditário” (“Hereditary”, 2018) é
um filme singularmente aterrorizante. Ele não cava apenas nos abismos sombrios
do nosso inconsciente. Explora
principalmente o fenômeno bem atual da incomunicabilidade familiar e do
processo psíquico de negação. Dois plots clássicos do gênero são explorados: o
Mal que ameaça a união familiar e o elemento narrativo do “convite” através do
qual o Mal pode ter a licença para entrar em nossas casas e pavimentar o
caminho ao inferno. Mas o singular em “Hereditário” é que o Mal vem do interior
do próprio lar: uma família que se sente
desconfortável com exposições francas de qualquer coisa que possa revelar o
interior um ao outro. Silêncios e mecanismos de negação encobrem traumas do
passado que pode retornar como uma demoníaca maldição.
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