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quinta-feira, maio 16, 2024

Série 'Matéria Escura': por que o século XXI está tão obcecado pelo multiverso?


A vida é feita de escolhas que fazemos em momentos cruciais que irão nos definir para sempre. Desde que os paradoxos da mecânica quântica, o experimento imaginário do gato de Schrödinger e a sua interpretação de Hugh Everett que abriu a possibilidade da existência de muitos mundos com diferentes versões de nós mesmos, parece que a angústia do “para sempre” ficou ainda maior, na literatura e no cinema: será que fiz a escolha certa? E se fosse possível ver a escolha da minha outra versão? Poderia ter uma segunda chance? A série Apple TV “Matéria Escura” (Dark Matter, 2024-) é mais uma produção na onda atual de filmes sobre multiverso. Embora o impacto cultural dos enigmas quânticos esteja no século XX, é nesse século que a angústia da escolha é ampliada, no estranho zeitgeist que domina a atualidade. Um gênio da física bem-sucedido cria uma maneira de viajar pelo multiverso para trocar de lugar com o sua outra versão menos bem-sucedida, invertendo a premissa tradicional do gênero.

Essa não é minha linda casa/Essa não é minha linda esposa
Meu Deus! O que eu fiz?
(“Once a Lifetime”, Talking Heads)

quinta-feira, outubro 19, 2023

'Cronos - A Relíquia do Tempo': escravos de Cronos, não percebemos o tempo oportuno



O mito da segunda chance domina o tema da viagem do tempo no cinema. Principalmente por ser um sintoma daquilo que o filósofo Giacomo Marramao chama de “hipertrofia de expectativas”: vivemos angustiados pelas chances perdidas no passado e pela aparente falta de tempo para chegar no futuro. Para os estoicos da Grécia antiga, nos tornamos escravos de Cronos e incapazes de perceber o “tempo oportuno” (kairós), aquilo que no presente nos conecta com o eterno. “Cronos – A Relíquia do Tempo” (2020) é um filme brasileiro que foge do clichê da “segunda chance”. Sobre um protagonista que, da pior maneira, descobre a ilusão de Cronos para encontrar Kairós: um cuidador de idosos recebe um relógio capaz de retroceder o tempo em até 24 horas, mas essa dádiva logo se torna uma maldição quando ele é obrigado a enfrentar as consequências pelo mau uso do dispositivo.

sexta-feira, agosto 26, 2022

Viagem no tempo e a angústia dos millennials no filme 'Efeito Flashback'


A Relatividade e a mecânica quântica alteraram radical nossa percepção tempo-espaço, ao ponto do tema da viagem no tempo se tornar um tema recorrente – o fascínio da “segunda chance” em que o passado poderia ser alterado. Mas nada como nesse século, em que o boom de produções sobre o tema reflete a angústia existencial da geração millennial: a angústia do crescimento, maturidade e a necessidade de fazer escolhas. “Efeito Flashback” (2020) é um bom exemplo: um jovem analista de informações que renunciou ao desejo de se tornar um artista visual encontra casualmente um antigo amigo do ensino médio. Um encontro que traz do passado memórias esquecidas que retornam como um flashback. Na verdade, o efeito de uma droga misteriosa da época que permitia escapar do espaço-tempo linear e experimentar vidas alternativas. Passado e presente se misturam em loop e deslocamentos, sem o usuário ter em que se apegar. O que traz a questão central desse boom sobre viagens no tempo: e SE eu tivesse feito outra escolha? Como seria a minha vida?

terça-feira, agosto 24, 2021

O vazio existencial do nosso conformismo bovino no filme 'Animal Político'


Uma vaca vive entre os humanos. Teve uma infância feliz e uma família humana amorosa. Vai a restaurantes, shopping, baladas, faz compras e se relaciona com todos. Mas mesmo com todo o seu conformismo bovino, sente que falta algo. Há uma angustiante sensação de vazio em toda essa felicidade. E a vaca sai em busca de uma resposta, seja racional ou espiritual. “Animal Político” (2016) é uma anomalia no cenário cinematográfico brasileiro, um filme estranho no melhor sentido: uma narrativa onírica e surreal sobre nossos problemas existenciais produzidos por fatores bem concretos: a sociedade de consumo numa sociedade marcada pelo abismo da desigualdade. O filme nos faz compreender a célebre afirmação de Aristóteles (o homem é um animal político) interpretando-a ao pé da letra, através da alegoria e de um humor sutil. 

terça-feira, março 23, 2021

Amor, mentiras e algoritmos na série 'The One'


Encontrar a alma gêmea, o parceiro certo e viver uma linda história de amor para sempre. Essa é uma mercadoria escassa e, por isso, valorizada no mercado, atraindo a ambição das Big Techs, oferendo redes sociais e aplicativos de relacionamentos para usuários solitários: a promessa de que os algoritmos farão todo o trabalho porque eles conhecem mais sobre nós do que nós mesmos. Mas, e se os algoritmos se juntarem com bancos de dados genéticos? Esse é o tema da série Netflix “The One” (2021- ): se numa sociedade de incomunicabilidade o outro vira fonte de angústia, que tal entregarmos o livre-arbítrio afetivo a um aplicativo que faça combinações genéticas? Mas, por trás de toda fortuna há um crime. E por trás de todo “match” uma mentira.

domingo, setembro 15, 2019

O preço sombrio da felicidade em "A Porta"


Por trás de uma grande fortuna há um crime. O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo e consertar decisões erradas? Essas duas ideias são combinadas em um curioso filme sobre viagem no tempo, sem o tradicional tom sci-fi e muito mais com uma atmosfera de conto de fantasia ao estilo “Alice no País das Maravilhas”. É o filme alemão “A Porta” (“Die Tür”, 2009) sobre um artista plástico bem-sucedido remoído pela culpa com a morte da sua filha, destruindo seu casamento e a si mesmo. À beira do suicídio, descobre uma estranha porta nos fundos de um jardim que o conduz ao dia exato da morte da sua filha. É a chance de consertar o erro. Mas também descobrirá que há um preço sombrio a pagar pela felicidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

sábado, julho 27, 2019

A angústia humana diante do Tempo e das escolhas em "O Homem Infinito"


Confusões em torno de viagens no tempo oferecem uma gama de situações cômicas, desde o clássico “De Volta Para o Futuro”, graças a inesperados efeitos exponenciais quando tentamos consertar as coisas numa oportunidade de “segunda chance” no passado. O filme australiano “O Homem Infinito” (2014) explora todas essas possibilidades cômicas com um dos roteiros mais afiados dos últimos tempos nesse subgênero do sci-fi – da fantasia cômica inicial gradualmente evolui para a sofisticação de uma emaranhada cadeia de eventos em loop. Um solitário cientista tenta consertar o que deveria ter sido um final de semana perfeito com sua namorada: um ano depois da trágica separação, ele põe em ação uma estranha máquina do tempo baseado num scanner das memórias. Levando a comédia a uma sombria reflexão sobre as nossas angústias e responsabilidades em relação ao tempo, existência e escolhas. Filme sugerido pelo nosso incansável colaborador Felipe Resende.  

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