sexta-feira, maio 29, 2015

Pesquisadores da NASA e Oxford acreditam que Universo é um game de computador

Sempre ouvimos dizer que “a vida é um jogo”. Mas e se essa frase for mais do que uma metáfora e nesse exato momento estivermos todos nós vivendo em um jogo desenhado por alguém que está em algum ponto num futuro distante? Tão velha quanto a história humana, a ideia gnóstica de que a realidade é uma ilusão retorna através das leis da Inteligência Artificial e a evolução dos games de computador: Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, e Richard Terrile, da NASA, apontam para evidências de que o Universo seria uma gigantesca simulação de um game de computador cósmico e que o salto qualitativo na capacidade dos nossos computadores nos permitiria repetir a experiência da simulação de mundos, assim como o nosso. Tal hipótese explicaria inconsistências e mistérios que cercam o nosso cosmos, como, por exemplo, a natureza da “matéria escura”. Ciência e gnosticismo mais uma vez se encontram, dessa vez no fascínio atual pelos games de computador. Pauta sugerida pelo nosso leitor André De Paula Eduardo.

De acordo com as teorias de dois pesquisadores também distantes no tempo e espaço, um acadêmico de Oxford (Inglaterra) e um cientista da NASA (EUA), haveria uma certeza matemática que estamos imersos em uma simulação intrincada criada por seres (aliens ou mesmo seres humanos) que existem em algum lugar distante no futuro a partir de 30 anos até cinco milhões de anos. Seríamos como um passa-tempo desses futuros seres, a sua versão de um roler-playing como um World of Warcraft.

Uma ideia alucinante com o velho toque da cosmologia gnóstica da antiguidade (o homem como prisioneiro em um cosmos criado por um demiurgo enlouquecido que se diz Deus), mas em suas defesas esses pesquisadores argumentam que a hipótese não é mais rebuscada do que acreditarmos na religião que nos diz que Deus criou as terras e os céu. Ou de que tudo surgiu de uma enorme explosão que começou a esticar o tecido do espaço como um balão, formando trilhões de galáxias e, por pura sorte, surgiu o ser humano, como nos informa a teoria do Big Bang.

domingo, maio 24, 2015

Parapolítica e subversão ocultista no filme "A Montanha Sagrada"

Em 1980 John Lennon concedeu entrevista à “Playboy” onde dizia que caíra fora dos Beatles porque eles teriam sido criados por “craftsmen” (termo ambíguo que pode designar tanto “artistas” ou “artesãos” quanto “iniciados ao ocultismo"). Sete anos antes Lennon ajudou a financiar o filme “A Montanha Sagrada” (1973) do chileno Alejandro Jodorowsky, sobre oito "craftsmen" (poderosos industriais e políticos) que são iniciados por um alquimista na busca da verdadeira fonte do Poder: a imortalidade e o aprimoramento espiritual. Verdadeiros magos negros donos dos mercados de armas, moda, arte, brinquedos, drogas e sexo. Pretendem alcançar a chamada “montanha sagrada” em uma distante ilha. Jodorowsky buscou no filme uma dupla subversão: denunciar a dimensão parapolítica onde magos ocultistas formariam a elite mundial que aplicaria sofisticadas técnicas psíquicas de controle social; e do outro didaticamente mostrar para os espectadores os passos da iniciação ocultista que poderia nos livrar das ilusões que nos prendem ao mundo material e ao julgo dessas elites ocultistas.

Depois de conseguir a atenção do público alternativo e das chamadas “sessões da meia-noite” em cinemas underground de Nova York com o filme El Topo (1970), o diretor chileno Alejandro Jodorowsky conseguiu o suporte financeiro de John Lennon e Yoko Onno para o seu projeto espiritual cinematográfico A Montanha Sagrada – a princípio, um filme que continuaria a temática de El Topo, isto é, sobre purificação, a descoberta da Verdade por trás das aparências do mundo (Maia) e, por fim, a constante busca pelo aprimoramento espiritual.

segunda-feira, maio 18, 2015

Com B.B. King morre a dialética negativa do Blues

B.B. King talvez tenha sido um dos últimos músicos a ver a guitarra elétrica não como um meio para demonstrar velocidade, técnica e virtuosismo (valores caros para a atual indústria do entretenimento que alimenta o mito dos artistas virtuosos e narcisistas que divertem o público), mas como instrumento para expressar os sentimentos antagônicos do Blues: dor/alegria, tristeza/redenção e melancolia/celebração. Sua morte não significou apenas a passagem de alguém que inspirou gerações de músicos de Jimi Hendrix a Steve Ray Vaughan. Morreu um pouco mais um tipo de gênero musical cujas origens anteriores à indústria do entretenimento conferia a sua arte uma, por assim dizer, “dialética negativa”: uma música que produzia alegria e diversão e, ao mesmo tempo, invocava a memória de que o Blues tinha surgido em meio à injustiça e segregação. B.B. King viveu ainda a tempo de ver o Blues se transformar em um standard de entretenimento que concilia a música com um mundo injusto no qual ela própria nasceu. 

Eu vou fazer as malas
E seguir o caminho
Sim
Eu vou fazer as malas
E seguir o caminho
Onde
Não há ninguém preocupado
E não tem ninguém chorando
(“Every Day I Have the Blues”, Elmore James)

Dizem que o nome da guitarra de B.B. King, Lucille, surgiu de um incidente em um show num salão de danças no Arkansas em 1949.

             Para aquecer o ambiente foi aceso um barril cheio de querosene, solução bastante comum naquela época. Durante o show dois homens começaram a brigar, esbarrando no barril que espalhou o conteúdo por todo lado e iniciando um incêndio. Com as chamas em todo salão, todos correram para fora do lugar quando B.B. King percebeu que na fuga deixara sua guitarra, a amada Gibson de 30 dólares. Voltou ao edifício em chamas e a recuperou. No dia seguinte soube que dois homens morreram naquele incêndio e o motivo da briga que iniciou a tragédia: o pivô de tudo teria sido uma mulher chamada Lucille.

sábado, maio 16, 2015

Série "El Ministerio del Tiempo" vai na contramão do tempo-espaço da era global

Desde “O Exterminador do Futuro” (1984) e “De Volta ao Futuro” (1985), as representações do tempo mudaram no cinema e audiovisual: o Tempo tornou-se mutante e aleatório como um hipertexto. Mas curiosamente, a série da TVE (a tevê pública espanhola) “El Ministerio Del Tiempo” (2015) vai na contramão desse imaginário sobre o tempo-espaço que caracteriza a atual era das tecnologias digitais e Globalização: ao contrário, a série de ficção-científica mostra o Tempo como um fenômeno unidirecional e imutável onde um ministério secreto do governo protege misteriosas portas do tempo de possíveis oportunistas que tentem alterar o passado em seu próprio benefício. Se o cinema é um documento do imaginário de cada época, a série espanhola parece apontar para uma reação contra o paradigma tempo-espaço que sustenta a financeirização e a Globalização. Mergulhada em uma crise econômica desde o fim da estabilidade da Zona do Euro, a Espanha nos oferece uma série que quer se apegar ao nacionalismo e à sua História como resposta à crise global.

                O leitor deve conhecer o mais famoso quadro do pintor espanhol Valazquez, Las Meninas de 1656 – composição enigmática que sugere um quadro dentro de um quadro, criando uma relação incerta entre observador e a obra. Quem é a figura no fundo atravessando um corredor que observamos através de uma porta aberta? O neto do pintor, Dom José Nieto Velazquez? Não, provavelmente algum viajante do Tempo de passagem que parou para observar a cena.

É o que sugere a série produzida pela tevê pública espanhola (TVE) Lo Ministerio Del Tiempo em uma rápida sequência onde é apresentado ao protagonista o maior segredo guardado pelo governo espanhol: portas e corredores do tempo existentes em um subterrâneo na cidade de Madrid – segredo de um rabino na Idade Média que, em troca de não ser expulso revelou o segredo para reis católicos. Uma rede de portas de origem misteriosa que se conecta com o passado dos reinos espanhóis.

domingo, maio 10, 2015

Em "White God" o cão é o espelho da crueldade humana


“Lassie” se encontra com “Planeta dos Macacos”. É o filme húngaro “White God”(Fehér Isten, 2014), uma fábula brutal sobre cães de rua que se insurgem contra os humanos cruéis e indiferentes. Hagen, um cão mestiço abandonado à morte por um pai mesquinho que quer separá-lo da sua filha, desce ao inferno da crueldade e desprezo humanos na ruas de Budapeste até organizar uma revolta com centenas de cães de um canil municipal. Uma fábula sobre o racismo e a intolerância? Metáfora política da Hungria atual? “White God” vai mais além: lembra para os ambientalistas e protetores dos direitos dos animais que suas batalhas serão vazias enquanto não entenderem uma sinistra dialética – a crueldade contra os animais e a Natureza é o espelho da própria crueldade humana com o outro, reflexo de uma sociedade marcada pela dominação e controle. 

sábado, maio 09, 2015

"Chappie", a consciência e a seringa hipodérmica

Depois do favelão e lixo nos quais o futuro se transformou em “Distrito 9” e “Elysium”, dessa vez com o filme “Chappie” (2015) Neil Blomkamp visita a pedra filosofal do gênero ficção científica: a Inteligência Artificial. O subtexto político dos filmes anteriores continua (África do Sul, Globalização e apartheid), mas dessa vez parece que Blomkamp cedeu ao “product placement” (inserção subliminar de produtos e marcas) e à agenda que orienta as produções do gênero pelos grandes estúdios: o tecnognosticismo - a ambição pós-humana de nos livrarmos da carne e do orgânico através de uma suposta transcendência espiritual possibilitada pelo escaneamento da consciência e a sua conversão em bytes. Ao contrário do filme “AI” (2001), também uma alusão à fábula de Pinóquio (uma máquina que quer se transformar em ser humano), aqui Chappie tenta emular sentimentos humanos, mas dessa vez através de uma consciência que se assemelha à metáfora da “agulha hipodérmica”. Se em “A.I.” a máquina queria acreditar naquilo que não podia ser visto ou sentido, em Chappie a máquina não tem sonhos – ela quer apenas imitar - filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.

Chappie, do diretor Neil Blomkamp (Distrito 9 e Elysium), é um filme dentro de um subgênero do sci fi que os pesquisadores chamam de “ficção científica do Sul”: filmes em estilo realista monckmentary (feitos em estilo documentário mas em tom paródico) com atores e empresas de países considerados periféricos e com temas ligados às mazelas da globalização sócio econômica – privatização, imigrantes ilegais, favelização, exclusão, máfias internacionais etc.

O tom mais marcante desse subgênero é mostrar como a alta tecnologia (robótica, nanotecnologia etc.) convive de forma conflitiva com favelas, deterioração urbana, lixo, precarização do trabalho e sucateamento do Estado. O que torna os filmes desse subgênero potencialmente críticos em relação ao atual status quo da Globalização.

domingo, maio 03, 2015

Dez evidências de que o politicamente incorreto dos anos 80 e 90 moldou o século XXI


Nos anos 80 e 90 parecia que tudo era permitido: de apresentadoras de programas infantis da TV em trajes sumários a matinês com centenas de meninas rebolando tentando imitar os passos da banda “É o Tchan”. Tudo isso interrompido por intervalos publicitários onde marcas de chocolate eram associadas a meninos vencedores que conquistavam muitas namoradas. Essas décadas “politicamente incorretas” marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y, cujos membros são os líderes de opinião na atualidade. Qual a parcela de contribuição dada por essa cultura supostamente permissiva para a atual visão de mundo dessa geração? Foram décadas que, vistas pelo olhar politicamente correto atual, brindaram-nos com produtos culturais que sugeriam erotização precoce, pedofilia e exploração sexual em plena mídia de massas.  A partir de uma lista de dez evidências de uma época onde “tudo era permitido”, vamos tentar encontrar influências da infância politicamente incorreta na mentalidade atual da Geração Y.

Apresentadoras de programas infantis em trajes sumários apresentando bandas de hits com refrões de gosto duvidoso; nos intervalos publicitários, comerciais mostrando crianças ostentando orgulhosamente produtos e ridicularizando o telespectador-mirim que ainda não os compraram;  anúncios publicitários que comparavam uma boa apólice de seguro com um uísque de qualidade que lhe dá um ótimo dia seguinte; matinês em casas de shows onde meninas levadas pelos pais rebolavam sensualmente ao som da banda É o Tchan; comerciais infantis associando um chocolate com as conquistas amorosas em série em um acampamento cheio de meninas, etc.

Estamos falando das décadas de 80 e 90 que, para o nosso olhar atual globalizado e sensível a questões éticas e morais, foram épocas decididamente politicamente incorretas. São décadas que marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y – conhecida também como “geração do milênio” ou “geração da Internet”, nascidos após 1980 e, segundo outros, em meados dos anos 1970.

sexta-feira, maio 01, 2015

"Tropa de Elite" e "Guerra ao Terror": o São Jorge do BOPE e um Dragão que nunca existiu, por Claudio Siqueira

O que há em comum entre os EUA, com seu exército que massacra o Oriente Médio sob o pretexto de “Guerra ao Terror” e o BOPE ocupando as favelas cariocas? Além de serem endossados pela mídia em reportagens tendenciosas e filmes como “Tropa de Elite” e “Guerra ao Terror”, ao mesmo tempo está presente, nas formas mais sutis, o arquétipo de São Jorge e o Dragão. Desde o “Livro dos Mortos” egípcio, passando pela propaganda do império Romano até chegar na indústria do entretenimento atual dos filmes e HQs (Superman, Ultraman, Batman etc.), todos têm no ícone do “São Jorge, O Santo Guerreiro” a reedição por séculos de um poderoso arquétipo. Todos caçando monstros que só existem em sonhos.

* Claudio Siqueira é Estudante de Jornalismo, escritor, poeta, pesquisador de Etimologia, Astrologia e Religião Comparada. Considera os personagens de quadrinhos, games e cartoons como os panteões atuais; ou ao menos arquétipos repaginados.

Em Guerra ao Terror, filme vencedor de seis prêmios, Kathryn Bigelow fez o caminho inverso ao de James Cameron com seu Avatar, que mostra a vitória do oprimido; da favela, do Oriente Médio, do povo nativo contra o invasor. Não por acaso, ganhou apenas três.

Mas nada se compara ao filme Tropa de Elite. Por mais irônico que pareça, foi um sucesso por parte dos guerrilheiros urbanos citados no início deste ensaio. A continuação, Tropa de Elite 2, foi a maior bilheteria da história do cinema nacional, tendo sido o único a superar a marca de dez milhões de espectadores desde 1976, feito atingido por Dona Flor e Seus Dois Maridos.

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