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sexta-feira, outubro 25, 2024

Os relacionamentos dos vivos se deterioram mais rapidamente do que os zumbis em 'Lá Fora'


O subgênero hollywoodiano sobre o fim do mundo tem uma contradição cuja solução é sempre artificial: o apocalipse é de natureza coletiva, mas o espectador somente consegue se identificar com dramas pessoais. A solução é o clichê de protagonistas que, apesar de tentarem salvar o mundo, sempre arrumam um tempinho para uma discussão de relacionamento: salvar um casamento, reconquistar a ex-esposa ou o amor dos filhos. A produção Netflix filipina “Lá Fora” (Outside, 2024) inova o concorrido tema do apocalipse zumbi ao conseguir fazer uma união orgânica entre os tropos do subgênero zumbi e o quadro das consequências da deterioração de um casamento. Não é o apocalipse que afetou o relacionamento deles. São eles mesmos, confinados em uma fazenda para tentar fugir do apocalipse – revelando como os vivos podem ser tão ou mais assustadores do que o zumbis.

quinta-feira, outubro 17, 2024

'Daaaaaalí!': surrealismo com começo, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem


“Uma história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem”, disse Goddard. E o diretor de cinema mais surrealista da atualidade, o francês Quantin Dupieux, levou ao limite essa frase no filme sobre o gênio surrealista Salvador Dalí. “Daaaaaalí!” (2023) não é um filme biográfico – Dupieux ele adotou na montagem e edição fílmica a mesma abordagem do pintor surrealista para entregar um conto particularmente louco. Os surrealistas viam no cinema a expressão do inconsciente que revolucionaria uma sociedade burguesa e careta. Ironicamente, virou a matéria-prima da revolução publicitária, do pop e entretenimento. E ao ver a realidade superando o surrealismo de suas telas, no final da vida Dalí agarrou-se no personagem que criou para si mesmo.

terça-feira, outubro 08, 2024

'Coringa: Delírio a Dois': a desconstrução musical do Palhaço do Crime e o espírito do tempo


O Coringa é o arquétipo mais forte da cultura pop e que paira sobre o tempo, desde quando surgiu nas HQs em 1940. Ao mesmo tempo, a narrativa sobre o Coringa varia de acordo com o espírito do tempo: do Palhaço do Crime psicodélico dos anos 1960 à versão cerebral e adulta de Heath Ledger. “Coringa” (2019) de Todd Phillips espelhou a Era Trump e a onda de ódio e ressentimento do populismo de direita através da Deep Web, fóruns e chans online. Por sua vez, em “Coringa: Delírio a Dois” (2024) Todd Phillips está agora na era de Biden, Kamala e Novos Democratas. Nessa continuação a persona do Coringa deve ser desconstruído em números musicais comandados por Lady Gaga. Aqui, Arthur Fleck é uma colagem de expectativas alheias: um doente mental? Um impostor? Apenas um iconoclasta? Ou um carismático líder antissistema? Quem está por trás da maquiagem de Coringa? O resultado é o atual espírito do tempo.

terça-feira, outubro 01, 2024

O horror do fardo da autoconciência e da obsolescência em 'A Substância'


Filmes críticos sobre como nos sentimos (em particular, as mulheres) esmagados por padrões de beleza impossíveis e pela hiperfixação da sociedade na juventude não é novidade. Mas “A Substância” (The Substance, 2024) não é uma crítica genérica: a diretora Coralie Fargeat abre fogo contra a cultura atual das promessas prét-à-porter de beleza e juventude – a cultura Ozempique. Com a propaganda que promete a chance de “se sentir como você mesmo novamente”, barato e com resultados rápidos. Uma atriz premiada que se tornou cinquentona vê sua vida perder o controle ao ser discretamente afastada pela indústria do entretenimento sempre em busca de “carne nova”. Espelhos e sociedade da imagem criam o fardo da autoconsciência e da obsolescência. E um conto de horror corporal que lembra os filmes de Cronenberg e o banho de sangue final de “Carrie” de Brian de Palma.

quinta-feira, setembro 19, 2024

'Os Fantasmas Ainda se Divertem': como Tim Burton transforma o Gótico em entretenimento


Assim como as animações da Walt Disney, Tim Burton tem a habilidade de transformar temas sombrios em entretenimento. Se em Walt Disney são os temas do abandono e separação, no caso de Tim Burton seus filmes transformam o Gótico americano de Edgard Allan Poe e Herman Melville em diversão para que o sonho americano dê risadas de si mesmo. Em “Os Fantasmas Ainda se Divertem” (Beetlejuice Beetlejuice, 2024), Burton retorna aos seus efeitos práticos e brinquedos analógicos para levar o Estranho, o Fantástico e o Sobrenatural para a típica família suburbana disfuncional: se no primeiro filme de 36 anos atrás a protagonista era a filha adolescente melancólica e depressiva, agora temos uma nova filha adolescente – também melancólica e depressiva, mas dessa vez pela ausência materna. Supostamente, a mãe prefere mais os fantasmas aos vivos. E Michael Keaton retorna sensacional ao rançoso e rabugento demônio, convidado a voltar ao mundo dos vivos exatamente pela disfuncionalidade do sonho americano.

quinta-feira, setembro 12, 2024

'Armadilha': Shyamalan entre a inverossimilhança e o gap geracional


Será mesmo um estádio lotado com 20 mil pessoas para assistir ao show de um ícone pop o melhor lugar para se prender um homem desconhecido? Para M. Night Shyamalan, sim! Todo roteiro ficcional faz um pacto de suspensão da incredulidade com o espectador. Através da verossimilhança. Mas “Armadilha” (Trap, 2024) força muito a barra – o FBI transforma um estádio em uma grande armadilha para capturar um notório serial killer. Com referências a Hitchcock e Brian De Palma, Shyamalan parece ter transformado o seu último filme em veículo para sua filha, cantora e compositora. Ainda assim, “Armadilha” suscita dois temas do século XXI: a transformação das celebridades em influencers e a ausência simbólica do pais pelo aumento do gap geracional. 

sexta-feira, agosto 16, 2024

Série 'Sunny': incomunicabilidade e solidão na sociedade das tecnologias da informação



Como explicar o paradoxo de vivermos na sociedade das tecnologias da comunicação e informação na qual solidão, solipsismo e incomunicabilidade são problemas endêmicos? E para acrescentar mais uma variável nessa equação, temos agora a Inteligência Artificial, capaz de mascarar a experiência do luto e da finitude nas nossas vidas. De forma inusitada e divertida, a série Apple TV+ “Sunny” (2024 - ) aborda essas questões, no melhor lugar: o Japão, um país combinação entre tradições feudais com o dinamismo cultural e econômico do Capitalismo Tardio. Num futuro próximo no Japão, uma mulher tenta resolver o enigma do desaparecimento do marido e filho num acidente aéreo. Com a ajuda de um pequeno robô, cuja IA foi codificada pelo próprio marido para diluir o luto da futura perda. Uma descida para o submundo dominado por uma máfia Yakuza hightech.

sexta-feira, agosto 09, 2024

Sincromisticismo, religião e pornografia no filme 'MaXXXine'


Para os pesquisadores em Sincromisticismo, Hollywood é uma gigantesca corporação que recruta médiuns para, sob as bênçãos do Método da Actor’s Studio, incorporarem formas-pensamento retirada do inconsciente coletivo da humanidade. Para, a partir dessa tese, surgirem caricaturas de teorias conspiratórias que denunciam um suposto satanismo para destruir o Ocidente, é um passo. Esse é o pano de fundo do fechamento da trilogia de Tie West, “MaXXXine” (2024), uma homenagem ao terror slash dos anos 1970, agora ambientado em meados dos anos 1980. Agora, Maxine tenta sair dos filmes pornôs e virar estrela no mainstrem hollywoodiano – como sempre, deixando um rastro de sangue. “MaXXXine” revela como pornografia e religião estão estranhamente muito próximas. Afinal, foram os primeiros gêneros bem-sucedidos na história do cinema.

sexta-feira, junho 28, 2024

Uma guerrilha epistemológica entre a mesa e o fogão no filme 'Histórias de Cozinha'


Cozinha é um lugar alquímico: ingredientes são mixados para transmutar em algo totalmente outro. Um espaço confessional onde conversas e conexões acontecem. Como, então, transformar esse espaço num objeto de observação científica: um observador “neutro” do alto de um cadeirão observando movimentos e ergonomia doméstica para tabular os dados em rígidos modelos matemáticos numa pesquisa industrial da década de 1950. Esse é o filme escandinavo “Histórias de Cozinha” (Salmer fra kjøkkenet, 2003). Uma espécie de rali científico levado com um humor sutil, no qual o observador estoicamente tenta manter a neutralidade para não comprometer os dados que coleta, enquanto o observado conspira num tipo de guerrilha epistemológica para sabotar o experimento.

quinta-feira, junho 20, 2024

O Medo e a ansiedade coletiva europeia no filme 'Sob as Águas do Sena'


A premissa da produção Netflix francesa “Sob as Águas do Sena” (Sous la Seine, 2024) é seriamente abusurda. Mas esse é praticamente um pré-requisito dos filmes de tubarões nos dias de hoje - em um mundo pós-Jaws (premiado clássico de Spielberg), não há chance de fazer o maior filme de tubarões de todos os tempos. Então, em vez disso, os cineastas apostam em argumentos involuntariamente engraçados: fugindo das mudanças climáticas e do plástico jogado nos oceanos, um enorme tubarão evolui, adapta-se à agua doce, e aparece no rio Sena, em plena Paris, às vésperas de uma competição de triatlo com cobertura mundial. Filme-catástrofe é um subgênero hollywoodiano por excelência. Mas quando vemos uma produção francesa abraçando todo os tropos do subgênero, torna-se significativo: é o reflexo de um zeitgeist que assola a Europa: medo e ansiedade coletiva de um continente na sombra da ameaça da conflagração de uma Guerra Fria que poderá se tornar muito quente num futuro próximo.

quinta-feira, junho 13, 2024

Amor, família e catástrofe do tempo na Era Reagan em 'Peggy Sue - Seu Passado a Espera'


Depois de vários anos de experimentos estilísticos com novos processos cinematográficos e resultados desiguais, em 1986 Francis Ford Coppola decidiu fazer apenas um filme: “Peggy Sue – O Seu Passado a Espera” (Peggy Sue Got Married). Seguindo a receita narrativa de Spielberg e Zemeckis (histórias contadas para “crianças de qualquer idade”), Coppola embarca num enredo semelhante a “De Volta para o Futuro”, mas em um tom de conto de fadas adulto: uma mulher participa do baile comemorativo dos 25 anos da turma de formatura do ensino médio e desmaia. Quando acorda, descobre que voltou a 1960 e habita seu próprio corpo adolescente, mas com a consciência adulta. É a oportunidade da segunda chance para dirimir os arrependimentos do presente. Como produto da neoconservadora Era Reagan, “Peggy Sue” quer mostrar que o amor e a família estão além da catástrofe do tempo.

sexta-feira, junho 07, 2024

Realismo capitalista e capitalismo distópico de Musk na série 'Fallout'


Seja no cinema como no audiovisual, o fim do mundo está ficando cada vez mais estranho. O fascínio de sabermos o que aconteceria após o apocalipse permanece. Porém, não temos mais o tom épico do apocalipse do século XX. Hoje impõem-se uma leitura mais introspectiva: como o que que restou da humanidade se comportaria sob pressão. O resultado é passagem do tom épico para o propagandístico: o fim do mundo sob olhar capitalista distópico do tipo Elon Musk e o realismo capitalista. É o exemplo da série Amazon Prime adaptada do videogame “Fallout” (2024-). Esteticamente é um mush-up dos arquétipos pop do século XX, de David Lynch ao western spaghetti de Sergio Leoni. Mas, dois séculos no futuro, mesmo depois do fim, o que restou mantém a viciosidade capitalista: guerras por fontes de energias não renováveis. Paz e fontes de energia livre não estão nos planos. Porque não geram lucros.

sexta-feira, maio 03, 2024

Em 'Track 29' a Europa é a consciência de culpa da América



Nos anos 1980 um curioso subgênero prosperou em Hollywood: o “desconstruindo o Yuppie”: um protagonista certinho, careta e financeiramente bem-sucedido que tem a sua rotina quebrada por uma figura disruptiva ou sequência de eventos descontrolados que o desorienta e o desconstrói. “Track 29” (1988), do britânico Nicolas Roeg e produzido pelo ex-Beatle George Harrison, trouxe novidades: um olhar europeu para a América profunda a partir do olhar de um estrangeiro que chega a uma pequena cidade para literalmente fazer tudo sair dos trilhos: uma dona de casa entediada e frustrada é casada com um médico bem-sucedido e respeitável que só tem olhares para sua amante dominatrix e o ferromodelismo como uma metáfora nostálgica de uma América que deve “voltar aos trilhos”. “Track 29” é a Europa como consciência de culpa da América.

sexta-feira, abril 26, 2024

'Tarde da Noite Com o Diabo': a TV oculta e misteriosa dos anos 1970-80


"Tarde da Noite com o Diabo” (Late Night With The Devil, 2023) é outra produção ao lado de “Poltergeist”, “Videodrome” ou “Ring: O Chamado”: o imaginário da TV dos anos 1970-80 que criou uma aura misteriosa e oculta em torno dela. Uma época que a TV terminava a programação e saia do ar, deixando ruídos na tela. Para onde vai o mundo quando a TV sai do ar? Nos EUA fez crescer o “cinema da meia noite”, para insones em busca de filmes bizarros e experimentais. As TV abertas responderam com os talk shows da meia-noite. “Tarde da Noite com o Diabo” é um mockumentary em torno de um programa chamado “Night Owls With Jack Delroy" estamos prestes a assistir às imagens historicamente infames de uma noite que “chocou toda uma nação”. Um programa especial de Halloween de 1977 com uma perigosa combinação: médiuns, parapsicólogos e... uma garota possuída pelo demônio. O filme é uma deliciosa combinação de simbolismos que vão do parapolítico ao gnóstico: um acordo faustiano entre o programa, a simbologia da Coruja e a infame irmandade secreta californiana conhecida como “Bohemian Grove” e o simbolismo do “Abraxas” na cosmogonia gnóstica. 

segunda-feira, março 11, 2024

40 anos de 'Chaves': Commedia Dell'Arte, astrologia e pecados capitais, por Claudio Siqueira


Como dito pelo humilde blogueiro deste Cinegnose, estão fazendo 40 anos da estreia da série mexicana “Chaves” no Brasil, e nada mais justo do que homenagearmos alguns dos comediantes mais queridos da criançada latino-americana. Por incrível que pareça, nem mesmo essa comédia infantil deixa de ter suas eminências pardas ocultas. O Cinegnose vem falar mais um pouquinho sobre El Chavo del 8, a influência da Commedia Dell’Arte na confecção de seus personagens e como cada personagem representa um astro, sendo 7 cada um dos Pecados Capitais.

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

A sátira racial ao estereótipo afro-americano no filme 'Ficção Americana'


O filme “Ficção Americana” (American Fiction, 2023), com cinco indicações ao Oscar, é uma incisiva sátira racial sobre os estereótipos afro-americanos criados pela indústria literária e de entretenimento norte-americano para, como diz o protagonista a certa altura no filme, “absolver o sentimento de culpa dos brancos”. Um professor universitário e romancista negro está com dificuldades para encontrar uma editora que publique seu novo livro. “Escreva algo mais negro”, é o que sempre ouve de publishers brancos e liberais. Misturando raiva, frustração e copos de bourbon, ele escreve uma paródia exagerando todos os estereótipos negros dos guetos. Para sua surpresa, vira o acontecimento literário do ano. Ninguém entendeu a piada. “Ficção Americana” é uma reflexão sobre a impossibilidade encontrar uma exterioridade para fazer uma crítica. A não ser que o diretor quebre a quarta parede do cinema.

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

Cabala, Esoterismo e Tarô em 'Mestres do Universo: Salvando Eternia', por Claudio Siqueira


Mestres do Universo: Salvando Eternia, a continuação do antigo desenho que animou a infância dos anos 1980, deu o que falar na primeira temporada e angariou reclamações. Ante a iminente segunda temporada, o Cinegnose vem mostrar a principal eminência parda por trás da animação, independentemente da original ou atual: Os chamados Caminho da Mão Direita e Caminho da Mão Esquerda – Cabalá Hermética, esoterismo e Tarô, muito além do que as lições de moral dadas ao final por personagens loiros apolíneos.

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

Filme 'Red Rooms', Marques de Sade e Dark Web: "o Mal deve ser praticado sem paixão"


Se nos anos 1970 tínhamos a lenda urbana dos “snuff movies” (vídeos comercializados com sexo abusivo, violento, sadomasoquista e sempre terminando na morte da vítima), na Dark Web temos o roax das “Red Rooms” - transmissões ao vivo de estupro, torturas e assassinatos de vítimas sequestradas para um público disposto a pagar pelo entretenimento voyeurista. O filme canadense “Red Rooms” (Les Chambres Rouges, 2023), de Pascal Plante, começa com o julgamento de um pedófilo que sequestrou menores para seus shows nas Red Rooms. Mas o foco não é o julgamento, mas duas mulheres obcecadas pelo caso. Uma, uma groupie apaixonada pelo réu que virou uma celebridade. E outra fria e enigmática. Figura incômoda  para o espectador, porque nunca sabemos qual o seu real interesse no caso. Uma personagem está no passado (a cultura das celebridades no século XX) e outra no futuro: o interesse insalubre e amoral pelo mal na Internet. Revivendo em pleno século XXI a máxima do velho Marques de Sade: “Para o libertino o Mal deve ser praticado sem paixão”.

sábado, janeiro 06, 2024

Culpa e fúria nos 40 anos da série 'Chaves' no Brasil



Está fazendo 40 anos da estreia da série mexicana “Chaves” (El Chavo Del Ocho) aqui no Brasil Criado por Roberto Gómez Bolaños, falecido em 2014, era apelidado de Chespirito - “Pequeno Shakespeare”. Mas ele sempre esteve muito mais próximo de Stephen King e do escritor francês Camus. Se King dizia que o inferno era a repetição e Camus via no homem moderno atualização do mito de Sísifo, Bolaños vai mixar esses insights em uma pequena vila de pobres e remediados em algum lugar no Distrito Federal do México. Uma galeria de personagens que parecem condenados a repetir seus pecados na eternidade, assim como Sísifo rolava uma pedra montanha acima numa tragédia sem fim. Mas se fosse apenas isso, “Chaves” não seria tão cultuado por tantas gerações. Há algo mais: se por um lado a série revela um sentido auto moralizante onde cada personagem repete "ad aeternum" seus pecados mortais, do outro ninguém demonstra o menor respeito pela Ordem, seja a de Deus ou a do Diabo. A receita de um cult: a ambígua da mistura da culpa com a fúria.

sábado, dezembro 16, 2023

'Esqueceram de Mim': quando as festas de final no ano viraram o alívio cômico da família


Com a proximidade das festas de final de ano, a grande mídia é tomada matérias jornalísticas, filmes e séries repletas de contos motivacionais e morais com histórias de reformas íntimas e promessas de Ano Novo em se tornar uma pessoa melhor, mais empática e otimista. Nessa onda de final de ano certamente se destacam as indefectíveis reprises do clássico “Esqueceram de Mim” (Home Alone, 1990), mostrando que o filme resiste ao tempo e a cada exibição parece se tornar melhor. O que fez “Esqueceram de Mim” virar um clássico de Natal? Desde o seu lançamento, o filme mostrou que era muito mais do que um filme infantil de Natal – além de revisitar os arquétipos do abandono e separação ainda vivos na infância, a narrativa da negligência dos pais de Kevin reflete o drama da quebra do elo geracional das famílias modernas. O clássico oferece o alívio cômico em humor negro para o mal-estar das famílias no final de ano: rir de si mesma.

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