quinta-feira, janeiro 31, 2013
NOSSO BLOG VAI FICAR EM MANUTENÇÃO!
quinta-feira, janeiro 31, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A partir das 7h desse sábado (02/02) o blog "Cinema Secreto: Cinegnose" ficará em manutenção. Esse humilde blogueiro tentará domar os esotéricos códigos Html, CSS etc., para colocar o blog em uma nova plataforma, mais atraente e interativa. A expectativa é que até às 12h do sábado o blog já esteja de cara nova e funcionando direitinho. A necessidade de uma nova plataforma decorre do novo projeto editorial que criará sessões fixas (ou "retrancas" como falam os jornalistas) para o conteúdo do blog abordar tanto os tradicionais artigos de natureza opinativa, análise científica e de pesquisa quanto textos com notícias, dicas e "drops" informativos.
terça-feira, janeiro 29, 2013
Em Observação: "Last Night" (1998)
terça-feira, janeiro 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nosso leitor Joari Carvalho nos oferece mais uma indicação para a sessão “Em Observação”: o filme “Last Night” (1998). Só pelo fato de ser um filme canadense que trata de um tema tão “blockbuster” e hollywoodiano já desperta o interesse pelo potencial de oferecer ao espectador uma visão alternativa para o tema: o fator humano. Não há pirotécnicas, efeitos especiais, Armagedon ou ônibus espaciais enfrentando asteroides. Apenas pessoas comuns sem passado e futuro tentando realizar os últimos desejos a seis foras do fim do planeta. “Last Night” entra na mira do “Cinema Secreto: Cinegnose” por tratar desse tema tão recorrente na cinematografia que podemos considerá-lo um sintoma coletivo de algum mal estar psíquico: por que essa presunção da catástrofe em relação ao futuro? Por que o futuro é encarado como uma contagem regressiva? Por que o futuro é sempre pensado como subtração e não como adição, acumulação ou construção? O que torna ainda o filme mais interessante é que à época do seu lançamento uma série de sinistras profecias cercava o final de milênio, entre ela o chamado “bug do milênio”, uma espécie de bomba relógio informática que prometia levar o mundo ao caos na virada para o século XXI.
segunda-feira, janeiro 28, 2013
Cinema e agenda tecnocientífica em "Mulher na Lua"
segunda-feira, janeiro 28, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mulher na Lua” (Frau
im Mond, 1929), último filme mudo de Fritz Lang (“Metrópolis, 1927), foi o primeiro
esforço no cinema em abordar o tema da viagem espacial de forma séria e
cientificamente crível. E também o primeiro exemplo de convergência entre a
agenda tecnocientífica e o cinema: Hermann Oberth, presidente da Sociedade
Alemã para a Viagem Espacial, não só deu consultoria científica como construiu
um protótipo de foguete para as filmagens. Acreditava que Lang daria
publicidade e dinheiro à causa da viagem espacial, uma verdadeira mania popular
na década de 1920 na Alemanha. Mas, secretamente, as estórias sobre “perigosas
vacas lunares” e “naves misteriosas entre os anéis de Saturno” das HQs e pulp
fictions da época prepararam o imaginário das vanguardas artísticas para a
irracionalidade e destruição dos mísseis V2 de Hitler.
sábado, janeiro 26, 2013
"A Noite dos Desesperados" em um mundo sem coração
sábado, janeiro 26, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em épocas de reality
shows como “Big Brother Brasil” é oportuno assistir ao filme “A Noite dos
Desesperados” (They Shoot Horses, Don’t they?, 1969) baseado em um livro que
tornou-se um dos prediletos dos filósofos e escritores existencialistas franceses
por aprofundar as motivações humanas diante da dor e sofrimento. A cena
descrita pelo filme (o início da indústria de entretenimento na época da Grande
Depressão americana dos anos ’30) possibilita uma rica comparação com o gênero
reality show atual: se no passado o espetáculo sado-masoquista ainda tinha o
componente trágico da ritualização de um destino comum a todos (dor e
sofrimento em um mundo sem coração), agora é mais perverso: os espetáculos de “sacrifício
de cavalos” são promovidos como lições morais em um mundo aparentemente livre e
democrático que ofereceria chance a todos tornarem-se celebridades.
Por três refeições por dia, a
promessa de um prêmio de 1.500,00 dólares e algumas moedas jogadas pela
plateia, dezenas de casais desesperados em plena Grande Depressão dos anos 1930
nos EUA decidem participar de um concurso de danças em um velho salão em Chicago.
Na verdade será uma desumana maratona de seis dias até que o último casal
sobreviva após passar por dores físicas, desconforto, humilhações e
indignidades, monitorados por médicos e enfermeiras cujo papel básico é o de manter
os participantes de pé à todo custo para manter a adrenalina do show.
Seu mestre de cerimônias e
empresário chamado Rocky (Gig Young, premiado com um Oscar de ator coadjuvante),
filho de um charlatão que fazia shows de simulação de curas em parques de
diversão, usará as lições aprendidas para manipular emocionalmente os
participantes: “isso não é um concurso, é show. As pessoas não estão nem aí
para o vencedor. Querem ver um pouco de sofrimento para que se sintam melhor!”,
dispara cinicamente Rocky a certa altura do filme.
A narrativa é repleta de
pequenos dramas pessoais amplificados pela depressão econômica e desemprego:
uma mulher grávida e seu marido que veem no grande prêmio a esperança de dar
uma vida digna ao futuro filho; uma fútil atriz que vive a esperança de que na plateia
esteja um caçador de talentos de Hollywood; um orgulhoso marinheiro veterano da
I Guerra Mundial que tenta provar que ainda é capaz; uma mulher sobrevivente
das ruas chamada Gloria Beatty (Jane Fonda) vê seu parceiro desistir por
motivos de saúde na última hora.
quarta-feira, janeiro 23, 2013
A esperança pós-apocalíptica no filme "A Estrada"
quarta-feira, janeiro 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Estrada (The Road, 2009) é um
filme do gênero pós-apocalipse que você nunca viu, baseado no livro de Cornac
Mcarthy e premiado em 2007 com o prêmio Pulitzer. Ao contrário de filmes com a
mesma temática como “O Livro de
Eli” (The Book of Eli, 2010), a esperança dos protagonistas não está em livros
sagrados ou em Deus. A fé perdida deve ser buscada no "fogo do
coração": em um mundo arrasado por um evento apocalíptico só resta a busca
em si mesmo e na lembrança daquilo que foi perdido que não está nesse mundo,
mas em algum lugar idílico no "Sul" para onde os protagonistas
tentarão chegar percorrendo uma estrada de provações.
O mundo como
conhecemos foi destruído por algum evento apocalíptico indeterminado. O
resultado é a morte progressiva do planeta: com exceção dos seres humanos,
animais e o reino vegetal estão morrendo em meio a terremotos e a uma
insistente chuva que cai num mundo cada vez mais cinzento e gelado. Sem
alimentos, grupos se organizam em gangs em busca de combustível e de outros
seres humanos para serem canibalizados. Aqueles que não recorreram ao suicídio
lutam para não serem capturados por essas gangs e sobreviver sem comer seus
semelhantes.
Um homem (Viggo
Mortensen) tem apenas seu filho (Kodi Smit-McPhee) para a companhia nesta terra
árida. A mãe (Charlize Theron) se matou, e a única esperança de sobreviver ao
inverno eterno é atravessar o país em direção do litoral e rumar para o sul. Ao
longo de seu caminho deverão enfrentar a constante ameaça das gangues canibais
e os perigos de um planeta que está morrendo.
Esse plot parece ser
familiar: mais um filme pós-apocalíptico na linha de “Mad Max” ou do recente “O
Livro de Eli” (aliás, como os norte-americanos gostam de destruir o próprio país
nos filmes!). Porém, sua narrativa glacial e precisa, com uma constante
atmosfera de horror pelos recorrentes sinais de canibalismo generalizado torna “A Estrada” um filme pós-apocalíptico
como jamais vimos.
terça-feira, janeiro 22, 2013
Em Observação: "A Noite dos Desesperados" (1969) e "Perdido Entre Dois Mundos" (2007)
terça-feira, janeiro 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No momento em que estamos em mais uma edição do reality show "Big Brother Brasil" na TV Globo é sempre oportuno rever o filme "A Noite dos Desesperados" como um contraponto crítico que mostra o início em que a indústria do entretenimento explorará "in natura" os dramas pessoais de desespero e dor. Mas será que a visão crítica do filme ainda se aplica ao atual mercado de celebridades em que virou os "reality Show"?O blog "Cinema Secreto: Cinegnose" vai conferir. E também na sessão "Em Observação" a comédia francesa "Perdido em Dois Mundos". Leve e despretensiosa, mas que parece que pode render mais com temas potenciais como universos paralelos e mundos espelhados e/ou invertidos, tema recorrente na cinematografia atual.
domingo, janeiro 20, 2013
A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"
domingo, janeiro 20, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção
Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos
mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar
a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em
um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um
universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou
horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento
mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um
amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através
da exploração da energia e dos meios de comunicação.
Os
mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana. Das tradições das religiões abraâmicas (que se
referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para
um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe
de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam
explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum
momento posterior a Criação.
A
esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de
diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o
gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens”
presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo,
influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz espontaneidade e pureza que será perdida na
entrada da fase adulta.
Pois
o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino
Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também
vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às
leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes
premissas:
quarta-feira, janeiro 16, 2013
Marxista anteviu a "matrix" na crise da física
quarta-feira, janeiro 16, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Morto aos 30 anos na Guerra Civil Espanhola em 1937, o pensador e poeta
marxista Christopher Caudwell produziu uma instigante análise sobre a crise na
física na década de 1930 (a rejeição de Einstein e de outros físicos ao
Princípio da Incerteza de Heisenberg) sob o ponto de vista do materialismo
dialético. Caudwell em sua obra “A Crise na Física” anteviu o que denominou
como “tela de fenômenos” criada pela “metafísica da física”, uma filosofia
inconsciente que aprisionaria a Física em uma verdadeira “Matrix” de categorias
mentais que aprisionariam a realidade dentro do restrito modelo do determinismo
e do mecanicismo cujas origens estão nos fundamentos do modo de produção
capitalista.
A
carreira de teórico da cultura do marxista inglês Christopher Caudwell foi
realmente muito breve. Dois anos depois de iniciar uma série sistemática de
análises marxistas sobre diversas áreas morreu lutando na Guerra Civil
Espanhola no primeiro dia da batalha de Jarama em 1937 quando tinha tão somente
30 anos. Mas foi o suficiente para produzir um respeitável livro sobre física
do ponto de vista do materialismo dialético marxista chamado “A Crise na
Física” e quatro outros trabalhos sobre crítica cultural – “Ilusion and
Reality”, “Romance and Realism” e ensaios no campo na História, Psicologia e
Religião agrupados em um único livro intitulado “Estudos Sobre Uma Cultura
Agonizante”. No Brasil esses trabalhos foram reunidos em uma coletânea em 1968
sob o título “O Conceito de Liberdade” publicada pela editora Zahar.
Certamente
o trabalho mais instigante foi “A Crise na Física” pelo seu poder de síntese e
uma ousada aplicação do método dialético marxista em um campo aparentemente
distante da economia política: a Física. Caudwell de dispôs a analisar os
fundamentos de uma crise que saia do campo restrito dos físicos e chegava à
opinião pública – as descobertas dos jovens físicos como Heisenberg,
Schrödinger e Eddington combatidas por Einstein e Planck, isto é, a descoberta
de que os princípios de determinismo e a causalidade estavam sendo expulsos da
física e que a “velha guarda” ainda procuravam manter a “metafísica da física”
representada pelos princípios newtonianos.
domingo, janeiro 13, 2013
"Aventuras de Pi" mostra visão alternativa do Sagrado
domingo, janeiro 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “As Aventuras de Pi” (Life of Pi, 2012) surpreende ao nos oferecer uma visão alternativa sobre a experiência do Sagrado, bem diferente de filmes como “Cloud Atlas” e todos os clichês new age sobre sinfonias e harmonias cósmicas: uma experiência baseada no simultâneo fascínio e terror ao descobrir que o universo nada mais é do que o resultado de sucessivas camadas interpretativas, relatos de diversas religiões que o protagonista busca por toda vida. Lá fora estão apenas os espelhos e o vazio – no filme representados pelo mar, o céu e um tigre, companheiros de jornada de Pi - que refletem de volta os signos que criamos na esperança de dar um sentido ou propósito a um cosmos hostil e violento.
sábado, janeiro 12, 2013
Em Observação: "Mulher na Lua" (Frau im Mond, 1929)
sábado, janeiro 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como já discutimos em várias oportunidades aqui no blog, há muitas convergências entre as agendas tecnológicas (militares e de controle social) de governos e corporações e a indústria cinematográfica. O filme mudo "Mulher na Lua" de 1929 do diretor Fritz Lang ("Metrópolis" e "Doutor Mabuse") no início da ascensão do nazismo é um desses exemplos. O filme surge na onda de uma verdadeira mania por foguetes e naves espaciais na Alemanha que, mais tarde, resultaria nos foguetes V1 e V2 com bombas que explodiriam na Inglaterra. Outro exemplo foi "2001", Uma Odisséia no Espaço de Kubrick em 1968 com consultoria da NASA. Um ano depois a agência espacial americana chegaria na Lua. O filme promete uma fascinante viagem ao nascimento de dois gêneros que marcariam a história do cinema: o filme noir e a ficção-científica.
sexta-feira, janeiro 11, 2013
A dialética da libertação no filme "O Golpista do Ano"
sexta-feira, janeiro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Todas as interpretações dos críticos sobre “O Golpista do Ano” (I Love
You Phillip Morris, 2009) parecem se esquecer de uma frase dita pelo
protagonista que é o grande mote do filme: “ser gay é realmente muito caro!”. A
ironia social contida nessa frase refletiria uma espécie de “dialética da
libertação” recorrente em cada movimento de contestação:
dominação-rebelião-dominação. Assim como na História cada contestação a um
sistema de dominação traria dentro de si a contra-revolução, da mesma forma o
movimento progressista LGBT ironicamente se transformou no modelo ideal de
consumidores em uma sociedade de consumo globalizada: consumidores perfeitos
porque liquidaram simbolicamente a ordem patriarcal estática e anacrônica para
os propósitos de um novo capitalismo caracterizado pela fluidez generalizada de
valores, corpos e informação.
“A indignação contra a
manipulação é o último scoop patrocinado pela ideologia” (Massimo Canevacci, Antropologia do Cinema)
Steven
Russell (Jim Carrey) sempre foi homossexual. Mas todas as características
desejadas de uma vida familiar bem sucedida ajudaram a encobrir isso:
ex-oficial da polícia, honesto, pai de família exemplar, bem-casado e
religioso. Mas um violento acidente de carro sacode sua vida o suficiente para decidir
não mais sustentar a farsa e joga tudo para o alto para fugir no mundo e
assumir seu verdadeiro Eu, que é ser um homem gay.
Muda-se
para Miami onde conhece seu namorado chamado Jimmy (Rodrigo Santoro) e passa a
viver um luxuoso “gay life style” desfilando com coloridas roupas de grife e
conduzindo dois mini pinchers através de alamedas repletas de bares,
restaurantes e lojas. E qual o único problema dessa nova vida? “Ser gay é
realmente muito caro!”, conclui Steven.
quarta-feira, janeiro 09, 2013
Gnose e viagem no tempo em "Safety Not Guaranteed"
quarta-feira, janeiro 09, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao contrário dos filmes tradicionais sobre
viagem no tempo onde a atração principal são sempre os aparatos tecnológicos, no
filme independente “Safety Not Guaranteed” (2012) a máquina do tempo é apenas o
pretexto para a narrativa apresentar insights
reveladores do estranhamento de pessoas em relação ao mundo moderno e nas
maneiras de escapar e expressar seu descontentamento. E também diferente dos clichês
da “segunda chance” nas viagens ao passado, nesse filme a suposta existência de
uma máquina do tempo é a oportunidade de uma espécie de “transcendência
espiritual mundana” baseado na ruptura da prisão existencial de “perdedores” em
uma sociedade vazia de sentido.
Viagem
no tempo é um tema recorrente no cinema. Na concepção clássica encontramos até
os anos 1970 o viajante como uma mera testemunha de eventos do passado e do
futuro que não podem ser alterados. Os protagonistas lutam contra a seta do
tempo e podem até morrer, mas fatos providenciais sempre impedem que a História
seja alterada. A série de TV “O Túnel do Tempo”(1966-67) ou o filme “Um Século
em 43 minutos” (1979) são bons exemplos.
A
partir da trilogia “De Volta para o Futuro” nos anos 1980 temos uma viagem no
tempo paradoxal: podemos voltar ao passado e criarmos futuros alternativos,
novos presentes e até confrontarmos com o “paradoxo dos gêmeos”. O cinema passa
a explorar o tema da “segunda chance”: a viagem no tempo torna-se uma esperança
para alterarmos as causas dos maléficos efeitos que enfrentamos. Dor, culpa,
arrependimento poderiam ser consertados, às vezes com nefastas consequências
como no filme “Efeito Borboleta” (Butterfly Effect, 2004).
Já
o filme independente “Safety Not Guaranteed” (um típico produto do Instituto
Sundance), primeiro longa de Colin Trevorrow, parece criar um contraponto nessa
trajetória do Tempo no cinema: o filme não é sobre viagem no tempo, mas é de
viagem no tempo no sentido mais amplo do termo. A possível existência de uma
máquina do tempo serve apenas de pretexto para os protagonistas revelarem em
relação ao passado nostalgia, experiência de perdas, culpa e remorso. Ao longo
da narrativa vemos ambíguos indícios ou pistas sobre a construção de uma
máquina do tempo, o que parece ser apenas mais uma estória que revela a problemática
relação dos protagonistas com o passado.
segunda-feira, janeiro 07, 2013
Em Observação: "Upside Down" (2012)
segunda-feira, janeiro 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho através do Facebook, "Upside Down" (2012) com Kirsten Dunst e Jim Sturguess facilmente foi classificado como "Em Observação": um homem procura em um universo alternativo um antigo amor da juventude. O filme parece promissor na nossa busca em mapear elementos gnósticos, místicos e esotéricos na cinematografia atual: universos distópicos, mundos alternativos, amnésia, corporações/demiurgos repressores etc. Parece seguir a linha de "Another Earth" (2011), uma tendência atual onde temas sci fi são mero pano de fundo para o romance, drama ou temas de autoconhecimento como a questão da "segunda chance", questionamentos sobre a noção de "realidade" e o despertar de si mesmo do sono da ignorância. Então, prezados leitores e seguidores desse humilde blog, façam como Joari Carvalho e enviem sugestões de filmes que mereçam ficar "Em Observação" para futuros artigos.
domingo, janeiro 06, 2013
Em Observação: "Safety Not Guaranteed" (2012) e "As Aventuras de Pi" (2012)
domingo, janeiro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Em observação” é a
nova rubrica para classificar filmes que podem ser de interesse para o “Cinema
Secreto: Cinegnose”. Filmes “suspeitos” de explorarem elementos gnósticos,
místicos ou esotéricos. Temas ou narrativas que se enquadrem nos enfoques
semióticos, sincromísticos, psicanalíticos ou cinegnósticos das análises desse
blog. Serão assistidos e avaliados. Se aprovados se tornarão tema dos nossos
artigos.
Para nossos leitores e
seguidores será uma sessão para se atualizar sobre lançamentos e filmes clássicos
ou simplesmente esquecidos na história do cinema e que merecem uma análise mais
atenta.
sábado, janeiro 05, 2013
Tudo é humano, demasiado humano em "Cloud Atlas"
sábado, janeiro 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como um produto
hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar
simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo
tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma
mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a
existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como
lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto
mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram
a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo
seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.
“O que tentamos foi fazer uma história
sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo
que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do
sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo
similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana
Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a
trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).
O filme “Cloud Atlas” (com o
infeliz título em português “A Viagem”, que vamos ignorar nessa postagem) dirigido
pelo trio Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) e Lana e Andy Wachowski (trilogia
“Matrix”) é um exemplo magistral de como a indústria de entretenimento
equilibra-se em uma corda bamba entre o impulso metafísico em lidar com antigas
simbologias dos antigos mistérios sejam pagãos ou gnósticos (que no final
procuram capturar o desejo por liberdade e transcendência dos espectadores) e a
necessidade de fazer um produto que se adapte às convenções ideológicas do
gênero blockbuster.
Nas quase três horas de duração,
entramos em pânico na primeira meia hora ao não entendermos nada sobre o
propósito de cada uma das seis estórias narradas de forma entrelaçada e aparentemente
aleatória. Aos poucos vamos ligando os pontos e passamos a saborear a brilhante
montagem das sequências. Como o próprio David Mitchell (autor do livro no qual
se baseou o filme) afirmou, a chave é o tema da reencarnação. Um empreendimento
difícil e arriscado ao entrelaçar eventos ao longo de cinco séculos, em
diferentes gêneros (sci fi, drama,
espionagem, policial etc.) com os mesmos atores vivendo papéis, personagens,
sexo e raças diferentes, sugerindo as diversas existências numa espécie de
jornada cósmica de almas imortais.
terça-feira, janeiro 01, 2013
A Gnose de Ano Novo no Filme "A Roda da Fortuna"
terça-feira, janeiro 01, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vale a pena assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será passado. Por isso, “A Roda da Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.
Incerteza, sincronicidades, carma, a responsabilidade ética e moral das ações. Todos esses temas que marcam a filmografia dos irmãos Coen estão presentes nesse filme (o próximo seria o premiado “Fargo” de 1996). Mas em a “Roda da Fortuna”os Coen aprofundam no arquétipo que estrutura todos esses temas: o Tempo.
O Tempo é o principal tema do filme. Tudo começa quando vemos o presidente das Indústrias Hudsucker (Norville Barnes), nos últimos minutos de 1958, abrindo a janela do seu escritório no 44o andar para cometer suicídio. Com grande inventividade narrativa, o tempo para e temos um flashback da sua carreira: como ele subiu tanto para cair tão rápido?
Incerteza, sincronicidades, carma, a responsabilidade ética e moral das ações. Todos esses temas que marcam a filmografia dos irmãos Coen estão presentes nesse filme (o próximo seria o premiado “Fargo” de 1996). Mas em a “Roda da Fortuna”os Coen aprofundam no arquétipo que estrutura todos esses temas: o Tempo.
Norville Barnes é um idealista recém-formado estudante de administração que chega à Nova York vindo do interior. Com uma invenção na cabeça que, acredita, fará sua fortuna (um círculo desenhado num papel – “para crianças, claro”, diz) quer começar de baixo para honestamente subir na carreira.
Paralelo a isso, após o bem sucedido presidente das Indústrias Hudsucker (Waring Hudsucker) estranhamente cometer suicídio, o conselho de administração, liderado por Sidney Massburger (Paul Newman) surge com um brilhante plano para enriquecer a todos: nomear um idiota notório para dirigir a companhia, trazendo pânico para os acionistas que se desfariam dos seus papéis. Imediatamente os membros do conselho comprariam de volta as ações desvalorizadas a centavos para, dessa forma, deter o controle e os dividendos da empresa que rapidamente voltaria à lucratividade de antes após a deposição do presidente fantoche.
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