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sábado, agosto 24, 2024

Os Três Cavaleiros do Apocalipse pós-moderno no terror 'Oddity'


Discutir sobre a natureza da pós-modernidade implica falar sobre os chamados “Três Cavaleiros do Apocalipse”: Nietzsche, Marx e Freud – aqueles que tiraram a centralidade da Razão e colocaram no lugar, respectivamente, o demasiado humano, o peso do legado do passado e o inconsciente. O thriller irlandês de terror “Oddity” (2024) transforma essas armas do Apocalipse em um conto sobrenatural com um atrevido humor negro no qual a racionalidade científica se opõe ao sobrenatural e o Oculto. O confronto entre um médico psiquiatra de comanda um hospital psiquiátrico com criminosos dementes e uma sensitiva proprietária de uma loja de antiguidades que vende objetos amaldiçoados. Razão vs. sobrenatural na elucidação de um assassinato que expõe o destino da Razão: transformar-se em “racionalização”, isto é, em álibi para o demasiado humano.

sexta-feira, abril 05, 2024

Piscina, reificação social e desencantamento do mundo em 'Mergulho Noturno'


Coisa que ganham vida e passam a caçar seres humanos é um tema recorrente no cinema: carros homicidas, tomates assassinos, pneus que se vingam da civilização, vestidos que matam entre outros numa lista infindável. “Mergulho Noturno” (Night Swim, 2024), dos mesmos produtores de “A Freira” e “M3GAN”) acrescenta mais um objeto que ganha vida: uma piscina que engole gente em um típico subúrbio de classe média. Embora “Mergulho Noturno” siga todos os cânones do gênero, seu roteiro é uma curiosa combinação de simbologias antropológicas (a antropomorfização dos objetos e reificação da sociedade), esotéricas (o imaginário do elemento água) e urbanas (o imaginário das classes médias suburbanas e o desencantamento do mundo).

terça-feira, dezembro 26, 2023

Contra as bombas semióticas da "Empatia" e do "Faça a diferença"

“Empatia” e “faça a diferença” são expressões que marcaram 2023. Apareceram em todos os lugares: no colunismo e editoriais da grande mídia, em vídeos publicitários das grandes marcas globais, nos discursos motivacionais corporativos, na literatura de autoajuda. Viraram palavras mágicas através das quais podemos supostamente fazer uma sociedade melhor e mudar o mundo! Há uma relação direta entre o aumento da polarização política e escalada midiática dessas palavras, consideradas antídotos para todas as mazelas do ódio e intolerância. O mais irônico, é que aqueles que lançam essas palavras mágicas como slogans ou hashtags foram os responsáveis pela doença que supostamente pretendem curar: o jornalismo de guerra que deu visibilidade ao extremismo político e fundações privadas educacionais de bilionários que financiaram a cismogênese brasileira. “Empatia” e “faça a diferença” viraram bombas semióticas do “Sim!” que retroalimentam aquilo que simulam querer sanar.

domingo, dezembro 24, 2023

Em 'Paisagem com Mão Invisível' o Capitalismo é extraterrestre



O filme “Paisagem com Mão Invisível” (Landscape with Invisible Hand, 2023, disponível na Amazon Prime Video), adaptação do livro homônimo de M.T. Anderson, é um curioso mix de Economia Política e ficção científica. Fazendo alusões a duas coisas bem atuais: exclusão e precarização do trabalho no novo salto tecnológico do capitalismo; e as teses de estudiosos do fenômeno Ovni de que governos e elites econômicas não só sabem da presença alien nesse planeta, como também o salto tecnológico das últimas décadas veio da colaboração dessas elites com extraterrestres. Uma conspiração entre a elite e aliens contra a maioria dos seres humanos tornados obsoletos por hologramas e Inteligência Artificial. O filme é uma sátira sombria de um contexto que o Fórum Econômico Mundial define como “Grande Reset Global do Capitalismo”.

quinta-feira, novembro 16, 2023

'Na Ponta dos Dedos': amor e dor no mercado da escassez afetiva


Um mundo alternativo no qual o dedo com um curativo é uma marca pública ambígua: de um lado pode ser a marca de um sucesso – o certificado de uma vida amorosa feliz. Ou a cicatriz de um fracasso. “A produção Apple TV + "Na Ponta dos Dedos” (Fingernails, 2023), do diretor grego Christos Nikou, é uma comédia dramática com toque sci-fi em que divórcios e frustrações amorosas foram resolvidos com um bizarro teste que envolve amor e dor: arrancar uma unha de cada parceiro para um dispositivo atestar a compatibilidade. Afinal, o primeiro sinal de problemas cardíacos é frequentemente notado nas unhas... Nesse mundo, a taxa de divórcios despencou. Mas paradoxalmente a felicidade parece ter despencado junto. Um filme que ecoa criticamente a atual cultura dos aplicativos de relacionamentos. E também, como a felicidade virou um nicho de mercado mediante a produção da escassez afetiva.

sexta-feira, outubro 27, 2023

'Crypto Boy': criptomoedas e a seita do dinheiro fácil no capitalismo cassino


O mundo das criptomoedas é, ao mesmo tempo, sedutor e misterioso: promete que “o dinheiro trabalhará por você” e lhe dará ganhos rápidos através de ferramentas esotéricas como “blockchain”, “criptografia”, “faucets”, “tokens” etc. Ao lado de aplicativos e plataformas, tudo exala positividade, appeal jovem e progressista. Emulando seitas e religiões. E ocultando o clássico esquema ponzi das pirâmides financeiras. Além de destruir da noite para o dia relações familiares e de amizade que levaram anos para se consolidarem. Esse é o tema da produção Netflix “Crypto Boy” (2023) do premiado cineasta holandês-egípcio Shady El-Hamus: um jovem entregador de burritos de um velho restaurante mexicano do seu pai sonha com um futuro melhor. Até que acaba seduzido pelos sonhos ambiciosos de uma startup de criptomoedas que está em rápida ascensão no capitalismo cassino. 

sexta-feira, junho 09, 2023

A invenção social do diamante no documentário 'Nada é Eterno'


A Natureza leva um bilhão de anos para fazer um diamante. Mas bastam os 87 minutos do documentário Netflix “Nada é Eterno” (Nothing Lasts Forever,2022) para desconstruir a mitologia mercadológica do “sonho do diamante”: o mito da pedra “preciosa” e exclusiva, incrustrada em anéis que celebrariam a eternidade de noivados e casamentos. O documentário descreve como o cartel do diamante criou o mito da escassez que atribuiu um valor imaginário para a pedra. Principalmente, quando diamantes sintéticos secretamente invadiram o mercado – a nível molecular idênticas aos “originais”. “Nada é Eterno” nos convida a refletir sobre a produção artificial do valor das mercadorias no capitalismo e o seu simulacro puro: a inexistência das fronteiras entre o original e a cópia, o falso e o verdadeiro, o natural e o artificial.

sexta-feira, maio 26, 2023

Capitalismo e suas aventuras pela álgebra e matemática no filme 'Uma Mente Brilhante'


O filme “Uma Mente Brilhante” (A Beautiful Mind, 2001) foi a típica peça de propaganda de Hollywood nos anos ainda triunfantes da Globalização pós fim do bloco soviético. O filme conta a vida do gênio matemático John Nash, Nobel de Economia que revolucionou a Teoria dos Jogos aplicada ao comportamento econômico em cenários de competição e negociação. O “Equilíbrio Nash” foi a teoria redescoberta décadas depois e que caiu como uma luva no Capitalismo da Globalização. Substitui “mão invisível” de Adam Smith em um outro nível, deslocando o Capitalismo para a abstração algébrica e matemática. Tão abstrata quanto a própria biografia de Nash no filme, transformando-o no gênio “All American” e patriota, o sal da terra de West Virginia. Sofreu um tipo de “limpeza”, como a de outro gênio matemático: Alan Turing.

terça-feira, março 07, 2023

Filme 'Triângulo da Tristeza' leva Hegel, Marx e luta de classes para o Oscar 2023


Depois de “Parasita” ganhar o Oscar de Melhor Filme em 2020 levando a luta de classes para as telas, agora é a vez de “Triângulo da Tristeza” (Triangle of Sadness, 2022, disponível na Amazon Prime) concorrer ao Oscar desse ano: Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original. O cineasta sueco Ruben Östlund (“Força Maior” e “The Square”) é o principal nome da onda de filmes em que os obscenamente ricos são objetos da vingança das forças sociais e até mesmo naturais. Dessa vez com uma cruel e impiedosa sátira contra os super-ricos globais, incluindo a exploração do mercado da moda e o insípido mundo dos influenciadores das mídias sociais. Dividido em três episódios, “Triângulo da Tristeza” une os segmentos com o fio condutor dos temas do poder, submissão, humilhação, ruína e ressentimento. Ecoando principalmente a famosa dialética hegeliana do senhor e do escravo – o ponto de partida para as reflexões de Karl Marx.

sábado, fevereiro 25, 2023

Niilismo e ateísmo querem fazer acerto de contas com Religião e Filosofia em 'The Sunset Limited'


Dois homens sentados à mesa num pequeno apartamento em um bairro miserável de Nova York. Ele salvou um desconhecido que tentava se matar atirando-se de uma plataforma de metrô e o trouxe para sua casa. Como pastor, tentará salvá-lo também com as palavras da Bíblia. O desconhecido é um professor universitário desiludido e, aparentemente, ateu. “The Sunset Limited” (2011), adaptação da peça teatral homônima de Cormac McCarthy, lembra o velho confronto entre Fé e Razão. Mas vai muito mais além disso: aquele professor não é um ateu comum – sua firme posição suicida é o resultado de uma jornada de séculos da destruição do indivíduo na Filosofia ocidental. De repente, Deus é a parte do problema existencial ao lado de noções como “Logos”, “Ideia”, “Razão” – o niilismo desafiador daquele estranho que quer fazer um acerto de contas com toda a inutilidade da Filosofia e da Religião.

quarta-feira, julho 27, 2022

Memórias, perdas e condicionadores de ar no filme 'Ar Condicionado'


A sociedade apresenta-se de modo invertido para nossas consciências. Esse é um tema que vai de Marx a Freud: coisas inanimadas parecem ganhar vida própria, enquanto nós nos desumanizamos. O afrofuturismo angolano de “Ar Condicionado” (2020) aborda esse tema, fazendo uma crítica ao consumismo e às deformações urbanas usando simbolicamente essa consciência invertida: do nada, condicionadores de ar começam a despencar dos prédios, matando pedestres que estiverem passando na hora errada. Uma conspiração chinesa para vender ventiladores? Uma faceta das mudanças climáticas? Obsolescência planejada assassina? Ou esses objetos cansaram de funcionar e estão se matando? Um mix de sci-fi com realismo fantástico, no qual as memórias das perdas da colonização portuguesa e guerra civil estão por trás desse fenômeno bizarro.

quarta-feira, abril 20, 2022

Em 'Night's End' o sonho da Razão produz monstros


A cineasta Jenifer Reeder (considerada pelo diretor duas vezes vencedor do Oscar, Bong Joon Ho – Parasita – uma cineasta na lista dos imperdíveis) revisita o tema da casa mal-assombrada que, de tão recorrente no gênero terror, parece não restar nada mais relevante a ser dito. Porém, “Night’s End” (2022) prova o contrário ao trazer a clássica estória de fantasmas no zeitgeist da pandemia e as videochamadas e lives na Internet. Um homem recluso transforma a sua investigação sobre fantasmas em seu apartamento em lives num canal sobre fenômenos paranormais no Youtube, procurando engajamento e monetização. “Night’s End” mostra de forma criativa (superando limitações do baixo orçamento) como o pintor Goya tinha razão ao falar que “o sonho da Razão produz monstros” – o célebre pintor do romantismo espanhol antecipou a crítica que mais tarde a filosofia e a psicanálise fariam: paradoxalmente os mecanismos da Razão e das luzes da Ciência geram os monstros da irracionalidade e do obscurantismo que tanto queriam combater.  

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

O fantasma do passado cancela o futuro na animação 'The House'


A animação em stop-motion (uma arte que se tornou um pequeno nicho) é perfeita para se criar atmosferas pela riqueza e intensidade de detalhes que a técnica pode oferecer. Principalmente em narrativas que envolvem claustrofobia e confinamento. A animação da Netflix “The House” (2022) faz o espectador mergulhar nessa atmosfera em seus três episódios, cujo casarão em estilo georgiano é o fio condutor. Mas a sensação claustrofóbica não vem da casa, mas dos fantasmas do passado que são capazes de aprisionar as mentes dos vivos, cancelando qualquer ideia de futuro pela repetição dos mesmos vícios e posturas. Um arquiteto misterioso constrói o casarão como um “presente” a um pai de família corroído pela frustração e ressentimento. Que descobrirá da pior maneira possível as verdadeiras intenções daquele Demiurgo. Será a gênesis e o pecado original gnósticos de uma recorrência que bloqueará o presente e cancelará o futuro. 

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

A derrota histórica do gênero feminino no filme 'Mundo em Caos'


Com uma premissa estranha e com sérios problemas nos bastidores, o filme “Mundo em Caos” (Chaos Walking, 2021, disponível na Amazon Prime) lembra até o subgênero “sci fi teen” iniciado por “Jogos Vorazes”. Colonizadores esquecidos num planeta distante têm que lidar com “O Ruído”: involuntariamente, somente os homens materializam seus pensamentos mais íntimos através de uma “nuvem” sobre as cabeças. As mulheres foram massacradas por nativos, resultando numa sociedade religiosa hipermasculinizada, armada, violenta, protofascista. E o “ruído” vira um instrumento de controle. “Mundo em Caos” é um filme peculiar, em que a premissa é melhor que o próprio filme: não só por fazer uma alusão à ideia teosófica das “formas-pensamento” como também suscita a tese central de Friedrich Engels em seu livro “Origem da Família, Propriedade Privada e Estado”: o “comunismo primitivo” cedeu lugar na História à opressão de classe e exploração do trabalho com a derrota histórica do gênero feminino. 

quarta-feira, outubro 06, 2021

Apagão do Facebook, Cyber Polygon e offshore de Paulo Guedes: novo salto mortal do Capitalismo



A semana começa com a repercussão de um complexo sincrônico de eventos: o “apagão” global do Facebook, Instagram e WhatsApp, a revelação do “Pandora Papers” de que Paulo Guedes (Economia) e Roberto Campos Neto (Banco Central) possuem offshores em paraísos fiscais. E a grande mídia fazendo o que pode para blindá-los ou, no máximo, fazer “jornalismo Snapchat” como o da “Folha”. O que têm em comum? O Projeto Cyber Polygon do Fórum Econômico Mundial e a agenda do “Grande Reset Global” que teve no Facebook o seu grande golpe de propaganda: deixe um número suficiente de pessoas confiar em gigantes tecnológicas sem qualquer regulação pública e você terá uma vulnerabilidade parecida com o que representou Pearl Harbor para os EUA na Segunda Guerra Mundial. O “Grande Reset Global” das offshores de ministros e da própria grande mídia que se preparam para o próximo salto mortal do Capitalismo: a pandemia digital para mitigar o próximo crash – a da bolha do dinheiro digital.

quinta-feira, setembro 30, 2021

Gameficação da luta de classes na série 'Round 6'


O mundo todo está virando um jogo. É o fenômeno da gameficação: processos seletivos de empresas, simuladores militares e de negócios, a política feita por aplicativos e até mesmo os relacionamentos por plataformas. Agora chegou a vez da luta de classes. A série sul-coreana da Netflix “Round 6” (“Squid Games”, 2021- ) acompanha produções recentes de filmes e séries de TV do Leste Asiático como “Parasite”, “Burning” e “Itaewon Class” abordando habilmente a desigualdade e a luta de classes em circunstâncias do mundo real, em vez das lentes distópicas de fantasias americanas como Jogos Vorazes e Elysium. Se ganhar dinheiro significa a luta pela sobrevivência na competição do mercado, por que então não representar a luta pelo dinheiro também como um game? Esse é o núcleo subliminar e de identificação do sucesso de “Round 6”: elevar o conceito de “game” a uma categoria universal de justiça dentro do Capitalismo.  

sábado, agosto 14, 2021

Gafanhotos e o mito do empreendedor no filme 'A Nuvem'


Um mito cresce com o aumento do desemprego e das profundas transformações das relações trabalhistas no capitalismo: o mito do empreendedor. Como em todo mito, promete uma transformação mágica: a da força de trabalho se converter em capital. Claro, desde que você tenha força de vontade e dê o sangue para o seu negócio. Às vezes, literalmente! O filme francês “A Nuvem” (La Nuée, 2020) narra a perfeita metáfora da ideologia do empreendedorismo quando acompanhamos o drama de uma fazendeira que tenta salvar o seu negócio: uma crocante e nutritiva farinha de gafanhotos. Obcecada por salvar o empreendimento, coloca em risco os filhos e a si mesma ao descobrir acidentalmente que sangue humano turbina os insetos e as vendas. É o paradoxo do empreendedor: a força de trabalho só pode se transformar em capital na medida em que consome a si mesma.

quinta-feira, março 18, 2021

O fantasma de Karl Marx ronda a cobertura midiática da pandemia e o 'lockdown tabajara'


A famosa abertura do “Manifesto Comunista” (“um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo”) repete-se em inúmeras paráfrases desde que foi escrito. E a última é proporcionada pela forma como a grande mídia vem cobrindo a crise econômica e humanitária provocada pela pandemia no País. Aglomerar para se divertir não pode! Mas ficar apinhado em ônibus e trens para trabalhar é tolerável... O Governo deve liberar o auxílio emergencial? Sim, mas desde que dentro do estreito limite do “teto de gastos”. O que está por trás desse duplo vínculo esquizoide do jornalismo corporativo? Daí ressurge mais uma vez o fantasma de Karl Marx e sua obra “O Capital”: esse malabarismo retórico em cada telejornal é a expressão da própria tensão da reprodução do capital criada pela pandemia com a necessidade de manter o fluxo da produção de mais-valia e valor num cenário de restrições econômicas e isolamento social. O resultado é o “lockdown tabajara”.

segunda-feira, janeiro 11, 2021

Nietzsche, Gnosticismo e Teocídio no filme 'Matando Deus'


O que você faria se Deus aparecesse? E se Ele não fosse como Morgan Freeman em “O Todo Poderoso” (2003), uma divindade bondosa que pacientemente dá lições morais para Jim Carrey. Não, e se Deus aparecesse como um anão sem-teto, alcoólatra, desbocado e de saco cheio da própria Criação? Pior, com um plano de exterminar a humanidade. Essa é a comédia de humor negro “Matando Deus” (“Matar a Dios”, 2017): o Todo-Poderoso invade a noite de Ano Novo de uma família disfuncional que é o microcosmo de todas as mazelas do demasiado humano. Depois de muitos dilemas morais, o grupo chega a uma conclusão: eles precisam matar Deus. Uma narrativa que combina humor negro com o melhor do slasher dos filmes B. E suscitando leituras tanto nietzschianas como gnósticas.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Bolsonaro na ONU, grande mídia e as queimadas: esquerdas devem conhecer Ernst Bloch


O filósofo alemão Ernst Bloch foi uma das influências de Theodor Adorno e da chamada “Escola de Frankfurt”: foi o primeiro pensador marxista a considerar o imaginário nos meios técnicos (rádio e cinema) explorados pela propaganda nazi-fascista no século passado. Sua “Teoria da Assincronia” mostrou como o imaginário social foi politizado pela propaganda política: os tempos latentes, arcaicos e idílicos se mantêm em camadas mais antigas nas mentes das pessoas, mantendo a contradição em relação às modernizações tecnológicas e econômicas. E a propaganda atuou nesse tempo assíncrono do imaginário. Tanto o discurso de Bolsonaro na ONU quanto a cobertura da grande mídia das queimadas no Pantanal e Amazônia exploram esse imaginário assíncrono do “ódio ao presente”, o material explosivo das bombas semióticas da extrema-direita: religião, nacionalismo etc. A esquerda precisa urgentemente conhecer Ernst Bloch: como atuar nesse espaço assíncrono do imaginário? 

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