quinta-feira, maio 31, 2018
A "Nova Ordem" do bullying e intolerância no filme "Klass"
quinta-feira, maio 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A princípio, o filme estoniano “Klass”(2007) é mais um filme sobre
assassinatos seriais em escolas, na linha de “Elephant”, “Tiros em Columbine”
ou “Precisamos Falar Sobre Kevin”. Também baseado em um incidente real, “Klass”
se esforça em não ser mais um filme “sobre” violência escolar, mas procura
falar “da” violência, sem estilização tradicional do tema – fetichização das
armas e atiradores vestidos com trajes snipers negros. Formado por um cast de
atores amadores e não-atores, “Klass” arranca performances espontâneas e
brutais sobre a história de Joosep, vítima de bullying e desprezo de uma classe
que cria um mundo fechado. Incompreensível para adultos preocupados com seus
próprios afazeres. “Klass” vai ao fundo psicológico do nascimento do extremo desejo
de vingança: uma Nova Ordem na qual família e escola pouco significam ou
compreendem um movimento que está muito além da Razão: uma secreta aliança
entre Id e Superego – autoritarismo aliado ao prazer sadomasoquista. Filme sugerido pelo nosso onipresente leitor Felipe Resende.
domingo, maio 27, 2018
O roteiro da greve dos caminhoneiros: um filme já visto?
domingo, maio 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se a política é a continuidade da guerra por meios semióticos, então a
atual crise provocada pela greve dos caminhoneiros deve ser analisada dentro de
dois princípios de engenharia de opinião pública: clima de opinião e espiral do
silêncio - criar atmosferas difusas de medo, pânico, emergência, instabilidade.
Para construir uma conjuntura política visando efeitos imediatos e de médio
prazo. E sempre o petróleo como pivô. Greve de caminhoneiros é um filme já
assistido em momentos de instabilidade política e social que antecedem golpes
políticos (João Goulart em 1964 e Allende no Chile em 1973, por exemplo). Em
muitos aspectos o script da greve que atinge todo o País é idêntico ao das
“Manifestações pelos 20 centavos” de 2013: “espontaneidade”, suposta organização
horizontal, redes sociais etc. Mais uma ação de guerra híbrida para melar as
eleições? Para criar comoção pública que justifique intervenção e adiamento das
eleições? Para, na falta de um candidato competitivo da situação, ganhar tempo
para a realização da agenda neoliberal de privatizações?
sábado, maio 26, 2018
O Capitalismo se desmancha no ar no filme "Fome de Poder"
sábado, maio 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Tudo que era sólido se desmancha no ar”, dizia Karl Marx sobre o poder
do Capitalismo revolucionar incessantemente seu modo de produção. “Fome de
Poder” (The Founder, 2016) descreve como um vendedor ambulante de mixer para milk
shakes chamado Ray Kroc encontrou no gênio dos irmãos McDonald muito mais do
que uma revolucionária linha de montagem de hambúrgueres. Viu nos arcos de uma
loja dos irmãos algo além de um mero detalhe arquitetônico: vislumbrou a
máquina semiótica de produção de marcas e símbolos como uma nova força
produtiva do Capitalismo que não oferece mais produtos tangíveis. Consome-se
uma fé, uma ideia ao invés de um hambúrguer que se desmanchou no ar – pouco
importam as suspeitas sobre a procedência das batatinhas fritas ou da carne do
Big Mac. Ray Kroc fez o mundo consumir muito menos um sanduíche do que a marca
e um sistema de conveniência.
quarta-feira, maio 23, 2018
Os fantasmas daquilo que esquecemos no filme "Radius"
quarta-feira, maio 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um homem acorda sem memórias após um acidente automobilístico. Na
medida em que vaga pela estrada em busca de ajuda, vê pessoas e animais caindo
mortos na sua frente. Ao mesmo tempo, flashs de fragmentos de lembranças
aparecem involuntariamente, mostrando que ele está em meio a um gigantesco
quebra-cabeças. Tudo lembra a atmosfera dos episódios da série clássica “Além
da Imaginação”. Mas estamos diante da nova safra de filmes de ficção-científica
independente, onde nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente. É um
sci-fi? Um thriller sobre ataques terroristas? Ou uma discussão metafísica
sobre a responsabilidade sobre atos de um passado do qual não lembramos? O
filme canadense “Radius” (2017) eleva os temas gnósticos da “amnésia” e do “detetive”
(aquele que tenta solucionar um enigma) para um novo patamar: sempre tentamos
reunir cacos de um mundo desmoronando, sem saber que o enigma que buscamos desvendar
tem a ver com nós mesmos – o passado esquecido que vem cobrar responsabilidades,
culpas ou contas a acertar.
sábado, maio 19, 2018
A guerra semiótica calça chuteiras para a Copa 2018
sábado, maio 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam
de “teoria da conspiração”, uma simples comparação entre as peças publicitárias
que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a qualquer
dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações publicitárias para
lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade, alegria e raiva,
em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do “Não Vai Ter Copa!”
+ Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem diferente: uníssona e assertiva - a
Nação deve ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a
Guerra Semiótica veste as chuteiras cumprindo duas funções: a primeira
política, pacificar as ruas com a ideia de união e nação; e no campo ideológico,
enfiar goela abaixo da choldra as preleções de Tite, misto de “coaching” e
pastor motivacional. Para nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É
oportunidade para virarmos todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do
script? Então teremos um “Plano B” cujos balões de ensaio já estão sendo
lançados.
domingo, maio 13, 2018
Cigarros e niilismo gnóstico no filme "Lucky"
domingo, maio 13, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um homem solitário e ranzinza confronta a chegada da morte. Com quase
90 anos, ele segue uma rotina espartana: faz alguns exercícios de ioga pela
manhã, depois pega o chapéu e caminha através de uma paisagem árida de cactos
numa cidadezinha no meio do nada. Trava conversas aleatórias sobre religião,
filosofia, moral, game shows da TV, saúde e a morte numa cafeteria e num bar.
Enquanto fuma muitos, muito cigarros. E entre seus interlocutores está o famoso
diretor David Lynch, que faz um homem que tem uma tartaruga chamada “Presidente
Roosevelt”. Esse é o filme “Lucky” (2017) sobre um protagonista ateu que entra
na lista de produções sobre personagens excêntricos de uma América profunda.
Mas Lucky tem um ateísmo de natureza muito especial – é dotado de um niilismo
gnóstico. Ele não crê num propósito ou sentido para a vida. Pelo menos, não
para esse mundo.
sábado, maio 12, 2018
Esquerda ri de si mesma na derrota da guerra semiótica
sábado, maio 12, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O sucesso na Internet da camiseta vermelha da seleção brasileira, para
torcedores de esquerda torcerem na Copa sem serem confundidos com “paneleiros
do pato amarelo”, e do “Museu da Direita Histérica” no Facebook são dois
sintomas de um mal-estar da esquerda: a derrota por WO no campo da comunicação.
Quando ri dos vídeos impagáveis da “direita raivosa” ou se diverte com a
camiseta alternativa da seleção, no fundo ri de si mesma – enquanto a esquerda
brada as armas dos símbolos (o vermelho, cartas para Lula e bandeira do MST e
CUT etc.), a direita dispara a bomba semiótica da iconificação – a apropriação
dos símbolos para se converterem em ícones facilmente massificados ou
viralizados. Símbolos são iniciáticos, sectários, exclusivos. Enquanto os
ícones valem mais do que mil símbolos. Desde a iconificação do símbolo da
suástica pelos nazistas.
domingo, maio 06, 2018
Curta da Semana: "Tennessee" e "Look At Me Only" - estamos confundindo Comunicação com Informação
domingo, maio 06, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dois fantasmas rondam a atual tecnologia de convergência com seus
celulares e tablets: o solipsismo e a incomunicabilidade. Uma garota sente-se
solitária no seu aniversário porque todos ao seu redor estão imersos em mundos
virtuais. E uma garota ciumenta em um restaurante exige a atenção do seu
namorado, que prefere prestar atenção ao seu pequeno hamster. Ou será um
celular? São as pequenas estórias contadas respectivamente pelos curtas de
animação “Tennessee”(2017) e “Look At Me
Only”(2016). Por que as tecnologias atuais produzem incomunicabilidade? Talvez
porque estamos confundindo comunicação com informação.
sábado, maio 05, 2018
Será que incêndio de prédio em SP foi também mais um não-acontecimento?
sábado, maio 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Da mesma forma como os recentes atentados em Paris, Berlim, Londres
etc., o incêndio seguido de desmoronamento do Edifício Wilton Paes de Almeida,
no Centro de São Paulo e ocupado por movimento de luta à moradia, está cercado de sincronismos, “coincidências
significativas”, recorrências, anomalias e evidente oportunismo pelo lucro
político e comercial da tragédia – grande mídia, interesses privados por trás
das chamadas “Operações Urbanas” e a construção de um novo inimigo interno com
o pós-Lula e o enfraquecimento do discurso do combate à corrupção: a
identificação do crime organizado (PCC) com os movimentos sociais. Seria tudo
um “não-acontecimento”, da mesma magnitude e propósito do incêndio do Reichstag
de 1933 que conduziu os nazistas ao poder?
quarta-feira, maio 02, 2018
O mal-estar dos millennials diante do fim do mundo em "Bokeh"
quarta-feira, maio 02, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um jovem casal norte-americano em férias na Islândia. Que mal poderia
acontecer? A não ser, acordar numa manhã e descobrir que todo mundo desapareceu
e aparentemente só restaram eles? Celulares e Internet continuam funcionando,
mas... não há ninguém do outro lado. Será que toda humanidade desapareceu? Esse
é o filme "Bokeh" (2017, disponível na Netflix) no qual a atmosfera "Além da Imaginação”
é apenas um pano de fundo para discutir questões geracionais e existenciais da
chamada “Geração Y” ou “Millennials”. Ao invés de procurar uma resposta, ou
mesmo sobreviventes, o casal de fecha ainda mais no mal-estar que emerge da
relação: o estranhamento de estarem cara-a-cara, sem mediações tecnológicas, e
o estranho nostalgismo pós-moderno: saudades de épocas que não foram vividas.
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