sábado, junho 29, 2013
Bombas semióticas explodem na mídia
sábado, junho 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada
redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas,
está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de
recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado
para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma
estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da
instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas
semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica”
da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa.
Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de
um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira
nacional” e o do “manifestante”.
Junto com as manifestações nas ruas de várias
cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma
guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram
perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo
político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os
manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação
monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os
acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna
que estaria minando o governo federal.
Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um
impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e
vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de
períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante
a Segunda Guerra Mundial.
quarta-feira, junho 26, 2013
Lâmpadas e conspirações no curta argentino "Luminaris"
quarta-feira, junho 26, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O mais premiado curta de animação argentino e que chegou a ficar entre
os dez finalistas para concorrer ao Oscar da categoria, “Luminaris” (2011) de
Juan Pablo Zaramella apresenta em seus seis minutos uma grande riqueza
simbólica a partir da colagem de estilos que vai da arte Deco e Surrealismo ao
Filme Noir e Neorrealismo. O que representaria a alegoria de um universo alternativo
governado por uma estranha força magnética do Sol que arrasta todos para os
seus trabalhos? Apesar de Zaramella desconversar sobre o simbolismo do seu
curta, podemos fazer um pequeno exercício de leitura do conteúdo da narrativa a
partir de três pontos de vista: o marxista, o conspiratório e o gnóstico.
O mais premiado curta argentino, “Luminaris” em
2012 foi pré-selecionado entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar dentro
de sua categoria. Feito com uma técnica de stop-motion
denominada pixilation onde atores
reais interagem com objetos inanimados - veja o curta abaixo.
Dirigido por Juan Pablo Zaramella, a narrativa de
seis minutos é ambientada em uma Buenos Aires que parece o resultado do
cruzamento entre filme noir, realismo fantástico, neorrealismo e surrealismo. O
curta conta a história de um homem (Gustavo Cornillón) que vive em um universo
alternativo onde o tempo, o trabalho e o cotidiano são controlados pela luz do sol
que age como espécie de força magnética, despertando a todos para depois
arrastá-los ao trabalho e trazê-los ao final do expediente de volta para casa.
O protagonista tem um trabalho rotineiro e repetitivo na linha de montagem
em uma fábrica de lâmpadas onde são produzidas de uma forma, digamos, não
muito ortodoxa...
segunda-feira, junho 24, 2013
O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"
segunda-feira, junho 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David
Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall
Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma
alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma
Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a
falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira.
Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da
informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte
dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática
estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras.
Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.
Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário
príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos
escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo
em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.
Porém, a cidade vive o caos com a visita do
presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do
perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA
parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.
Todas as suas operações financeiras são monitoradas
a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade
uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo
do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a
valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a
falência.
quarta-feira, junho 19, 2013
Apertem os cintos... a Esquerda sumiu
quarta-feira, junho 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A escalada de manifestações nas ruas em todo o país parece expressar um
profundo mal estar dos jovens em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à instituição
da Política como representação de
qualquer demanda social. Desconfiam que por trás da Política ou do Poder não existe
nada mais do que ardil, simulação, blefe. Mas a mídia tem horror ao vácuo: para
manter o ardil da simulação os meios de comunicação precisam encaixar as manifestações
em um script, assim como um novo roteiro
de um filme publicitário que oferece mais do mesmo para o mercado.
As interpretações dos cientistas e comentaristas
políticos crescem na mesma proporção que os protestos nas ruas. Em toda essa
espiral interpretativa há um ponto que todos parecem concordar: a incrível
flexibilidade e rapidez da logística das mobilizações nas ruas através das
redes sociais contrasta com os lentos canais de comunicação representativos de
partidos políticos, Executivo e organizações classistas. A UNE, por exemplo,
desapareceu. Qualquer identificação partidária no meio das passeatas é vista
com maus olhos e rejeitada pelos manifestantes.
Mas essa questão logística de comunicação é apenas
o sintoma: os jovens na rua estão expressando um profundo mal estar em relação
não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à Política – o
questionamento da própria ideologia política como representação de qualquer
demanda social. Em outras palavras, os jovens desconfiam que por trás da
Política ou da ideologia não existe nada e que tudo é um ardil, uma simulação,
um blefe.
terça-feira, junho 18, 2013
OVNIs e parapolítica no filme "Wavelength"
terça-feira, junho 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um prato cheio de mistérios, OVNIs, coincidências e conspirações. “Wavelength”
(1983) de Mike Gray (documentarista e ativista político) e produzido por um
advogado não menos ativista é um daqueles filmes estranhamente esquecidos por
críticos e cinéfilos. No momento atual em que autoridades vêm a público cobrar
dos governos que o fenômeno OVNI seja assumido oficialmente, “Wavelength” é
relembrado como um filme supostamente baseado em um caso real ocorrido em
Hunter Liggett, sul da Califórnia. Principalmente após declaração de um físico
que trabalhava em laboratório de pesquisas do governo dos EUA e uma testemunha do incidente que se diz surpreendido
com a precisão da narrativa do filme: “Quem fez esse filme estava lá ou conheceu alguém que esteve lá”.
O filme “Wavelength” é um prato cheio para os
teóricos da conspiração especializados nas conexões entre OVNIs e governos, a
chamada “parapolítica”. Tanto pelo conteúdo da narrativa do filme e, principalmente, pelos eventos e coincidências que cercaram a sua produção que
pesquisadores como Christopher Knowles qualificam como “sincromísticos”.
Esse sci-fi
independente e de baixo orçamento foi esquecido pelo público e até mesmo pelos
cinéfilos ao longo dos anos. Relembrar desse obscuro filme e dos eventos em
torno dele é oportuno, principalmente depois que duas autoridades que ocuparam
posições-chave em governos manifestaram a necessidade de ser assumido
oficialmente a existência dos OVNIs: o ex-ministro de defesa do Canadá, Paul
Heyller (acusou os EUA de “acobertamento”), e o ex-presidente russo Dmitry
Medvedev que falou sobre “arquivos secretos oficiais sobre o assunto” em um
rede de TV daquele país.
sábado, junho 15, 2013
O oportuno "Moonrise Kingdom" em tempos de jovens protestando nas ruas
sábado, junho 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Partindo do princípio de que o mix emocional de exaltação e melancolia da
adolescência representa o último grito de um espírito que nega a adaptação ao
futuro, “Moonrise Kingdom” (2012) constrói uma elaborada fábula sobre a inadaptabilidade
do jovem a um mundo onde os adultos dizem “somos tudo o que vocês têm”.
Enquanto filmes como a da franquia “Crepúsculo” ou “Harry Potter” representam
esses aspectos depressivos da adolescência de forma solipsista e platônica (a
felicidade só poderia ser alcançada nos sonhos ou em mundos mágicos e
sobrenaturais), “Moonrise Kingdom” constrói um elaborado simbolismo permeado de
misticismo e gnosticismo que não só desconstrói as formas de “cura” da revolta
adolescente como aponta para a felicidade como uma chama interior que deve ser
mantida acesa no mundo adulto que o aguarda. Um filme oportuno em tempos em que
jovens estão tomando as ruas em protestos.
O diretor Wes Anderson é conhecido por criar um
universo bem particular: em todos os seus filmes anteriores como “Os
Excêntricos Tenembauns” (2001) ou “O Fantástico Sr. Raposo (2009) ele é capaz
de criar um microcosmo onde os eventos e ações começam a ocorrer dentro de suas
própria regras e tudo começa a ser impulsionado por emoções e desejos tão convincentes
que se tornam mágicos.
Dessa vez o novo mundo criado por Anderson é uma
ilha em algum lugar na costa da Nova Inglaterra nos EUA, onde as casas,
fazendas, faróis, barcos parecem ser reproduções ampliadas de pequenos modelos
ou miniaturas. A composição dos enquandramentos é cheia de simetrias, o
movimento da câmera calculadíssimo e os personagens propositalmente
estereotipados e contidos. Por isso, Anderson é muito criticado pelo estilo dito
“maneirista”. Aqui, pelo menos, esse estilo passa a ter todo sentido: em uma
ilha cujo artificialismo dos personagens, paisagens urbanas e naturais lembram
muito a ilha de Seahaven do filme “Show de Truman” (The Truman Show, 1998)
criam uma sufocante atmosfera de ordem, disciplina e hierarquia, um casal de
adolescentes se rebela e planeja cuidadosamente e executa uma fuga: ela para
fugir da crise conjugal dos seus pais e ele da disciplina e mediocridade de um
campo de escotismo.
quinta-feira, junho 13, 2013
Em Observação: "Mahler no Divã" (2010)
quinta-feira, junho 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Percy Adlon é um diretor conhecido por esse blog, principalmente pela
comédia “Rosalie Vai às Compras” que já foi tema de postagem. O filme “Mahler
no Divã” (2010) não trata de um divã real: o compositor Gustav Mahler jamais
esteve no divã de Freud, mas foi analisado por ele de uma forma bem diferente
para a ortodoxia do pai da psicanálise: caminhando. Caminhar como forma de
descobrir a si mesmo tem profundos significados esotéricos e filosóficos. Assim
como a própria figura de Mahler na história da música, considerado como um “romântico
tardio”, pela sua morte prematura e sua música misturar exaltação e depressão.
O filme será exibido dia 19 em São Paulo no Ciclo de Filmes Alemães no Clube
Transatlântico.
terça-feira, junho 11, 2013
Físicos afirmam que o Universo é uma simulação computacional finita
terça-feira, junho 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Partindo do princípio
que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores
também o são, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores”.
Essas são as últimas linhas de um artigo publicado por físicos da Universidade
de Cornell, EUA, onde criam as diretrizes iniciais para a comprovação da
hipótese de que o Universo é uma gigantesca simulação computacional a partir de
uma simulação numérica da chamada “grade cromodinâmica quântica”, associada às
forças básicas da natureza que unem prótons e nêutrons no núcleo do átomo. Tal
conclusão leva a importantes implicações filosóficas gnósticas como, por
exemplo, a atualização por meio da tecnologia de uma ambição humana revelada
pela Teurgia e Alquimia na Antiguidade: imitar Deus para tentar encontrá-lo.
Dessa vez, por meio da simulação algorítmica.
Talvez Deus não queira ser observado. Acho que Ele não gosta
de curiosos” (Einstein)
Dessa vez é um grupo de físicos
da Universidade de Cornell, nos EUA, que afirma que conseguiu aperfeiçoar as
diretrizes iniciais de um método que comprovará que o Universo é uma gigantesca
simulação computacional. Não fosse o fato de que pesquisadores da Universidade
de Washington concordaram após investigar os dados da equipe de Cornell,
poderíamos dizer que tudo isso não passa de um boato.
Em novembro do ano passado,
físicos da Universidade de Bonn, Alemanha, anunciaram que procuravam uma
“assinatura cósmica” a partir de uma simulação computacional por meio de
minúsculos espaços cúbicos (grade de Gauge) que forneceria uma nova visão das
partículas de alta energia. Dessa maneira, eles levariam à frente a hipótese do
professor da Universidade de Oxford, o filósofo e matemático Nick Bostrom, que
em artigo publicado em 2003 sustentava uma fórmula probabilística de que uma
outra civilização poderia ter simulado o nosso Universo (veja links abaixo).
Pois em novembro do ano passado
Silas Beane, Zohreh Davoudi e Martin Savage publicaram o artigo “Contraints on
the Universe as a Numerical Simulation” (Cornell University Library, arXiv.org) onde observam as
consequências da hipótese do Universo como simulação numérica a partir da
possibilidade de que a próxima geração de computadores de alta performance possa
simular a chamada “grade de cromodinâmica quântica” e, dessa forma, observar
como os raios cósmico se refletem nessa estrutura.
quinta-feira, junho 06, 2013
Opinião: "Argo", "Ghost Army", "O Mágico de Oz" e "Cristo de Nag Hammadi"
quinta-feira, junho 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Iniciamos
com essa postagem uma nova sessão do blog “Cinema Secreto: Cinegnose”:
“Opinião”. Estamos percebendo que nos últimos meses o nível dos comentários dos
nossos leitores vem crescendo, deixando de ser muitas vezes um “comentário”
(intervenções pontuais que são sempre bem vindas para esquentar o debate) para
se tornar “opinião”, fundamentada em referências e informações que,
acreditamos, pode ser de interesse para toda a comunidade de leitores desse
blog.
Por
isso, essa nova sessão dará destaque aos melhores comentários dos nossos
leitores-comentaristas. Para começar, aqui estão as primeiras opiniões:
terça-feira, junho 04, 2013
O "efeito Heisenberg" na irrealidade midiática cotidiana
terça-feira, junho 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A transmissão
televisiva da final do Novo Basquete Brasil parece confirmar aquilo que Neal
Gabler chama de “efeito Heisenberg”, paradoxo quântico onde a mídia, na
verdade, está cada vez mais cobrindo a si mesma e o seu impacto sobre a vida: ao
mobilizar uma serie de signos que forçavam uma analogia com o show business
esportivo norte-americano, a transmissão celebrou muito mais o sucesso da
parceria da TV Globo com a nova liga oficial de basquete do que a transmissão
de uma “jornada esportiva”. E para ficar mais evidente isso, o barulho ensurdecedor
da torcida nas arquibancadas era menos pelos lances na quadra, do que pelo
vai-e-vem das câmeras que comandavam as reações dos torcedores.
Neste último final de semana
assisti pela TV a final do NBB (Novo Basquete Brasil, a liga oficial de
Basquete brasileiro) entre Flamengo e Uberlândia na Arena da Barra no Rio de
Janeiro. Para além dos aspectos técnicos
do jogo, começou a me chamar a atenção a forma como a partida se promovia para
os espectadores e, além, disso, o próprio comportamento dos torcedores nas
arquibancadas.
As belas imagens da arena e da
quadra pareciam forçar uma semelhança com os imensos ginásios esportivos da
Liga de Basquete norte-americana: o placar eletrônico onipresente suspenso
sobre o centro da quadra, mascotes saltitando a cada parada técnica, notas musicais
em som de órgão entoadas a cada anúncio de troca de jogadores, shows musicais
com cantores nos intervalos etc. Uma atmosfera de show business, muito mais do
que esporte: entretenimento.
Somado a isso o tom do
comportamento da plateia parecia ser dados pelas câmeras que deslizavam por
sobre as arquibancadas. Percebia-se que uma área da plateia, antes formada por
torcedores sentados e concentrados no jogo, ao verem a proximidade da câmera se
levantavam, pulavam e torciam de forma mais enérgica. Alguns homens mais
empolgados beijavam suas companheiras ao serem surpreendidos pela proximidade
da câmera...
domingo, junho 02, 2013
Sobre realidade, jardins e TVs no filme "Muito Além do Jardim"
domingo, junho 02, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Muito Além do Jardim”
(Being There, 1979), um clássico com Peter Sellers, teve sérios problemas para
ser finalizado: o diretor Hal Ashby entrou em sério desentendimento com a produtora
Lorimar Films para impor um final que seria um dos mais polêmicos da história
do cinema (o final "andando sobre as águas"), um final tão cético que beira o ateísmo, isso após uma sequência
onde aparecem símbolos maçônicos no mausoléu de um dos protagonistas. Mas
“Muito Além do Jardim” é antes de tudo um filme sobre como a TV é capaz de
moldar nossa percepção do real, assim como todos projetam suas percepções e
interesses no protagonista. Uma fábula sobre a paradoxal incomunicabilidade em
uma cultura moldada pelos meios de comunicação.
Nunca um filme teve um título em
português tão bem acertado: “Muito Além do Jardim”. O título designado para
“Being There” do diretor Hal Ashby, é perfeito porque a narrativa de quase duas
horas em um ritmo elegante (ou lento, de acordo com a referência
cinematográfica do espectador) vai pouco a pouco aprofundando as consequências
na vida de um homem que se vê de repente despejado na rua após perder o emprego
de uma vida inteira (jardineiro) e como o acaso vai construindo o seu destino
em uma trajetória que o faz adentrar acidentalmente em círculos cada vez poderosos
até chegar ao presidente dos EUA.
Da história de um homem simples
cuja percepção da realidade foi moldada pela TV, passando pela forma como
inesperadamente se torna um “insider” dos altos círculos do poder de Washington
até o final onde símbolos esotéricos sugerem teorias conspiratórias na política
e um inesperado, ambíguo e perturbador final que potencialmente pode por em
xeque tudo que acabamos de assistir.
Como veremos adiante (aviso de
spoiler) a sequência final, que quase custou o emprego do diretor Hal Ashby que
insistiu em colocá-la na edição final do filme mesmo sob ameaça de demissão
pela produtora Lorimar, é uma das mais polêmicas da história do cinema: podemos
interpretá-la ou como um final poético sobre a pureza do protagonista ou como
um brutal ceticismo que confirmaria as intenções do diretor em inserir algumas
simbologias esotéricas na narrativa.
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