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terça-feira, janeiro 14, 2020
Vítimas do fetiche da Moda e de um vestido assassino em "In Fabric"
terça-feira, janeiro 14, 2020
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No cinema, tomates, carros, camas, refrigeradores e até pneus já se transformaram em objetos assassinos que perseguem seus proprietários. Agora é a vez de um vestido ser assombrado e perseguir os incautos consumidores de uma loja de departamentos que mais parece uma seita secreta neopagã. Uma loja/seita promovida por um hipnótico filme publicitário na TV que convida os telespectadores à celebração do consumo da Moda. Essa sinopse sugere mais um filme de terror trash. Ao contrário, “In Fabric” (2018) nos oferece uma narrativa estranha, ao mesmo tempo non sense e meta-simbólica – uma paródia em humor negro da auto-imagem que a indústria da moda faz de si mesma. Como uma atividade profana que aspira ao Divino e ao Sagrado. “In Fabric” também revela o porquê dessa recorrência de objetos inanimados assassinos no cinema: a nossa relação fetichista com as mercadorias numa sociedade em que as coisas ganham qualidades humanas enquanto as pessoas viram coisas. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
domingo, setembro 17, 2017
Sexo e luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras
domingo, setembro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se até a
explosão do sertanejo e forró eletrônicos as músicas vivam no trinômio Festa,
Sexo e Amor, hoje a parada de sucesso parece viver uma atmosfera mais sombria: de
um lado, nas letras, processos de lutificação (perdas, separações etc.); e do outro
acumulação de uma tensão sexual neurótico-compulsiva. Se revisitarmos as
críticas que Nietzsche fez ao seu ex-amigo, o compositor Richard Wagner,
veremos que guardam uma similaridade com os tempos atuais. Nietzsche via na
música de Wagner uma arte feita para o “homem doente de si mesmo”, que
necessita de três estimulantes psíquicos para sobreviver numa cultura decadente: “a
brutalidade, o artifício e a candura idiotizante”. A estrutura musical da
música de Wagner (leitmotiv, cromatismo extremo etc.) foi precursora da moderna
música de sucesso da indústria cultural. Portanto, na atual trilha musical da
crise brasileira podemos encontrar os elementos Wagnerianos
denunciados por Nietzsche – fragmentação, a sedução, a memória sobreposta a
expressão das emoções, repetição e previsibilidade, o artifício, a brutalidade. Seriam os sinais de uma caminhada para
a “décadence” e niilismo similares a de uma Alemanha que Nietzsche via
caminhando a passos rápidos para o abismo nazi-fascista?
sexta-feira, junho 30, 2017
Quando sorrir soa parecido com gritar em "Helter Skelter"
sexta-feira, junho 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um filme
japonês que trabalha com simbologias alquímicas de transmutação pessoal.
Adaptado de um mangá homônimo e iconografia inspirada no filme “Beleza
Americana”, “Helter Skelter”(Herutâ Sukerutâ, 2012) do diretor e fotografo Mika
Ninagawa é um exemplo de como a cultura japonesa conseguiu filtrar a sociedade
de consumo ocidental através de valores milenares, combinando tudo isso com
cenários futuristas e distópicos: uma top model chamada Lilico, ícone dos
adolescentes conectados 24 horas em dispositivos moveis atrás de mexericos de
famosos, é uma celebridade de capas de revistas, publicidade e TV, cuja beleza
esconde um sinistro segredo – uma clínica de estética com revolucionário método
combinando tráfico de órgão e placentas humanas, no qual corpos são
reconstruídos como verdadeiros frankenteins. Uma modelo que se transforma numa
gueixa pós-moderna, uma máquina de processamento de desejos de milhões. A beleza leva a juventude
para o fundo do poço, onde destruir a si mesmo é a única saída: no caso de
Lilico, quando sorri, na verdade está gritando.
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo.
quarta-feira, dezembro 14, 2016
"Elle Brasil" une Cabala e Tecnognosticismo com modelo robô
quarta-feira, dezembro 14, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na edição de dezembro a revista de moda “Elle
Brasil” figurou na capa a robô Sophia, um dos projetos de inteligência
artificial mais avançados do mundo. Clicada pelo fotografo Bob Wolfeson, a
ideia do editorial era apontar versões para o futuro da indústria da moda. Mas
um robô vestindo roupas vitorianas nada mais fez do que revelar as arquetípicas
e milenares origens da Moda, Estilismo e manequins na longa tradição esotérica
e hermética da Teurgia, Alquimia e a Cabala Extática – uma longa e secreta
história de seres artificiais mágicos como homúnculos, golens e frankensteins.
Até chegar aos atuais manequins das vitrinas de shoppings e modelos vivos das
passarelas – seres ainda “não formados”, à espera do “espírito” (o Estilo) que
lhes dê vida. Assim como o código binário que dá "vida" à robô Sophia. A atual agenda tecnognóstica se encontra com a Moda. Pauta sugerida pelo nosso leitor Nelson Job.
sábado, novembro 05, 2016
Neon e maquiagem mascaram a morte em "Demônio de Neon"
sábado, novembro 05, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O mundo da Moda
como máquina que tritura a inocência e juventude de modelos é um tema nada novo
no cinema. Mas ao contar a história de uma modelo iniciante que entra no
universo de estilistas e fotógrafos de Los Angeles que mais parece um clube
soturno relacionado com o ocultismo de Aleister Crowley ou o satanismo de
Charles Manson, o filme “Demônio de Neon” (2016) aproxima-se da mitologia gnóstica –
rostos robóticos e sorrisos frios de um mundo sem vida que necessita sugar
vitalidade e inocência dos mais jovens. Um mundo que necessita do neon e
maquiagem para criar a aparência de glamour e brilho, para atrair a juventude
que ponha em funcionamento um mundo que aprisiona a todos. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende
quinta-feira, novembro 03, 2016
Anomalias semióticas no II Congresso do Movimento Brasil Livre
quinta-feira, novembro 03, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há
algo estranho no material de divulgação do II Congresso Nacional do Movimento
Brasil Livre, a ser realizado esse mês em São Paulo. Um dos principais
protagonistas no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o MBL divulga uma
rodada de palestras encabeçada pela foto do ministro do STF Gilmar Mendes. Mas
há anomalias semióticas: para começar, a foto com o rosto soturno e patibular do ministro emoldurado por uma composição gráfica de estilo visual vintage e retro-futurista que
lembra alguma coisa entre os créditos de um filme sci-fi dos anos 1970, os bitmaps
de um game Atari ou Nintendo ou capas de discos New Wave dos anos 1980. Para um
movimento que vê a si mesmo como o “novo” e o “futuro”, o que representa esse
irônico futuro retro-vintage? Ato falho? Ou há algo mais? A intenção de
produzir uma comunicação visual deliberadamente pastiche e de mal gosto para
ocultar alguma outra coisa?
domingo, abril 24, 2016
"Isso Muda O Mundo" e as bikes metalinguísticas do Itaú
domingo, abril 24, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Isso muda o mundo” estava estampado em
uma bike patrocinada por um banco que parou ao meu lado em um semáforo. Por que
essa necessidade de sobrecodificar (metalinguagem + fático) nossas experiências
e escolhas através do Marketing? Uma pedalada deixa de ser uma experiência
despretensiosa para tornar-se um gesto autoconsciente que exige comunicação.
Alguns pesquisadores apontam para esse fenômeno de comunicação baseado em uma
nova religião confessional (cujos novos apóstolos são os profissionais da
comunicação) baseada na fé de que a soma de escolhas isoladas resultará em um
mundo melhor. Um mundo onde cada pequeno gesto deve ter um significado
importante para ser comunicado a “Deus”.
sábado, novembro 29, 2014
"Veja São Paulo" detona bomba semiótica na Cracolândia
sábado, novembro 29, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Feios, sujos, malvados e viciados retornam à Cracolândia,
levantando uma mini favela em plena rua do Centro. A grande mídia esfrega as
mãos para denunciar uma suposto fracasso do programa da Prefeitura de São Paulo
“De Braços Abertos”. Assim como os black blocs (úteis na oportuna criação de imagens
midiáticas de caos no País em ano eleitoral) foram glamurizados através de Dani
Pantera e Emma,
agora o “fracasso” na Cracolândia é midiatizado pela personagem da “Cinderela às avessas”, a
ex-modelo Loemy que se tornou viciada em crack e vaga pelas ruas do Centro. Matéria da "Veja
São Paulo" a transforma em mais uma bomba semiótica, assim como foi a “musa”
black bloc Dani Pantera: a bomba da “good-bad girl”. A matéria se mostra menos uma reportagem e
muito mais um sintoma do DNA dos cursos internos de jornalismo da Editora
Abril: a frenética busca por personagens que confirmem narrativas que o próprio
Jornalismo já tem de si mesmo.
- Olá, querida - gritou Joe Louis a sua mulher ao vê-la o esperando no aeroporto de Los Angeles. Ela sorriu enquanto aproximava-se e quando estava a ponto de ficar na ponta dos pés para lhe dar um beijo, deteve-se de pronto.
- Joe, onde está sua gravata? - perguntou.
- Ai, querida - ele desculpou-se encolhendo os ombros - estive fora toda a noite em Nova York e não tive tempo... (...)
Houve uma
época em que jornalistas buscavam personagens (como o protagonista desse
diálogo, o boxeador Joe Louis) para mostrar o lado humano de figuras que o
tradicional texto jornalístico não permitia. Nesse texto da revista Esquire em 1962, Gay Talese (um dos
precursores do chamado Novo Jornalismo –
gênero jornalístico do início dos anos 60 nos EUA que misturava narrativa
jornalística com estilo literário) procurava mostrar o lado humano de um
campeão de boxe capaz de expressar fragilidade ao encolher os ombros em uma
pequena discussão com sua mulher no aeroporto.
quarta-feira, maio 28, 2014
A bomba semiótica fashion da Ellus
quarta-feira, maio 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Modelos
vestindo uma camiseta onde se lia “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Dessa forma
terminava o desfile da Ellus no último SPFW após um desfile repleto de signos
militares estilizados. Mais tarde, a irônica foto da mesma camiseta na vitrine
de uma loja da grife tendo ao lado um manequim carregando uma blusa com o
icônico Mickey Mouse estampado. Essa é a mais nova bomba semiótica, dessa vez
fashion. E por que? Porque o niilismo político é fashion, assim como os
radicais chics com o seu visual “heroin hero”. Desde que o dandismo morreu com
Oscar Wilde, a moda sente a necessidade de expiar o fantasma da sua suposta
futilidade e superficialidade. O niilismo político da camiseta que protesta contra
o “Brasil Atrasado” é a reedição da estratégia de tornar a moda supostamente sintonizada
com a realidade do seu tempo, assim como Viviene Westwood fez com o Punk. E
para isso, a Ellus foi buscar na atmosfera turva e tensa da atualidade o mote
para tentar mostrar que Moda possui alguma relevância política.
Em uma vitrine
de uma loja da grife Ellus em um shopping na Zona Sul do Rio de Janeiro vemos
vários manequins com modelos da marca. Chama a atenção uma camiseta preta com
os dizeres “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Ironicamente, ao lado vemos outro
manequim com uma blusa em que vemos o icônico personagem do Mickey Mouse
estampado.
A engajada
camiseta teve sua estreia no desfile da coleção Primavera-Verão 2014-15 no São
Paulo Fashion Week (SPFW) em abril desse ano, com toda pompa e circunstância,
com direito até a “carta-manifesto”. Ciceroneado pelo galã global Cauã Reymond,
ele entra na passarela ao final com os fashionistas Adriana Bozon, Lea T., Laís
Ribeiro e Rodolfo Murilo, todos vestindo a engajada camiseta da Ellus, para
finalizar com uma selfie diante dos
fotógrafos.
A “carta-manifesto”
(na verdade uma colcha de retalhos com os principais mantras repercutidos por
redes sociais e nas colunas econômicas da grande mídia) fala em “Brasil=ineficiência,
improdutividade”, “custo Brasil”, “políticos e governos antiquados”,
“protecionismo” e a ameaça de ficarmos “isolados nas geleiras do Polo Sul”.
terça-feira, dezembro 31, 2013
Ano novo, cigarros e o fim da geração MTV no filme "200 Cigarettes"
terça-feira, dezembro 31, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as
mudanças da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z. Por que na virada
para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico, cuja história
se passa na noite de ano novo de 1981? “200 Cigarettes” é o testamento de uma
geração que a MTV soube muito bem moldar, aquela que acreditava que a própria
vida poderia ser um vídeo clip. Porém, não esperava que a cultura punk DIY (Do
It Yourself – “faça você mesmo”) que ela ajudou a destruir com a cultura pop
retornaria como vingança, dessa vez renascida pela Internet 2.0. Mas o mal
estar da incomunicabilidade permanece porque os meios digitais se tornaram nada
mais do que uma nova plataforma comercial.
Dependendo
da faixa etária ou geracional do leitor, assistir ao filme 200 Cigarettes nessa
véspera de ano novo poderá trazer diferentes experiências em relação ao tempo:
se for da geração desse humilde blogueiro (a chamada Geração X) que viveu a
pós-adolescência sob o impacto da ascensão da cultura videoclip e cultura pop
criada pela MTV a partir de 1980, a sensação será nostálgica como se olhasse
para uma época perdida no tempo; se for da geração Y, achará um filme estranho,
com um monte de jovens com roupas exóticas que identificam sua tribo urbana, e
a única coisa que você reconhecerá no meio de tudo isso é a cantora Courtney
Love (a viúva de Kurt Cobain e da música grunge) interpretando ela mesma; e se
for da chamada geração Z , achará tudo ainda mais esquisito, com gente fumando
o tempo inteiro, que depende de telefone público e lista telefônica para se
localizar e pessoas extremamente maneiristas e preocupadas com seu visual.
O
filme 200 Cigarettes, foi uma
produção da MTV de 1999, mas a narrativa se passa em 1981, em uma noite de
véspera de ano novo. Por que às vésperas do terceiro milênio, a MTV produziu um
filme tão nostálgico? Na verdade, o filme parece ser uma série de vídeo clips
dentro de um grande vídeo clip – a trilha musical é composta por mais de 50
músicas da época, todas elas exibidas pela MTV naquele ano. Por que tanta
nostalgia de uma emissora cuja imagem sempre esteve associada com a revolução,
modernidade e tecnologia?
domingo, setembro 29, 2013
De Hitler aos Hippies: a Kombi no cinema em dez filmes
domingo, setembro 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Volkswagen anunciou o encerramento da
produção da Kombi no Brasil, o último país que ainda produzia esse veículo.
Junto com o fusca, a Kombi transformou-se em um arquétipo moderno e o significante cultural
de uma constelação de conceitos que vão da esfera política às noções
espirituais de jornada e liberdade. A presença da Kombi no cinema vai refletir
esse imaginário irônico onde, apesar de nascido de um projeto nacionalista de
Hitler e depois sintonizado com o lazer e o consumo individualista de
pós-guerra, transformou-se em ícone da contracultura e representante de um
estilo de vida antimaterialista e solidário. Abaixo, uma lista de dez filmes
onde a Kombi é um personagem cinematográfico com seus múltiplos simbolismos.
Ao lado do fusca, foi o veículo
que fez parte do imaginário de uma geração. A Kombi (abreviação da expressão
alemã “kombinationsfahrzeug” – traduzindo, “van cargo-passageiro”), nos EUA
chamada de VW Bus, acabou tornando-se
mais do que um veículo de transporte: deu colorido e ressonância à cultura
moderna, transformando-se em um arquétipo cultural, significante de uma
constelação de conceitos que vai da esfera política (contracultura e a ética
anticonsumista) à espiritual (viagem e liberdade).
O
Brasil era o único país que ainda produzia esse veículo. Mas, segundo a
Volkswagen, a produção será encerrada dia 31 de dezembro desse ano com a
produção de uma última série limitada e comemorativa unindo todas as
características de design das várias versões da Kombi nesses 63 anos.
sexta-feira, janeiro 11, 2013
A dialética da libertação no filme "O Golpista do Ano"
sexta-feira, janeiro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Todas as interpretações dos críticos sobre “O Golpista do Ano” (I Love
You Phillip Morris, 2009) parecem se esquecer de uma frase dita pelo
protagonista que é o grande mote do filme: “ser gay é realmente muito caro!”. A
ironia social contida nessa frase refletiria uma espécie de “dialética da
libertação” recorrente em cada movimento de contestação:
dominação-rebelião-dominação. Assim como na História cada contestação a um
sistema de dominação traria dentro de si a contra-revolução, da mesma forma o
movimento progressista LGBT ironicamente se transformou no modelo ideal de
consumidores em uma sociedade de consumo globalizada: consumidores perfeitos
porque liquidaram simbolicamente a ordem patriarcal estática e anacrônica para
os propósitos de um novo capitalismo caracterizado pela fluidez generalizada de
valores, corpos e informação.
“A indignação contra a
manipulação é o último scoop patrocinado pela ideologia” (Massimo Canevacci, Antropologia do Cinema)
Steven
Russell (Jim Carrey) sempre foi homossexual. Mas todas as características
desejadas de uma vida familiar bem sucedida ajudaram a encobrir isso:
ex-oficial da polícia, honesto, pai de família exemplar, bem-casado e
religioso. Mas um violento acidente de carro sacode sua vida o suficiente para decidir
não mais sustentar a farsa e joga tudo para o alto para fugir no mundo e
assumir seu verdadeiro Eu, que é ser um homem gay.
Muda-se
para Miami onde conhece seu namorado chamado Jimmy (Rodrigo Santoro) e passa a
viver um luxuoso “gay life style” desfilando com coloridas roupas de grife e
conduzindo dois mini pinchers através de alamedas repletas de bares,
restaurantes e lojas. E qual o único problema dessa nova vida? “Ser gay é
realmente muito caro!”, conclui Steven.
quarta-feira, dezembro 05, 2012
A dialética da família: de "Charlie e Lola" aos "Simpsons"
quarta-feira, dezembro 05, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O irmão mais velho
assume a imagem de mentor outrora ocupada pelos pais; duas meninas demonstram
poder desenvolver valores sem a necessidade de qualquer tipo de influencia de
adultos; e em outro caso um personagem no papel de pai cuja autoridade é
rebaixada pela sua absoluta incapacidade de lidar com as tecnologias que o
cercam. Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi desenvolvida por alunos da
graduação da Escola de Comunicação encontra nas animações infantis, adolescentes
e adultas a recorrência não só do desaparecimento simbólico ou mesmo literal da
figura dos pais como, também, do anacronismo ou deficiência em desempenhar os
papéis que deveriam ocupar na formação social dos filhos. Além disso,
personagens e narrativas expressariam a chamada "dialética da família" contemporânea: a crítica à autoridade patriarcal como anacrônica e autoritária
ao lado de um modelo familiar igualitário e liberal foram historicamente
emancipadores, mas, por outro lado, expôs as novas gerações às insidiosas e
sedutoras novas formas de manipulação.
Em postagem recente intitulada
“Por que os pais desapareceram do imaginário infantil?” discutíamos como o
anacronismo da família como agencia socializadora, suplantada pela indústria
cultural das celebridades e entretenimento ao oferecer novos modelos de
“super-pais”, estava sendo representado por animações infantis onde se verifica
uma significativa recorrência de situações onde os pais desaparecem
simbolicamente e até mesmo fisicamente.
O grupo de estudantes formados
por Ana Lucia Borsari, Eduardo Gomes, Laryssa Valverde, Leonardo Salles e
Nicolas Gomes da graduação da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi
Morumbi (UAM/SP) decidiu então aprofundar a discussão do post em um trabalho de
iniciação científica para a disciplina Estudos da Semiótica, procurando matizar
as animações em três tipos de públicos: infantis, adolescentes e adultos.
Respectivamente, o universo da pesquisa foram “Backyardgans”, Charlie e Lola,
Pink, Dink Doo”e “Milly e Molly”; Os Flintstones e os Jetsons; e o último grupo
“Os Simpsons” e “Uma Família da Pesada”.
segunda-feira, novembro 12, 2012
Os idosos nada têm a dizer na mídia
segunda-feira, novembro 12, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando o
envelhecimento e a morte deixam de ser simbolicamente incorporados na cultura
por meio de religiões e filosofias, o discurso midiático parece insistentemente
querer demonstrar que a velhice não existe, que é tudo uma questão de atitude
psicológica. Gerontologia, geriatria, engenharia genética e todo um aparato
tecno-científico é atualmente mobilizado para, associado à mídia, apresentar
sensacionais “lições de vida” e “superações”: idosos em praticas e comportamentos
análogos ao dos jovens criando não apenas uma aversão aos processos naturais de
envelhecimento mas, principalmente, a crise da função dos idosos como “elo
geracional”: a transmissão de sabedoria e conhecimento acumulados em uma
existência.
sexta-feira, agosto 17, 2012
O drama subliminar da música de sucesso
sexta-feira, agosto 17, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A música popular de
sucesso esconde um drama subliminar: a tensão entre o beat, ritmo, melodia e
harmonia. E essa tensão é resolvida pelas seguintes maneiras: imposição de uma
estrutura circular, o tempo padrão, a linguagem tatibitate e dependência oral e
a auto-referência. Se Freud estiver correto ao afirmar que toda produção
simbólica humana como a arte, religião e mitologia partilham do mesmo processo
primário da elaboração neurótica do inconsciente como o devaneio, o sonho e o
pensamento infantil, essa tensão presente na música seria aquela existente
entre inconsciente e sociedade. A diferença, é que no hit popular essa tensão é
mais ampla: a luta entre as necessidades mercadológicas da indústria do
entretenimento e a liberdade.
“Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló, “Vem Dançar com Tudo” de
Robson Moura e Lino Krizz (tema da novela "Avenida Brasil" da TV Globo) e “Eu
Quero Tchu Eu Quero Tcha” de João Lucas e Marcelo. Por mais que torçamos o
nariz para esses hits efêmeros, temos que admitir que esses produtos midiáticos
expõem de forma explícita os mecanismos de criação da indústria do
entretenimento. São exemplos didáticos pelo seu esquematismo, repetição e
clichê.
Ouvir essas músicas não é apenas um tipo de entretenimento,
mas em termos de conteúdo significa viver. Numa análise estrutural da harmonia
das canções populares percebe-se uma estrutura básica periódica ou cíclica
refrões e riffs que se repetem criando uma tensão que aprisiona a melodia. A
música termina sempre exatamente onde começou, o que explica, em geral, o final
da canção terminar lentamente em BG: nenhum processo é concluído porque nada
aconteceu.
Para pesquisadores alemães sobre a canção de massas como S. Schädler (“Das Zyklische und das Repetitive: Zur Struktur populärer Musik” In: Prokop,
Dieter: Medienforschung, 2011) e Carmen Lakaschus (“Die Kommunikationswirkung des
Werbefernsehens”, Bauer, 1973) , o tempo cíclico das canções corresponde à própria
natureza cíclica dos eventos da vida cotidiana: amor, objetos, sexualidade,
natureza etc.
Ao analisar o fenômeno da música de massas esses pesquisadores aproximam-se
bastante das ideias sobre emoção estética em Freud como descarga (neurótica) de
intensidades afetivas por meio de condensações e deslocamentos (em termos
linguísticos por metáforas e metonímias). Schadler faz uma interessante análise
estrutural da canção popular ao descrever uma espécie de “drama subliminar” que
ocorreria no interior de cada sucesso: afetos, emoções, aspirações e desejos em
tensão com a ordem social do tempo cíclico e repetitivo das normas e demandas sociais,
representados na música na tensão entre ritmo, riffs e refrões cíclicos que
confinam da melodia.
domingo, julho 08, 2012
A história secreta da Moda e dos manequins
domingo, julho 08, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os modernos manequins nas
vitrines dos shoppings são herdeiros de uma longa tradição do fascínio humano
por bonecos, fantoches, autômatos e demais simulacros humanos. Esse fascínio
teria suas origens mágicas e herméticas na Teurgia e Alquimia. Se isso for
verdadeiro, a história dos manequins revelaria uma nova narrativa sobre a Moda
que vai além dos tradicionais discursos antropológico e semiótico/linguístico.
Uma narrativa que descreveria a história de como o corpo humano foi ao poucos
transformado em um “golem” (o “não formado”): um corpo inanimado à espera de um
Espírito (o “Estilo”) que lhe traga a vida.
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