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terça-feira, janeiro 14, 2020

Vítimas do fetiche da Moda e de um vestido assassino em "In Fabric"


No cinema, tomates, carros, camas, refrigeradores e até pneus já se transformaram em objetos assassinos que perseguem seus proprietários. Agora é a vez de um vestido ser assombrado e perseguir os incautos consumidores de uma loja de departamentos que mais parece uma seita secreta neopagã. Uma loja/seita promovida por um hipnótico filme publicitário na TV que convida os telespectadores à celebração do consumo da Moda. Essa sinopse sugere mais um filme de terror trash. Ao contrário, “In Fabric” (2018) nos oferece uma narrativa estranha, ao mesmo tempo non sense e meta-simbólica – uma paródia em humor negro da auto-imagem que a indústria da moda faz de si mesma. Como uma atividade profana que aspira ao Divino e ao Sagrado. “In Fabric” também revela o porquê dessa recorrência de objetos inanimados assassinos no cinema: a nossa relação fetichista com as mercadorias numa sociedade em que as coisas ganham qualidades humanas enquanto as pessoas viram coisas. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

domingo, setembro 17, 2017

Sexo e luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras

Se até a explosão do sertanejo e forró eletrônicos as músicas vivam no trinômio Festa, Sexo e Amor, hoje a parada de sucesso parece viver uma atmosfera mais sombria: de um lado, nas letras, processos de lutificação (perdas, separações etc.); e do outro acumulação de uma tensão sexual neurótico-compulsiva. Se revisitarmos as críticas que Nietzsche fez ao seu ex-amigo, o compositor Richard Wagner, veremos que guardam uma similaridade com os tempos atuais. Nietzsche via na música de Wagner uma arte feita para o “homem doente de si mesmo”, que necessita de três estimulantes psíquicos para sobreviver numa cultura decadente: “a brutalidade, o artifício e a candura idiotizante”. A estrutura musical da música de Wagner (leitmotiv, cromatismo extremo etc.) foi precursora da moderna música de sucesso da indústria cultural. Portanto, na atual trilha musical da crise brasileira podemos encontrar os elementos Wagnerianos denunciados por Nietzsche – fragmentação, a sedução, a memória sobreposta a expressão das emoções, repetição e previsibilidade, o artifício, a brutalidade. Seriam os sinais de uma caminhada para a “décadence” e niilismo similares a de uma Alemanha que Nietzsche via caminhando a passos rápidos para o abismo nazi-fascista? 

sexta-feira, junho 30, 2017

Quando sorrir soa parecido com gritar em "Helter Skelter"


Mais um filme japonês que trabalha com simbologias alquímicas de transmutação pessoal. Adaptado de um mangá homônimo e iconografia inspirada no filme “Beleza Americana”, “Helter Skelter”(Herutâ Sukerutâ, 2012) do diretor e fotografo Mika Ninagawa é um exemplo de como a cultura japonesa conseguiu filtrar a sociedade de consumo ocidental através de valores milenares, combinando tudo isso com cenários futuristas e distópicos: uma top model chamada Lilico, ícone dos adolescentes conectados 24 horas em dispositivos moveis atrás de mexericos de famosos, é uma celebridade de capas de revistas, publicidade e TV, cuja beleza esconde um sinistro segredo – uma clínica de estética com revolucionário método combinando tráfico de órgão e placentas humanas, no qual corpos são reconstruídos como verdadeiros frankenteins. Uma modelo que se transforma numa gueixa pós-moderna, uma máquina de processamento de  desejos de milhões. A beleza leva a juventude para o fundo do poço, onde destruir a si mesmo é a única saída: no caso de Lilico, quando sorri, na verdade está gritando.

segunda-feira, janeiro 23, 2017

Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno


Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica  dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo. 

quarta-feira, dezembro 14, 2016

"Elle Brasil" une Cabala e Tecnognosticismo com modelo robô


Na edição de dezembro a revista de moda “Elle Brasil” figurou na capa a robô Sophia, um dos projetos de inteligência artificial mais avançados do mundo. Clicada pelo fotografo Bob Wolfeson, a ideia do editorial era apontar versões para o futuro da indústria da moda. Mas um robô vestindo roupas vitorianas nada mais fez do que revelar as arquetípicas e milenares origens da Moda, Estilismo e manequins na longa tradição esotérica e hermética da Teurgia, Alquimia e a Cabala Extática – uma longa e secreta história de seres artificiais mágicos como homúnculos, golens e frankensteins. Até chegar aos atuais manequins das vitrinas de shoppings e modelos vivos das passarelas – seres ainda “não formados”, à espera do “espírito” (o Estilo) que lhes dê vida. Assim como o código binário que dá "vida" à robô Sophia. A atual agenda tecnognóstica se encontra com a Moda.  Pauta sugerida pelo nosso leitor Nelson Job.

sábado, novembro 05, 2016

Neon e maquiagem mascaram a morte em "Demônio de Neon"


O mundo da Moda como máquina que tritura a inocência e juventude de modelos é um tema nada novo no cinema. Mas ao contar a história de uma modelo iniciante que entra no universo de estilistas e fotógrafos de Los Angeles que mais parece um clube soturno relacionado com o ocultismo de Aleister Crowley ou o satanismo de Charles Manson, o filme “Demônio de Neon” (2016) aproxima-se da mitologia gnóstica – rostos robóticos e sorrisos frios de um mundo sem vida que necessita sugar vitalidade e inocência dos mais jovens. Um mundo que necessita do neon e maquiagem para criar a aparência de glamour e brilho, para atrair a juventude que ponha em funcionamento um mundo que aprisiona a todos. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende

quinta-feira, novembro 03, 2016

Anomalias semióticas no II Congresso do Movimento Brasil Livre


Há algo estranho no material de divulgação do II Congresso Nacional do Movimento Brasil Livre, a ser realizado esse mês em São Paulo. Um dos principais protagonistas no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o MBL divulga uma rodada de palestras encabeçada pela foto do ministro do STF Gilmar Mendes. Mas há anomalias semióticas: para começar, a foto com o rosto soturno e patibular do ministro emoldurado por uma composição gráfica de estilo visual vintage e retro-futurista que lembra alguma coisa entre os créditos de um filme sci-fi dos anos 1970, os bitmaps de um game Atari ou Nintendo ou capas de discos New Wave dos anos 1980. Para um movimento que vê a si mesmo como o “novo” e o “futuro”, o que representa esse irônico futuro retro-vintage? Ato falho? Ou há algo mais? A intenção de produzir uma comunicação visual deliberadamente pastiche e de mal gosto para ocultar alguma outra coisa?

domingo, abril 24, 2016

"Isso Muda O Mundo" e as bikes metalinguísticas do Itaú


“Isso muda o mundo” estava estampado em uma bike patrocinada por um banco que parou ao meu lado em um semáforo. Por que essa necessidade de sobrecodificar (metalinguagem + fático) nossas experiências e escolhas através do Marketing? Uma pedalada deixa de ser uma experiência despretensiosa para tornar-se um gesto autoconsciente que exige comunicação. Alguns pesquisadores apontam para esse fenômeno de comunicação baseado em uma nova religião confessional (cujos novos apóstolos são os profissionais da comunicação) baseada na fé de que a soma de escolhas isoladas resultará em um mundo melhor. Um mundo onde cada pequeno gesto deve ter um significado importante para ser comunicado a “Deus”.

sábado, novembro 29, 2014

"Veja São Paulo" detona bomba semiótica na Cracolândia

Feios, sujos, malvados e viciados retornam à Cracolândia, levantando uma mini favela em plena rua do Centro. A grande mídia esfrega as mãos para denunciar uma suposto fracasso do programa da Prefeitura de São Paulo “De Braços Abertos”. Assim como os black blocs (úteis na oportuna criação de imagens midiáticas de caos no País em ano eleitoral) foram glamurizados através de Dani Pantera e Emma, agora o “fracasso” na Cracolândia é midiatizado pela personagem da “Cinderela às avessas”, a ex-modelo Loemy que se tornou viciada em crack e vaga pelas ruas do Centro. Matéria da "Veja São Paulo" a transforma em mais uma bomba semiótica, assim como foi a “musa” black bloc Dani Pantera: a bomba da “good-bad girl”.  A matéria se mostra menos uma reportagem e muito mais um sintoma do DNA dos cursos internos de jornalismo da Editora Abril: a frenética busca por personagens que confirmem narrativas que o próprio Jornalismo já tem de si mesmo.

- Olá, querida - gritou Joe Louis a sua mulher ao vê-la o esperando no aeroporto de Los Angeles. Ela sorriu enquanto aproximava-se e quando estava a ponto de ficar na ponta dos pés para lhe dar um beijo, deteve-se de pronto.
- Joe, onde está sua gravata? - perguntou.
- Ai, querida - ele desculpou-se encolhendo os ombros - estive fora toda a noite em Nova York e não tive tempo... (...)

Houve uma época em que jornalistas buscavam personagens (como o protagonista desse diálogo, o boxeador Joe Louis) para mostrar o lado humano de figuras que o tradicional texto jornalístico não permitia. Nesse texto da revista Esquire em 1962, Gay Talese (um dos precursores do chamado Novo Jornalismo – gênero jornalístico do início dos anos 60 nos EUA que misturava narrativa jornalística com estilo literário) procurava mostrar o lado humano de um campeão de boxe capaz de expressar fragilidade ao encolher os ombros em uma pequena discussão com sua mulher no aeroporto.

quarta-feira, maio 28, 2014

A bomba semiótica fashion da Ellus

Modelos vestindo uma camiseta onde se lia “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Dessa forma terminava o desfile da Ellus no último SPFW após um desfile repleto de signos militares estilizados. Mais tarde, a irônica foto da mesma camiseta na vitrine de uma loja da grife tendo ao lado um manequim carregando uma blusa com o icônico Mickey Mouse estampado. Essa é a mais nova bomba semiótica, dessa vez fashion. E por que? Porque o niilismo político é fashion, assim como os radicais chics com o seu visual “heroin hero”. Desde que o dandismo morreu com Oscar Wilde, a moda sente a necessidade de expiar o fantasma da sua suposta futilidade e superficialidade. O niilismo político da camiseta que protesta contra o “Brasil Atrasado” é a reedição da estratégia de tornar a moda supostamente sintonizada com a realidade do seu tempo, assim como Viviene Westwood fez com o Punk. E para isso, a Ellus foi buscar na atmosfera turva e tensa da atualidade o mote para tentar mostrar que Moda possui alguma relevância política.

Em uma vitrine de uma loja da grife Ellus em um shopping na Zona Sul do Rio de Janeiro vemos vários manequins com modelos da marca. Chama a atenção uma camiseta preta com os dizeres “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Ironicamente, ao lado vemos outro manequim com uma blusa em que vemos o icônico personagem do Mickey Mouse estampado.

A engajada camiseta teve sua estreia no desfile da coleção Primavera-Verão 2014-15 no São Paulo Fashion Week (SPFW) em abril desse ano, com toda pompa e circunstância, com direito até a “carta-manifesto”. Ciceroneado pelo galã global Cauã Reymond, ele entra na passarela ao final com os fashionistas Adriana Bozon, Lea T., Laís Ribeiro e Rodolfo Murilo, todos vestindo a engajada camiseta da Ellus, para finalizar com uma selfie diante dos fotógrafos.

A “carta-manifesto” (na verdade uma colcha de retalhos com os principais mantras repercutidos por redes sociais e nas colunas econômicas da grande mídia) fala em “Brasil=ineficiência, improdutividade”, “custo Brasil”, “políticos e governos antiquados”, “protecionismo” e a ameaça de ficarmos “isolados nas geleiras do Polo Sul”.

terça-feira, dezembro 31, 2013

Ano novo, cigarros e o fim da geração MTV no filme "200 Cigarettes"


O filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z. Por que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200 Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar, aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip. Porém, não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma comercial.

Dependendo da faixa etária ou geracional do leitor, assistir ao filme 200 Cigarettes nessa véspera de ano novo poderá trazer diferentes experiências em relação ao tempo: se for da geração desse humilde blogueiro (a chamada Geração X) que viveu a pós-adolescência sob o impacto da ascensão da cultura videoclip e cultura pop criada pela MTV a partir de 1980, a sensação será nostálgica como se olhasse para uma época perdida no tempo; se for da geração Y, achará um filme estranho, com um monte de jovens com roupas exóticas que identificam sua tribo urbana, e a única coisa que você reconhecerá no meio de tudo isso é a cantora Courtney Love (a viúva de Kurt Cobain e da música grunge) interpretando ela mesma; e se for da chamada geração Z , achará tudo ainda mais esquisito, com gente fumando o tempo inteiro, que depende de telefone público e lista telefônica para se localizar e pessoas extremamente maneiristas e preocupadas com seu visual.

O filme 200 Cigarettes, foi uma produção da MTV de 1999, mas a narrativa se passa em 1981, em uma noite de véspera de ano novo. Por que às vésperas do terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico? Na verdade, o filme parece ser uma série de vídeo clips dentro de um grande vídeo clip – a trilha musical é composta por mais de 50 músicas da época, todas elas exibidas pela MTV naquele ano. Por que tanta nostalgia de uma emissora cuja imagem sempre esteve associada com a revolução, modernidade e tecnologia?

domingo, setembro 29, 2013

De Hitler aos Hippies: a Kombi no cinema em dez filmes


A Volkswagen anunciou o encerramento da produção da Kombi no Brasil, o último país que ainda produzia esse veículo. Junto com o fusca, a Kombi transformou-se em um arquétipo moderno e o significante cultural de uma constelação de conceitos que vão da esfera política às noções espirituais de jornada e liberdade. A presença da Kombi no cinema vai refletir esse imaginário irônico onde, apesar de nascido de um projeto nacionalista de Hitler e depois sintonizado com o lazer e o consumo individualista de pós-guerra, transformou-se em ícone da contracultura e representante de um estilo de vida antimaterialista e solidário. Abaixo, uma lista de dez filmes onde a Kombi é um personagem cinematográfico com seus múltiplos simbolismos.

Ao lado do fusca, foi o veículo que fez parte do imaginário de uma geração. A Kombi (abreviação da expressão alemã “kombinationsfahrzeug” – traduzindo, “van cargo-passageiro”), nos EUA chamada de VW Bus, acabou tornando-se mais do que um veículo de transporte: deu colorido e ressonância à cultura moderna, transformando-se em um arquétipo cultural, significante de uma constelação de conceitos que vai da esfera política (contracultura e a ética anticonsumista) à espiritual (viagem e liberdade).

                O Brasil era o único país que ainda produzia esse veículo. Mas, segundo a Volkswagen, a produção será encerrada dia 31 de dezembro desse ano com a produção de uma última série limitada e comemorativa unindo todas as características de design das várias versões da Kombi nesses 63 anos.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

A dialética da libertação no filme "O Golpista do Ano"

Todas as interpretações dos críticos sobre “O Golpista do Ano” (I Love You Phillip Morris, 2009) parecem se esquecer de uma frase dita pelo protagonista que é o grande mote do filme: “ser gay é realmente muito caro!”. A ironia social contida nessa frase refletiria uma espécie de “dialética da libertação” recorrente em cada movimento de contestação: dominação-rebelião-dominação. Assim como na História cada contestação a um sistema de dominação traria dentro de si a contra-revolução, da mesma forma o movimento progressista LGBT ironicamente se transformou no modelo ideal de consumidores em uma sociedade de consumo globalizada: consumidores perfeitos porque liquidaram simbolicamente a ordem patriarcal estática e anacrônica para os propósitos de um novo capitalismo caracterizado pela fluidez generalizada de valores, corpos e informação.

“A indignação contra a manipulação é o último scoop patrocinado pela ideologia” (Massimo Canevacci, Antropologia do Cinema)

Steven Russell (Jim Carrey) sempre foi homossexual. Mas todas as características desejadas de uma vida familiar bem sucedida ajudaram a encobrir isso: ex-oficial da polícia, honesto, pai de família exemplar, bem-casado e religioso. Mas um violento acidente de carro sacode sua vida o suficiente para decidir não mais sustentar a farsa e joga tudo para o alto para fugir no mundo e assumir seu verdadeiro Eu, que é ser um homem gay.

Muda-se para Miami onde conhece seu namorado chamado Jimmy (Rodrigo Santoro) e passa a viver um luxuoso “gay life style” desfilando com coloridas roupas de grife e conduzindo dois mini pinchers através de alamedas repletas de bares, restaurantes e lojas. E qual o único problema dessa nova vida? “Ser gay é realmente muito caro!”, conclui Steven.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

A dialética da família: de "Charlie e Lola" aos "Simpsons"

O irmão mais velho assume a imagem de mentor outrora ocupada pelos pais; duas meninas demonstram poder desenvolver valores sem a necessidade de qualquer tipo de influencia de adultos; e em outro caso um personagem no papel de pai cuja autoridade é rebaixada pela sua absoluta incapacidade de lidar com as tecnologias que o cercam. Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi desenvolvida por alunos da graduação da Escola de Comunicação encontra nas animações infantis, adolescentes e adultas a recorrência não só do desaparecimento simbólico ou mesmo literal da figura dos pais como, também, do anacronismo ou deficiência em desempenhar os papéis que deveriam ocupar na formação social dos filhos. Além disso, personagens e narrativas expressariam a chamada "dialética da família" contemporânea: a crítica à autoridade patriarcal como anacrônica e autoritária ao lado de um modelo familiar igualitário e liberal foram historicamente emancipadores, mas, por outro lado, expôs as novas gerações às insidiosas e sedutoras novas formas de manipulação.

Em postagem recente intitulada “Por que os pais desapareceram do imaginário infantil?” discutíamos como o anacronismo da família como agencia socializadora, suplantada pela indústria cultural das celebridades e entretenimento ao oferecer novos modelos de “super-pais”, estava sendo representado por animações infantis onde se verifica uma significativa recorrência de situações onde os pais desaparecem simbolicamente e até mesmo fisicamente.  

O grupo de estudantes formados por Ana Lucia Borsari, Eduardo Gomes, Laryssa Valverde, Leonardo Salles e Nicolas Gomes da graduação da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/SP) decidiu então aprofundar a discussão do post em um trabalho de iniciação científica para a disciplina Estudos da Semiótica, procurando matizar as animações em três tipos de públicos: infantis, adolescentes e adultos. Respectivamente, o universo da pesquisa foram “Backyardgans”, Charlie e Lola, Pink, Dink Doo”e “Milly e Molly”; Os Flintstones e os Jetsons; e o último grupo “Os Simpsons” e “Uma Família da Pesada”.

segunda-feira, novembro 12, 2012

Os idosos nada têm a dizer na mídia


Quando o envelhecimento e a morte deixam de ser simbolicamente incorporados na cultura por meio de religiões e filosofias, o discurso midiático parece insistentemente querer demonstrar que a velhice não existe, que é tudo uma questão de atitude psicológica. Gerontologia, geriatria, engenharia genética e todo um aparato tecno-científico é atualmente mobilizado para, associado à mídia, apresentar sensacionais “lições de vida” e “superações”: idosos em praticas e comportamentos análogos ao dos jovens criando não apenas uma aversão aos processos naturais de envelhecimento mas, principalmente, a crise da função dos idosos como “elo geracional”: a transmissão de sabedoria e conhecimento acumulados em uma existência.

sexta-feira, agosto 17, 2012

O drama subliminar da música de sucesso

A música popular de sucesso esconde um drama subliminar: a tensão entre o beat, ritmo, melodia e harmonia. E essa tensão é resolvida pelas seguintes maneiras: imposição de uma estrutura circular, o tempo padrão, a linguagem tatibitate e dependência oral e a auto-referência. Se Freud estiver correto ao afirmar que toda produção simbólica humana como a arte, religião e mitologia partilham do mesmo processo primário da elaboração neurótica do inconsciente como o devaneio, o sonho e o pensamento infantil, essa tensão presente na música seria aquela existente entre inconsciente e sociedade. A diferença, é que no hit popular essa tensão é mais ampla: a luta entre as necessidades mercadológicas da indústria do entretenimento e a liberdade.

“Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló, “Vem Dançar com Tudo” de Robson Moura e Lino Krizz (tema da novela "Avenida Brasil" da TV Globo) e “Eu Quero Tchu Eu Quero Tcha” de João Lucas e Marcelo. Por mais que torçamos o nariz para esses hits efêmeros, temos que admitir que esses produtos midiáticos expõem de forma explícita os mecanismos de criação da indústria do entretenimento. São exemplos didáticos pelo seu esquematismo, repetição e clichê.

Ouvir essas músicas não é apenas um tipo de entretenimento, mas em termos de conteúdo significa viver. Numa análise estrutural da harmonia das canções populares percebe-se uma estrutura básica periódica ou cíclica refrões e riffs que se repetem criando uma tensão que aprisiona a melodia. A música termina sempre exatamente onde começou, o que explica, em geral, o final da canção terminar lentamente em BG: nenhum processo é concluído porque nada aconteceu.

Para pesquisadores alemães sobre a canção de massas como S. Schädler (“Das Zyklische und das Repetitive: Zur Struktur populärer Musik” In: Prokop, Dieter: Medienforschung, 2011) e Carmen  Lakaschus (“Die Kommunikationswirkung des Werbefernsehens”, Bauer, 1973) , o tempo cíclico das canções corresponde à própria natureza cíclica dos eventos da vida cotidiana: amor, objetos, sexualidade, natureza etc.


Ao analisar o fenômeno da música de massas esses pesquisadores aproximam-se bastante das ideias sobre emoção estética em Freud como descarga (neurótica) de intensidades afetivas por meio de condensações e deslocamentos (em termos linguísticos por metáforas e metonímias). Schadler faz uma interessante análise estrutural da canção popular ao descrever uma espécie de “drama subliminar” que ocorreria no interior de cada sucesso: afetos, emoções, aspirações e desejos em tensão com a ordem social do tempo cíclico e repetitivo das normas e demandas sociais, representados na música na tensão entre ritmo, riffs e refrões cíclicos que confinam da melodia.

domingo, julho 08, 2012

A história secreta da Moda e dos manequins



Os modernos manequins nas vitrines dos shoppings são herdeiros de uma longa tradição do fascínio humano por bonecos, fantoches, autômatos e demais simulacros humanos. Esse fascínio teria suas origens mágicas e herméticas na Teurgia e Alquimia. Se isso for verdadeiro, a história dos manequins revelaria uma nova narrativa sobre a Moda que vai além dos tradicionais discursos antropológico e semiótico/linguístico. Uma narrativa que descreveria a história de como o corpo humano foi ao poucos transformado em um “golem” (o “não formado”): um corpo inanimado à espera de um Espírito (o “Estilo”) que lhe traga a vida.

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