Nessa segunda-feira este
humilde blogueiro participou da oficina “Guerra Semiótica, Políticas Sociais e
Saúde” após gentil convite da pesquisadora Letícia Krauss, coordenadora do
evento. A oficina foi no CEE-Fiocruz (Centro de Estudos Estratégicos da
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro). Procurei fazer um comparativo entre as
ações da direita e esquerda, no espectro político, dentro do campo da
comunicação. O problema: enquanto a esquerda mal compreendeu o funcionamento
das mídias de massa no século XX, nesse século a direita da um segundo salto
tecnológico com a guerra semiótica no campo das tecnologias de convergência –
Internet e redes sociais. Solução: lutar no mesmo campo simbólico da direita,
modular a comunicação para alcançar líderes de opinião de grupos e comunidades
(analógios ou digitais) e táticas de guerrilha antimídia. Será que para isso seria
necessário um novo Goebbels, agora na esquerda?
“A esquerda precisa de um novo
Goebbels... mas, claro, sem a parte do Holocausto!”. À guisa da conclusão do
debate nessa última segunda-feira (22/10) no Centro de Estudos Estratégicos da
Fundação Oswaldo Cruz (CEE-Fiocruz), no Rio de Janeiro, este humilde blogueiro
fez essa afirmação. Certamente, uma afirmação retórica sob o impacto da
atual atmosfera política da ameaça de um abismo sem fundo para o campo
progressista.
O tema da palestra proferida por esse
editor do Cinegnose foi “A Guerra Semiótica nas Políticas Sociais e Saúde”.
Mas, como não poderia deixar de ser no contexto eleitoral atual, minha fala
partiu de um panorama histórico dos diferentes viéses de comunicação entre a
direita e a esquerda no espectro político.
A exposição foi comentada
por Umberto Trigueiros, assessor do gabinete da presidência da Fiocruz, e
Carlos Fidelis Ponte, Pesquisador do Observatório História e Saúde da fundação
e diretor da Asfoc-Sindicato.
Enquanto a direita sempre se mostrou
vanguardista no campo da comunicação desde os tempos do nazifascismo (lá no
passado, o cinema e o rádio; hoje, tecnologias de convergência e dispositivos
móveis), a esquerda ainda mal conseguiu compreender como corações e mentes
foram conquistados no século XX em golpes políticos como o nazismo, o fascismo
e na América Latina nos anos 1960-70 – Brasil, Chile, Argentina.
Por isso a palestra apresentou um campo de
lutas na comunicação assimétrico: a direita sempre compreendeu muito bem a
natureza performática da comunicação. A
comunicação é de natureza fenomenológica, fugidia, efêmera, é o acontecimento,
o instante, o aqui e agora. A posteriori é Semiótica, Linguística ou
Sociologia. Já é o primado da representação ou do falar sobre a própria
comunicação depois que ela aconteceu.
A direita sabe muito bem
que memes, fake news, boatos e mentiras têm efeito viral e criam acontecimentos
– climas, atmosferas, percepções. A posteriori, agências de checagens,
denúncias ou condenações éticas, morais ou judiciais não desfazem os efeitos.
Destaquei que pior do que
o efeito das fake news é o efeito da pós-verdade. Está além da verdade ou da mentira, da
credibilidade ou da desconfiança: a pós-verdade está no campo da verossimilhança.
Enquanto isso a esquerda
se apega a uma visão conteudista da comunicação, apenas como um meio para
transmitir mensagens – proposições, conscientização, ideologias, doutrinas,
denúncias.
A palestra também
apresentou didaticamente os três nomes cujas teorias são os pilares da atual
guerra semiótica posta em prática pela chamada “Guerra Híbrida” promovida pelo geopolítica
dos EUA, criando as diversas “primaveras” que pipocam pelo mundo na última
década: Paul Lazarsfeld (a importância da influência dos líderes de grupos e
comunidades para sancionar conteúdos midiáticos), a dupla McCombs-Shall
(agenda-setting e engenharia de opinião pública através do agendamento de
pautas midiáticas para influenciar maiorias silenciosas com “climas de opinião”)
e Gene Sharp (especialista em criar “formas não violentas de revolução” em
países por meio de Revolução Popular Híbrida).
Hoje, os líderes de
grupos e comunidades são minerados algoritmicamente através do biog data nas
redes sociais. Bombas semióticas (a comunicação-acontecimento) são detonadas
com o mesmo efeito calculado dos velhos panelaços que antecederam o impeachment
de 2016: criar climas de opinião ou atmosferas que propiciam a chamada “espiral
do silêncio” – efeito de psicologia de massas baseado numa profecia
autorrealizável, em geral criada a partir de boatos e mentiras.
Enquanto isso, a esquerda
ou está presa em sua própria bolha falando para convertidos ou “panfleta” de
forma aleatória, em massa, sem procurar modulações.
Ao final, foram
apresentados três possíveis alternativas práticas para uma política de ação
midiática:
(a) lutar no próprio
campo simbólico da direita – o que significaria lutar com as mesmas armas do
inimigo, com sinal trocado, no limite no amoralidade e niilismo. Incursão
perigosa, assim como Dante ao descer nos círculos infernais. Daí a afirmação da
esquerda “necessitar de um novo Goebbels”.
(b) Modular o discurso ao voltar-se para os
diferentes líderes de opinião (não confundir com “gatekeepers” ou formadores de opinião) nos grupos e
comunidades (sejam analógicos ou digitais). Não importa o conteúdo que a esquerda
veicule nas mídias de massa ou blogosfera: quem sanciona seus conteúdos serão
sempre os líderes de opinião – vide o sucesso do marketing político de Obama na
Internet em 2007 e 2008.
(c) Táticas anárquicas de
guerrilha antimídia para ridicularizar a grande mídia e produzir descrédito por
meio de táticas como “Media Prank” (pegadinhas”) e Culture Jamming (trolagens)
já bem discutidas nesse blog – veja links abaixo.
Mais informações sobre a
palestra clique aqui no blog da CEE-Fiocruz.
E confira os dois vídeos
abaixo: o primeiro um teaser e o segundo a apresentação (não editada).]
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