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sábado, fevereiro 22, 2020

Fascistas e invisibilidade midiática não se combatem com flores


O mais importante na grande mídia não é o que ela pauta. É o que ela não diz. O jornalismo corporativo tem o dom de atribuir invisibilidade a fatos que não atendem a atual pauta que sustenta a estratégia semiótica de guerra criptografada: a pauta identitária, cultural e de costumes. A invisibilidade do documentário “Democracia em Vertigem” na premiação do Oscar e os 20 dias de greve dos petroleiros são exemplos: depois que o documentário “perdeu” e a greve foi suspensa, de repente a mídia descobriu que existiam, mas como “derrotados”. O que há em comum nesses fatos “invisíveis”? São contra-pautas – revelam temas econômicos que mostram a insustentabilidade da agenda neoliberal. Grande mídia fala agora em impeachment de Bolsonaro depois do ataque à jornalista Patrícia Campos? Agora colunistas da grande mídia descobriram o “projeto de poder autoritário” de Bolsonaro? Mais uma tática de jornalismo Snapchat que hipnotiza a esquerda. Mas a retroescavadeira de Cid Gomes jogada contra policiais milicianos amotinados no Ceará mostra que não se combate o fascismo com flores, mas com uma contra-pauta que faça a esquerda abandonar as lacrações das guerras identitárias-culturais. 

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

A Luta de classes no Capitalismo Cognitivo em "Parasita", vencedor do Oscar

O diretor sul-coreano Joon-ho Bong é um especialista no tema luta de classes. Seus filmes como O “Expresso do Amanhã” e “Okja” são variações sobre um tema cada vez mais aprofundado pelo diretor. Até chegar a “Parasita” (Gisaengchung, 2019), o grande vencedor do Oscar (melhor filme, diretor, filme estrangeiro e roteiro original), sua reflexão mais profunda tomando como cenário o chamado “Capitalismo Cognitivo”: “não-pessoas” com seus celulares e cercados de tutoriais e aplicativos, prontos para subempregos terceirizados – forma avançada de capitalismo na qual os patrões tornam-se invisíveis e a luta de classes oculta em camadas de apps. Desempregados e “uberizados”, a família Kin-taek passa a se interessar pela família Park. Ricos, terceirizam na sua residência todos as necessidades cotidianas. É a chance dos Kin-taek arrumarem um emprego mais estável. Mas uma perturbadora revelação trará consequências catastróficas para todos os envolvidos.

domingo, dezembro 01, 2019

Curta da Semana: "Black Friday": como salvar-se do Marketing do Apocalipse?


Amélie é uma ex-funcionária de uma rede de varejo chamada New Price. Ela é assombrada pelas lembranças da última Black Friday, quando retorna à cena traumática. Esse é o curta-metragem canadense “Black Friday” (2018), inspirado na história de um funcionário da rede Wal-Mart que morreu pisoteado em 2008 na abertura das portas de uma loja na Black Friday. Do discurso motivacional do gerente da loja aos funcionários análogo a um culto religioso, à corrida selvagem de consumidores invadindo a loja como zumbis no filme “Amanhecer dos Mortos”, tudo nos conduz a uma estranha relação com as mercadorias no Capitalismo pós-crash de 1929 – a salvação do sistema de produção-consumo através de uma espécie de “Marketing do Apocalipse”: todo dia é o última dia para a Salvação. Há muito o consumo abandonou o valor de uso para se esgueirar pelo imaginário da moralidade e da religião. Se o consumo em si é moralmente bom, então temos que consumir sua inutilidade como forma de merecermos a aprovação “divina”. É sincrônico que a Black Friday ocorra no mesmo mês do histórico crash da Bolsa de Nova York e um dia após o feriado religioso de Ação de Graças.

sábado, janeiro 19, 2019

"Tempo Compartilhado": Marketing e Publicidade criam a religião do Capitalismo Pentecostal

O pensador alemão Karl Marx teve que escrever muitas páginas para demonstrar que por trás da racionalidade do Capitalismo existia uma gigantesca fantasmagoria – mercadoria, capital e dinheiro apareciam como entidades-fetiches autônomas aos nossos olhos. Hoje, o Marketing e a Publicidade, sem maiores rodeios, diariamente nos mostram que a gestão corporativa e o discurso publicitário se tornaram análogos a seitas ou cultos. O Capitalismo sempre foi uma religião, mas hoje ele é “pentecostal” – é o “american way of management”. O filme mexicano “Tempo Compartilhado” (“Tiempo Compartido”, 2018) mostra as férias frustradas de uma típica família de classe média que acreditava ser possível comprar o Paraíso a preços módicos em suaves prestações. Um resort internacional esconde um propósito sinistro: transformar tanto seus “colaboradores” como clientes em membros de um tipo de seita messiânica no qual o Paraíso religioso se confunde com o próprio turismo.  

quinta-feira, dezembro 20, 2018

Em "Uma Noite de Crime 2: Anarquia" o Capitalismo quer eliminar o "excremento social"


São as raras as sequências que superam o filme original. “Uma Noite de Crime 2: Anarquia” (“The Purge: Anarchy”, 2014) é um desses raros casos. Não pela estética que, como no original, emula uma produção B. Mas porque é um perfeito documento do espírito de época atual, pós-globalização, no qual o hiper-capitalismo financeiro procura criar uma nova ordem a partir do rescaldo da crise de 2008: o aumento do "excremento populacional" (idosos, aposentados, inválidos, imigrantes, excluídos, miseráveis, refugiados etc.) que nem mais para serem explorados servem. Se o primeiro filme refletia as reações da ultra-direita contra o “Obama Care”, nessa sequência o roteiro de James DeMonaco reflete a nova ordem pós-globalização: formas invisíveis de controle populacional com o objetivo de exterminar o “excedente humano”. DeMonaco dá ao espectador nessa sequência uma noção mais ampla dos efeitos e propósitos da “Purgação” – a noite anual em que todas as formas de crime são permitidas, sob o pretexto de servir de válvula de escape para a besta interior presente em cada um de nós, garantindo a ordem social. Mas os propósitos de controle social são mais sombrios.

sábado, maio 26, 2018

O Capitalismo se desmancha no ar no filme "Fome de Poder"

“Tudo que era sólido se desmancha no ar”, dizia Karl Marx sobre o poder do Capitalismo revolucionar incessantemente seu modo de produção. “Fome de Poder” (The Founder, 2016) descreve como um vendedor ambulante de mixer para milk shakes chamado Ray Kroc encontrou no gênio dos irmãos McDonald muito mais do que uma revolucionária linha de montagem de hambúrgueres. Viu nos arcos de uma loja dos irmãos algo além de um mero detalhe arquitetônico: vislumbrou a máquina semiótica de produção de marcas e símbolos como uma nova força produtiva do Capitalismo que não oferece mais produtos tangíveis. Consome-se uma fé, uma ideia ao invés de um hambúrguer que se desmanchou no ar – pouco importam as suspeitas sobre a procedência das batatinhas fritas ou da carne do Big Mac. Ray Kroc fez o mundo consumir muito menos um sanduíche do que a marca e um sistema de conveniência.

segunda-feira, novembro 13, 2017

Hans Donner mostra nova bandeira no "Fórum do Amanhã" olhando para o ontem


As leis trabalhistas foram “modernizadas”, assim como o próprio trabalho com os ventos “modernizadores” do empreendedorismo e agora luta-se para que toda essa “modernização” alcance também a Previdência Social. Mas falta algo, alguma coisa que sinalize essa nova visão de país e inspire o povo. Para o designer gráfico Hans Donner, isso somente será possível com uma bandeira nacional também “modernizada” – com degradês, efeitos 3D, e a palavra “Amor” antes do lema “Ordem e Progresso” com a faixa apontando para cima, para dar “poder” ao povo... O designer austríaco apresentou o projeto em um evento chamado “Fórum do Amanhã” em MG, e pretende levá-lo ao Congresso para implementação. Ironicamente, em um evento sobre o “amanhã”, Donner apresenta uma bandeira retro-futurista igual a marca visual da Globo das décadas passadas, que hoje nem a própria emissora adota mais, privilegiando um visual “orgânico” e menos artificial. A “nova” bandeira nacional de Hans Donner certamente está menos na estética, e muito mais no campo dos sintomas: sinais expressados por uma elite que fala em futuro, mas com os olhos sempre mantidos no passado. Para deixar o presente igual o ontem: o futuro do pretérito.

sexta-feira, setembro 08, 2017

Cinco evidências de que Bitcoin é uma religião


Criada em 2009, Bitcoin é uma moeda digital controlada por uma rede peer-to-peer sem depender de bancos centrais e com um mercado de bilhões de dólares. Bitcoin parece ser movido por um ímpeto anarquista porque seus seguidores odeiam governos e autoridades financeiras. Mas suas ações são espirituais, lembrando uma religião com um Criador, messias profetas, confirmando a tendência humana de perceber no dinheiro e valor atributos inerentemente mágicos e místicos. E como toda religião, tem a cortina que esconde o Mágico de Oz: o “fetichismo da mercadoria”, tal como diagnosticou Karl Marx no século XIX sobre o velho Capitalismo, a cortina que esconde a reprodução da desigualdade. O “Cinegnose” lista cinco evidências de que o Bitcoin é mais uma religião, porém mais “cool” do que a Teologia da Prosperidade das igrejas neopentecostais. Porque Deus desceu ao mundo não mais sob a forma de dinheiro, mas agora como Criptografia e Matemática.

quinta-feira, agosto 31, 2017

O Pequeno e Irônico Dicionário para Aspirantes ao Mérito-empreendedorismo


Ok, vocês venceram! Por isso, o “Cinegnose” vai dar uma ajuda aos aspirantes e adeptos da nova religião do mérito-empreendedorismo (meritocratas + empreendedores) desse admirável mundo novo, no qual maquininhas de crédito e débito substituíram da Carteira de Trabalho por meio da inabalável fé de que, um dia, a força de trabalho se transubstanciará em Capital. Para entender esse Mistério da transubstanciação de uma categoria econômica em outra (que se equivale ao da Santíssima Trindade ou da própria redenção de Cristo) é urgente dominar o jargão hermético dessa seita – “foco”, “nicho”, “aplicativo”, “sustentabilidade”, “agregar”, “gestão”, “inteligência” entre outros termos aparentemente inescrutáveis. Bem vindo à Metafísica da Teologia desses novos tempos, através do “Pequeno e Irônico Dicionário para Aspirantes ao Mérito-Empreendedorismo”.

sexta-feira, julho 14, 2017

A condenação de Lula e a midiática "crítica nem-nem"


Após a sentença de condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro, a TV mostrou imagens de comemorações em frente à Vara de Curitiba por manifestantes em suas indefectíveis camisas amarelas da CBF. Ao mesmo tempo, tomadas da Avenida Paulista com mais manifestantes, agora de camisetas vermelhas, faixas e punhos erguidos em protesto contra a condenação de Lula. Ato contínuo, a grande mídia expõe os rostos dos magistrados que julgarão o recurso à condenação e uma canastríssima entrevista (com signos cenograficamente saturados) do presidente do TRF-4 que poderá finalmente impedir a candidatura presidencial do líder petista. Qual a relação entre esse ensaio de volta da polarização “coxinhas X mortadelas” e o jogo midiático de sedução/chantagem com magistrados? O velho semiólogo Roland Barthes responderia: a mitologia da “crítica nem-nem”. Ou simplesmente “ninismo” -  mecanismo retórico de dupla exclusão na qual se reduz a realidade a uma polaridade simples, equilibrando um com o outro, de modo a rejeitar os dois. “Nem” um, “nem” o outro - apenas o “bom-senso”, mito burguês na qual se baseia o moderno liberalismo: a Justiça como mecanismo de pesagem que foge de qualquer embate ideológico.

segunda-feira, abril 17, 2017

Propaganda e a demonização do inimigo, por Marcelo Gusmão



O filme “1984” foi exibido esse ano em 165 cidades nos EUA como forma de protesto contra o presidente Donald Trump. Ele demoniza imigrantes e a oposição também o demoniza, definindo-o como o “novo Big Brother”. Enquanto isso o Brasil está um caos, dividido, semelhante a final de um campeonato: de um lado do campo os “Coxinhas”, no outro lado os “Mortadelas”. Há quem prefira dizer “esquerda” contra “direita”, ou ainda “amarelos” (canarinhos) contra os “vermelhos”. Essa divisão não é novidade - desde que o mundo é mundo há violência e luta pelo poder. “Nós contra Eles” sempre foi um princípio de identidade entre os “Iguais” das diversas irmandades, seja times de futebol, equipes em gincanas escolares, entre bairros, cidades, países, partidos políticos e, é claro, ideologias. Demonização e a divisão do inimigo são grandes princípios de propaganda e persuasão. Como lidar com essa dualidade?  Qual a sua origem? Há como anular sua força?

domingo, abril 16, 2017

Curta da Semana: "El Empleo" - o emprego que te espera no futuro


Com mais de 100 prêmios na sua trajetória em festivais, o curta de animação argentino “El Empleo” (2008) é uma produção bem oportuna para os tempos atuais em que vivemos onde o melhor remédio prescrito para a crise econômica e o desemprego são eufemismos como “terceirização”, “empreendedorismo” etc. O curta é o paroxismo da situação atual: para gerar emprego uma sociedade parece consumir a si mesma -  pessoas começam a assumir a função de objetos cotidianos em “inovadoras” formas de “prestação de serviço”: a mulher-cabide, o homem-abajur e assim por diante. Um curta surreal e tragicômico, mas que dá muito no que pensar. Curta sugerido pelo nosso leitor A.Lex.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Leitor do Cinegnose desconstrói nota informativa do Bank of America sobre a Matrix


Como explicar a adesão de profissionais dos mercados financeiros à hipótese de que vivemos em uma grande simulação computacional – a Matrix? Em postagem anterior o “Cinegnose” discutia quatro hipóteses que explicam o porquê de um anúncio sobre a probabilidade de vivermos em uma Matrix contida em nota informativa para clientes emitida pelo Bank of America Merrill Lynch no mês passado. Nosso leitor Wilson Cardoso sugeriu uma quinta hipótese bem interessante: mecanismo psíquico de projeção à nossa submissão ao capital financeiro.

segunda-feira, agosto 15, 2016

O peso da decadência moderna no filme "High-Rise"


Um misterioso arquiteto planeja um arranha-céu que deveria ser uma incubadora de mudanças na sociedade. Um edifício idílico com todas as comodidades modernas destinado a ser uma “máquina de morar” autogerida. Mas algo deu errado, transformando o projeto em um pesadelo apocalíptico que mistura horror, sexo, drogas e a principal ironia: a Razão e a Racionalidade de um projeto futurista se converte em niilismo, hedonismo e violência. É o filme “High-Rise” (2015), adaptação de obra do escritor J.G. Ballard de 1975 cujas visões sobre o futuro são considerados por muitos como proféticas – a sociedade corroída pelos seus principais males: a luta do homem contra si mesmo e de todos contra todos.

domingo, julho 03, 2016

Os novos demiurgos do ensino superior e o materialismo histórico


“Nem parece que estou dando aula”, ouvi certa vez de uma professora entusiasmada com uma nova metodologia de ensino cada vez mais comum em universidades adquiridas por grupos turbinados por fundos internacionais de investimento. Lembra o slogan daquele banco comprado pelo Itaú, “nem parece banco”.  Hoje, a financeirização descobriu o ensino superior e trouxe a racionalidade capitalista para um setor onde o ofício do professor era um entrave na linha de produção moderna por ser ainda um antigo resquício escolástico. Dos antigos donos de faculdades  “boca de metro” pulamos para os “global players”, os novos demiurgos. Repete-se a lógica industrial prevista pelo velho materialismo histórico de Marx: trabalho complexo deve ser convertido em trabalho simples, transformando o professor num profissional destituído do seu ofício. Mas para que isso torne-se uma fatalidade natural da vida é necessário um discurso imaginário:  a ilusão (o fetiche do título e publicações), a ideologia (a meritocracia) e uma retórica - a “metodologia ativa”. Talvez a metáfora daquela professora seja mais literal do que ela imaginava...

sábado, junho 18, 2016

Tudo está à venda no filme "Huckabees - A Vida é uma Comédia"


Quando lançado foi desprezado como uma enorme baboseira pretensiosa e cheia de diálogos sem sentido. Doze anos depois, “Huckabees – A Vida é uma Comédia” (2004) ganha sentido e atualidade e vale à pena ser revisto. Além de mostrar como é possível aliar entretenimento com uma séria discussão filosófica, o filme faz uma surreal metáfora da vida como uma grande loja de departamento onde tudo está à venda – da doença até o suposto remédio que iria nos curar com a paz de espírito. Como a esquizofrênica imagem da rede de lojas Huckabees (vende ao mesmo tempo consumismo e mensagens ecologicamente responsáveis) contamina a vida dos protagonistas que buscam soluções possíveis: ou a melancolia e pessimismo ou a fé nas imagens de sucesso. Mas outros vendedores aparecerão para lhes oferecer conforto no mercado filosófico: aristotélicos, sofistas e céticos.

domingo, março 20, 2016

Em "Boneca Inflável" somos tão vazios quanto uma boneca de sex shop


Uma fábula moderna inspirada em um mangá, onde é feita uma releitura de Pinóquio com um toque erótico: uma boneca inflável de sex shop inexplicavelmente ganha vida, ganha as ruas e procura entender o que nos define como humanos. Mas tudo que descobre é que nós somos tão vazios espiritualmente como uma boneca é vazia fisicamente. O filme “Boneca Inflável” (“Kûki Ningyô”, 2009) de Hirokazu Koreeda baseia-se em um específico problema sócio-cultural japonês (o “kodokushi”, morte solitária), mas sua reflexão sobre a solidão urbana, inércia, sonhos derrotados e a perda da inocência de uma boneca erótica aspira a um tema bem universal: o fetichismo dos produtos e serviços.

Ao longo do século XX a sociedade japonesa conseguiu combinar muitos hábitos e instituições feudais com o moderno dinamismo cultural e econômico do Capitalismo Tardio. Mas com um preço alto: fragilização dos laços familiares e uma conduta de boa parte da sociedade japonesa de evitar qualquer tipo de situação que possa incomodar outra pessoa. Chamam essa atitude de “meiwaku”.

terça-feira, outubro 07, 2014

Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT

Qual o significado de  uma comédia brasileira chamada “O Candidato Honesto” (sobre um candidato à presidência popular, corrupto e mentiroso) ser lançada nos cinemas em plena reta final das eleições? Mais do que senso de oportunismo mercadológico, a produção surfa na onda da aversão popular à Política e o fenômeno da despolitização. A inclusão de grande parte dos brasileiros na sociedade de consumo implementada pelo neodesenvolvimentismo dos governos do PT parece mandar a conta: chocou o ovo da serpente que agora arma o bote. Sem educação política, a sociedade de consumo brasileira produz os efeitos ideológicos do próprio consumismo verificados desde o pós-guerra – ideologia meritocrática, ilusão de mobilidade social por meio do consumo de gadgets e aparatos tecnológicos,  a competitividade e o ressentimento. Combustíveis para o discurso midiático da corrupção que ironicamente só cola no PT.

O cinema tem uma longa tradição de representar os políticos (assim como os jornalistas) como personagens corruptos, que abusam da autoridade e sempre metidos em narrativas conspiratórias de negociações obscuras ou figurados como fantoches de interesses inconfessáveis.

A comédia brasileira O Candidato Honesto, de Roberto Santucci, é o último exemplo desse clichê cinematográfico. Pelo oportunismo de ser lançado em plena reta final da campanha eleitoral, o filme se reveste de significado político inegável – o reforço de um sentimento anti-política alimentado pela oposição ao Governo Federal como arma de impedir a reeleição de Dilma Rouseff.

quarta-feira, maio 28, 2014

A bomba semiótica fashion da Ellus

Modelos vestindo uma camiseta onde se lia “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Dessa forma terminava o desfile da Ellus no último SPFW após um desfile repleto de signos militares estilizados. Mais tarde, a irônica foto da mesma camiseta na vitrine de uma loja da grife tendo ao lado um manequim carregando uma blusa com o icônico Mickey Mouse estampado. Essa é a mais nova bomba semiótica, dessa vez fashion. E por que? Porque o niilismo político é fashion, assim como os radicais chics com o seu visual “heroin hero”. Desde que o dandismo morreu com Oscar Wilde, a moda sente a necessidade de expiar o fantasma da sua suposta futilidade e superficialidade. O niilismo político da camiseta que protesta contra o “Brasil Atrasado” é a reedição da estratégia de tornar a moda supostamente sintonizada com a realidade do seu tempo, assim como Viviene Westwood fez com o Punk. E para isso, a Ellus foi buscar na atmosfera turva e tensa da atualidade o mote para tentar mostrar que Moda possui alguma relevância política.

Em uma vitrine de uma loja da grife Ellus em um shopping na Zona Sul do Rio de Janeiro vemos vários manequins com modelos da marca. Chama a atenção uma camiseta preta com os dizeres “Abaixo Este Brasil Atrasado”. Ironicamente, ao lado vemos outro manequim com uma blusa em que vemos o icônico personagem do Mickey Mouse estampado.

A engajada camiseta teve sua estreia no desfile da coleção Primavera-Verão 2014-15 no São Paulo Fashion Week (SPFW) em abril desse ano, com toda pompa e circunstância, com direito até a “carta-manifesto”. Ciceroneado pelo galã global Cauã Reymond, ele entra na passarela ao final com os fashionistas Adriana Bozon, Lea T., Laís Ribeiro e Rodolfo Murilo, todos vestindo a engajada camiseta da Ellus, para finalizar com uma selfie diante dos fotógrafos.

A “carta-manifesto” (na verdade uma colcha de retalhos com os principais mantras repercutidos por redes sociais e nas colunas econômicas da grande mídia) fala em “Brasil=ineficiência, improdutividade”, “custo Brasil”, “políticos e governos antiquados”, “protecionismo” e a ameaça de ficarmos “isolados nas geleiras do Polo Sul”.

segunda-feira, abril 07, 2014

A dialética gnóstica do senhor e escravo no filme "Expresso do Amanhã"

Mais um filme hollywoodiano de ficção científica distópico e pós-apocalíptico? Com elenco estelar dirigido pelo coreano Jooh-ho Bong em sua estreia em filmes de língua inglesa, “Expresso do Amanhã” (Snowpiercer,  2013) narra como uma espécie de arca ferroviária com sobreviventes da espécie humana após uma catástrofe climática que fez o planeta entrar em nova Era do Gelo, se transforma em um microcosmo da Terra. Em um gigantesco trem com centenas de vagões que circula indefinidamente pelo planeta cria-se um sistema totalitário com luta de classes, exploração, dominação e manipulação psicológica. Mas as dificuldades de distribuição e lançamento do filme apontam para uma produção com narrativa não convencional que foge da dualidade Bem/Mal lembrando a famosa dialética do senhor e escravo tal como descrita pelo filósofo alemão Hegel. Porém, com desfecho não convencional nem para Hollywood e nem para Hegel. Filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.

Um filme com diversos problemas de produção e, principalmente, distribuição. A ideia de associar o ótimo diretor coreano Jooh-ho Bong com atores conhecidos nos EUA como Chris Evans (Capitão América), John Hurt, Ed Harris e Tilda Swinton era promissora dentro da atual política de Hollywood em globalizar os aspectos de direção e produção cinematográficas. Porém, algo não deu certo: mesmo já tendo sido exibido na Ásia, o filme ainda não estreou no Ocidente (nos EUA até o dia 31/03 não havia estreado e no Brasil e era esperado para esse mês nos cinemas brasileiros) e sua estreia tem sido adiada diversas vezes: diversas versões do filme parecem terem sido criadas, com diversos cortes que chegam a totalizar 20 minutos, tentando agradar os estúdios e desagradar o diretor Bong.

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