O cinema sempre mostrou um interesse pelo mundo
dos sonhos. Certamente por que o dispositivo cinematográfico (projetor e tela)
simula a “tela mental” dos sonhos - o mundo onírico como projeções dos nossos
próprios medos, desejos e fantasias. Porém, a inconsciência dessa tela mental
pode nos tornar prisioneiros do “terror noturno” ou das formas-pensamento
plasmadas no mundo etérico. Esse é o tema do curta de animação “Poet Anderson –
The Dream Walker” (2014) dirigido por Tom DeLonge, ex-guitarrista da banda Blink-182.
O curta é mais um exemplo da tendência recente da abordagem dos sonhos no
cinema e audiovisual: a abordagem mais hermética e esotérica sobre os sonhos lúcidos. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
“No mundo dos sonhos, o poder e a aventura pertencem aos Sonhadores Lúcidos, enquanto os terrores noturnos assombram os perturbados e os desamparados. Alguns poucos sortudos são vigiados por guardiões misteriosos. Os protetores de nossas vidas inconscientes compartilhadas são conhecidos como... Dream Walkers”.
Essa é a abertura do curta Poet Anderson – The Dream Walker (2014)
escrito e dirigido por Tom DeLonge, guitarrista do Blink-182 e atualmente
guitarra e vocal da banda Angels & Airwaves. O argumento do curta explora
as conexões paranormais entre o chamado “terror noturno”, desordens do sono e
os conceito de “sonho lúcido” estudado por místicos e esotéricos.
No curta (animação que mistura a estética dos
vídeos da banda Gorillaz com um toque
de Laranja Mecânica) vemos o
protagonista Poet Anderson perseguido nos seus sonhos pelo Terror Noturno – um
monstro terrível que surge repentinamente após abrir uma passagem no tecido do
mundo onírico. Poet conhecerá o seu protetor, um Dream Walker, entidades que
conseguiram a habilidade de ter sonhos lúcidos e que por isso conseguem
manipular as formas plásticas do mundo etérico.
Gradualmente essas mesmas habilidades vão
sendo despertadas em Poet Anderson, ao ponto que o seu Dream Walker o deixa por
conta própria lidar com o seu Terror Noturno. Há algum tipo de organização no
universo dos sonhos que vê em Poet um próximo Dream Walker em potencial.
Seguindo o storytelling clássico da jornada do herói, Poet resiste
inicialmente a essa missão: amedrontado, não quer mais dormir, mas apenas
“descansar”. Acompanhado de sua namorada, recorre a uma clínica especializada
em desordens do sono. Mas a Ciência não conseguirá dar conta de forças maiores
que a racionalidade.
Sonhos lúcidos
Desde
a franquia A Hora do Pesadelo (1984),
o cinema recente tem mostrado um appeal especial sobre esse tema do universo
dos sonhos: de monstros que podem representar perigos reais como A Hora do pesadelo, Sonho Mortal (1988)
ou A Morte nos Sonhos (1984) até uma
aproximação mais esotérica dos sonhos lúcidos como Vanilla Sky (2001), A Origem
(2010), Ink (2009) ou Waking Life (2001).
Todos esse filmes mais recentes lidam com uma
questão principal do problema dos sonhos: assim como na vida dita real, também
no mundo onírico somos prisioneiros das ilusões – a chamada “tela mental”.
Como no velho axioma da filosofia hermética (a
Lei da Correspondência – “O que está acima, é como está embaixo. O que está
dentro é como está fora”), o mundo dos sonhos reserva as mesmas mazelas do
mundo da vigília. Se aqui temos a tela da TV e do Cinema que encobre a
realidade através da ilusão, no mundo dos sonhos cada um cria sua própria tela
mental na qual são projetados medos, culpa, desejos, fantasias que podem
materializar-se no mundo etérico em formas-pensamento bem convincentes e,
muitas vezes, assustadoras.
Por exemplo, em Vanilla Sky o protagonista vive em um sonho criado por uma empresa
especializada que juntou todas as suas recordações (de capas de discos a lembranças
de momentos significativos da vida) para montar um mundo idealizado; ou em A Origem, a narrativa do sonho é
projetada a partir das referencias da vida do sonhador (no qual os
protagonistas querem inserir uma importante sugestão). Mas tudo pode ser posto
a perder pela intromissão da própria tela mental do protagonista Cobb (Leonardo
DiCaprio).
Sem lucidez (autoconsciência ou
autodistanciamento), a tela mental cria um fluxo no qual o sonhador perda a
consciência por estar imerso e interagindo com as imagens e formas-pensamento,
assim como se estivesse com algum dispositivo 3D ou em alguma sala de projeção
em 4D ou 5D.
Prisioneiro da própria tela mental, o
sonhador não consegue abrir-se conscientemente à realidade dos mundos para além
dos sonhos – dimensões espirituais.
Como escapar das armadilhas dos sonhos?
Os Dreams Walkers do curta Poet Anderson lembram bastante os personagens chamados
“storytellers” do filme Ink, os
“guardiões dos bons sonhos”, que protegem os sonhadores dos Incubus, seres de
uma organização do mundo astral que absorve a energia do medo, humilhação e
culpa dos pesadelos dos vivos – sobre o filme clique aqui.
Essa curta é mais um exemplo da atual
sensibilidade gnóstica sobre o tema dos sonhos. A certa altura do curta, o
Dream Walker fala para Poet Anderson: “O Terror Noturno é seu. Ele persegue
você, não eu.”
Muito diferente da abordagem tradicional dos
sonhos (monstros oníricos como Fred Krueger seriam tão reais como os monstros da
vigília), aqui há uma abordagem hermética ou esotérica dos sonhos como algo artificialmente
criado pelo próprio sonhador.
Enquanto o sonhador não alcançar a lucidez, a
tela mental plasma potentes formas-pensamentos no mundo etérico capazes de nos
aprisionar e aterrorizar.
Como escapar dessa inconsciência onírica?
O pensador gnóstico, fundador do Movimento
Gnóstico Cristão Universal, Samael Aun Weor, chamava essa condição de “sonho na
consciência”- nos identificamos com objetos e representações da tela mental e
caímos na “fascinação” e inconsciência.
Para superar esse estado e alcançar o sonho
lúcido Weor propõe um exercício contínuo de auto-observação e autoconhecimento,
desde antes do sonho, no próprio momento de vigília no dia-a-dia. Weor fala em
auto-observação em três partes: sujeito,
objeto e lugar.
Sujeito: auto-vigilância constante das nossas
emoções, hábitos e palavras;
Objeto: minuciosa observação dos objetos ao
nosso redor que por meio dos nossos sentidos chegam à mente.
Lugar: observação diária de nossa casa, de nosso
quarto, como se fosse algo novo. Perguntar-nos diariamente: como cheguei aqui?
A este lugar? A este mercado? A este escritório? Etc.
Para Weor, o
exercício diário desses três aspectos nos momentos de vigília, propiciaria
sonhos lúcidos: acostumado ao exercício da observação em três partes (sujeito,
objeto, lugar), começamos a fazer as mesmas perguntas nos sonhos: Por que estou
nesse lugar? De onde venho? O que são esses objetos ao meu redor? O que estou
fazendo aqui? - leia o livro de Samael Aun Weor, Sim há Inferno. Sim Há Diabo. Sim Há Carma. clique aqui.
Disso decorre
que a inconsciência nos sonhos é um reflexo da nossa própria inconsciência
quando despertos nos afazeres do cotidiano. Do automatismo do dia-a-dia.
O que está
acima é como está embaixo.