No dia 12 de dezembro moradores de um remoto
vilarejo no interior da China foram surpreendidos com um enorme estrondo. No
local, encontraram uma cratera em chamas e ao redor inĂşmeros fragmentos
metálicos. Entre eles um grande anel de metal no qual foram encontrados
letras e nĂşmeros gravados. Lixo espacial? OVNI? Nave extraterrestre? O irĂ´nico
Ă© que o episĂłdio faz lembrar da famosa sequĂŞncia do filme “Show de Truman”
(1998) quando o protagonista é quase atingido por um objeto que cai do céu,
tambĂ©m com uma misteriosa inscrição, e que marca o inĂcio da descoberta de que
sua vida não passava de um gigantesco reality show televisivo. Até que ponto a
narrativa ficcional de Truman guarda analogias com a nossa vida supostamente
real? Nossas vidas e o planeta inteiro estariam, de certa forma, na mesma
situação do infeliz protagonista Truman Burbank?
Os leitores do Cinegnose certamente devem lembrar dessa sequĂŞncia do filme Show de Truman (1998): no mundo
estranhamente previsĂvel e conformista da pequena cidade de Seaheaven, Truman
sai de casa para mais um dia de trabalho, com o habitual sorriso estereotipado
dos vĂdeos publicitários que diariamente assistimos na TV.
De repente algo inesperado quebra aquela
enfadonha rotina: algo cai vindo do profundo céu azul e se espatifa no chão
quase atingindo o herĂłi interpretado por Jim Carrey. Truman pega o objeto e
percebemos ser um spot de luz desses de estúdio. Sobre ele há uma etiqueta no
qual lĂŞ-se: “Sirius (9 canis major)”.
Um
acidente importante porque a partir desse acontecimento inesperado numa vida
tĂŁo previsĂvel, crescerá em Truman a desconfiança de que há algo de errado no mundo - assista abaixo a sequĂŞncia.
Pois em um remoto vilarejo da China a
realidade parece que imitou a ficção no último dia 12 de dezembro. Segundo o
britânico o Express News, um
misterioso objeto caiu do céu causando um enorme estrondo em um vilarejo de
Zhangjiapan, na provĂncia de Shaanxi.
Moradores correram ao local e encontraram uma
pequena cratera em chamas de um metro e meio de diâmetro, além de pedaços de
metal espalhados no perĂmetro em torno. Um dos pedaços atingiu o teto de uma
casa.
Assustados, muitos acharam ser uma invasĂŁo
extraterrestre. Principalmente porque depois do estrondo, um OVNI teria sido
avistado sobre a montanha do vilarejo.
O estranho anel de metal
Segundo o jornal chinĂŞs HSW.cn, nenhum material foi encontrado no interior da cratera, mas
a polĂcia recolheu itens ao redor que certamente teriam relação com o
incidente. Um desses objetos era um anel de metal de grandes proporções, no
qual podem ser vistas letras e nĂşmeros gravados na superfĂcie – veja fotos abaixo.
A hipĂłtese inicial Ă© que o objeto seja um
fragmento de lixo espacial. Ao jornal chinĂŞs, a polĂcia disse que o material
foi enviado para análises.
A hipótese do lixo espacial é bem provável,
principalmente que no dia 16 de novembro desse ano, um grande objeto cilĂndrico
caiu em Myanmar, no Estado de Kachin. Nas fotos fica evidente que o objeto Ă©
parte de um foguete de estágios.
Porém, no site da rede social chinesa (a
QQ.com) muitos usuários especulam a ideia de pedaços de uma nave extraterrestre
ter caĂdo em Zhangjiapan: “O anel parece a porta de uma cabine de um UFO”,
afirmou um internauta.
Lixo espacial? Nave extraterrestre? OVNI? O
Cinegnose prefere interpretar esse insĂłlito evento pelo ponto de vista do
Sincromisticismo.
Evento sincromĂstico
O estranho evento no remoto vilarejo chinĂŞs
lembra incrivelmente a sequĂŞncia de Show de Truman descrita acima: um objeto
cai do cĂ©u e nele há uma inscrição enigmática – no caso do filme, a nominação
da estrela Sirius cenográfica da constelação Cão Maior do céu fake do reality
Truman Show.
Foi o momento do insight, da concepção da desconfiança de que a realidade percebida
foi construĂda para ele. Truman Ă© feliz porque vive na ignorância de que a
realidade Ă© um encadeamento de relações previsĂveis de causa e efeito. AtĂ© que
o objeto com a misteriosa inscrição quebra a cadeia de causalidades.
Há uma relação entre a falsa realidade para a
qual Truman foi despertado e a queda do objeto na China? Entre o spot de estĂşdio
que simulava uma estrela no firmamento falso de Seaheaven e o pedaço de lixo
espacial?
Assim como o firmamento fabricado de
Seaheaven, o nosso firmamento terrestre está repleto de satélites das mais
variáveis funções (telecomunicações, espionagem, telemetria, rastreamento etc.)
alĂ©m de muito lixo espacial que acabam se confundindo com estrelas cadentes –
basta uma olhada mais detida com um telescĂłpio em uma noite para perceber o
intenso “tráfego” de satĂ©lites e space
junk.
Desde 1957, oficialmente foram enviados para
a órbita terrestre 2.783 satélites. Levando em conta que a vida útil de um
satĂ©lite Ă© de 10 anos para logo depois ser substituĂdo por outro esse nĂşmero
pula para 5.000.
O céu nos observa
Também oficialmente, quem controla a ocupação
da órbita terrestre é a Organização das Nações Unidas (ONU) através dos seus
técnicos que autorizam novos lançamentos e regulam o ponto em que cada objeto
deve ser posicionado.
Mas na prática os técnicos muitas vezes não
têm acessos a informações precisas devido aos interesses militares,
governamentais e empresarias – principalmente espionagem e rastreamento.
O céu monitora a vida de Truman nos seus
mĂnimos detalhes – para quem se lembra, a Lua Ă© o principal ponto de observação
do diretor do reality chamado Christof.
E se estivermos vivendo uma situação cada vez
mais próxima da vida do protagonista Truman? Satélites de espionagem como os da
categoria KH (abreviatura para “key hole” – “buraco de fechadura”) sĂŁo
verdadeiros telescópios espacial Hubble: apenas que ao invés de estarem virados
para o espaço, estão apontados para a Terra. São gigantescas câmeras digitais
de 15 toneladas com enormes lentes.
As imagens sĂŁo usadas secretamente por
comunidades civis e militares para finalidades que fogem ao controle da opiniĂŁo
pĂşblica e da prĂłpria ONU.
Com a chegada das tecnologias digitais, as
antigas imagens em preto e branco dos satĂ©lites construĂdos pela Lockheed
Martin (empresa de produtos aeroespaciais localizada em Maryland, EUA) nos anos
1960 e 1970 (sob contratos secretos com CIA e Força Aérea norte-americana),
foram substituĂdas por imagens em 3D para monitorar atividades na Terra, criar
modelos de terrenos das ações militares, perseguição de criminosos, terroristas
e... controle de insurreições civis. Produção de vĂdeos em tempo real Ă© a
função rotineira desses satélites, ignorando a soberania nacional ou direitos
civis.
Ou seja, o monitoramento das nossas ações não
é apenas através das redes digitais. Também é ótico, por gigantescos
telescĂłpios apontados para a superfĂcie do planeta.
Em 2013 foi lançado mais um satélite desta
categoria, o NROL-39 da NRO (EscritĂłrio de Reconhecimento Nacional dos EUA),
agência responsável pelo fornecimento das informações obtidas por satélites
espiões e de reconhecimento para as demais agências de segurança
norte-americanas como a famigerada NSA.
O logotipo da ogiva do foguete que levou o
satĂ©lite para o espaço era bem arrogantemente direto: “Nothing is Beyond Our
Reach” – “Nada Está Fora do Nosso Alcance”, com um gigantesco polvo com
tentáculos envolvendo o planeta.
Talvez devamos começar a nos portar como o
personagem Truman Burbank diante objetos repentinos que caem do céu: desconfiar
que vivemos em uma realidade construĂda e nada Ă© por acaso.
Mais uma vez compreendemos os simbolismos
sincromĂsticos de filmes como Show de
Truman ou de séries como a atual Westworld
(sobre a série clique aqui): mundos gnósticos de
protagonistas prisioneiros e vigiados por secretos dispositivos tecnolĂłgicos
camuflados em ambientes especialmente criados para gerar a ilusĂŁo de cotidiano
previsĂvel e banal.
Tanto o reality show de Truman como o parque
temático dos androides de Westworld são microcosmos da própria condição humana
dos espectadores que assistem a esses filmes.
Certamente a realidade Ă© mais assustadora do
que apenas supostos OVNIs caindo em um recanto qualquer no interior da China.
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