1 - Papai Noel pode matar em “Rare Exports”
|
Se Papai Noel
é um personagem tão altruísta, por que ele trabalha na clandestinidade? Por
que muitas crianças temem a figura de Papai Noel em shoppings e parques? Por
que a constante presença de papais-noéis assassinos e aterrorizantes na
cinematografia? Essas questões em relação ao mito do Papai Noel são as
motivações para o jovem diretor finlandês Jalmari Helander a desconstruir o
imaginário desse personagem no filme Rare Exports (2010).
Jalmari vai
buscar as origens do mito natalino no folclore pagão, anterior à conversão
cristã e norte-americana através da publicidade da Coca-Cola: há um
imaginário subterrâneo e esquecido em torno do mito do Papai-Noel que
insistentemente ressurge na cultura.
|
|
2 - Papai Noel: Modo de Usar (curta)
|
Jamais fume, fale palavrões, beba álcool ou
tenha atitudes inconvenientes ao lado de um Papai Noel. Ele poderá matá-lo.
Isso porque por baixo da roupa natalina esconde-se um raro ser ardiloso e
cruel, caçado na Finlândia, treinado para executar o papel do bom velhinho e
exportado para todos os shopping centers do mundo pela empresa Rare Exports
Inc. Pelo menos é o que pensa o cineasta finlandês Jalmari Helander, um
estudioso não só das origens do mito, mas da sua conversão publicitária
norte-americana feita pela Coca-Cola.
Os curtas Rare Exports Inc. (2003) e
The Official Rare Exports Inc. - Safety Instructions (2005) são
produtos da fixação do diretor pelo personagem e que, mais tarde, acabou
resultando no longa metragem O Papai Noel das Cavernas ( Rare Exports,
2010): são fábulas que mostram o quanto de frieza administrativa,
gerenciamento e treinamento de recursos humanos está por trás de cada rosto
feliz dos papais noéis, funcionários e atendentes de toda a estrutura
comercial que se traveste com signos da compaixão e do amor ao próximo.
|
|
3 - Papai-Noel vinga-se do Cristianismo no filme “Uma Noite de Fúria
|
Um filme
“trash” como “Uma Noite de Fúria” (Santa’s Slay, 2005) trás muito mais
verdades do que toda a filmografia que pretende trazer fé e esperança por
meio de uma figura tão controvertida como Papai-Noel.
A recorrência
de filmes que apresentam uma visão “pagã” ou “satânica” do mito natalino,
confirma as origens histórico-políticas de Papai-Noel: Santa Claus e Satã são
os dois lados de uma mesma moeda criada pela Igreja para que o Cristianismo
ganhasse hegemonia sobre culturas dominadas por rituais de fertilidade que
relembravam os ciclos da natureza, morte e renascimento.
|
4 - “Treevenge” – a vingança das árvores de Natal
|
Nessa época do
ano surgem na Internet várias listas de filmes que fazem paródias com muito
humor negro sobre o espírito do Natal. O curta canadense Treevenge
(2008) é mais um exemplo – pinheiros arrancados da floresta por cruéis
lenhadores para serem explorados no mercado de decorações natalinas planejam
uma sangrenta vingança contra os humanos.
Além da
crueldade, os humanos ainda adoram as bregas músicas natalinas. O que irrita
ainda mais os pinheiros que veem sua dignidade perdida aos serem
transformados em árvores de natal no canto de uma sala de jantar qualquer.
Por trás do horror trash de Treevenge há ainda mais: Nietzsche e o
espírito de Natal transformado em valor agregado dos produtos.
|
|
5 - O Universo foi criado por alguém que não nos ama em “Christmas On
Mars”
|
Um filme estranho, trash e psicodélico que
confirma que o rock é um gênero musical que sempre retirou suas energias da
mitologia gnóstica contemporânea: Detetives, Viajantes e Estrangeiros sempre
vagando em nowhere – o Espaço, o Deserto, o Lugar Nehum como símbolos da
condição humana, assim como o Major Tom de músicas de David Bowie.
Dessa vez no filme Christmas On Mars
(2008, escrito e performado pela banda de rock indie “Flaming Lips”) vemos
Major Syrtis tentando superar uma crise de niilismo, psicose e paranoia que
se abateu sobre a tripulação de uma base marciana através da organização de
uma festa natalina. Mas terá que superar a confrontação com a “realidade
cósmica” – que o Universo foi criado por alguém que não nos ama.
|
|
6 – O fantasma do tempo no filme “Christmas Carol”
|
O livro Christmas
Carol (Um Cântico de Natal, 1843) de Charles Dickens é atemporal
por apresentar dois grandes arquétipos que marcarão a vida moderna: Fantasmas
e o Tempo. Ao fazerem uma adaptação usando animação digital (através da
tecnologia de “captura de performance”), a Walt Disney Pictures e o diretor
Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro e Forrest Gump)
produzem um efeito paradoxal: esvaziam o olhar crítico de Dickens sobre o
início da modernidade ao reduzir a narrativa à estética videogame por meio de
uma tecnologia moderna.
O Ocultismo e a
problematização do Tempo, marcas da literatura do século XIX como formas de
questionar a modernidade, são temas oportunos para uma reflexão nesses
momentos que antecedem a celebração de Ano Novo onde todos querem reter um
momento do tempo, que então será passado.
|