Depois
da Copa de 2014, cujo baixo astral culminou com os 7 X 1 da Alemanha contra o
Brasil, as coisas mudaram na cobertura da grande mídia dos Jogos Olímpicos Rio
2016: tudo é espetáculo, da organização do evento ao desempenho olímpico dos
atletas brasileiros. Se em outros tempos eventos negativos eram repercutidos
para criar evidências de desorganização e fracasso, agora são minimizados ou se
transformam em instrumento de uma inesperada verve patriótica, como no caso dos
nadadores norte-americanos pegos na mentira, depois de anos de um interesseiro
culto ao complexo de vira-latas. Porém, na cobertura tautista (autismo +
tautologia) principalmente da Globo “gafes” acontecem: William Waack que acidentalmente
saiu script patriótico que a Globo agora quer turbinar (o vício falou mais alto
para Waack) e, mais uma vez, o narrador Galvão Bueno comete atos falhos, sempre
alheio à realidade externa ao seu falatório. Para a grande mídia as Olimpíadas
se transformaram num anestésico político para o grave momento que atravessa o
País do impeachment.
Mortes, atrasos,
manifestações, arrastões contra banhistas nas praias do Rio de Janeiro,
descontentamentos, gastos excessivos. A cada semana o Brasil produzia uma notícia
ruim na cobertura midiática negativa da Copa de 2014
Hotéis lotados, Agência
Moody’s avaliando positivamente legado dos jogos para o País, o Rio atraente de
novo, sinais de recuperação econômica, o espetáculo da abertura no Maracanã.
Esse foi o clima que antecedeu as Olimpíadas Rio 2016. Cobertura positiva, principalmente
após o afastamento da presidenta Dilma.
O ministro
Henrique Meirelles aproveita o clima olímpico e fala em “sinais de recuperação
econômica”. Empresários falam que afastamento definitivo da presidenta vai
“destravar investimentos”. Vice-presidente
do Secovi-Rio, Leonardo Schneider, fala que Olimpíadas serão “sementinha
plantada para florescer pós-jogos”.
Para a grande
mídia, a Rio 2016 transformou-se numa espécie de blindagem ou de anestésico
político para um incômodo processo de impeachment que repercute negativamente
no Exterior. Como a grande mídia foi uma das grandes armas para gerir a
atmosfera de instabilidade política e econômica, principalmente desde o início cobertura do
chamado Mensalão em 2005, chegou o momento de tirar o pé do acelerador e mudar
de direção.
Repentinamente,
do fundo do abismo, o País renasce como num passe de mágica. Afinal, crise é
“psicológica” como sugeriu em certo momento o atual
vice-presidente-interino-em-exercício Michel Temer.
O duplo papel estratégico da Globo
Se toda a crise é
de natureza psicológica, nada melhor do que deixar todo o trabalho de produção
do cimento da retomada para a mídia tautista (Autismo + Tautologia),
principalmente da cobertura da TV Globo – sobre o conceito de “tautismo” clique aqui.
Com direitos
hegemônicos de transmissão dos jogos, a Globo tem consciência de que deve
desempenhar um duplo papel estratégico: ser relações públicas de si mesma (por
meio de metalinguagem, auto-referências etc.) para manter a imagem de que ainda
é poderosa e influente; e abandonar a síndrome vira-latas cuidadosamente
cultivada nos últimos anos (a conhecida editoria “este País é uma merda!”)
criando a percepção do País da retomada do crescimento econômico.
Apesar do hábito
fazer o monge e trair alguns dos seus apresentadores como veremos adiante no
caso de William Waack, apresentador do Jornal da Globo.
Primeiros movimentos do renascimento do Brasil
Tudo começou com
a suposta ameaça de uma “célula terrorista amadora” no Brasil que estaria
tramando sombrios planos para acabar com a paz dos jogos. Com pompa e
circunstância, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes convoca a imprensa
para anunciar a prisão de terroristas brasileiros que se comunicavam por
WhatsApp e compravam armas do Paraguai pela Internet...
Primeiro
movimento para demonstrar que o País havia alcançado a maioridade
internacional: também possui terroristas que são corajosamente combatidos. Diligentemente
a mídia repercutiu acriticamente o episódio – sintoma tautista: Alexandre de
Moraes confirma a escalada diária dos telejornais com notícias de ataques em
Nice e cidades alemãs. Também efeito Heisenberg: a mídia cada vez mais cobre a
si mesma e os seus efeitos sobre a política e economia – sobre esse conceito clique aqui.
Ironicamente, os únicos
turistas inocentes feridos não foram obra de alguma célula amadora do Estado
Islâmico, mas de uma simples câmera suspensa por cabos do Parque Olímpico que
despencou em uma tarde de fortes ventos. Sete pessoas, entre adultos e
crianças, foram atingidas. “Sem gravidade”, destacavam as manchetes que
minimizavam o incidente.
Fosse em outros
tempos, entraria em ação a editoria “esse País é uma m*!”. Se destacaria a
falta de planejamento, má organização, imagens da turista em close
ensanguentada. Pouco importaria informações de que a câmera é responsabilidade
da OBS, empresa que pertence ao COI.
A partir daí, os
jogos seriam marcados pelo clima de insegurança. Por exemplo, um incêndio como
o de ontem em uma barraca de cronometragem do Triatlo seria mais uma notícia
dessa verdadeira retranca dos jogos que seria aberta: os Jogos do Medo!
Porém, o mais
surpreendente foi o caso dos quatro atletas da equipe de natação dos EUA
vítimas de um suposto assalto após saírem de uma festa na Zona Sul do Rio. Após
depredarem o banheiro de um posto de gasolina, denunciariam em uma delegacia
que teriam sido vítimas de assalto, uma invenção para encobrir um caso
extraconjugal de um deles na festa e o vexame da depredação.
Novamente, fosse
em outros tempos seria a oportunidade da grande mídia mais uma vez
sensacionalizar o episódio como evidência de Jogos Olímpicos inseguros e
atletas do mundo inteiro em perigo pelas ruas da cidade.
É claro que as
descobertas posteriores como a câmera de segurança mostrando os
norte-americanos chegando na vila olímpica com seus celulares e carteiras ou as
contradições do caso seriam descartadas da pauta dos noticiários.
Surpreendentemente,
a grande mídia transformou o caso numa oportunidade de afirmação patriótica: ver
os norte-americanos pedindo desculpas não tem preço, além de ser uma oportunidade
de reverter a imagem negativa do País feita pela mídia estrangeira... Afinal,
eles também insistem em dizer que há golpe no Brasil...
Americanos pedindo desculpas não tem preço |
Apenas William
Waack saiu do script de renascimento patriótico: foi traído pelo próprio
traquejo automático da síndrome de vira-latas adquirida. “São meninos, sim”,
admitiu Waack. Para depois emendar: “mas devem ser desculpados pela fama de
criminalidade do Rio de Janeiro”.
Até o Ministério
Público resolveu tirar uma casquinha da onda midiática patriótica para decidir
aumentar a multa dos atletas para R$ 150 mil.
O problema dessa
verve patriótica é que a grande mídia enfraqueceu um plot importante do seu
script: a demonização dos russos. A foto espalhada pelas redes sociais de
supostos membros da delegação russa flagrados colocando vodka em garrafas
d’água antes de ir para a vila olímpica acabou não tendo a repercussão
necessária. Os nadadores norte-americanos depredadores e mentirosos roubaram a
cena.
E até agora não
foram identificadas as pessoas da foto, se eram atletas ou sequer parte técnica
da delegação russa... essas redes sociais repercutem qualquer coisa... - veja foto abaixo.
O viés estatístico
Apesar do País
sediar o evento, o número de medalhas para o Brasil não teve o rendimento
esperado, retrocedendo aos números das Olimpíadas de Atenas em 2004.
Se em outros
tempos essa informação seria repercutida midiaticamente como mais uma evidência
da falência de um evento que, para nada, o Brasil ousou sediar, agora é tudo
diferente. Basta mudar o viés estatístico.
Um analista da
SporTV observou o desempenho olímpico nacional negativo. Mas, outro
comentarista, Raphael Rezende, foi rápido no gatilho: “mas chegamos a 70 finais
comparado as 40 das Olimpíadas de Pequim... crescimento de quase o dobro...”.
Esse garoto tem futuro nas Organizações Globo.
Galvão Bueno e o atleta paraolímpico Fernando Fernandes |
Mais tautismo de Galvão Bueno
E o nome que é a
própria encarnação do tautismo da TV Globo, Galvão Bueno, aprontou mais uma.
Depois de adiar a largada de uma prova de natação por não ficar calado no
momento de concentração dos atletas (clique aqui), agora cometeu uma
inacreditável gafe ao pedir para todos ficarem de pé com cadeirante no estúdio.
Após o final dos
200m de atletismo com mais uma medalha para Usain Bolt, Bueno pediu para todos
ficarem em pé para ouvirem o hino da Jamaica, cantado pelo comediante Marcelo
Adnet. O que causou constrangimento para o velejador Lars Grael e o atleta
paraolímpico Fernando Fernandes. Os outros comentaristas levantaram, para se
sentarem rapidamente ao perceberem a “gafe”.
Mas dentro desse
contexto aqui analisado, o incidente foi apenas mais uma “gafe”. Assim como
William Waack, Galvão Bueno continua sendo traído por uma fala automática que
esqueceu do mundo exterior. Isso é o que o Cinegnose chama de “autismo”.
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