sábado, agosto 20, 2016

Grande Mídia vê Olimpíadas Rio 2016 como anestésico político


Depois da Copa de 2014, cujo baixo astral culminou com os 7 X 1 da Alemanha contra o Brasil, as coisas mudaram na cobertura da grande mídia dos Jogos Olímpicos Rio 2016: tudo é espetáculo, da organização do evento ao desempenho olímpico dos atletas brasileiros. Se em outros tempos eventos negativos eram repercutidos para criar evidências de desorganização e fracasso, agora são minimizados ou se transformam em instrumento de uma inesperada verve patriótica, como no caso dos nadadores norte-americanos pegos na mentira, depois de anos de um interesseiro culto ao complexo de vira-latas. Porém, na cobertura tautista (autismo + tautologia) principalmente da Globo “gafes” acontecem: William Waack que acidentalmente saiu script patriótico que a Globo agora quer turbinar (o vício falou mais alto para Waack) e, mais uma vez, o narrador Galvão Bueno comete atos falhos, sempre alheio à realidade externa ao seu falatório. Para a grande mídia as Olimpíadas se transformaram num anestésico político para o grave momento que atravessa o País do impeachment.



Mortes, atrasos, manifestações, arrastões contra banhistas nas praias do Rio de Janeiro, descontentamentos, gastos excessivos. A cada semana o Brasil produzia uma notícia ruim na cobertura midiática negativa da Copa de 2014
Hotéis lotados, Agência Moody’s avaliando positivamente legado dos jogos para o País, o Rio atraente de novo, sinais de recuperação econômica, o espetáculo da abertura no Maracanã. Esse foi o clima que antecedeu as Olimpíadas Rio 2016. Cobertura positiva, principalmente após o afastamento da presidenta Dilma.
O ministro Henrique Meirelles aproveita o clima olímpico e fala em “sinais de recuperação econômica”. Empresários falam que afastamento definitivo da presidenta vai “destravar investimentos”.  Vice-presidente do Secovi-Rio, Leonardo Schneider, fala que Olimpíadas serão “sementinha plantada para florescer pós-jogos”.
Para a grande mídia, a Rio 2016 transformou-se numa espécie de blindagem ou de anestésico político para um incômodo processo de impeachment que repercute negativamente no Exterior. Como a grande mídia foi uma das grandes armas para gerir a atmosfera de instabilidade política e econômica,  principalmente desde o início cobertura do chamado Mensalão em 2005, chegou o momento de tirar o pé do acelerador e mudar de direção.
Repentinamente, do fundo do abismo, o País renasce como num passe de mágica. Afinal, crise é “psicológica” como sugeriu em certo momento o atual vice-presidente-interino-em-exercício Michel Temer.


O duplo papel estratégico da Globo


Se toda a crise é de natureza psicológica, nada melhor do que deixar todo o trabalho de produção do cimento da retomada para a mídia tautista (Autismo + Tautologia), principalmente da cobertura da TV Globo – sobre o conceito de “tautismo” clique aqui.
Com direitos hegemônicos de transmissão dos jogos, a Globo tem consciência de que deve desempenhar um duplo papel estratégico: ser relações públicas de si mesma (por meio de metalinguagem, auto-referências etc.) para manter a imagem de que ainda é poderosa e influente; e abandonar a síndrome vira-latas cuidadosamente cultivada nos últimos anos (a conhecida editoria “este País é uma merda!”) criando a percepção do País da retomada do crescimento econômico.
Apesar do hábito fazer o monge e trair alguns dos seus apresentadores como veremos adiante no caso de William Waack, apresentador do Jornal da Globo.

Primeiros movimentos do renascimento do Brasil


Tudo começou com a suposta ameaça de uma “célula terrorista amadora” no Brasil que estaria tramando sombrios planos para acabar com a paz dos jogos. Com pompa e circunstância, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes convoca a imprensa para anunciar a prisão de terroristas brasileiros que se comunicavam por WhatsApp e compravam armas do Paraguai pela Internet...
Primeiro movimento para demonstrar que o País havia alcançado a maioridade internacional: também possui terroristas que são corajosamente combatidos. Diligentemente a mídia repercutiu acriticamente o episódio – sintoma tautista: Alexandre de Moraes confirma a escalada diária dos telejornais com notícias de ataques em Nice e cidades alemãs. Também efeito Heisenberg: a mídia cada vez mais cobre a si mesma e os seus efeitos sobre a política e economia – sobre esse conceito clique aqui.


Ironicamente, os únicos turistas inocentes feridos não foram obra de alguma célula amadora do Estado Islâmico, mas de uma simples câmera suspensa por cabos do Parque Olímpico que despencou em uma tarde de fortes ventos. Sete pessoas, entre adultos e crianças, foram atingidas. “Sem gravidade”, destacavam as manchetes que minimizavam o incidente.
Fosse em outros tempos, entraria em ação a editoria “esse País é uma m*!”. Se destacaria a falta de planejamento, má organização, imagens da turista em close ensanguentada. Pouco importaria informações de que a câmera é responsabilidade da OBS, empresa que pertence ao COI.
A partir daí, os jogos seriam marcados pelo clima de insegurança. Por exemplo, um incêndio como o de ontem em uma barraca de cronometragem do Triatlo seria mais uma notícia dessa verdadeira retranca dos jogos que seria aberta: os Jogos do Medo! 
Porém, o mais surpreendente foi o caso dos quatro atletas da equipe de natação dos EUA vítimas de um suposto assalto após saírem de uma festa na Zona Sul do Rio. Após depredarem o banheiro de um posto de gasolina, denunciariam em uma delegacia que teriam sido vítimas de assalto, uma invenção para encobrir um caso extraconjugal de um deles na festa e o vexame da depredação.
Novamente, fosse em outros tempos seria a oportunidade da grande mídia mais uma vez sensacionalizar o episódio como evidência de Jogos Olímpicos inseguros e atletas do mundo inteiro em perigo pelas ruas da cidade.
É claro que as descobertas posteriores como a câmera de segurança mostrando os norte-americanos chegando na vila olímpica com seus celulares e carteiras ou as contradições do caso seriam descartadas da pauta dos noticiários.
Surpreendentemente, a grande mídia transformou o caso numa oportunidade de afirmação patriótica: ver os norte-americanos pedindo desculpas não tem preço, além de ser uma oportunidade de reverter a imagem negativa do País feita pela mídia estrangeira... Afinal, eles também insistem em dizer que há golpe no Brasil...
Americanos pedindo desculpas não tem preço

Apenas William Waack saiu do script de renascimento patriótico: foi traído pelo próprio traquejo automático da síndrome de vira-latas adquirida. “São meninos, sim”, admitiu Waack. Para depois emendar: “mas devem ser desculpados pela fama de criminalidade do Rio de Janeiro”.
Até o Ministério Público resolveu tirar uma casquinha da onda midiática patriótica para decidir aumentar a multa dos atletas para R$ 150 mil.
O problema dessa verve patriótica é que a grande mídia enfraqueceu um plot importante do seu script: a demonização dos russos. A foto espalhada pelas redes sociais de supostos membros da delegação russa flagrados colocando vodka em garrafas d’água antes de ir para a vila olímpica acabou não tendo a repercussão necessária. Os nadadores norte-americanos depredadores e mentirosos roubaram a cena.
E até agora não foram identificadas as pessoas da foto, se eram atletas ou sequer parte técnica da delegação russa... essas redes sociais repercutem qualquer coisa... - veja foto abaixo.
Quem eram os supostos russos?

O viés estatístico


Apesar do País sediar o evento, o número de medalhas para o Brasil não teve o rendimento esperado, retrocedendo aos números das Olimpíadas de Atenas em 2004.
Se em outros tempos essa informação seria repercutida midiaticamente como mais uma evidência da falência de um evento que, para nada, o Brasil ousou sediar, agora é tudo diferente. Basta mudar o viés estatístico.
Um analista da SporTV observou o desempenho olímpico nacional negativo. Mas, outro comentarista, Raphael Rezende, foi rápido no gatilho: “mas chegamos a 70 finais comparado as 40 das Olimpíadas de Pequim... crescimento de quase o dobro...”. Esse garoto tem futuro nas Organizações Globo.

Galvão Bueno e o atleta paraolímpico Fernando Fernandes

Mais tautismo de Galvão Bueno


E o nome que é a própria encarnação do tautismo da TV Globo, Galvão Bueno, aprontou mais uma. Depois de adiar a largada de uma prova de natação por não ficar calado no momento de concentração dos atletas (clique aqui), agora cometeu uma inacreditável gafe ao pedir para todos ficarem de pé com cadeirante no estúdio.
Após o final dos 200m de atletismo com mais uma medalha para Usain Bolt, Bueno pediu para todos ficarem em pé para ouvirem o hino da Jamaica, cantado pelo comediante Marcelo Adnet. O que causou constrangimento para o velejador Lars Grael e o atleta paraolímpico Fernando Fernandes. Os outros comentaristas levantaram, para se sentarem rapidamente ao perceberem a “gafe”.
Mas dentro desse contexto aqui analisado, o incidente foi apenas mais uma “gafe”. Assim como William Waack, Galvão Bueno continua sendo traído por uma fala automática que esqueceu do mundo exterior. Isso é o que o Cinegnose chama de “autismo”.

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