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segunda-feira, dezembro 25, 2017

Os sinais silenciosos que antecedem um golpe em "The Handmaid's Tale"


Para a revista “New Yorker”, publicação dos leitores bem pensantes liberais dos EUA, a série “Handmaid’s Tale” (2017-) é um “distópico conto feminista” da atual era Trump. Mas enquadrar a produção da plataforma de streaming Hulu nesse clichê é confirmar aquilo que a própria série alerta: ao qualificar os sinais do conservadorismo apenas como excrescências religiosas de gente ignorante é mau informada, reduzimos tudo a uma estranha normalidade, sem percebemos os sinais silenciosos cotidianos que antecedem os golpes políticos. Em “The Handmaid’s Tale” a América foi dominada por um estado teocrático fundamentalista cristão. Um desastre ambiental tornou a maioria das mulheres estéreis. As poucas mulheres férteis foram subjugadas e transformadas em “servas”, reduzidas a aparelhos reprodutores de uma elite dominante masculina. O Congresso, a Casa Branca e o Supremo Tribunal foram massacrados e a Constituição foi substituída pela leitura radical dos versículos da Bíblia.    

domingo, dezembro 10, 2017

Curta da Semana: "Where Are They Now?" - uma cilada destruiu Roger e Jessica Rabbit


Onde estão os ícones da animação dos anos 1980 como He-Man, Roger e Jéssica Rabbit (do filme "Uma Cilada Para Roger Rabbit"), o Esqueleto, Garfield, Popeye, Mumm-Rá, muito tempo depois do auge? Como seria a realidade das suas vidas atuais? O animador inglês Steve Cutts (conhecido por narrativas críticas sobre a vida moderna) os imagina viciados, obesos, compulsivos, desempregados ou subempregados em call-centers e caixas de supermercados. Esse é o argumento do pequeno curta “Where Are They Now?” (2014): heróis que perderam a batalha final contra inimigos mais poderosos do que vilões desse ou do outro mundo: o mundo corporativo, o trabalho precarizado e o desemprego crônico. E terminaram esquecidos porque acabaram ficando parecidos demais com os espectadores.

quinta-feira, novembro 30, 2017

O jogo da simulação de censura Globo/Gabriel Bá


Nas redes sociais indignação. O desenhista Gabriel Bá apareceu no talk show da Globo “Conversa com Bial” com seu indefectível boné verde – marca registrada do artista. Só que dessa vez com a estrela vermelha coberta de forma improvisada com duas fitas isolantes preta. “Evite números ou símbolos para que não haja associação a marcas ou partidos políticos”, teriam dito os figurinistas nos camarins. “Censura!”, gritaram internautas. Se foi mesmo censura, como pode a Globo fazê-la de forma tão tosca e improvisada? O episódio apresenta algumas dissonâncias que sugerem mais uma estratégia de manipulação. Mas dessa vez não mais no campo semiótico da “dissimulação” – esconder, mentir, censurar. Mas agora no campo da “simulação”: propositalmente tornar o evento visível (a suposta “censura”). Para quê? Para a Globo tentar se livrar de mais um dos seus dilemas: depois de anos de oposição política explícita explorando símbolos e números de forma até subliminar, agora, candidamente, tenta demonstrar que possui uma linha editorial “imparcial”. E o artista, assim como os indignados críticos, participaram inconscientes desse blefe.

sábado, setembro 23, 2017

Resposta ao post "Sexo e Luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras", por Elvis Silva


Publicamos  o comentário do nosso leitor Elvis de Almeida Silva sobre a recente postagem desse Cinegnose de 17/09/2017 “Sexo e Luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras” como um artigo, pela sua riqueza de informações e argumentos que ajudam a detalhar aspectos polêmicos da postagem anterior. Principalmente a afirmação de Nietzsche de que “Wagner é uma neurose” e sua implicações com o nazismo. Uma discussão importante para entendermos como a moderna indústria do entretenimento consegue absorver tudo aquilo que em dado momento na arte e na cultura foi vanguardista, inovador e arrojado. Para depois ser padronizado e estereotipado.

domingo, junho 04, 2017

Doria Jr. é vanguarda de um experimento e São Paulo o laboratório


Subir numa escavadeira para posar para as câmeras em demolições na Cracolândia, qualificar como “bobagem” quando questionado sobre as ameaças de agressão física do secretario André Sturm contra agentes culturais, o humilhante vídeo demitindo uma secretária de governo análogo à estética visual dos vídeos do ISIS, qualificar as ruas de São Paulo como “lixo humano” e pulverizar e despachar a Virada Cultural para lugares distantes entre si. Arrogante? “João Noia?” O gênio do prefeito João Doria Jr. é saber que foi eleito pela e para a mídia corporativa e que “opinião pública” resume-se a câmera e teleprompter. Sabe que nada deve ao respeitado público já que é uma experiência de vanguarda de um projeto no qual São Paulo é o laboratório. Por isso, de forma atávica, repete como farsa o roteiro do assalto nazifascista ao poder e guerra contra a sociedade: começa pelo banimento da “arte degenerada”, passando pela desautorização e humilhação das opiniões contrárias, terminando com a “Nova Berlim” paulistana na Cracolândia e “sacar revólveres” quando ouve falar em cultura. 

sexta-feira, maio 12, 2017

Para quê serve a astrologia de massas?




Na década de 1950 o alemão Theodor Adorno (pelo olhar sócio-psicanalítico) e o francês Roland Barthes (pelo ponto de vista da semiologia) empreenderam pesquisas sobre as colunas de astrologia, respectivamente do Los Angeles Time e do semanário Elle. Ambos chegaram à mesma reposta: a astrologia de massas serve para exorcizar o real. A astrologia deixa de ser uma abertura para o Oculto, o Onírico e o Imaginário para se transformar num espelho realista e disciplinador da própria rotina diária dos leitores. Será que essa resposta pode ser aplicada à astrologia de massas atual, mais de cinquenta anos depois dessas análises?

quinta-feira, maio 04, 2017

A morte de Belchior e a construção do estereótipo do "maluco beleza"


Belchior foi um verdadeiro objeto voador não identificado na MPB. Por décadas a mídia corporativa tentou enquadrá-lo em alguma categoria: “rapaz romântico”, “brega”, “figura de voz fanhosa e bigodão” etc. E nos últimos anos, procurou encaixá-lo na narrativa “desaparecido/aparecido” e, por fim, na sua morte, transformá-lo no estereótipo do “maluco beleza”. Para quê? Para enquadrá-lo na derradeira narrativa do modelo negativo moralizante: o “maluco beleza” irresponsável que não conseguiu dar a “volta por cima” numa suposta carreira que descia ladeira abaixo. Belchior sabia que a mídia fazia tábula rasa da sua obra e, por isso, de forma autoconsciente virou um OVNI da MPB. A forma como a grande mídia “reciclou” a morte de um ser inclassificável confirma uma tese do pensador Theodor Adorno sobre a função do entretenimento na Indústria Cultural: apertar ainda mais os arreios que nos prendem à disciplina do mundo do trabalho.

terça-feira, fevereiro 14, 2017

A celebração da troca do desejável pelo possível em "La La Land"


Por que “La La Land - Cantando Estações” é o grande favorito ao Oscar? Porque está sintonizado com o espírito do tempo desse início de século: nostálgico, vintage, metalinguístico e com um amargo realismo. O filme capta a essência do gênero musical clássico, levando o clichê de “quebra e retorno a ordem” (pessoas que dançam, cantam e sonham, mas que depois voltam à realidade como se nada tivesse acontecido) ao limite. A nostalgia pela era de ouro de Hollywood e do jazz são o consolo para um casal que vê seus sonhos desapontados. Misturando alusões a filmes musicais clássicos, “La La Land” é uma fábula de como o amor nos dá força para realizar o possível. Mas, ao mesmo tempo, pode entrar na contabilização dos sacrifícios de termos perdido tudo aquilo que era desejável.

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Eike Batista: Efeito Heisenberg e lixo midiático reciclado


A política brasileira parece estar sendo dirigida pelos misteriosos desígnios das “coincidências”. Os exemplos mais recentes: a morte do ministro do STF Teori Zavascki no Triângulo das Bermudas da política em Paraty e a prisão do pobre homem rico “foragido” Eike Batista, repletos das sempre recorrentes “coincidências” e timings oportunos envolvendo a onipresente TV Globo. Qualquer tentativa de explicar essas “coincidências” (rapidamente definidas pela narrativa midiática como “fatalidades” das “trapaças da sorte”) é logo rotulada como “teoria conspiratória”. Mas o show midiático da “caça” ao “foragido” Eike Batista acrescenta alguns ingredientes a mais: o chamado Efeito Heisenberg, no qual a mídia cobre um evento criado por ela mesma; e o linchamento midiático: depois dos petistas agora são as celebridades, subprodutos da própria mídia. Linchamento que combina entretenimento e expiação da dor e introjeção da culpa pelo fracasso profissional e pessoal de milhões de brasileiros no naufrágio da crise econômica. Mesmo no seu fim, Eike Batista se tornou útil como um lixo midiático reciclável no bode expiatório da vez.

domingo, agosto 21, 2016

Curta da Semana: "Third Reich" - Hitler não morreu para os "The Residents"


A banda mais estranha da história do rock faz um vídeo obscuro e surreal de um dos discos mais enigmáticos dos anos 1970. Estamos falando da banda “The Residents” e do disco “Third Reich N’Roll” de 1976. Ao comemorar o trigésimo aniversário em 2001, “The Residents” lançaram o box com DVD e CD chamado “Icky Flix”. Ao longo de décadas os membros da banda se mantiveram incógnitos, não dão entrevistas e nos shows apresentam-se em estranhos disfarces. O vídeo-clip “Third Reich” do DVD Icky Flix” é tão estranho quanto a banda. Se o pensador Theodor Adorno estivesse vivo, certamente gostaria desse curta – Hitler e o nazi-fascismo foram destruídos, mas seu “modus operandi” permaneceu na Indústria Cultural.

segunda-feira, agosto 01, 2016

Curta da Semana: série "Bendito Machine" - relaxe, tudo está sob controle


“Relaxe, tudo está sob controle” é o que sempre parecem nos dizer as máquinas e as tecnologias. Por isso elas nos fascinam e nos gratificam a ponto de se tornarem modernas religiões. É o que nos mostra a série com cinco curtas de animação “Bendito Machine” (2006-2014). Produzida pelo estúdio espanhol Zumbakamera, cada episódio apresenta máquinas que sempre parecem “defecar” pequenas criaturas globulares com olhos que nos controlam por meio da oferta dos prazeres da ambição e gula. Em tempos de apps virais como o Pokémon GO chegando em terras brasileiras, assistir a essa série é obrigatório.

sexta-feira, julho 15, 2016

Autoajuda é negação psíquica em "The Invitation"


As ricas mansões das colinas de Hollywood escondem estranhas seitas e comunidades formada por celebridades, diretores e produtores da indústria do entretenimento. Em uma dessas ricas casas um grupo de amigos que não se via há dois anos é convidado para um jantar. Lá encontrarão os anfitriões: uma ex-esposa e seu novo marido, entusiastas de uma nova seita que promete “um novo recomeço”. Esse é o thriller psicológico “The Invitation” (2015) de Karyn Kusama onde as seitas de autoajuda se revelam na verdade grandes mecanismos de negação psíquica onde a linha que separa a sanidade da loucura começa a desaparecer. Os convidados daquele jantar conhecerão da pior forma possível a máxima freudiana: “o reprimido sempre retorna”.

sexta-feira, abril 08, 2016

Grande mídia resgata espécimes do Brasil Profundo


Esqueça os folclóricos tipos urbanos produzidos pela recente onda do neoconservadorismo político e cultural como, por exemplo, os coxinhas, coxinhas 2.0, simples descolados etc. Esses tipos ainda são de um “Brasil Renitente”. Com o baixo astral generalizado posto em prática pela grande mídia, a pesada atmosfera psíquica nacional revela agora novos espécimes, dessa vez de um “Brasil Profundo”: retrofascistas e protofascistas, tipos-ideais mais perigosos e beligerantes: pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que fizeram sucesso no passado e que foram esquecidos, ex-anônimos que confundem militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas de toda sorte. Todos, ao mesmo tempo, parecem ter sido resgatados do ostracismo e infernos pessoais graças à incansável atividade da grande mídia em produzir novos personagens que sustentem suas pautas.  

Depois desses tempos de neoconservadorismo político e cultural nos brindar com uma rica fauna urbana composta por coxinhas, coxinhas 2.0, novos tradicionalistas, simples descolados, “rinocerontes” etc. (sobre esses tipos urbanos clique aqui, aqui e aqui), a pesada atmosfera psíquica que baixou no País, decorrente da polarização política e da intensa atividade do contínuo midiático para gerar baixo astral, produziu o habitat perfeito para novos e exóticos espécimes.

Eles vieram do Brasil Profundo! Vamos listar alguns desses exemplares:

Espécime 1 – Nome: Ju Isen. Modelo anônima, famosa por tirar a roupa em uma das manifestações Anti-Dilma na Avenida Paulista em São Paulo, tentou repetir a dose como destaque no desfile da Unidos do Peruche e foi expulsa do Sambódromo. Outras modelos desconhecidas tentaram seguir o exemplo em outro protesto da mesma avenida de São Paulo, seminuas e segurando cartazes anti-PT ostentando enormes óculos de marca. Uma se excedeu ao ficar totalmente nua e foi levada presa pela Polícia Militar.

Espécime 2 – Nome: Junior de França. Ajuda a organizar o acampamento de manifestantes pró-impeachment em frente ao prédio da Fiesp em São Paulo. Às vezes se passa por jornalista, outras vezes por ator, mas na verdade recruta homens e mulheres para participar de feiras. É acusado de estelionato e de tentar fazer sexo com modelos, segundo matérias na TV Record e no Portal R7 – clique aqui.

Espécime 3 – Nome: Douglas Kirchner. Transformado em personagem nacional atuando em parceria com a revista Época no vazamento de denúncias contra Lula, o procurador do Ministério Público Federal Douglas Kirchner tem uma controversa militância religiosa e uma conturbada vida amorosa. Fiel de uma seita denunciada por explorar crianças e adolescentes, foi acusado de agredir fisicamente a esposa e mantê-la em cárcere privado no interior de uma das igrejas da seita. Ministra o seminário “Casamento Gay e Marxismo Cultural” onde ataca a igualdade de sexos e defende que o feminismo é um “ideal agnóstico das esquerdas” – sobre a história desse espécime clique aqui.

Espécime 4 – Nome: Janaina Paschoal. Assustando até os apoiadores do impeachment da presidenta Dilma, numa performance resultante do cruzamento de Death Metal com o desempenho da atriz Linda Blair no filme O Exorcista, a professora de Direito Janaina Paschoal fez um discurso em ato de apoio ao impeachment na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco em São Paulo. Transtornada e transfigurada fez alusões ao poder de uma “cobra” que mantém o país no “cativeiro de almas e mentes”. “Acabou a República da Cobra!”, gritava ensandecida em um discurso que lembrava um bispo evangélico fora do controle.


“De onde vem essa gente?”

Como perguntou certa vez o Homem-Aranha, cansado depois de enfrentar o Monstro de Areia e o Venon: “de onde vem toda essa gente?”.

Pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que fizeram sucesso no passado e que foram esquecidos, ex-anônimos que confundem militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas de toda sorte.

Todos de repente parecem ter sido resgatados, todos ao mesmo tempo, de seus ostracismos, infernos e limbos pessoais para serem reciclados, ressignificados pela grande mídia e se tornarem a esperança de um futuro melhor – ou uma “ponte para o futuro”, bordão que subliminarmente vem repetindo a todo momento, em alusão ao documento do PMDB divulgado como proposta para um futuro governo pós-impeachment.

Em toda a crise política, talvez a melhor contribuição dada pela grande mídia foi a de trazer à tona esses personagens do Brasil Profundo, pescados nas águas turvas de uma conturbada psicologia de massas.

Uma verdadeira contribuição no campo da Etnografia e da Antropologia Urbana: ressuscitar espécimes que estavam em estado latente, hibernos, apenas esperando a atmosfera ideal para que voltassem a respirar em plenos pulmões. Espécimes redivivos que agora podemos finalmente ter a oportunidade de estuda-los in loco.

Nizan Guanaes: "Preciso de uma Dona Flor"

Brasil Renitente e Brasil Profundo

Por “Brasil Profundo” não estamos nos referindo a uma referência geográfica como um “interior” ou “periferia”. Mas como o ponto mais profundo de um inconsciente coletivo ou “sombra”, no sentido dado pela psicanálise junguiana.

Muito mais profundo do que o imaginário da “Casa Grande e Senzala” de um país ainda marcado pelos signos de distinção de classes (elevador social, uniformes de empregadas domésticas etc.), marcas de uma antiga ordem escravocrata. Onde até mesmo um publicitário como Nizan Guanaes (Publicidade, símbolo de uma suposta modernidade brasileira) é capaz de revelar esses velhos estereótipos em sua coluna na Folha, reclamando sobre o fim das empregadas domésticas: “Preciso de uma Dona Flor, mas que não precisa ter o corpo da Sônia Braga – precisa é cozinhar”, explicou. – Folha, 16/11/2011.

Esse não é ainda o Brasil Profundo, é o Brasil Renitente.

Ego embrutecido

“Quem é duro consigo mesmo, também é com os demais”, dizia o sociólogo Theodor Adorno na sua célebre fórmula do psiquismo do nazi-fascismo. Certamente esta fórmula poderia ser aplicada nesse estudo dos espécimes do Brasil Profundo.

Em comum, todos eles vieram do esquecimento e obscurantismo. São pessoas apegadas aos valores da meritocracia e competição, o que mais torna essa condição de anonimato em profunda frustração de um ideal de ego também atormentado por um profundo ressentimento.

Ju Isen busca a oportunidade que lhe proporcione, pelo menos, a condição de sub-celebridade; Kirchner, o típico concurseiro de editais públicos, espécime que massacra o próprio psiquismo em busca da aprovação – após a vitória, com o ego tão embrutecido e encouraçado, torna-se frio, indiferente em diversos graus, como, por exemplo, no conservadorismo político e de costumes.

Sub-celebridades: perdedoras de si mesmas

Janaina Paschoal, com seu ego igualmente embrutecido em um meio tão competitivo e masculinizado como o campo do Direito; e Júnior de França, oportunista de ocasião no mundo das sub-celebridades que vivem a fama como farsa.

Ressuscitados do seu estado de torpor pela eletricidade das mídias, descobriram que tinham nas mãos uma hiper-tecnologia: redes sociais e dispositivos móveis para poderem amplificar em tempo real seu ódio e ressentimento.

Retrofascismo

Como alertava o sociólogo canadense Arthur Kroker no final do século passado, o futuro seria do “retrofascismo”: uma situação ambivalente de hiper-tecnologia e primitivismo. Kroker dizia que “o fascismo é a revolta dos derrotados”. A vida dirigida pelo ódio de si mesmo (o ressentimento pelo ostracismo e obscurantismo) vingando-se através da destruição do outro - leia KROKER, Arthur. Data Trash, New York: Saint Martin's Press, 1994.

Como nos informa o prefixo “retro”, esses espécimes protofascistas são nostálgicos de um passado de pureza onde supostamente haveria lei e ordem. Nos nazifascistas do trágico passado, a pureza da raça em um Idade do Ouro; nos retrofascistas, a ordem militar que nos mantinha seguros de feministas, gays e comunistas - sobre o conceito de retrofascismo clique aqui.


Brasil Profundo e Neodesenvolvimentismo

Ao contrário do Brasil Renitente, o Brasil Profundo foi parido nessa última década. A inclusão de milhões de brasileiros à sociedade através do consumo (que o economicismo e neodesenvolvimentismo faziam o PT acreditar que por si só geraria consciência política e de cidadania) na verdade produziu um perverso efeito inverso: despolitização por meio da percepção de que qualquer direito seria um oportunista substituto do mérito e do trabalho.

Estado policial e militarismo é a atmosfera ideal para esses espécimes protofascistas – a oportunidade de destruir o outro mandando à favas todas as formas de direitos e garantias sociais. Destruir todos esses preguiçosos corruptos que vivem à sombra do Estado com bolsas famílias e créditos educativos.

A ironia é que esses espécimes são perdedores na corrida meritocrática: concurseiros que se mataram em concursos públicos para conseguirem estabilidade dentro de um Estado tão odiado, pequenos escroques, oportunistas intelectuais e acadêmicos condenados à própria mediocridade, além de roqueiros esquecidos pelo mercado.

Ressuscitados por uma grande mídia ávida por novos personagens que deem sustentação às suas pautas, sentem na nova atmosfera a chance de vingar no outro a dureza com que tratam a si mesmos.

Fora de suas tocas onde se mantiveram hibernos, hoje esperam uma tradução política para, mais uma vez na História, ocuparem o Estado.

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sexta-feira, março 18, 2016

De anti-Collor a anti-Dilma: 24 anos depois midiatização e neomoralismo


Depois de pouco mais de duas décadas o País está às voltas com manifestações de apoio ao impeachment de um presidente da República. As manifestações do último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, foram consideradas “sem precedentes”, tanto em número de participantes quanto à infraestrutura formada por trios elétricos, canhões de luzes, áreas VIP e todo um aparato voltado para o “ethos” de um perfil sócio-econômico acostumado a serviços e hábitos de consumo de alto nível. Pesquisas como a do Datafolha confirmaram isso. É importante comparar por dentro, nas ruas, as manifestações anti-Collor de 1992 e a atual anti-Dilma em aspectos como atmosfera, comportamento, marcas geracionais, signos de consumo etc. Essa comparação pode revelar as profundas mudanças na opinião pública brasileira – midiatização, neomoralismo e a ascensão do  “cinismo esclarecido”.

Vinte quatro anos depois surgem nas ruas do País manifestações de apoio a um impeachment de um presidente da República. Esse humilde blogueiro tem idade suficiente para ter vivido essas duas épocas: das manifestações marcadas pelo protagonismo dos jovens chamados “caras-pintadas” em 1992 aos protestos atuais cercado de toda uma parafernália de adereços e fantasias como patos amarelos gigantes, bonecos infláveis “pixulecos” e Dilma presidiária chagando a grupos vestidos de Batman e toda a sorte de super-heróis.

sábado, março 12, 2016

A vida é uma gigantesca piada cósmica no filme "Entertainment"


Uma produção que está na lista dos dez filmes mais estranhos de 2015. Em "Entertainment" (2015) um comediante de “stand up comedy” chamado Neil Hamburger (o alterego do humorista Gregg Turkington) vive uma espécie de autoexílio em uma turnê de shows improváveis por hotéis, bares de beira de estrada e toda sorte de espeluncas em lugares perdidos em desertos na fronteira EUA-México. Um comediante sisudo, desajeitado e amargo que conta piadas enquanto toma copos de drinks no canudinho. A incauta plateia espera piadas que a faça rir das desgraças alheias para se sentirem melhor nas suas vidas tão cinzentas quanto o deserto. Mas tudo que Neil Hamburger lhes apresenta são piadas carregadas de raiva. E também a suspeita de que todos nós estamos metidos em alguma gigantesca piada cósmica.

segunda-feira, outubro 26, 2015

"MasterChef Júnior", a adultificação das crianças e o fim da vergonha


O episódio do assédio sexual através das redes sociais sofrido pela menina Valentina na primeira edição do reality televisivo “MasterChef Júnior” é a ponta do iceberg de um movimento mais profundo e perigoso: o fim da vergonha como a barreira que continha a sedução pela barbárie e a adultificação das crianças pelas mídias. Sexismo, ódio, assédio sexual e intolerância que invadem as redes sociais lembram as sombrias profecias de escritores libertinos do século XVIII de que um dia as perversões privadas se tornariam virtudes públicas. E as crianças, transformadas em mini-adultos em um programa de final de noite onde correm contra o tempo segurando o choro, são o reforço motivacional para os telespectadores acordarem no dia seguinte e repetirem as mesmas situações na fábrica ou no escritório.

Os leitores devem já conhecer a opinião desse Cinegnose em relação ao reality show MasterChef da Band: é um bullying gastronômico – um programa de final de noite com o objetivo de reforçar subliminarmente a ideologia pela qual seremos regidos quando acordarmos no dia seguinte para trabalhar: o princípio do desempenho.

Correr contra o tempo em busca da eficácia, eficiência, produtividade, mérito e cumprimento de metas sob as chibatadas de algum superior do tipo gerente, diretor, gestor etc. MasterChef transforma isso em diversão ao nos deliciarmos em ver pessoas angustiadas e esbaforidas correndo contra o relógio sob gritos e olhares inquiridores de chefes de cozinha. Igual o que acontecerá com o telespectador no dia seguinte na vida real na fábrica, escritório ou em outra empresa qualquer.

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