Publicamos o comentário do nosso leitor Elvis de Almeida
Silva sobre a recente postagem desse Cinegnose de 17/09/2017 “Sexo e Luto: Nietzsche,
Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras” como um artigo, pela
sua riqueza de informações e argumentos que ajudam a detalhar aspectos
polêmicos da postagem anterior. Principalmente a afirmação de Nietzsche de que
“Wagner é uma neurose” e sua implicações com o nazismo. Uma discussão
importante para entendermos como a moderna indústria do entretenimento consegue
absorver tudo aquilo que em dado momento na arte e na cultura foi vanguardista,
inovador e arrojado. Para depois ser padronizado e estereotipado.
Resposta ao post “Sexo e Luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras” (clique aqui), por Elvis Silva
Sou um assíduo leitor do Cinegnose e admiro bastante seus
artigos, tendo inclusive aproveitado muitas sugestões de filmes e livros que
você tem indicado. Parabenizo-o por sua iniciativa, sobretudo pelas agudas
observações que você oferece a respeito das práticas da mídia e do mundo da
cultura midiática em geral. Espero que você continue por longos anos dividindo
conosco seu conhecimento e suas opiniões.
Remeto-lhe esta mensagem em resposta ao
seu recente artigo sobre Nietzsche, Wagner e a música brasileira atual. Não
postei minha resposta no espaço de comentários porque o que tenho a dizer
ocuparia espaço demais naquela seção. Logo, tomo a liberdade de recorrer ao seu
e-mail.
De cara, tenho de lhe dizer que discordo
das suas colocações. Não sou músico ou entendido de teoria musical: apenas um
profundo admirador da música de Wagner e da ópera em geral. Assim, peço licença
para sair em defesa do compositor alemão e de sua obra, se você estiver
interessado em conhecer uma opinião dissonante.
Wagner é uma figura muito fácil de
atacar. Compreensível: suas associações com o nazismo e o anti-semitismo, sua
posição histórica como precursor desses movimentos, seu ego monumental e até
mesmo sua conduta pessoal tornam o compositor antipático a muitos, sobretudo às
pessoas de tendências progressistas. Isso causa, em minha opinião, certa má
vontade com sua música. Acaba-se simplesmente adotando a postura do “não ouvi e
não gostei”, quando se trata de Wagner.
Nada obstante isso, eu ouvi. Ainda ouço.
E posso dizer sem medo de errar: pôr a situação do cenário musical de hoje na
conta de Wagner é um equívoco.
Você menciona certas críticas de
Nietzsche à música de Wagner, que seria uma arte doente, histérica e mercantil,
concluindo disso que o compositor teria preludiado a indústria cultural e a
mercantilização da arte valendo-se de grandiosidade artificial, de brutalidade
e de candura idiotizante para seduzir o público em suas óperas. Ora, parece-me
que, se é nesses pecados que Wagner incorreu, dificilmente poderíamos absolver
outros compositores de faltas similares...
A ópera sempre foi uma modalidade de
espetáculo que se prestou sobremaneira à exploração e à expressão de emoções
fora de controle, de afetos catárticos. E sempre foi uma mina de dinheiro para
os compositores que logravam obter sucesso em suas incursões nesse gênero. A
ópera era, naqueles idos, o que é o cinema em nossos tempos. Isso foi se
tornando cada vez mais verdadeiro à medida que seu público se ampliava,
alcançando as camadas burguesas.
Se é para falar de grandiosidade
artificial, temos necessariamente de começar pela ópera barroca. Quem tiver
ouvido uma ópera do auge desse período (século XVII), composta por Händel ou
Vivaldi, sabe do que estou falando: aberturas orquestrais espetaculares,
argumentos e textos paupérrimos e inverossímeis, música vocal bombástica e
repleta de adornos, melismas e coloraturas impossíveis, feita para exaltar a
capacidade dos cantores castrati, as estrelas da época. Tudo para
impressionar, arrebatar, seduzir o público! E sim, render uma boa grana para os
compositores...
Quanto à brutalidade, bom... se com essa
palavra quer-se evocar episódios sangrentos ou, se não propriamente sangrentos,
rasteiros e popularescos, do tipo que se vê em seções de notícias pitorescas,
vamos lá: começando com os primórdios da ópera, vejamos L’incoronazione di
Poppea, de Monteverdi, cuja estréia ocorreu em 1643. Seu libreto trata da
infidelidade de Nero, que fez de tudo pra pôr sua amante Popéia no lugar da
esposa Otávia: material digno de um tablóide! Indiscrições de gente famosa...
Mais pra frente, no século XVIII, temos a
trinca italiana de Mozart, com libretos compostos por Lorenzo da Ponte: Le
nozze di Figaro, Così fan tutte e Don Giovanni. Todas essas
óperas exploram temas nada enlevados ou transcendentais, constituindo grandes
comentários irônicos a respeito dos hábitos e da moral dos nobres de então:
temos um subalterno passando a perna no patrão nobre que quer traçar sua noiva;
um troca-troca de namorados e namoradas; um atleta sexual que se vale de seu
título de nobre para satisfazer seus apetites com virtualmente todas as
mulheres que passam na sua frente, não importando que sejam ricas, pobres,
belas ou feias... Em suma: sexo, sexo e mais sexo! Não admira que essas óperas
tenham causado problemas para o pobre Mozart...
Século XIX: nossa, por onde começo? Vamos
falar das óperas de Verdi: as mesmas críticas sobre “grandiosidade artificial” poderiam
ser lançadas sobre a música desse compositor, se se tiver suficiente má
vontade. No que concerne à brutalidade, Rigoletto e Il Trovatore terminam
com verdadeiros banhos de sangue, explorando também (sobretudo a primeira
ópera) temas ligados ao sexo. Em Carmen, Bizet vai mais longe ainda,
usando a exótica (e vendável) imagem da cigana sedutora, que exala sensualidade
e acaba com a vida de um soldado carola e quadradão, esse último um legítimo
representante da tal “candura idiotizante” na ópera...
Pagliacci e Cavalleria Rusticana parecem
tiradas direto de jornais do tipo “espremeu-sai-sangue”. Personagens centrais
representantes das classes populares, maridos traídos, vinganças sangrentas...
tudo de acordo com a filosofia da ópera verista, que desejava retratar o mundo
real.
Quanto à tal “candura idiotizante”, bom,
eu poderia fazer um rol de heroínas românticas e puras somente das óperas do
século XIX para mostrar que Wagner está longe de ter sido o único a explorar
esse estereótipo tipicamente aplicado às mulheres...
Fui propositadamente extensivo nos
exemplos acima para deixar evidente o fato de que, se a obra de Wagner padece
de todos os males que Nietzsche apontou, tais críticas poderiam se estender a
praticamente todas as óperas já compostas! E as aspirações “mercantis” tampouco
eram exclusividade do alemão: afinal, todos os compositores, sem exceção,
compunham suas óperas esperando que elas se tornassem sucessos de público, para
garantir-lhes uma boa renda. Verdi, em particular, tornou-se riquíssimo com
suas óperas (já Wagner morreu pobre e endividado). Creio que isso acaba sendo a
tragédia de todo artista: é difícil conciliar a busca de algo novo e inesperado
na realização da arte, que expresse a individualidade do artista, com as
necessidades práticas da vida, que por vezes exigem concessões aos ideais mais
elevados.
Em suma: fazendo um retrospecto histórico
da ópera, percebe-se que se trata de uma forma teatral-musical pouco dada a
sutilezas, talhada desde os seus primórdios para expressar as paixões humanas
de maneira eloqüente e, caso seja mesmo necessário recorrer a esse termo,
histérica. Essa idiossincrasia está presente em todos os exemplares do gênero,
não apenas na obra de Wagner.
No artigo, você enuncia críticas fortes
quanto às formas e às técnicas de composição de Wagner. Chama atenção para uma
suposta “fragmentação” do conjunto musical wagneriano, cujos sintomas mais
evidentes seriam o uso do leitmotiv e do cromatismo, que pouco se
prestariam à expressão das emoções, servindo antes como dispositivos cujo
objetivo seria deixar o ouvinte permanentemente excitado sem, contudo, resolver
a tensão criada pela música. Você faz um paralelo entre o uso desses recursos e
as táticas da moderna propaganda, o que não deixa de ser interessante, se bem que
por outros motivos, já que a causalidade que você esboça, de Wagner para a
indústria cultural e a propaganda, me soa excessivamente forçada.
Em primeiro lugar, a tal “fragmentação”.
Para mim, a ideia de que as óperas de Wagner seriam “fragmentadas” e “sem
unidade” é, essa sim, espúria e descabida. Com todo respeito a você e a
Nietzsche, esse conceito é algo que só pode sair da cabeça de quem nunca ouviu
uma ópera barroca ou mesmo uma ópera do início do século XIX, do período que
antecedeu as principais obras de Wagner!
Antes do compositor alemão, a ópera
seguia uma receita bastante formulaica: recitativo – ária / dueto – cabaleta.
Esse esquema é bem próprio das óperas do início do século XIX – pense em
Donizetti, Bellini, Rossini e no jovem Verdi. O problema com esse arranjo era
que ele por vezes sacrificava a fluidez dramática em nome da expressão
puramente melódica: interrompia-se uma cena do nada para um personagem
secundário (ou mesmo principal) cantar um recitativo e depois uma ária que não
tinham a menor importância para o desenvolvimento da trama!! Essa
característica era igualmente comum às óperas do Barroco, o que fez dessas
obras verdadeiras compilações de números e solos, por meio dos quais se
exaltava a capacidade dos cantores e a destreza do compositor na criação de
melodias cativantes – as verdadeiras precursoras da nossa música-chiclete.
Em suas óperas, Wagner gradativamente
aplainou o terreno da ação dramática, reduzindo a diferença entre recitativos e
árias e, conseqüentemente, incorporando mais dinamismo ao desenvolvimento da
trama e evitando interrupções para a exibição de números descontextualizados. O
leitmotiv era usado como um fio condutor da trama, remetendo a situações
e personagens. Acusar o compositor de fragmentação e ausência de unidade
musical apenas pelo uso desse dispositivo significa no mínimo não ter prestado
atenção ao uso que dele fez Wagner em suas óperas: não é como se esses temas
fossem jogados ao ouvinte aleatoriamente, sem contexto e sem elaboração musical
mais profunda. Quem ouviu a tetralogia O Anel do Nibelungo, ápice do uso
do leitmotiv na obra wagneriana, certamente perceberá que os temas são
enunciados, evocados e trabalhados em cada situação com o objetivo não de
capturar e fragmentar a emoção, mas de magnificá-la e de conferir unidade à
experiência de ouvir e assistir a essa longa trama, epicamente desenrolada em
quatro óperas.
Ademais, é necessário ter em mente que a
repetição de temas musicais em óperas não é exclusividade de Wagner: outros
compositores se valeram dessa tática, como Verdi, Puccini e Bizet. O bom e
velho Verdi certamente recorreu a ela em Rigoletto (tema da maldição), Il
Trovatore (tema da ária de Azucena) e La Traviata (tema principal do
prelúdio); nessas, porém, o uso do recurso é discreto. Mais evidente é a
repetição de temas em Don Carlo e La forza del destino. Em
Puccini, Tosca e Turandot são bons exemplos. Quanto a Bizet,
temos a persistente repetição dos temas do prelúdio no decorrer de toda a Carmen.
Em todos os casos, o uso de leitmotiven (se é que posso chamá-los assim
fora do contexto wagneriano) por outros compositores tinha a finalidade de
conferir unidade à trama e caráter musical definido a personagens e idéias
subjacentes ao argumento. Seria lícito acusar todos esses compositores de
preguiça intelectual?
Fala-se muito do cromatismo em Wagner,
pondo-se em relevo a obra na qual ele levou essa técnica ao limite: Tristão
e Isolda. Desde o prelúdio, cria-se uma tensão musical crescente, sem
solução, que deixa a tonalidade da peça indefinida. Desde a furiosa imprecação
de Isolda na primeira cena, passando pelo dueto de amor do segundo ato e pela
cena da loucura de Tristão no último ato, Wagner deixa as tonalidades em
suspenso, resolvendo a tensão apenas no último acorde do Liebestod, a
cena da morte de Isolda, que encerra a ópera numa coda serena.
Pelo que entendi, acusa-se o uso dessa
forma de expressão por Wagner de aprisionar a emoção, de fazê-la repetir-se
indefinidamente, o que a desqualificaria como forma de expressão de sentimentos
via música. De todo o coração, eu não poderia discordar mais.
O cromatismo em Tristão e Isolda é
uma fortíssima expressão da angústia de um amor impossível de se consumar em
vida: eis a tragédia dos personagens principais, atados que estão por laços de
dever e obrigação com terceiros. A técnica sublinha uma convicção filosófica de
Wagner tirada de Schopenhauer: a incompatibilidade entre o desejo de felicidade
do homem e o sofrimento inerente à vida. Essa tensão constante entre desejar e
saber que não é possível concretizar o desejo é ilustrada pela música
tantalizante. Simplesmente não consigo entender a afirmação de que essa música
não é uma expressão artística dos sentimentos. Ela é uma das expressões mais
eloqüentes da condição humana: um dos pontos altos da música ocidental.
Quanto aos paralelos que você traça entre
as assim chamadas canções da parada de sucessos tupiniquim e a música de
Wagner, só posso dizer que está além de mim encontrar qualquer similaridade
entre dois objetos tão díspares.
Sim, Wagner era pessimista. Sim, seus
personagens não raro eram neuróticos. Sim, sua música é potente e brutal por
vezes. Mas, convenhamos, os dramas dos “heróis” das nossas canções populares
não têm muito a ver com os dos protagonistas das óperas de Wagner: é só olhar
as letras para notar que elas expressam as emoções mais rasteiras e prosaicas
que se possa conceber. São quase não-emoções. Ou, se preferir assim, são
as emoções rasas e tolas do indivíduo estultificado pela indústria cultural e
pela luta do dia-a-dia, sem objetivos maiores do que os que a propaganda de
consumo lhe sugere. Os extremos de “euforia hedonista e luto, melancolia,
perda” que as letras expressam são velhos conhecidos da MPB: quem nunca ouviu
uma canção de dor de cotovelo?? Pôr isso na conta de Wagner me parece demais.
Nem me alongarei muito no que concerne à
pobreza das melodias e à ridícula produção vocal dos “artistas”. Não há
comparação plausível entre esses elementos e a arte de Wagner.
Nos dramas de Wagner, muitos querem ver
apenas a glorificação do ideal ariano e a relação disso com o nazismo e a mais
destrutiva xenofobia. Francamente, é preciso ir além desse preconceito para de
fato apreciar a obra do homem: suas óperas exploram temas míticos teutônicos
sim, mas é necessário lembrar que em toda mitologia, seja qual for sua origem,
está incrustado esse sentimento irredutível, esse substrato das maiores
aflições, medos, desejos e sentimentos dos homens, transformados em expressão
abstrata e lendária. Podemos nos ver nos deuses e heróis wagnerianos, uma vez
que suas angústias e sofrimentos, debaixo das camadas de música monumental, nos
remetem ao nosso próprio desamparo. É de fato uma arte pessimista, mas jamais
alienada do ouvinte ou rasa e inexpressiva emocionalmente. Eu diria que a arte
de Wagner era maior que ele próprio.
Se há um sintoma de decadência em nosso
tempo, não me parece que seja o uso dos expedientes musicais de Wagner. É bem o
oposto: a incapacidade de se apreciar não só Wagner, mas virtualmente qualquer
composição musical que dure mais do que dois minutos e apresente complexidades
emocionais e estilísticas para além daquilo com que o ouvinte esteja
familiarizado, isso sim, é sintoma de decadência intelectual e artística. Não
há mais música: há ruídos de fundo.
Lembro-me, aliás, de Admirável Mundo
Novo, de Aldous Huxley, quando penso nisso: o Selvagem, personagem central
da trama, admirava profundamente Shakespeare, sabendo de cor todas as suas
peças. E, ironicamente, naquela sociedade organizada industrialmente até o
nível da reprodução humana, a poesia do Bardo não tinha lugar: era coisa de
selvagens, de párias mal adaptados ao hedonismo fácil e inconsequente da época.
A arte, conforme já o anunciara Oscar Wilde, se tornara completamente inútil,
se bem que não no sentido que o autor quis expressar. Ela se tornou inútil pela
incapacidade de se apreciar sentimentos delicados, que não mais eram
necessários.
Se esse é nosso estado de coisas, se esse
é nosso “Admirável Mundo Novo”, creio que preferirei a decadência e a
selvageria...
Réplica do Cinegnose
“Toda ideologia teve o seu
momento de verdade”. Essa frase de Theodor Adorno acerca não só da natureza da
ideologia mas de toda produção cultural é importante para matizar uma
realidade, saindo fora do maniqueísmo do bem versus mal.
Por exemplo, na história do
cinema o diretor D.W. Griffith (1875-1948) é visto por muitos por produzir filmes como Intolerância ou O Nascimento de Uma Nação reacionários,
racistas e de um extremo conservadorismo nacionalista. Mas, ao mesmo tempo, foi
um gênio ao descobrir os meios mais desenvolvidos da linguagem cinematográfica
– o close-up, câmera móvel, a montagem.
Toda arte é um sismógrafo do
seu tempo – Griffith expressou o anti-comunismo que mais tarde criaria o Código
Hays que enquadraria o conteúdo da produção cinematográfica e criando a base
ideológica de Hollywood.
Com o compositor Richard
Wagner não seria diferente. A música wagneriana foi um marco estrutural e
harmônico na história da música – com seu furioso cromatismo e os princípios da atonalidade que se
expandiria na música de vanguarda do século XX.
Theodor Adorno |
Sim, as críticas de
Nietzsche a Wagner também poderiam ser encontradas em todas as óperas já
compostas. Mas a crítica principal de Nietzsche não é de natureza musical, mas
como a sua arte foi influenciada pelo zeitgeist do nacionalismo alemão da época
– sua conversão ao Cristianismo (duramente criticado pelo pensador) e a
exaltação nacionalista eram a expressão do poder econômico e militar do império
de Bismarck.
E nesse momento ao unificar
muitas características da ópera na “obra de arte total” que Wagner juntou a
arte com o cálculo de efeitos – a essência da propaganda e indústria cultural
do século XX.
Daí, a crítica de Adorno em
“O Fetichismo da Música e a Regressão da Audição” – a música perde a autonomia
(a expressão dos sentimentos) para ser composta visando a memorização e repetição. E principalmente o reconhecimento fácil de um tema musical pelo ouvinte/espectador. A essência adorniana da crítica ao leitmotiv.
O gênio da indústria
cultural do século XX foi assimilar inovações técnicas como as de Griffith no
cinema e Wagner na música, por exemplo, para convertê-las em produtos
padronizados e estereotipados.
Esse é o momento em que a
arte perde sua verdade para se transformar em ideologia. Pense na estética
publicitária atual, o quanto de surrealismo, expressionismo entre outras
estéticas vanguardistas podem ser encontrados até numa embalagem de produto num
supermercado.
Ou o quanto de Bauhaus,
Futurismo e Construtivismo Russo eram encontrados na estética da propaganda
Nazi, nos cartazes fascistas na Itália e material publicitário do regime
soviético.
Mas assim como Salvador Dali
se entregou facilmente a autopromoção facilitando sua absorção (ao contrário de
artistas como MC Esher - veja links abaixo), também Griffith e Wagner se renderam ao “espírito do
tempo” do romantismo e nacionalismo alemães e no anticomunismo dos EUA – que no início Nietzsche viu em Wagner a virtude da retomada da Tragédia do helenismo grego nos palcos da
Alemanha. Para depois perceber que Wagner entrava em conflito com a sua
filosofia do espírito livre: Wagner no final era prisioneiro do seu tempo.
A genialidade de Wagner
confinada na “obra de arte total”, uma arte pensada não mais em si mesma, autônoma, mas
calculada em função do impacto e reação na plateia. A essência da indústria
cultural que se consolidaria no século XX.
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