sexta-feira, março 08, 2024

Do "gato de Schrödinger" à parapolítica no filme 'Infinitum: Subject Unkown'


O famoso experimento imaginário do “Gato de Schrödinger” proposto pelo físico quântico em 1935 incendiou a imaginação tanto literária quanto cinematográfica: mundos paralelos coexistindo no mesmo tempo-espaço. O filme experimental “Infinitum: Subject Unkown” (2021, disponível na AmazonPrime Video), feito em pleno lockdown da Covid em Londres com um Iphone por uma equipe remota, é mais um exemplo. Conecta Schrödinger com especulações de como todas as grandes potências mundiais têm trabalhado em universos paralelos e telecinesia por décadas - operações geopolíticas através da parapolítica. Uma mulher acorda em um sótão estranho, amarrada a uma cadeira, ela não tem ideia de onde está ou quem é. Está presa também em um loop temporal. Escapa e embarca em uma jornada por um mundo paralelo vazio, levando-a a um laboratório de pesquisa de ciência quântica no meio do nada. Um quebra-cabeças que terá que resolver para encontrar a verdade. Seja em que mundo for.

Quando o físico austríaco Erwin Schrödinger em 1935 imaginou a famosa experiência do gato preso em uma caixa para ilustrar os paradoxos da mecânica quântica, jamais pensaria no impacto literário e cinematográfico das consequências desse experimento: cada escolha que você faz cria infinitas possibilidades, mundos infinitos, onde cada resultado coexiste como mundos paralelos.

Para quem não conhece esse experimento imaginário, Schrödinger tentou através dessa experiência visualizar as implicações do estranhíssimo e aparentemente ilógico mundo das partículas subatômicas – uma mesma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Schrödinger quis trazer esse paradoxo subatômico para uma situação fácil de ser visualizada: um gato está preso numa caixa que contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger. Se o material soltar partículas radioativas e o contador detectar, acionará um martelo que, por sua vez, quebrará um frasco com veneno, matando o bichano.

De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar tanto como onda quanto partícula. Ou seja, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra, produzindo duas realidades probabilísticas simultâneas. Segundo o raciocínio, as duas realidades aconteceriam simultaneamente dentro da caixa, até que fosse aberta – a presença de um observador e a entrada da luz intervindo nas partículas acabariam com a dualidade.

Realidades coexistindo dentro da caixa. Mas existe a chamada “decoerência quântica” que garante que essa situação “decaia” para um dos resultados: vivo ou morto. Isso impede que os “dois gatos” das situações diferentes interajam entre si.

Mas em 1957 o físico Hugh Everett (Universidade de Princeton) interpretou esse experimento como “Interpretação de Muitos Mundos”. Segundo ele, esses dois gatos (morto e vivo) passam a ser considerados dois mundos independentes e sobrepostos sobre o mesmo tempo/espaço. Não são mais considerados uma “decoerência quântica” fruto da intervenção do observador que romperia com a função de onda. Everett considerava uma existência ontológica para cada um desses mundos, ou “subsistemas”, como afirmava.

Na literatura, obras como “O Homem do Castelo Alto” de Philip K. Dick (mundos alternativos em que nazistas e japoneses ganharam a Segunda Guerra Mundial) ou no cinema filmes como Contra o Tempo (2011), Coherence (2013), Out of Blue (2018), The Mandela Effect (2019) e o premiado com o Oscar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) repercutem na ficção esses paradoxos quânticos. 

Mais do que isso: abriram uma brecha na Razão para a possibilidade de, em algum lugar no tempo e no espaço, existir a possibilidade de a vida nos oferecer uma segunda chance: em algum universo paralelo, em alguma realidade alternativa, seja no passado, presente ou futuro, a possibilidade de corrigir erros, voltar no tempo e fazer a coisa certa.



O filme Infinitum: Subject Unkown (2021) é um filme experimental (rodado em pleno lockdown de Londres na pandemia da Covid-19, com apenas um membro da equipe e filmado com um Iphone com uma equipe remota) que conecta Schrödinger e a interpretação de Everett com teorias conspiratórias sobre como todas as grandes potências mundiais têm trabalhado em universos paralelos e telecinesia por décadas – cita projetos parapolíticos famosos como o norte-americano MK-Ultra, por exemplo. E parece que documentos recentemente desclassificados comprovam isso – clique aqui.

“Parapolítica” ( de “para” – “junto a”, “a margem de”): partindo do Princípio da Correspondência esotérico (“o que está em cima é como está embaixo, e o que está embaixo é como está em cima”) a Política deixaria de ser vista apenas como uma atividade unidimensional terrena para ser um campo de lutas de mútuas influências entre mundos etéricos, paralelos etc. e físico. E o princípio que unificaria esses mundos seria o da ascensão simbólica por Poder.

Jane (Tori Butler-Hart) acorda em um sótão estranho, amarrada a uma cadeira, ela não tem ideia de onde está ou quem é. À medida que o pânico se instala, ela vê um brilho violento na frente de seus olhos e mais uma vez ela acorda; a mesma situação de antes, uma repetição exata. Ela escapa e embarca em uma jornada por um mundo paralelo vazio, levando-a a um laboratório de pesquisa de ciência quântica no meio do nada. Para descobrir fitas do Dr. Charles Marland-White (Ian McKellen) e do Professor Aaron Ostergaard (Conleth Hill) e seu experimento envolvendo sujeitos de teste humanos.

O Filme

“Em um mundo de ciência quântica, qualquer coisa que possa acontecer acontecerá. Cada escolha que você faz cria infinitas possibilidades, mundos infinitos, onde cada resultado existe.” Assim diz o professor Aaron Östergaard (Conleth Hill) na abertura de Infinitum: Subject Unknown.

“É só agora, no entanto, que somos capazes de ver por trás da cortina. Nós preenchemos o vazio entre os mundos”, completa o Dr. Charles Marland-White (Ian McKellen). Pesquisadores de um misterioso instituto de pesquisas quânticas. Certamente associado a algum projeto governamental militar ou de espionagem.

Corta para uma mulher chamada Jane que acorda em um estranho sótão, em um mundo paralelo, uma Londres alternativa, aparentemente sem saída. Logo percebemos que ela está presa em um ciclo de tempo, destinada a reviver o mesmo dia repetidamente com pouca memória dela fazendo isso antes. Mas a cada “reinicialização”, ela começa a se lembrar cada vez mais e começa a juntar o que pode estar acontecendo com ela, com pistas apontando para um Professor Aaron Ostergaard (Conleth Hill). 



À medida que ela se dirige ao misterioso Centro de Pesquisa Quântica Wytness para encontrar uma maneira de pará-lo, ela começa a ter vislumbres de outros mundos e outras versões de si mesma. Mas cada vez que ela parece estar se aproximando de uma resposta, ela é imediatamente reinicializada de volta ao sótão que teme, para mais uma vez começar sua jornada para encontrar a verdade. 

Enquanto ela viaja através da cidade em direção ao centro de pesquisa escondido no meio do nada, ela vê que o mundo está totalmente vazio. Há evidências de que já houve algum tipo de atividade (vemos casas, carros estacionados e zepelins pairando acima) mas tudo está parece largado e abandonado. À noite, no entanto, Jane vê tochas e helicópteros à distância e descobre que os soldados estão procurando por ela, aumentando seu desespero para chegar ao centro de pesquisa e procurar respostas que possam mandá-la para casa. 

Uma vez dentro do centro, as leis do tempo se tornam erráticas e Jane vê vislumbres de pessoas que estão claramente vivendo em outro mundo, mas cujas ações estão tendo um efeito sobre aquele em que ela está presa, e esses efeitos estão piorando a cada “reinicialização”.



Narrativa gnóstica e paradoxos quânticos – Alerta de Spoilers à frente

Os três principais elementos de uma narrativa gnóstica estão presentes: (a) cientistas envolvidos em um projeto demiúrgico que (b) confinam um protagonista em um cosmos hostil e (c) a ausência de memória no herói que tenta juntar partes de um quebra-cabeças para encontrar a verdade – e escapar daquele mundo.

Jane é observada constantemente, vozes de cientistas parecem vazar para aquele mundo no qual é prisioneira. De onde vêm. Só faz aumentar a confusão da protagonista.

Ao contrário da maioria dos filmes citados acima inspirados nos paradoxos quânticos de Schrödinger e Everett, aqui em Infinitum não há o mito da segunda chance. As diversas Janes alternativas parecem ter sido sequestradas pelo experimento e confinadas naquele entre-mundos ou “para-verso” na linguagem dos cientistas do instituto.

E o mais perverso: todas as Janes alternativas são versões da Jane, por assim dizer, “original”: a Jane cientista que observa o experimento das diversas versões de si mesma presas como fossem cobaias em uma roda de laboratório.



O experimento faz lembrar a distopia de Philip K. Dick em “O Homem do Castelo Alto”: assim como os nazistas vencedores naquele mundo alternativo descobrem a existência de outros mundos quânticos e tentarão fazer as diversas versões do nazismo também vencer, em Infinitum descobrem que os diversos mundos paralelos podem ser “hackeados” – sequestrar as diversas versões de Jane, confiná-las num “para-verso” e observar como interagem ou mesmo alteram aquele mundo. Como uma espécie de reality show quântico.

Os propósitos são obscuros e não-explicados no filme. Mas as falas introdutórias dos físicos que comandam o Instituto de Pesquisa Quântica Wytness parecem apontar para um secreto projeto com objetivos militares de conquista e dominação.


 

 

Ficha Técnica

 

Título: Infinitum: Subject UnKnown

Diretor:  Mathew Butler-Hart

Roteiro:  Mathew Butler-Hart, Tori Butler-Hart

Elenco: Tori Butler-Hart, Ian McKellen, Conleth Hill 

Produção: Fizz and Ginger Films

Distribuição: Amazon Prime Video

Ano: 2021

País: Reino Unido

 

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