Percy Adlon é um diretor conhecido por esse blog, principalmente pela
comédia “Rosalie Vai às Compras” que já foi tema de postagem. O filme “Mahler
no Divã” (2010) não trata de um divã real: o compositor Gustav Mahler jamais
esteve no divã de Freud, mas foi analisado por ele de uma forma bem diferente
para a ortodoxia do pai da psicanálise: caminhando. Caminhar como forma de
descobrir a si mesmo tem profundos significados esotéricos e filosóficos. Assim
como a própria figura de Mahler na história da música, considerado como um “romântico
tardio”, pela sua morte prematura e sua música misturar exaltação e depressão.
O filme será exibido dia 19 em São Paulo no Ciclo de Filmes Alemães no Clube
Transatlântico.
Mahler no Divã (Mahler auf der Couch, 2010)
Diretor: Percy Adlon e Felix Adlon
Plot: Conhecido por filmes cults como “Bagda Café” e “Rosalie
Vai às Compras” (já analisado por esse blog, clique aqui), dessa vez Percy
Adlon nos conta a história do compositor austríaco Gustav Mahler, a crise
conjugal com sua esposa e o peripatético encontro com o pai da psicanálise,
Sigmund Freud, que descobriu que Mahler vivia momentos de exaltação misturados
com depressão e que isso era expresso nas suas sinfonias. Mahler descobre que
sua esposa Alma vivia vários flertes, sendo o principal caso com Walter
Gropius, o arquiteto que no futuro lideraria o importante movimento artístico
da Bauhaus. Ela é 23 anos mais jovem e seus apetites são alimentados tanto pela
libido quanto pelo ressentimento. Diante de um casamento conturbado, Mahler procura
Freud que estava de férias em Amsterdam e que já tratara seu amigo o maestro
Bruno Walter. Freud o analisará de uma forma bem diferente do que a tradicional
técnica do divã: dessa vez será em conversas com Mahler através de longas
caminhadas.
Por que está “Em Observação”?: Percy Adlon trabalha bastante
com o tema do “Estrangeiro” em seus filmes. Tanto nas comédias “Bagdá Café”
como em “Rosalie Vai às Compras” temos protagonistas estrangeiros (a atriz
alemã Marianne Sagebrecht) que chegam a lugares remotos nos EUA e ajudam as
pessoas a mudar suas visões de mundo. Mahler sempre dizia de si mesmo que era “um
intruso, nunca bem vindo”. Durante muito tempo foi considerado um “romântico
tardio”: sua morte precoce aos 50 anos evoca os românticos que morriam cedo
pela sua inadaptabilidade a esse mundo. Todos se consideravam, de certa forma,
estrangeiros dentro das suas famílias e sociedades. O mix de exaltação e
depressão das suas sinfonias talvez expresse essa condição de Mahler.
Isso sem falar na forma
inusitada com que Freud analisou Mahler: caminhando. Essa forma peripatética de
busca da verdade tem profundos significados filosóficos (os antigos filósofos
gregos disseminavam seus conhecimentos dessa forma aos iniciados) e esotéricos
- os significados místicos da caminhada do peregrino ou da jornada do herói traçada
em caminhos que levarão a transformações espirituais como estradas ou até a de
tijolos amarelos do filme “O Mágico de Oz”.
O que esperar?: uma interessante descrição cinematográfica
de uma época de intensa efervescência cultural em torno de Vienna nas décadas
que antecederam a Segunda Guerra Mundial: psicanálise, arquitetura e música de
vanguarda se encontram em um prenuncio do feminismo com a personagem Alma e o
nascimento do casamento moderno.
O filme será exibido aqui em São Paulo no dia 19 desse mês dentro do Ciclo de Filmes Alemães no Club Transatlântico – Rua. José Guerra, 130 na Chácara Santo Antônio.
Serviço:
Ciclo de Filmes Alemães
Local: Club Transatlântico
Endereço: Rua José Guerra, 130 – Chácara Santo
Antônio
Data: Dias 5, 12, 19 e 26 de junho,
quartas-feiras
Horário: 20h
Ingresso: Entrada gratuita, com direito a pipoca
Estacionamento no local: R$ 15,00 o período
Observação: O Restaurante Weinstube estará aberto
antes e depois das exibições dos filmes
Programação (Junho):
- Dia 5: “Schiller”
- Dia 12: “A Cor do Oceano”
- Dia 19: “Mahler”
- Dia 26: “Sacha” - do diretor e roteirista Dennis Todorovic. O protagonista que dá nome ao longa é um garoto de 19 anos que se descobre gay e loucamente apaixonado por um professor de piano. Obra que alterna com sutileza o drama e a comédia, o enredo de Sacha promove a importante reflexão sobre as dificuldades das famílias em debaterem abertamente a questão da sexualidade.