quinta-feira, maio 30, 2013
"Argo" e "Ghost Army": a simulação uniu Guerra e Cinema
quinta-feira, maio 30, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os inimigos dos EUA sempre os atacaram ou com o fundamentalismo
religioso-ideológico (islamismo, comunismo etc.) ou com a tática da guerra
total (os nazis na Segunda Guerra Mundial). E os americanos responderam com sua
principal arma: a simulação. Diferente das táticas ideológico-militares de dissimulação,
os EUA encontraram uma arma ainda mais insidiosa no interior da sua própria
cultura: do “Studio System” de Hollywood às mesas de pôquer de Las Vegas a arma
da simulação e do blefe. Os casos históricos de “Argo” em 1979 no Irã e a
inusitada tática de uma unidade militar chamada “Ghost Army” na Segunda Guerra
Mundial ilustram bem essa complexa conexão entre Guerra e Cinema que explica
porque a simulação conquistou o mundo.
Estamos acostumados a pensar o
cinema hollywoodiano como instrumento ideológico do complexo
governo-militar-diplomático dos EUA. Exemplos não faltam das evidências disso: desde os filmes patrióticos, a promoção dos novos heróis
pós-depressão econômica de um país revitalizado pela vitória na Segunda Guerra
Mundial e a “política de Boa Vizinhança” com Carmem Miranda e Zé Carioca para
agradar e cooptar os países da América do Sul na época da Guerra Fria e a
ameaça comunista; até os filmes e minisséries dos anos 1960-70 que tornaram o
american way of life desejáveis para nós e os filmes de ação de Rambo e Braddock
da era Reagan para levantar a imagem militar de um país derrotado no Vietnã.
Nesses casos
temos a submissão da produção cinematográfica às estratégias de dissimulação dos
interesses do Estado. É importante entender esse conceito de dissimulação: é a situação onde alguém
afirma não possuir algo que, na verdade, está escondendo. É o campo da mentira,
da manipulação e da ideologia.
Mas ao longo da
história das complexas conexões entre Cinema e Estado podemos encontrar uma
situação inversa onde o complexo governo-militar-diplomático se submete à lógica
do sistema cinematográfico, procurando imitá-lo em uma estratégia de simulação.
quinta-feira, maio 23, 2013
O espectro do tautismo ronda a TV Globo
quinta-feira, maio 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A linguagem da TV
Globo sempre abusou das metalinguagens como exercício de demonstração do seu
poder tecnológico e financeiro: passar a maior parte do tempo transmitindo a
sua própria transmissão. Porém, nessa semana percebemos a recorrência de um
fenômeno novo, desde a notícia da morte de turistas brasileiros na Turquia. Um
fenômeno que o pesquisador francês Lucien Sfez chama de “tautismo”: um processo
de comunicação sem personagens que só leva em conta a si mesmo, resultando em
uma situação simultânea de autismo e tautologia. Isso seria o resultado final
de todo sistema complexo que começa a fechar-se em si mesmo, tornando-se cego
ao ambiente externo. Sem conseguir estabelecer a diferença entre “dentro” e “fora”,
“ficção” e “realidade”, o sistema torna-se autofágico. O tautismo poderia ser o
sinal decisivo do fim da hegemonia da TV Globo?
Um fantasma ronda os corredores
da TV Globo. É o espectro do tautismo. Esse neologismo criado pelo pesquisador
francês Lucien Sfez através da combinação das palavras “tautologia” (do grego tauto, o mesmo) e “autismo” (autos, si mesmo) talvez nomeie uma
estranha recorrência nesses últimos dias na programação da emissora.
Em um espaço de menos de uma
semana em uma amostragem bem aleatória, encontrei uma repetição de eventos,
sejam eles conteúdos de ficção ou não-ficção, onde sempre há um princípio de auto-referência.
quarta-feira, maio 22, 2013
Em Observação: "Muito Além do Jardim" (1979)
quarta-feira, maio 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que merece ser revisitado por esse blog. Há muito tempo assisti ao filme e, pelo que parece, passei tanto tempo sem assisti-lo de novo talvez porque a própria crítica especializada o esqueceu: raramente encontramos o filme "Muito Além do Jardim" em listas dos melhores filmes. Embora a própria crítica reconheça que seja uma das melhores críticas à sociedade e à mídia feita pelo Cinema. Peter Sellers faz essa comédia dramática tentando separá-lo da imagem do Inspetor Closeau depois do sucesso comercial da série "A Pantera Cor de Rosa" nos anos 1970. Muitos o associam ao tema do filme "Forrest Gump" (1994), porém com uma diferença: se no filme com Tom Hanks as tiradas filosóficas sobre o nada são levadas à sério, aqui Peter Sellers utiliza todo cinismo e ironia para mostrar como as pessoas começam a levar à sério alguém que unicamente repete os clichês despejados pela TV.
terça-feira, maio 21, 2013
A lógica publicitária do "Papai Noel" no filme "Gente Louca"
terça-feira, maio 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em crise criativa, um
publicitário bem sucedido descobre que passou grande parte da vida mentindo
para ganhar dinheiro. Começa então a fazer o que ele chamará de “Publicidade
honesta”: “Linhas Aéreas United: nossos aviões caem menos que o da concorrência”
ou “Cigarros Amalfi: Câncer? Talvez. Sabor? Com Certeza!” são algumas das pérolas
que são vistas por todos na Agência da Madson Avenue como criações de alguém
que enlouqueceu. Logo o protagonista se vê internado em um manicômio, onde fará
uma nova agência de publicidade, dessa vez com os pacientes do hospital. “Gente
Louca” (Crazy People, 1990) com o comediante britânico Dudley Moore é uma
comédia romântica sem pretensões, mas que desenvolve um supreendente pano de
fundo crítico. O filme é uma ótima oportunidade para ilustrar a irônica
natureza da lógica da crença publicitária sugerida pelo pensador francês Jean
Baudrillard: a “Lógica do Papai Noel”.
Um filme despretensioso, uma
comédia romântica daquelas que passavam nas sessões da tarde da TV brasileira
quando espectadores ociosos (e talvez desempregados) ficam preguiçosamente na
frente da televisão digerindo o almoço. “Muito Loucos” (Crazy People, 1990)
certamente passaria despercebido pelo blog e nem faria parte do nosso foco de
interesse se ele não contivesse um brilhante insight: e se um publicitário
resolvesse da noite para o dia contar apenas a verdade dos produtos que anuncia
e da própria Publicidade?
Mais do que isso, e se ele
começasse a mostrar ao consumidor a verdadeira motivação que o faz querer
comprar determinados produtos, motivação que nada tem a ver com necessidades
reais ou racionalidades? Que o consumidor adquire muita coisa pela sua própria
inutilidade?
Pois essa é o argumento provocativo
no interior de um filme que é obviamente estruturado pelas convenções do gênero
e se perde nos clichês da comédia romântica com desencontros amorosos que têm
uma reconciliação final.
domingo, maio 19, 2013
O paradoxo de um prisioneiro no curta "Room 8"
domingo, maio 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado no Tribeca Film Festival desse ano, o curta “Room 8” desafia o
protagonista e o espectador a um paradoxo lógico: qual a verdadeira prisão em
que os personagens se encontram? Quando uma caixa é aberta no interior de uma
cela, eventos surreais começam a acontecer que colocam em xeque a natureza não
só da prisão como a da própria realidade. O paradoxo lógico proposto pelo curta
teria solução?
Situado em uma cela de prisão
russa em um momento qualquer da Guerra Fria, um prisioneiro britânico é
transferido para uma nova cela (“sala 8”) onde encontra um compatriota e uma
misteriosa caixa vermelha sobre a cama. Quando a caixa é aberta uma série de
acontecimentos surreais e incríveis oferecem a ele a oportunidade de escapar.
A trama nos remete diretamente à
atmosfera das narrativas da antiga série “Além da Imaginação”. Dirigido pelo
inglês James W. Griffiths e tendo como base o roteiro do vencedor de um Oscar,
Geoffrey Fletcher, a trama de sete minutos tem uma parte de thriller, uma parte
de ficção científica e uma parte de horror.
sábado, maio 18, 2013
As raízes ocultas do filme "O Mágico de Oz"
sábado, maio 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que o filme “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939) teve um impacto tão duradouro na cultura e
comportamento (da música, passando pela moda até chegar no movimento GLBT) após
diversas gerações de crianças e adultos? A imagem de Dorothy com seus amigos em
uma estrada de tijolos amarelos tornou-se uma complexa associação de simbolismos.
Muito do impacto desse filme estaria nas raízes no Ocultismo no livro escrito
por Frank Baum “The Wonderful Wizard of Oz” há mais de cem anos. Baum era um
reconhecido membro da Sociedade Teosófica de Madame Blavatski e um profundo
conhecedor das escolas herméticas e esotéricas.
Ao longo dos anos o filme “O
Mágico de Oz” de 1939 transcendeu sua condição de produto cinematográfico para
se firmar como um poderoso arquétipo cultural de pelo menos três gerações de crianças
e adultos. Lançado simultaneamente com o filme “E o Vento Levou” (“Gone With
Wind”), foram consideradas na época duas grandes produções hollywoodianas: a
primeira voltada para crianças e a segunda para adultos. Mas a imagem de
Dorothy e seus amigos (o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão) caminhando em
uma estrada de tijolos amarelos tornou-se muito mais complexa em associações e
simbolismos do que o romantismo de “E o Vento Levou”.
Há algo de oculto e misterioso
em um livro infantil escrito há mais de 100 anos, que resultou na adaptação
cinematográfica definitiva em 1939 e que criou um impacto ao longo das décadas
em todos os setores da cultura, moda e comportamento. Linhas de diálogo do
filme como “Estou derretendo! Estou derretendo!”, “Nunca mais voltaremos para
Kansas” aparecem em variados filmes e gêneros como “O Campo dos Sonhos”,
“Avatar”, “Matrix” e “Depois de Horas” de Scorsese onde um personagem gritava
outra linha de diálogo (“Renda-se Dorothy”) toda vez que tinha um orgasmo.
Elton John com o disco e o hit
“Goodbye Yellow Brick Road” de 1971, os sapatos mágicos de cristal de Dorothy
em uma óbvia referência para a moda Disco dos anos 1970 e o fato de Judy
Garland ter se tornado um ícone gay em um filme repleto de simbolismos para o movimento
GLBT. O enigmático filme de ficção científica “Zardoz” de John Boorman cujo
título é uma contração dos termos “Wizard” e “Oz”. Isso sem falar na mãe de
todos os boatos e teorias conspiratórias sobre o filme: a suposta sincronia
entre o disco do Pink Floyd “The Dark Side of the Moon” de 1973 e o timing da
edição do filme “O Mágico de Oz”.
quarta-feira, maio 15, 2013
O gnosticismo pop está à frente dos gnósticos?
quarta-feira, maio 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vinicius Aldino, instrutor gnóstico (?), fala em uma emissora de TV no
Rio Branco, Acre, sobre gnosis e o workshop “Meditação e Qualidade de Vida”.
Para esse blog, acostumado com as representações da gnose e do Gnosticismo nos
chamados filmes gnósticos como momentos radicais de iluminação espiritual que
levam ao questionamento não só do status quo mas também daquilo que entendemos
como “realidade”, surpreendeu a fala de Aldino: a meditação, como ferramenta
para alcançar a gnosis e, ao mesmo tempo, melhora da concentração e eficiência
profissional e dos afazeres do dia-a-dia, o que contraria toda uma filosofia historicamente herética, perigosamente aproximando-se das técnicas terapêuticas de autoajuda. Será que, paradoxalmente, o
gnosticismo pop está à frente da própria prática gnóstica atual? Ou será que estamos
enganados e Aldino pretende, na verdade, colocar um “Cavalo de Tróia” no
interior do imaginário das técnicas de autoajuda?
Para aqueles que pesquisam o
renascimento atual do Gnosticismo na cultura pop, como faz esse blog
particularmente com o Cinema, a gnose dos protagonistas das narrativas
ficcionais e toda a mobilização de simbologias e temas do esoterismo e
hermetismo em filmes são encarados como decisivos momentos de autoconsciência e
iluminação espiritual que desafiam sistemas opressores e explodem com aquilo
que chamamos de “realidade”. Momentos de virada e transformação não só de
personagens na ficção, mas, potencialmente, com os próprios espectadores desses
filmes gnósticos. Apesar de serem filmes comerciais dentro dos preceitos dos
gêneros hollywoodianos, eles virtualmente podem incutir a desconfiança em
relação a instituições, expressar o mal estar da nossa cultura e a crítica.
Paradoxalmente, parece que esse
renascimento pop do Gnosticismo apresenta um ímpeto mais transgressivo (e por
isso fiel à sua história como tradição filosófica herética) do que o dos
próprios gnósticos.
Pois nesta semana recebi um link
com uma entrevista dada por Vinicius Aldino para uma emissora de TV em Rio
Branco, no estado do Acre - veja o vídeo abaixo. O gancho da entrevista era um workshop que Aldino
daria no Sesc local sobre técnicas de relaxamento e meditação. A introdução da
entrevista feita pela apresentadora era essa: “saiba como melhorar a qualidade
de vida sem gastar dinheiro. Quem explica como é Vinicius Aldino, instrutor
gnóstico (?)”.
domingo, maio 12, 2013
IMDB apresenta lista de 41 filmes gnósticos
domingo, maio 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O IMDB (Internet Movie Database - base de dados online sobre cinema, séries de TV e games de computador) apresenta uma lista intitulada "Filmes Gnósticos". É uma lista de 41 filmes dos mais diversos gêneros canônicos hollywoodianos (drama, thriller, terror, ficção científica etc.).
O IMDB os define dessa maneira: "Esses são filmes que têm um ligeiro brilho de Gnosticismo. Gnosticismo é a crença de que o mundo material é uma ilusão que foi criada por um semideus (Jeová, Javé, Yaltaboath, Demiurgo, etc.), e que os corpos humanos foram criados por "archons" (senhores do Universo). Porém, algumas almas que habitam alguns corpos humanos foram inspiradas pelo Altíssimo, e são maiores e mais poderosos do que o semideus que criou o universo e os seus Arcontes. Por esta razão, ele tem um grande ódio pela humanidade e por isso a mantém numa completa ignorância. O "Logos", (Yeshua) que veio na forma humana enviado pelo Pai Altíssimo, que é um Deus incognoscível do lado de fora deste universo material, e a forma Crística vieram para quebrar os grilhões que aprisionam os seres humanos (a prisão do próprio corpo) e trazê-los para o mundo "verdadeiro" ("Gnostic Movies" - IMDB).
sexta-feira, maio 10, 2013
Hollywood e o fetiche das armas no filme "God Bless America"
sexta-feira, maio 10, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"God Bless America" (2011) do diretor Bobcat Goldthwait parece ser um filme que segue a linha do chamado "cinema esquizo" com personagens paranoicos, psiquicamente instáveis e marcados pela revolta e cinismo contra uma sociedade racista, medíocre e xenófoba - a "América profunda". O filme faz um diagnóstico perfeito sobre uma cultura onde reality shows e programas como "American Superstars" são o objeto do desejo de milhões. Porém, Goldthwait parece cair vítima da fetichização das armas que Hollywood promove na atualidade: se o cigarro e as bebidas alcoólicas são extirpados da tela ou colocados somente nas mãos e bocas de vilões, com as armas é o contrário. Observamos uma fila interminável de armas lubrificadas, reluzentes, coldres e metralhadoras empunhadas ao nível da virilha prontas para entrar em ação com muito sex appeal.
Compare dois filmes clássicos com
Vincent Price (O Abominável Dr. Phibes de 1971 e As Sete Máscaras da Morte – Theater
of Blood, 1973) com o “God Bless America”. Nesses filmes com Vincent Price o
protagonista vinga-se de pessoas medíocres, indiferentes, arrogantes com
requintes cruéis, sádicos e com muito humor negro: vinga-se dos médicos que
mataram sua esposa por um erro na mesa de cirurgia e um ator shakespeariano que
despeja sua fúria em cima dos críticos de teatro que o atormentam.
Em “God Bless America” vemos
também protagonistas que querem vingar-se de uma classe média americana racista,
sexista, xenófoba e alheia a valores culturais. As situações de humor negro e
as mortes com requintes cruéis são parecidas. Porém, com uma diferença
fundamental: Vincente Price não usa arma de fogo uma única vez, preferindo
armadilhas e ardis perversamente elaborados; enquanto em “God Bless America” as
armas são a grande estrela do extermínio. Mais do que isso: no filme a arma se
reveste de um valor fetichista como instrumento de justiça, ordem e sex appeal.
domingo, maio 05, 2013
A Semiótica de Che Guevara
domingo, maio 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando o fotógrafo
Alberto Korda selecionou o fotograma de número 40 do rolo Kodak com uma série de
fotos de um evento em Havana, Cuba, em 1960 e deu o nome para ele de “Guerrilheiro
Heroico”, jamais imaginava o destino do personagem Ernesto Che Guevara na
mitologia contemporânea. O ícone atual em alto contraste em carros, baús de
motoqueiros ou bandeiras de torcida de futebol é o resultado de sucessivos
sistemas linguísticos parasitários que foram se sobrepondo e se sedimentando na
cultura de massas, até o simbolismo ideológico se converter em mensagem
motivacional e autoajuda.
Pedalava pela rodovia Raposo
Tavares voltando de mais uma manhã de aulas na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo quando passou por mim um desses carros estilo off road esportivo importado com o pneu estepe na traseira do
veículo. Não pude deixar de perceber na capa protetora que envolvia o pneu
estampada a clássica fotografia de Che Guevara como “Guerrilheiro Heroico”,
estilizada em alto contraste. A subida era acentuada, mas a fadiga pelas
pedaladas mais pesadas não diminuiu a minha perplexidade: o que está fazendo um
ícone político-ideológico revolucionário no estepe de um carro destinado para
motoristas de alto poder aquisitivo? Será que o motorista era algum “burguês
esclarecido”? Alguma coisa estava fora do lugar.
Nessa mesma semana passei,
então, a prestar mais atenção às versões e outros lugares inusitados onde
apareceria a foto do “Guerrilheiro Heroico”. Vi em um baú de entregas de um
motoqueiro, na camisa de um aluno na versão “Chê Madruga” (Seu Madruga da série
cult “Chaves” travestido de boina e o mesmo olhar compenetrado) e na TV em
bandeiras de uma torcida organizada de futebol do time Internacional de Porto
Alegre.
terça-feira, abril 30, 2013
O Grau Zero da Política
terça-feira, abril 30, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que o PT é tão
assertivo nas questões sociais e reticente quando se trata da Lei dos Meios e
monopólios midiáticos? O verdadeiro ato falho do ministro da Educação Aloízio
Mercadante ao sair em defesa ao “seu” Frias frente às denúncias da Comissão da
Verdade representa aquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de
“grau zero da política”: as esquerdas nunca quiseram chegar ao Poder
e, dizia Baudrillard, se um dia chegassem não haveria perigo porque o poder, de
fato, não existe. Ele estava sendo profético.
******
À primeira vista, talvez o tema dessa postagem (política
partidária) cause estranheza ao leitor em um blog especializado na discussão
sobre cinema e gnosticismo. As últimas discussões sobre a Lei dos Meios e os
monopólios de mídia e a reticência do governo atual em debatê-la lembram um
conceito de influência gnóstica do pensador francês Jean Baudrillard: a
reversibilidade simbólica, o gênio maligno presente em todos os sistemas –
todos os sistemas chegam a um ponto de desenvolvimento e complexidade que
acabam inviabilizando sua própria finalidade, voltando-se contra si mesmo. É o
caso do sistema político que chegaria ao chamado “grau zero”, onde a finalidade
social foi substituída pela simulação e sedução. É a “transparência do Mal”.
******
Em carta ao jornal Folha de São
Paulo o ministro da educação Aloízio Mercadante saiu em defesa da memória de
Octávio Frias de Oliveira, falecido dono da “Folha”, após um delegado dos
tempos da ditadura militar dizer, na Comissão da Verdade, que ele colaborou
ativamente na repressão e tortura aos “terroristas” e “subversivos”. Esse
episódio parece que foi a gota d’água para muitos que ainda, pacientemente,
esperavam que após 10 anos de governos de esquerda a questão do monopólio
midiático no país já tivesse sido, pelo menos, confrontada.
sábado, abril 27, 2013
E o Verbo se fez carne de celebridade no filme "Antiviral"
sábado, abril 27, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um futuro próximo, a
relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em
"comunhão biológica" comprando vírus e enfermidades exclusivas dos
famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Assistindo
ao filme canadense “Antiviral” (2012) percebemos que o diretor Branon Cronenberg sugere o
elemento religioso por trás da nossa civilização das imagens e das celebridades.
Mais precisamente, o mistério do “dogma revelado” (a misteriosa união entre o
Verbo e a carne representada por Jesus Cristo) estaria motivando todo o culto
fetichista pelas imagens na atual indústria do entretenimento, mas dessa vez
não mais por meio de uma comunhão simbólica através da hóstia e vinho, mas
agora por meios tecnológicos e mortais.
Na Bíblia o Evangelho Segundo
João nos oferece dois versículos que são fundamentais para entendermos os
mecanismos arquetípicos presentes na atual cultura das celebridades repercutida
pela civilização das imagens: “E o Verbo se fez carne”, diz o versículo 14 do
capítulo primeiro; “Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida
do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como
pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”, versículos 51-71 do
capítulo 6.
Se o
pesquisador em Midiologia, o francês Regis Debray, estiver certo de que há uma
linha de continuidade entre a civilização das imagens atual e os Concílio de
Nicéia no ano 787 que estabeleceu o mistério da Encarnação de Cristo (o Eterno
que se tornou carne, o Infinito que se tornou finito) e a representação do
Invisível por meio de imagens, então Hollywood deveria erguer uma estátua em
homenagem a São João.
quarta-feira, abril 24, 2013
A ficção midiática contamina o atentado de Boston
quarta-feira, abril 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para quem lida com análise
fílmica e estrutura de roteiro como esse autor, é impossível não perceber um
estranho mix entre ficção e realidade no incidente das bombas detonadas junto à
linha de chegada na Maratona de Boston: o timing de todos os acontecimentos
subsequentes até a captura dos “suspeitos” (estranha expressão porque desde já
estão condenados à morte), os fatos encadeados como em um clássico roteiro com
a narrativa dividida em três atos (atentado/perseguição/captura) com timing de
filme de ação hollywoodiano, a facilidade de captação de imagens de toda a ação
pelas mídias, e, por fim, as clássicas e emotivas imagens de velas sendo
erguidas em homenagem à vítimas e pessoas histéricas gritando “USA! USA!”
enquanto o “suspeito” sobrevivente era levado preso.
Impressiona como a ambiguidade
dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, com forte carga retórica como
o detalhe em close de uma sacola com a bandeira dos EUA em uma calçada manchada
de sangue) acaba produzindo uma espiral de interpretações tanto conspiratórias
(a “operação false flag” ou autoterrorismo) quanto um atentado arquitetado por “facções
radicais”.
domingo, abril 21, 2013
Deus está nos números no filme "Número 9"
domingo, abril 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Três personagens em
três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma
prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games
de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do
diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do
protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é
visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda
vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência
do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo
episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua
verdadeira identidade.
Chris Carter, criador da série
“Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona
temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a
compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade,
probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.
Nesse episódio de Arquivo X a
personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido
e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o
roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao
propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e
sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A
compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a
libertação.
sexta-feira, abril 19, 2013
Em Observação: "Número 9" (2007) e "Antiviral" (2012)
sexta-feira, abril 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Paranoia pela onipresença do número 9 e um protagonista ao mesmo tempo prisioneiro e criador de mundos como um arquiteto de videogames e diretor de programas de TV. Para o pesquisador em sincromisticismo Christopher Knowles o filme "Número 9" explicitaria variantes do Gnosticismo Cristão. E no filme "Antiviral", em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando virus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Dirigido por Brandon Cronenberg, filho do conhecido diretor David Cronenberg, parece seguir os passos do pai: uma crítica social ao desenvolvimento tecnológico mesclado com situações bizarras e perversas. Esses são os filmes na mira do blog nessa semana.
segunda-feira, abril 15, 2013
Somos todos aliens no filme "Earthling"
segunda-feira, abril 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O tema “alienígenas”
encontra a sua maturidade no cinema no filme indie “Earthling” (2010). Nesse
filme abandonamos os temas da invasão, dominação e submissão para entrarmos em
um campo mais metafísico e gnóstico: será que todos nós seríamos aliens
aprisionados nesse mundo? Alienígenas aos poucos vão despertando nesse planeta
e descobrem que na verdade não são quem pensavam ser. Um acidente de carro e um
incidente em uma estação espacial são os acontecimentos que despertarão nos
aliens humanos o desejo de retornar à suas origens. Seríamos todos nós
estrangeiros nesse planeta e a nossa condição de estranhamento e alienação sintomas
dessa verdade? Esse é o tema central de um subgênero que podemos nomear como
filmes AstroGnósticos.
O Gnosticismo clássico nos
ensinou que os seres humanos são criaturas celestes prisioneiras de um Demiurgo
sádico e louco. Somos prisioneiros nesse planeta apenas para acalmar seu ego ferido.
Todos nós, incluindo o Demiurgo, seriamos emanações do Pleroma ou da Plenitude
e de lá fomos expulsos devido a uma espécie de terrível aborto cósmico: a
Criação.
Por sua vez, o Gnosticismo
Cristão nos ensina que Cristo era um ser puramente espiritual, um “aeon” que
foi enviado a nós diretamente do Pleroma com o objetivo de nos despertar para a
realidade de que somos prisioneiros de um Deus cego auxiliado pelos seus
Arcontes. Despertarmos através do conhecimento trazido por Ele sobre a nossa
verdadeira natureza e identidade.
sábado, abril 13, 2013
O "bug" da Microsoft e o mal
sábado, abril 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como interpretar o "bug" fatal da atualização do Windows 7 que fez inúmeros computadores entrarem em looping sem conseguir iniciar o sistema operacional? Como explicar um erro em proporções exponenciais partindo de uma corporação como a Microsoft? Conspiração mercadológica para forçar a atualização para o até aqui fracasso de vendas do Windows 8? Simples erro de sintaxe algorítmica de alguma linha de comando? Talvez o "bug" revele algo que nos escapa, apesar de sentirmos os seus efeitos no dia-a-dia: o desenvolvimento tecnológico estaria se aproximando a um estágio tal de complexidade que criaria uma reversibilidade fatal e maléfica e, ao mesmo tempo, irônica: a "hipertelia".
Fui mais um dos usuários vítimas
da verdadeira bomba informática que foi a atualização "2823324" do Windows 7. Sem
perceber, o Windows fez uma atualização automática que criou um “fatal system
error” como sinistramente diagnosticou o próprio computador para mim. O sistema
operacional não mais iniciava entrando em um looping, deixando-me em xeque
diante dos prazos de entrega de artigos e modelos de provas para a Universidade
onde leciono.
Segundo a própria Microsoft, a
atualização combateria a uma vulnerabilidade na segurança do sistema que
permitiria a um atacante ter acesso físico ao computador para explorá-lo. Mas,
ironicamente, a atualização feita em nome da segurança realizou o sonho de
qualquer hacker: produzir um efeito viral ou sistêmico e derrubar redes e
computadores.
Para aprofundar ainda mais a
ironia, de fato a atualização realmente deixou o computador mais seguro,
mantendo-o incomunicável não só com a Internet (a fonte da ameaça) mas com o
próprio usuário que não saberia que estaria sendo invadido. Cortou o mal pela
raiz!
sexta-feira, abril 12, 2013
A trivialização da catástrofe no filme "Sound Of My Voice"
sexta-feira, abril 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filmes cuja premissa parece ser de ficção científica como viagens no tempo ou universos alternativos. Mas esses temas são apenas o pretexto para discutir questões existenciais e relacionamentos. "Sound Of My Voice"(2011), sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik, segue essa tendência que os críticos definem como "psicodramas alt.sci-fi". Aqui a narrativa sobre uma estranha seita cuja líder teria vindo do futuro põe em discussão a chamada "mentalidade da sobrevivência", forte traço da mentalidade atual: a nossa difusa sensação de abandono e insegurança em relação ao futuro que alimentaria a frenética busca contemporânea por seitas, religiões e técnicas de autoajuda e autoconhecimento alardeadas pela cultura midiática.
Uma mulher é encontrada vagando pelas ruas de Los Angeles apenas trajando um lençol enrolado pelo corpo, sem memória e apenas trazendo como marca visível do passado uma tatuagem de uma âncora com o número 54 ao lado.
Um jovem casal decide fazer um
documentário sobre uma estranha seita, cuja líder é aquela mulher que foi
encontrada vagando pelas ruas. Agora ela afirma vir do futuro, mais
precisamente do ano 2054 – ela teria chegado a essa conclusão depois de
estranhos flahs de memória e o número 54 tatuado.
Uma menina com traços de autismo
brinca sempre solitária em seu quarto, fazendo estranhas figuras com blocos de
montar.
terça-feira, abril 09, 2013
O programa "CQC" e a correia de transmissão
terça-feira, abril 09, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Iscas mirins,
repórteres dublês de humorista e câmeras escondidas são hoje as principais
armas de uma onda de moralismo seletivo que domina as telas de TV, como no caso
exemplar que envolveu o deputado José Genoino e o programa “CQC”. Mas há algo
de mais profundo nessa onda moralizante do que o atual jogo de cena
político-midiático. Por trás da onda de programas televisivos representado pelo
“CQC” (programas, por assim dizer, “sensacionalisticamente corretos”)
esconderia a própria natureza do funcionamento da indústria cultural que no
passado pesquisadores como Adorno e Horkheimer tematizaram: a ritualização de
uma espécie de correia de transmissão na sociedade onde “aquele que é duro
contra si mesmo adquire o direito de sê-lo com os demais e se vinga da própria
dor”. O sensacionalismo seletivo que prefere despejar toda indignação nos
“pequenos” que desde o início já estão derrotados e condenados do que nos
poderosos seria a ritualização de um prazer voyeurista e sádico do espectador.
O episódio que protagonizou o
“repórter” mirim usado como isca para que o programa "CQC" (Custe O Que Custar da
TV Band) arrancasse de José Genoino algumas palavras (ele se recusa a conversar
com os dublês de repórter/humorista do programa) esconde algo de mais profundo.
Condenado pelo julgamento do chamado “mensalão” e exposto extensivamente ao
linchamento midiático como um caso exemplar da onda de defesa da moralidade que
varre o país, há algo de simbólico na figura de um político acuado em sua sala
no Congresso, a portas fechadas deixando entrar uma criança oferecida como isca
a alguém isolado e, talvez, carente por simpatia – a criança se dizia filho de
militante do PT.
O CQC pareceu querer requentar
uma notícia já passada, “chutar cachorro morto”, tentar tripudiar em cima de
uma figura já julgada e condenada por chicanas jurídicas e pelo veredito
midiático. Em outras palavras, ofereceu para os espectadores alguém
supostamente fraco e derrotado para o deleite público da humilhação.
domingo, abril 07, 2013
A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"
domingo, abril 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que acontece quando
o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"?
Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011),
um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao
gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos
e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à
indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de
sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que
fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano?
É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.
Quando Sam Reimi escreveu e
dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a
situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma
floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited”
movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com
requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.
Mais do que isso, talvez não
imaginasse que nesse meio tempo o mainstream
hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em
“Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em
“Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de
roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky,
Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de
distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema
comercial.
Somente é possível compreender
integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011)
colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada
vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões
críticas no meio do mainstream
hollywoodiano, como no caso desse filme.
sexta-feira, abril 05, 2013
A arquitetura subliminar de Victor Gruen no documentário "Gruen Effect"
sexta-feira, abril 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ele criou um conceito
que mudaria radicalmente a sociabilidade e a percepção humana contemporânea.
Inspirado em planejamento socialista e nas memórias dos espaços de convivência
europeus com seus cafés e comércio de rua, um imigrante vienense foragido do
nazismo cria nos EUA os primeiros Shopping Malls na década de 1940. Ele
acreditava que seria a solução para a democracia americana em meio à alienação
e solidão criadas pela expansão econômica pós-guerra. O arquiteto Victor Gruen
mais tarde renegaria publicamente sua invenção ao vê-la convertida em “máquinas
subliminares de venda”. Mas o seu nome acabou sendo associado ao principal
efeito psicológico que o design arquitetônico dos centros comerciais criaria na
mente dos consumidores: o chamado “Efeito Gruen Transfer”. Esse é o tema do
documentário alemão “Gruen Effect: Victor Gruen and the Shopping Mall” (2012).
Ele definitivamente associou o
automóvel ao consumo e alterou drasticamente o horizonte urbano das grandes
cidades do mundo. Inventou o conceito de Shopping Mall (centros comerciais) cuja
arquitetura acabou involuntariamente produzindo um efeito que os pesquisadores
em comunicação subliminar chamam de “Gruen Transfer”: no momento em que os
consumidores entram em um shopping são envolvidos por um layout arquitetônico
intencionalmente confuso, fazendo-os esquecerem das suas intenções iniciais
e tornando-os vulneráveis ao bombardeio sensoriais de sons, aromas e luzes –
veja RUSHKOFF, Douglas. Coerction, N.
York: 2000 e HOWARD, Martin. We Know What
You Want. N. YorK: Desinformation, 2005.
O termo “Gruen Transfer”
refere-se ao arquiteto austríaco Victor Gruen que, sem perceber, criou
conceitos que mudariam radicalmente o desenvolvimento urbano do planeta. Um
imigrante europeu que de forma dramática fugiu de uma Viena controlada pelos
nazistas em 1938 e que, nos EUA em plena expansão da sociedade de consumo
pós-guerra e paradoxalmente inspirado no planejamento socialista e de suas
memórias sobre os espaços comunais dos cafés e lojas de ruas europeias, criou
os primeiros shopping centers na década de 1940.
segunda-feira, abril 01, 2013
Em Observação: "The Cabin In The Woods" (2011)
segunda-feira, abril 01, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sugerido pelo nosso
leitor Marcelo Sousa, o filme “The Cabin In The Woods” é definido pela crítica
como um mix de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” com “Matrix”. Ele
não se limita a fazer exercício de desconstrução do gênero terror, mas quer
oferecer respostas: por que os assassinatos são tão ritualísticos? Por que o
Mal pune os desobedientes e os bons sempre sobrevivem? O filme interessou ao
Blog, pois promete questionar a própria representação do Mal nesse gênero
cinematográfico: o chamado clichê da “quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem”.
sexta-feira, março 29, 2013
Geografias Interiores: cartografias e topografias da mente
sexta-feira, março 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
cinematografia desse início de século parece expressar nas suas narrativas
fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea onde não apenas generaliza o
modelo computacional como fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da
mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a
partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. O esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências,
ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da
Informação para não só desvendar o funcionamento da mente como também procurar
um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos
mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.
Filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais.
Tal agenda culmina hoje no reforço de um novo tipo de sujeito das novas redes
tecnológicas digitais: o sujeito fractal e a sua compulsão em representar
cartograficamente seus pensamentos, hábitos, relacionamentos e projetos
pessoais por meio de verdadeiras “geografias interiores”.
O filme pode ser considerado um verdadeiro
documento primário por expressar através de imagens e movimento o imaginário e
sensibilidades de uma determinada época. O historiador Marc Ferro, um dos
principais nomes da chamada “Escola dos Annales”, acredita que a relação
cinema-história tem um importante papel no campo historiográfico: "o imaginário
é tanto história quanto História, mas o cinema,
especialmente o cinema de
ficção, abre um excelente caminho em direção aos campos da história
psicossocial nunca atingidos pela análise dos documentos" (FERRO, 1992,
p.12). Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou imediato, pois
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