Observe leitor a fotografia que abre essa postagem. Ela poderá explicar
bastante o futuro que talvez esteja reservado para a Seleção brasileira nessa
Copa. A imagem mostra Neymar Jr. correspondendo às câmeras em um flagrante do
chamado “efeito Heisenberg” midiático – o jogador tenta criar algum tipo de empatia
após desfilar, nos minutos anteriores ao achar que estava tudo perdido,
arrogância e xingamentos que sobraram até mesmo para o próprio capitão do time,
Thiago Silva. O mesmo efeito Heisenberg (no qual a mídia transmite nada mais do
que os próprios efeitos que ela cria ao cobrir eventos) que levou o Brasil às
cordas frente à Alemanha em 2014 (choros, hinos a capela, etc.), agora leva
sincronicamente o dublê de técnico e pastor motivacional Tite e o astro Neymar
Jr. ao chão: um tropeço e logo depois o choro como marcas publicitárias. Assim
como muitos outros ovos de serpente chocados nos anos de neodesenvolvimentismo
dos governos petistas, Neymar Jr. é mais um. Com a leniência da grande mídia e
do mercado publicitário.
Dói
para esse humilde blogueiro, santista futebolisticamente e de nascimento,
escrever essas mal traçadas linhas: Neymar Jr. é um subproduto perverso do
neodesenvolvimentismo dos governos petistas – que confundia a inclusão de brasileiros na
sociedade de consumo como a própria ideia de cidadania. E agora virou a “grande
esperança branca” de uma seleção convertida em modelo de sucesso mérito-empreendedor
pós-golpe através de jogadores que conheceram o sucesso financeiro na Europa.
A foto
acima que ilustra essa postagem fala muito mais do que mil textos que tentem
traduzir sociologicamente essa situação bizarra de um jogador considerado a
última bala na agulha de uma seleção de futebol milionária.
Se
outro jogador santista, Pelé, aos 17 anos após um golaço na final da Copa de
1958 contra a Suécia (chapéu num zagueiro, matou no peito e bateu de primeira
no canto direito), caiu em choro copioso após o título mundial, agora Neymar
Jr. desaba no gramado em prantos depois de fazer um gol sem goleiro contra o 25o
colocado do ranking FIFA num jogo da fase de grupos da Copa.
Neymar
Jr., jovem e promissor jogador da base do Santos revelado em 2009 cada vez mais
se notabilizou por vídeos em redes sociais dando pitacos contra juízes,
adversários e até contra o técnico, Dorival Junior, por certa vez tê-lo impedido de cobrar um pênalti em uma
partida.
Pelé chora no ombro de Didi em 1958 após ser campeão do mundo aos 17 anos |
“Criando um monstro”
Na
época, outro técnico, Renê Simões do Atlético de Goiás, chegou a falar que a
mídia “estava criando um monstro”.
Na
medida em que seu “sucesso” futebolístico (com grande complacência da grande
mídia e do mercado publicitário) aumentava sua onipresença midiática, mais e
mais o jogador revelava suas origens sócio-culturais: no funk ostentação da
Baixada Santista/SP – ao lado da Grande São Paulo, berço da vertente brasileira
reacionária do gênero musical: musicas sobre carros, motocicletas, bebidas,
além de abordar as mulheres como um mero meio de alcançar ainda mais poder
material. Bem diferente da vertente carioca que tematizava a criminalidade e a
vida sofrida nos morros e periferias.
O
personagem Neymar Jr. cresceu como modelo de sucesso (com direito a
participação em novelas da Globo) para uma geração que via nas novas formas de
consumo da egressa Classe C um canal para reconhecimento e afirmação em um País
que parecia ser a bola da vez. E exibindo uma fortuna desperdiçada em carros ,
helicópteros, um iate para 60 pessoas e um jato particular. Riqueza ostentada sistematicamente
por ele próprio e seus amigos e agregados privilegiados em redes sociais.
Hoje,
Neymar Jr. é o seu próprio paroxismo: é também um subproduto do chamado “efeito
Heinsenberg” (o mesmo que levou a Seleção às cordas no 7 X 1 contra a Alemanha
em 2014) e que destrói o futebol brasileiro – efeito secundário produzido pelas
coberturas midiáticas no qual a mídia passa a maior parte do tempo cobrindo o
efeito que ela própria cria sobre os fatos: a cobertura dos esforços dos
personagens transformarem-se a si mesmos em entretenimento para atrair a
atenção das mídias – sobre esse conceito clique aqui.
Renê Simões: "mídia está criando um monstro" |
“Neymarketing?”
Com a
crescente dramaticidade do jogo contra a “poderosa” Costa Rica e, como era de
se esperar, o descontrole emocional de um jogador que só parece mostrar seu
talento em ambientes favoráveis de jogo, Neymar passou a xingar e desacatar o
juiz, jogar a bola no chão em protesto e xingar ainda mais o adversário.
Mas
ainda o pior: ofendeu o capitão do próprio time (Thiago Silva) após devolver a
bola num gesto de fair play.
Após o
apito final, Neymar Jr. desabou no gramado chorando e escondendo o rosto.
“Neymarketing”? Uma estratégia para criar empatia com o distinto público?
Afinal, quando ele achava que já estava tudo perdido, desfilou arrogância, destempero
e palavrões. Enquadrado em close pelas câmeras da Fifa.
O
jornalista Paulo Henrique Amorim carregou as tintas na Psicanálise para
diagnosticar o chiliquento Neymar: se as lágrimas forem falsa é mau-caratismo.
Se verdadeira, disse o jornalista, trata-se de um sujeito psicótico – clique aqui.
Mas
talvez não seja necessário chegar a tanto. Neymar Jr. é o resultado do equívoco
dos anos de neodesenvolvimentismo que chocou o ovo da serpente do novo riquismo
mérito-empreendedor sem formação política ou noção de cidadania. Somado ao
pós-moderno efeito Heisenberg midiático.
Muito
mais do que o metrossexual Cristiano Ronaldo, que a todo momento olha o seu
rendimento visual no telão do estádio, em Neymar há algo de muito mais
insidioso: a leniência da grande mídia e dos brasileiros.
Um "ativo financeiro" da indústria de lavagem de dinheiro no futebol? |
Efeito Heisenberg e tautismo
Para a
grande mídia, Neymar cumpre o script perfeito – as mídia cobrem um personagem
que se esforça em capturar a atenção das câmeras. Em última instância, a mídia
cobre a si mesma, confirmando o seu tautismo (tautologia + autismo midiático)
crônico.
Ao mesmo tempo,
a seleção sofre nessa Copa as mesmas mazelas que a vitimaram na Copa anterior –
com o circo midiático 24
horas em volta da Granja Comary, a concentração acabou se tornando na época um
gigantesco estúdio a céu aberto com personagens que respondiam prontamente às
câmeras e jornalistas: jogadores cantando o hino segurando a camisa de Neymar
Jr., o apresentador global Luciano Huck interrompendo treinamento para realizar
um sonho de um deficiente físico e fazer jogadores chorarem entre outros
episódios.
Lá em 2014, a mídia criava a narrativa de um
time que chorava antes das decisões, desorganizado, confrontado com a frieza e
precisão organizacional germânica – lembrem-se da história de um software
exclusivo usado pelo técnico da seleção alemã.
A
Seleção era a metáfora de um País supostamente à beira do abismo, ingovernável,
de uma Copa tida como corrupta que roubava verbas para a Saúde e Educação.
CT Meninos da Vila em Santos: uma geração inteira anseia seguir os passos de Neymar Jr. |
Leniência da opinião pública
Agora,
é leniente com um jogador que, assim como Messi, CR7 entre outros, chegaram aos
grandes clubes europeus através de transações obscuras que invariavelmente
tentaram fugir dos impostos, sob o guarda-chuva de organizações ainda mais
corruptas como Fifa e CBF – sem falar das também obscuras transações pelos
direitos de transmissão exclusiva da Globo.
De
membro de um grupo desorganizado e em crise (reflexo de um País sacudido por
manifestações de rua diárias), retirado por uma oportuna contusão às vésperas
do “mineiraço”, Neymar Jr. se torna nesse momento o símbolo do “agora vai ser
diferente” e do “grupo que acreditou que pode vencer”, “que fez por merecer”,
do “uma só torcida que muda o jogo”, como nos ensina a campanha do Banco Itaú,
patrocinadora da Seleção.
Mercado
publicitário e grande mídia fabricam a leniência da opinião pública à
arrogância e grosseria novo riquista de Neymar Jr. E o jogador corresponde,
atraindo as câmeras para tentar criar algum tipo de empatia publicitária.
As
imagens repetidas até a exaustão das duas grandes estrelas do time indo ao chão
como uma espécie de desabafo (o técnico pastor motivacional Tite tropeçando em
si mesmo na comemoração do gol e o chorão Neymar Jr.) poderão ser proféticas:
se o efeito Heisenberg sufocou a Seleção em 2014, agora em 2018 não está sendo
diferente – lá a pátria calçava chuteiras para um golpe político dois anos
depois; nesse momento, calça as chuteiras do wishiful thinking do mercado publicitário e da grande mídia.
Neymar
Jr. é a tentativa do mercado publicitário e midiático criar algum tipo de
ligação emotiva dos torcedores com um time “europeu” que passa grande parte do
ano longe da realidade do entediante campeonato brasileiro.
Porém,
o mais triste em toda essa história é saber que no Centro de Treinamento
Meninos da Vila, do Santos F.C., está repleto de jovens que emulam as atitudes
e hábitos do astro, ansiosos em trilhar os mesmos passos ao som de um funk
ostentação.
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