Ao lado animações sombriamente lindas como “Coraline” (2009) e “A Noiva
Cadáver” (2005), “9 – A salvação” de Shane Acker, baseado em um curta indicado
ao Oscar de animação em 2005, é outro exemplar que nos oferece uma alternativa
ao estilo do estúdio Pixar da Walt Disney. O seu estilo obsessivamente
detalhista que os fãs chamam de “stitchpunk” dá um sentido visual à clássica
mitologia gnóstica onde máquinas auto-replicantes tornam-se Demiurgos que
dominam um planeta arrasado, auxiliados por bestas metálicas que perseguem
pequenos bonecos de pano que ganham vida e se descobrem prisioneiros naqueles
cosmos hostil. A animação também é mais um exemplo de como o cinema explora os
antigos simbolismo que envolvem fantoches, bonecos e autômatos.
Título: 9 – A Salvação (2009)
Diretor: Shane Acker
Plot: Um boneco de pano que acorda em um futuro
pós-apocalíptico detém a chave para a salvação da humanidade.
Por que está “Em Observação”? – A animação 9 – A Salvação se originou de um curta
indicado ao Oscar em 2005. Os 10 minutos daquele curta abriram as portas para o
jovem realizador Shane Acker, estudante recém-formado da Universidade da
Califórnia: os olhos do cultuado diretor Tim Burton se voltaram para o curta,
que então decidiu produzir uma versão longa metragem da história original de
Acker.
Em
9 – A Salvação acompanhamos a
história de um boneco inexplicavelmente inteligente que acorda no chão no chão
de um laboratório aparentemente abandonado. Percebemos que alguém pintou nas
suas costas o número “9”. Do tamanho de um pequeno roedor, ele não sabe quem, o
quê ou por que está naquela situação. Ele tropeça para fora e conhece um mundo
sob escombros, pós-apocalíptico, onde conhecerá outros bonecos com números nas
costas. Todos serão perseguidos por estranhas e cruéis máquinas semelhantes a
transformers que parecem ter sido as responsáveis pela destruição do planeta.
Juntos, empreenderão uma jornada épica na direção de uma misteriosa fábrica,
com as implacáveis máquinas atrás deles.
O
blog Cinema Secreto: Cinegnose se
interessa por toda produção que envolva bonecos, robôs, autômatos ou fantoches;
das marionetes do Muppet Show (Caco,
o Sapo, Miss Pig etc.) à franquia Transformers.
Isso porque essas criaturas são investidas na cultura ocidental com um
significado esotérico: as marionetes descendem dos antigos ídolos divinos,
adorados e animados por seus sacerdotes, além de representarem a própria
condição humana como nossos duplos – neles vemos a nós mesmo como prisioneiros
em um universo hostil. Pelo ponto de vista gnóstico, todo o nosso fascínio por
bonecos, miniaturas, brinquedos etc. , seriam projeções de uma secreta
consciência da nossa condição humana: reencenamos dramas e estórias que
simbolizariam a nossa própria jornada nesse cosmos (sobre isso, clique aqui).
E com 9 – A Salvação não seria diferente, principalmente porque esses elementos gnósticos parecem ainda estar mais explícitos.
E com 9 – A Salvação não seria diferente, principalmente porque esses elementos gnósticos parecem ainda estar mais explícitos.
Chama
a atenção o despertar inicial de 9 (em um laboratório abandonado), dando o
aspecto de “manufaturado” do protagonista – assim como o homem, criado por um
ser superior. Máquinas que pretendem roubar a alma do grupo de bonecos – também
como nas narrativas gnósticas onde o Demiurgo nos mantém prisioneiros nesse
cosmos para extrair de nós a luz espiritual interior (alegria, boa-fé,
disposição, brilho, vitalidade, confiança etc.) para que suas partículas animem
um mundo defeituoso – em 9
representado pelo cenário distópico.
No
filme, a única esperança para humanidade está nesses bonecos, após uma
calamidade apocalíptico que arrasou o planeta. Após a ciência conseguir encontrar
a Inteligência Artificial com pretensões humanitárias, a velha narrativa do
mito de Frankenstein se repetiu: as máquinas auto-replicantes deram uma olhada
ao redor e decidiram assumir seus mestres e controlar todo o planeta.
Tal
qual a mitologia gnóstica, o Demiurgo cria uma série de “arcontes” ou “pequenos
regentes” que ajudam a manter o homem prisioneiro no interior da sua criação. Em 9 – A Salvação a B.R.A.I.N. (Binary
Reactive Artificially Inteligent Neurocircuit) e o demiurgo criador dos suas diversas
máquinas-arcontes: The Cat Beast, The Winged Beast, Spiderbots etc.
O que esperar? – 9 - A Salvação é uma ótima oportunidade de ver
uma animação bem diferente das produções do padrão da Pixar: é o chamado estilo
“stitchpunk” que combina futurismo com estética retrô - uma profusão de porcas,
parafusos e lixo de metal. O que torna a animação “lindamente sombria”, bem
diferente da Terra arrasada do filme WALL-E da Pixar. O elenco que faz as vozes
dos personagens é de primeira: Elijah Wood, Christopher Plummer, Martin Landau,
Jennifer Connelly, Crispin Glover e John C. Reilley.