Softwares de xadrez tentam
imitar a inteligência humana enquanto programadores de computador discutem o
que os motivam a procurar a Inteligência Artificial. Ambientado no início dos
anos 1980, “Computer Chess”, o filme faz um mergulho ao mesmo tempo sério e bem-humorado
na cultura nerd dos engenheiros do Vale do Silício: suas motivações,
esquisitices e a estranha relação fetichista com os computadores que estava por
trás do início da explosão da indústria da tecnologia nos EUA. Filmado em preto
e branco, o filme cria uma estranha atmosfera retro como se testemunhássemos a
intimidade de pessoas que acreditavam que a matemática e algoritmos poderiam
reproduzir a complexidade humana.
Filme: Computer Chess (2013)
Direção: Andrew Bujalski
Plot: No início dos anos 1980 um grupo de
programadores de computador realiza um encontro em um hotel onde será oferecido
um prêmio em dinheiro para a equipe que apresentar o melhor software de jogo de
xadrez. As equipes tentam aprimorar seus programas enquanto participam de jogos
eliminatórios.
Por que está “Em
Observação?” – Produção
independente norte-americana premiada no Sundance Film Festival de 2013. O
filme apresenta não só o nascimento do conceito de cyborg, Inteligência
Artificial e a colisão homem/máquina com o início da explosão da indústria de
tecnologia, como também um curioso olhar etnográfico na fechada “cultura nerd”
dos tecnófilos do Vale do Silício. Filmado em preto e branco com um especial
tratamento nas imagens para se assemelhar a um filme da época, olhando a
primeira vista a produção passa uma estranha atmosfera retro onde vemos vários
programadores de uma incipiente indústria, sentados diante dos antigos
monitores arredondados numa visível relação fetichista com a tecnologia.
Enquanto esses primeiros técnicos competem em um torneio de xadrez
high-tech por um prêmio em dinheiro, acompanhamos suas conversas filosóficas
sobre a natureza da programação, o futuro dos computadores e da natureza
humana.
O filme segue o protagonista Peter (Patrick Reister) que é uma espécie
de calculadora humana que fica dias a fio tentando depurar os erros do programa.
Tão obcecado que há cada cena vai se tornando menos humano, enquanto seu
mentor, um homem de família aparentemente estável, que trouxe sua família para
assistir ao torneio, tenta conduzi-lo através do fiasco eminente.
Enquanto realiza-se o confronto de xadrez por computadores, também
acontece no hotel um encontro de um grupo de aconselhamento matrimonial liderado
por um guru carismático. Dessa forma o filme traça um interessante paralelo: de
um lado a cultura nerd, a matemática e o impulso em traduzir a natureza humana
em algoritmos e, do outro, o humanismo de casais que lidam com o
envelhecimento, problemas conjugais e sexuais. Os dois paradigmas são unificados
através de uma metáfora que compara o movimento das pessoas com os movimentos
das peças de xadrez, o que significa o absurdo de tentar reduzir o caos das
relações humanas à exatidão dos números.
Pela temática que o filme explora, a narrativa parece ir de encontro a
uma discussão bem conhecida nesse blog: a utopia mística tecnognóstica que motivaria
o avanço tecnológico computacional desde o século XX: a esperança de que um dia
o avanço do hardware e do software consiga espelhar o funcionamento neuronal do
cérebro humano por meio da Inteligência Artificial – então, dessa maneira, o
homem abandonaria a casa biológica corporal, migrando seu espírito para as
redes computacionais.
O que esperar? – Muito pouca ação (pelo menos os
movimentos físicos das peças de xadrez são feitos pelos programadores e não
pelas máquinas) e muitas cenas com longos diálogos onde se discute os paradoxos
e ameaças que representam o avanço dos computadores. Segundo Mary Ann Johanson
da “Flick Filosopher”: “Um filme secamente bem-humorado e maravilhosamente
estranho. Uma evocação da cultura nerd
do início dos 80’s e um olhar quase assustador do auge da história da Inteligência
Artificial”.