terça-feira, fevereiro 11, 2014

Em Observação: "Computer Chess" (2013) - Inteligência Artificial e cultura nerd

Softwares de xadrez tentam imitar a inteligência humana enquanto programadores de computador discutem o que os motivam a procurar a Inteligência Artificial. Ambientado no início dos anos 1980, “Computer Chess”, o filme faz um mergulho ao mesmo tempo sério e bem-humorado na cultura nerd dos engenheiros do Vale do Silício: suas motivações, esquisitices e a estranha relação fetichista com os computadores que estava por trás do início da explosão da indústria da tecnologia nos EUA. Filmado em preto e branco, o filme cria uma estranha atmosfera retro como se testemunhássemos a intimidade de pessoas que acreditavam que a matemática e algoritmos poderiam reproduzir a complexidade humana.


Filme: Computer Chess (2013)

Direção: Andrew Bujalski

Plot: No início dos anos 1980 um grupo de programadores de computador realiza um encontro em um hotel onde será oferecido um prêmio em dinheiro para a equipe que apresentar o melhor software de jogo de xadrez. As equipes tentam aprimorar seus programas enquanto participam de jogos eliminatórios.

Por que está “Em Observação?” – Produção independente norte-americana premiada no Sundance Film Festival de 2013. O filme apresenta não só o nascimento do conceito de cyborg, Inteligência Artificial e a colisão homem/máquina com o início da explosão da indústria de tecnologia, como também um curioso olhar etnográfico na fechada “cultura nerd” dos tecnófilos do Vale do Silício. Filmado em preto e branco com um especial tratamento nas imagens para se assemelhar a um filme da época, olhando a primeira vista a produção passa uma estranha atmosfera retro onde vemos vários programadores de uma incipiente indústria, sentados diante dos antigos monitores arredondados numa visível relação fetichista com a tecnologia.

Enquanto esses primeiros técnicos competem em um torneio de xadrez high-tech por um prêmio em dinheiro, acompanhamos suas conversas filosóficas sobre a natureza da programação, o futuro dos computadores e da natureza humana.

O filme segue o protagonista Peter (Patrick Reister) que é uma espécie de calculadora humana que fica dias a fio tentando depurar os erros do programa. Tão obcecado que há cada cena vai se tornando menos humano, enquanto seu mentor, um homem de família aparentemente estável, que trouxe sua família para assistir ao torneio, tenta conduzi-lo através do fiasco eminente.

Enquanto realiza-se o confronto de xadrez por computadores, também acontece no hotel um encontro de um grupo de aconselhamento matrimonial liderado por um guru carismático. Dessa forma o filme traça um interessante paralelo: de um lado a cultura nerd, a matemática e o impulso em traduzir a natureza humana em algoritmos e, do outro, o humanismo de casais que lidam com o envelhecimento, problemas conjugais e sexuais. Os dois paradigmas são unificados através de uma metáfora que compara o movimento das pessoas com os movimentos das peças de xadrez, o que significa o absurdo de tentar reduzir o caos das relações humanas à exatidão dos números.

Pela temática que o filme explora, a narrativa parece ir de encontro a uma discussão bem conhecida nesse blog: a utopia mística tecnognóstica que motivaria o avanço tecnológico computacional desde o século XX: a esperança de que um dia o avanço do hardware e do software consiga espelhar o funcionamento neuronal do cérebro humano por meio da Inteligência Artificial – então, dessa maneira, o homem abandonaria a casa biológica corporal, migrando seu espírito para as redes computacionais.

O que esperar? – Muito pouca ação (pelo menos os movimentos físicos das peças de xadrez são feitos pelos programadores e não pelas máquinas) e muitas cenas com longos diálogos onde se discute os paradoxos e ameaças que representam o avanço dos computadores. Segundo Mary Ann Johanson da “Flick Filosopher”: “Um filme secamente bem-humorado e maravilhosamente estranho. Uma evocação da cultura nerd do início dos 80’s e um olhar quase assustador do auge da história da Inteligência Artificial”.

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