segunda-feira, junho 29, 2020

Guerra Híbrida: por que o #UseAmarelo da Folha é bege?


Depois das false flags das prisões da perigosa “terrorista” Sara Winter e do “foragido” Queiroz, seguindo o “tic-tac” da guerra híbrida, o jornal Folha de São Paulo detona sua bomba semiótica: em editorial neste domingo exortou a todos aderirem a cor amarela como símbolo da “defesa da democracia”. Como lhe é peculiar, em tom megalomaníaco, arvora-se como vanguarda da “luta democrática” – resgatar o amarelo como símbolo democrático, libertando-o dos extremismos. Agora é “Amarelo Já!”. Porém, a Folha nos mostra um estranho matiz de amarelo, um amarelo bege. Diferente dos matizes amarelos limão, sólido e vibrante das domingueiras bolsomínias. O amarelo da Folha é um signo cromático para demarcar o “novo normal” do espectro político sob a lei antiterrorismo: nem o amarelo, o vermelho ou o preto-antifa dos “extremismos”. Mas agora, o amarelo bege da “democracia”. Mas qual democracia? A armadilha do domínio total de espectro armada contra a esquerda e oposições, cujo gatilho será disparado no futuro. Amarelo bege: AME-O OU DEIXE-O!  

sábado, junho 27, 2020

A incerteza quântica do Detetive em "O Turista Suicida"


Os impactos da descoberta do Princípio da Incerteza na mecânica quântica de Heisenberg foram muito além do campo científico – transformou o modo de constituição da subjetividade na modernidade: de qualquer ponto que pensemos a nossa vida, encontraremos um mundo fragmentado e incompreensível povoado por gente cujos compromissos e motivações não são claros. Por isso somos todos Detetives, personagem principal da Modernidade da literatura ao cinema. Sua tentativa de solucionar um enigma sempre se voltará contra ele mesmo. “O Turista Suicida” (Selvmordsturisten, 2019) é mais um exemplo de como a incerteza quântica faz parte da sensibilidade moderna: um investigador de uma seguradora tenta solucionar o enigma da morte de um segurado, envolvendo o “Hotel Aurora” – um resort elegante nas montanhas escandinavas que promete uma “morte assistida” ou “um belo final”. Porém, sem saber o detetive está investigando a si mesmo. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

O cinema como máquina de viagem no tempo em "La Belle Époque"


Quando falamos em viagem no tempo logo lembramos dos cânones da ficção científica: Relatividade e Mecânica Quântica materializadas em máquinas e dispositivos intrincados e misteriosos. Ou viagens místicas e estados alterados de consciência. Mas o cinema nunca imaginou a si próprio como um dispositivo de viagem no tempo: spots de luzes, cenografia, figurinos etc. Por que então não usarmos os recursos cinematográficos para vivermos uma experiência imersiva que nos remeta a qualquer lugar do passado? Esse é o conceito da comédia romântica francesa "La Belle Époque" (2019): com a ajuda de cenários, figurinos e extras, uma empresa oferece “viagens no tempo”: um jantar na corte na época da monarquia ou uma noite bêbada com Hemingway. E um cartunista frustrado com a era digital vai tentar reencontrar a paixão perdida, tanto amorosa como profissional, em uma noite de 1974 - festas, muitos cigarros de maconha, amor livre e movimentos contra culturais. Memórias reais ou hiper-reais?

quarta-feira, junho 24, 2020

A hiper-realidade da banalidade do mal em "O Ato de Matar"


O holocausto nazista, com suas milhões de vítimas, foi imortalizado por centenas de filmes e documentários. Porém, o genocídio político ocorrido na Indonésia entre 1965 e 1966, no qual foram massacradas mais de um milhão de pessoas (famílias inteiras, entre mulheres e crianças), é pouco conhecido – um expurgo político perpetrado por paramilitares e milícias em nome da luta contra a suposta ameaça comunista. “O Ato de Matar” (“The Act of Killing”, 2012, de Josh Oppenheimer) é um documentário cujas câmeras mostram como os líderes daquele genocídio ainda gozam do status de heróis e continuam atuantes sob o atual regime de extrema-direita. Tão orgulhosos que resolveram, durante as filmagens, fazer um outro filme dentro do próprio documentário: eles próprios reencenaram seus massacres, enquanto emulavam gêneros hollywoodianos como filmes de gangsteres e musicais. Criando um curioso efeito metalinguístico - um surrealismo medonho ao som de "Born Free".  Como a banalidade do mal pode se tornar hiper-real. 

domingo, junho 21, 2020

Guerra Híbrida: de homem-bomba, Queiroz vira bomba semiótica


“Onde está o Queiroz?”. Era a pergunta que não queria calar. Bem, agora o acharam. Mas no timing conveniente para reforçar a atual agenda da batalha das instituições de uma “democracia vibrante” contra os “terroristas” antidemocráticos. E a lareira do esconderijo do Queiroz, caprichosamente decorada com bonecos do mafioso hollywoodiano Tony Montana e um cartaz do AI-5, revelam signos sincrônicos para inflar semioticamente a sucessão de acontecimentos. E a esquerda vibra: é o fim do Governo Bolsonaro!... cada vez mais isolado politicamente e blá, blá blá... mais parecendo aquele penetra animado que fica na porta da festa tentando entrar de qualquer jeito. De homem-bomba Queiroz virou bomba semiótica – mais uma bomba cognitiva detonada na guerra híbrida cujo movimento estratégico em pinça atingirá a própria esquerda. Que agora baba ovo até para o Jornal Nacional e o STF, seus velhos algozes. Sem entender que por trás dessa guerra híbrida está o fim de uma era: a liquidação do pacto da luta de classes do Estado de Bem-Estar Social, acelerado pela pandemia.

quarta-feira, junho 17, 2020

O golpe militar híbrido não foi televisionado


Para nós a História é feita por grandes imagens icônicas televisionadas, filmadas ou fotografadas: tanques e soldados nas ruas no golpe de 1964; as torres do WTC desabando em 2001; imagens da TV do muro de Berlim sendo derrubado. As esquerdas também devem achar a mesma coisa: temem algo impactante que configure um golpe, de um cabo e soldado fechando o STF a tanques e soldados nas ruas fechando de vez o regime. Mas o golpe militar já aconteceu e a tomada do Estado não foi marcada por nenhum ato espetacular. Golpes militares híbridos não são televisionados. A doutrina militar do combate ao “comunismo viral” já tomou o Estado: já possui dispositivos legais e de operações psicológicas apoiadas pelo consórcio jurídico-midiático-militar. Enquanto põem em ação as estratégias híbridas de paralisação estratégica do inimigo através da manipulação do temor de um golpe que já aconteceu.

domingo, junho 14, 2020

Filme "1BR": quando a Ciência vira um pesadelo religioso totalitário


Se aprendemos alguma coisa com a História é que duas ideias não costumam terminar bem: primeiro, a ideia de um Deus demiúrgico, sempre presente por trás de religiões que estimularam cismas, guerras, genocídios e conquistas; e a outra, a propaganda dos valores da comunidade e da família que sempre desagua no totalitarismo. O thriller “1BR” (2019) transforma um condomínio de apartamentos em Los Angeles no microcosmo dessa trágica recorrência histórica: uma jovem solitária vai morar num condomínio de apartamentos que é uma comunidade incrivelmente perfeita – multicultural, inclusiva e acolhedora Mas aos poucos descobrirá que essa pequena utopia é de fato uma prisão – um brutal sistema de condicionamento que busca a conformidade absoluta. Outra seita de malucos ao estilo Charles Mason? Ou um sofisticado experimento de psicologia comportamental na qual Deus baixa à Terra sob a forma de Ciência? Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

quarta-feira, junho 10, 2020

Curta da Semana: "Wannabe" - a três segundos da celebridade



Com tanta gente produzindo conteúdo, fala-se que um vídeo na Internet deve conquistar a atenção do público nos primeiros três segundos. Segundos que podem ser a fronteira que separa o anonimato da fama: um influenciador digital com milhões de seguidores. O desejo pela celebridade não é um fenômeno novo na sociedade, mas na era digital assume características distintas. É o que mostra o curta-metragem alemão “Wannabe” (2017), de Jannis Lenz – um projeto transmídia conectanto o curta com vídeos on line de Coco, uma adolescente aspirante ao estrelato. Para ela, a fama e o sucesso não são consequências naturais do talento. São fins em si mesmos. É a forma dela fugir da sua vida e até de si mesma. Um drama pós-moderno: de tanto criar simulacros de si mesma naqueles três segundos decisivos, esqueceu de quem ela é. 

sábado, junho 06, 2020

Realidade realiza a ficção e Black Mirror não terá sexta temporada: é o fim da série?


“Tudo soa como algo que já assistimos, e penso: eu já imaginei isso!... realmente, tudo parece com coisas que já escrevi”, afirmou o criador da série “Black Mirror”, Charlie Brooker, diante dos atuais desdobramentos da pandemia COVID-19. Em entrevistas, Brooker tem sugerido que o não lançamento da sexta temporada da série se deve a um esgotamento criativo de “Black Mirror”: os mundos futuros descritos pelo roteirista já foram não só há muito realizados, como a realidade parece ultrapassar a imaginação ficcional – desde a minissérie “Dead Set” (2008), escrita por Brooker, na qual integrantes confinados de um reality show estão alheios a uma epidemia zumbi que se espalha no Reino Unido. O futuro, matéria-prima do gênero ficção científica, parece que não mais existe: ele já foi ironicamente realizado. 

quinta-feira, junho 04, 2020

Saem black blocs, entram os antifas: Guerra Híbrida?


Finalmente a oposição decidiu tomar conta das ruas, até aqui dominada pela extrema-direita em meio à quarentena que impôs um circuit braker político-econômico. Surgem os “antifas”, acabando com a tranquilidade das domingueiras bolsomínias clamando por intervenção militar e fechamento do Congresso e STF. Será que os antifas poderão se tornar aquilo que os black blocs foram para as “Primaveras” da Guerra Híbrida pelo mundo? Aqui e ali aparecem signos recorrentes das chamadas “Revoluções Populares Híbridas”: numa caçamba, jogada no meio da Avenida Paulista, pichações do acrônimo inglês ACAB (“All Cops Are Bastards”, emulando os protestos anti-racistas nos EUA) e “2013 VIVE”, além de slogans genéricos como “Defesa da Democracia”. Antifas poderão ser facilmente envolvidos no chamado “movimento de pinça”, tática militar da guerra convencional levada para o campo simbólico da Guerra Híbrida. Essas “pinças” podem ser múltiplas: junto com os antifas, surgem movimento suprapartidários. Por ex., um deles bancado por Jorge Paulo Lemann (que deu dinheiro e apoio operacional ao “Movimento Vem Prá Rua”) e a ONG norte-americana ligada às revoluções híbridas, a National Endownment for Democracy.

domingo, maio 31, 2020

Na série "The Midnight Gospel" zen-budismo é a filosofia perfeita para nosso universo simulado


Cada episódio da série de animação “The Midnight Gospel” (2020-) é um intensivo exercício pop de meditação: tentamos acompanhar os longos diálogos sobre vida e a aceitação da morte sobre o ponto de vista zen-budista, enquanto os protagonistas estão em mundos de colorido intenso e muitas vezes com violência gráfica pesada que tenta desviar nossa atenção. Como se a narrativa nos obrigasse a buscar o silêncio interior perante o caos barulhento da realidade. O protagonista Clancy faz entrevistas para um “spacecast” em um Universo dentro de simuladores cuja interface é análoga a games de computadores. É exatamente essa a ironia metalinguística central do filme: seres de um universo simulado cujas reflexões zen-budistas de que “tudo é um vazio de qualidade inerente” ou de que “vivemos em uma ilusão” é a filosofia perfeita para entidades digitais vazias e sem alma. A série flerta com o niilismo e solipsismo: seriam as filosofias orientais perfeitas para a nossa condição existencial de vivermos num Universo simulado análogo aos mundos de “Midnight Gospel”?

domingo, maio 24, 2020

Suposto vídeo devastador revela aliança oculta entre o Brasil Renitente e o Brasil Profundo


“Conteúdo devastador!”. Seria a bala de prata para as pretensões de Bolsonaro. Finalmente o STF liberou o “fatídico” vídeo da reunião ministerial. Mas a decepção foi diretamente proporcional às expectativas criadas em relação à divulgação. Nesse momento, a grande mídia faz esforço hercúleo para manter a narrativa das “provas” do ex-ministro Sérgio Moro. E manter Paulo Guedes afastado da “ala ideológica”, poupando-o (e também a agenda neoliberal) da contabilidade dos palavrões e xingamentos. Virou uma peça de propaganda do “Bolsonaro-raiz”. Porém, o tiro de festim do vídeo acertou naquilo que não mirou: revelou a aliança oculta entre o “Brasil Profundo” e o “Brasil Renitente” (a elite obstinada em manter a ordem “Casa Grande e Senzala”) com o apoio da grande mídia. Graças à guerra híbrida, o “Brasil Profundo” de seitas ao estilo Jim Jones e David Koresh ganharam tradução política e chegaram ao Estado. Lances de guerra criptografada como esse vídeo são jogadas do “Brasil Renitente” - com um roteiro de teledramaturgia traçado pela grande mídia, mantém o distinto público eletrizado pela montanha russa dos acontecimentos. 

sexta-feira, maio 22, 2020

Série "Undone": os entrelaçamentos quânticos ocultos na nossa vida cotidiana



A série “Undone” (2019-) pode ser considerada a próxima evolução na animação para adultos. Comum em filmes longa-metragem como “Scanner Darkly”e “Waking Life”, “Undone” é a primeira série que usa integralmente a técnica de rotoscopia. Decisão acertada, pela técnica criar uma atmosfera ao mesmo tempo suave e surreal, dando uma sensação de irrealidade e estranhamento. A mesma sensação da protagonista que, após um acidente de carro, deixa para trás uma vida chata e normal: é despertada nela uma capacidade latente de se libertar do contínuo tempo-espaço. E, juntamente com visões do seu pai falecido, faz um exame íntimo dos traumas pessoais e familiares. Descobrindo como a mecânica quântica que estrutura o cosmos também está presente nas impressões mais íntimas e cotidianas. Ir mais rápido do que a luz através do entrelaçamento quântico será o caminho para resolver um mistério que envolve pai e filha.

quarta-feira, maio 20, 2020

"Novo normal": a nova expressão da reengenharia social do coronavírus


Marcinho é despertado pelos amigos. Ainda zonzo ouve péssimas notícias: João Doria é governador, Luciano Huck será candidato a presidente e o atual é Bolsonaro... “Como assim! Aquele do CQC e Super Pop?”. Não! Não estamos na atualidade. Estamos em 2014, e tudo não passou de uma pegadinha para assustar o amigo de ressaca. No dia do fatídico 7x1 da Alemanha... Esse vídeo impagável da trupe de humor “Porta dos Fundos” provoca uma discussão sobre a expressão que cada vez mais aparece na mídia: o chamado “novo normal” – coisas que anteriormente seriam consideradas anormais que depois tornam-se normais, aceitas pelas condições adversas. Expressão de reengenharia social, plantada na mídia como forma de criar resignação numa situação totalmente bizarra: personagens canastrões, promovidos por programas de entretenimento, viram personagens políticos na crise COVID-19. Mecanismo psicológico de amnésia social. E o sincrônico 7X1 da Alemanha foi o gatilho que desencadeou a sucessão de eventos que nos levou ao “novo normal”. 

sexta-feira, maio 15, 2020

"Maria e João": as bruxas e o Sagrado Feminino


Indo muito além da Disney e das funções pedagógicas atuais, os contos de fadas são duros e cruéis: são menos lições de moral e muito mais guias de sobrevivência numa época em que não se acreditava na inocência das crianças. Eram tratadas de forma grosseira como adultos em miniatura. Foi pensando nisso que “Maria e João: O Conto das Bruxas” (Gretel & Hansel, 2020) faz uma adaptação do conto clássico que, como nos informa o título, promete uma subversão feminista. Mas vai além: busca uma interpretação mais universal, cósmica e gnóstica do drama de duas crianças perdidas e famintas numa floresta escura. Não é mais um conto de crianças que tentam voltar para casa, mas buscam autoconhecimento através da magia – a bruxa e o Sagrado Feminino como aliados para subverter as trevas que estruturam nossa realidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

quinta-feira, maio 14, 2020

Da montanha sai um rato: falha no JN, o teste de Bolsonaro e vídeo da reunião comprometedora


Quanto mais crescem os números dos mortos pela pandemia COVID-19, mais se intensifica a pauta dispersiva da guerra semiótica criptografada do consórcio Governo-Justiça-Grande Mídia. Depois da simulação de polarizações e conflitos num Governo que faz oposição a si mesmo (pro-ativamente cria a própria crise antes que ela seja criada pelos inimigos), nessa semana chegamos ao estado da arte: a “meta-simulação” – o inédito “defeito técnico” na escalada do Jornal Nacional, coincidentemente no exato momento em que os âncoras começavam a falar sobre o comprometedor vídeo da reunião interministerial. “Falha” com ótimo rendimento semiótico para o jogo criptográfico que oculta as “backdoors” da Biopolítica e Necropolítica. E o show da montanha da qual sai apenas um rato continua: o teste negativo do COVID-19 do presidente e a guerra semântica de versões sobre “comprometedor” conteúdo do vídeo da reunião interministerial.

terça-feira, maio 12, 2020

Curta da Semana: "Quarantine Dog Good Boy" - no confinamento os pets são nossos espelhos


Um curta produzido na quarentena e vencedor do festival on line nos EUA chamado “Filmes Sem Precedentes”. “Quarantine Dog Good Boy” é um curta estranho, bizarro e irônico – a relação com os pets nesse momento de confinamento e isolamento social: para muitos, eles se tornam a companhia constante que compensa a solidão. Mas, como será o ponto de vista do cão ao ver a rotina do entorno mudar e sentir o medo e ansiedade em seus donos? Um curta irônico, porque mergulha na psicologia humana do relacionamento com nossos animais de estimação: como são humanizados como fossem espelhos das mazelas humanas. Porém, eles podem perigosamente refletir de volta o demasiado humano.

segunda-feira, maio 11, 2020

O churrasco da morte e o jet ski: os abismos superficiais da guerra criptografada


E o show não pode parar. O “Churrasco da Morte” foi cancelado. Mas Bolsonaro não se deu por vencido: passeou de jet ski para ver imitações do churrasco que não houve, dessa vez nos luxuosos barcos no Lago Paranoá, Brasília. Mas o Congresso decretou Luto Oficial pelos dez mil mortos na crise da pandemia. Pronto! Nova polarização para entreter o respeitável público: indiferença presidencial X luto respeitoso do Congresso. Analistas políticos gastam tempo de TV e bytes na Internet para tentarem fazer uma análise hermenêutica nas falas do presidente. Mas o seu discurso é um fenômeno pós-moderno da direita alternativa, aquilo que o pensador Jean Baudrillard chamava de “abismos superficiais” – os simulacros políticos, sem nenhuma essência, sentido ou significado.  Não ser como guerra semiótica criptografada que inventa polarizações para impedir a verdadeira crise que porventura possa emergir: a queda das máscaras dos atores que encenam esse telecatch diário. Revelando que todos fazem parte do mesmo consórcio político-midiático-judicial que ampliou a letalidade do COVID-19 como consequência do apoio canino às reformas neoliberais de austeridade fiscal e uberização da sociedade. A grande mídia tenta esconder isso com a retórica do apoio à “Ciência” em outra polaridade simulada contra os “Negacionistas”.

domingo, maio 10, 2020

A humanidade tenta voltar para a casa que esqueceu na série gnóstica "O Vazio"


Nos primeiros minutos do primeiro episódio três adolescentes acordam em uma sala vazia, sem memória de quem eles são ou de como chegaram lá. Há uma máquina de escrever bem visível no canto e gás verde venenoso está saindo do chão. Cães demoníacos aparecem do nada para persegui-los, e um homem com questionável senso de moda oferece sua ajuda mística, mas com um custo ambíguo. Assim começa a série de animação “O Vazio” (“The Hollow”, 2018-20), disponível na Netflix. Protagonistas tentam encontrar o caminho de volta para casa. Mas como encontrar se não lembram do caminho ou sequer o que ela é? Esse é o paralelo que a série faz entre a Jornada do Herói a e condição existencial gnóstica humana, do nascimento até a morte – somos exilados em um mundo paralelo? Em algum limbo pós-morte? Prisioneiros em um game cósmico?

quinta-feira, maio 07, 2020

Na série "Tales From The Loop" o futuro já passou e a gente não percebeu


Sempre estamos à espera do futuro, seja no gênero ficção científica na literatura e no cinema, seja nas utopias políticas ou religiosas. Ou então deixamos de acreditar no futuro, por meio de distopias ciberpunks ou totalitarismos tecnológicos. Mas, e se o futuro já aconteceu e nós não percebemos? As maravilhas tecnológicas já foram realizadas, mas ainda a humanidade se debate angustiada com velhas questões universais como morte, solidão, luto, amor e identidade. Na série “Tales From The Loop” (2020-) estamos em uma década de 1980 alternativa em uma cidadezinha pastoral e agridoce na qual os cidadãos convivem com robôs e tecnologias quase extraterrestres com a mesma naturalidade com que experimentam a hora do chá ou fazem a lição de casa escolar. Com delicadeza e calma, cada episódio lida com uma questão universal humana numa abordagem dos temas sci-fi que a crítica vem definindo como “anti-Black Mirror”: não há utopias ou distopias – o futuro já passou e a humanidade ainda se debate com o “demasiado humano” ainda sem respostas. 

segunda-feira, maio 04, 2020

A construção midiática da mitologia da pandemia


Vírus são pequenos agentes infecciosos do reino submicroscópico. Assim como o vírus possui uma cápsula proteica para aderir na célula hospedeira, também a sociedade possui uma, digamos assim, cápsula semiótica (de discursos, sentidos e significações midiáticas) que adere aos eventos naturais, dando-lhes um sentido e significado através da ideologia do momento. E nesse momento é o da Biopolítica, cujo projeto é destruir as bases da democracia liberal – direitos individuais, equilíbrio dos poderes e parlamento. Diferente da epidemia da meningite na ditadura militar, encoberta pela censura do regime, agora a pandemia é mostrada. Porém, dentro da construção semiológica que o linguista francês Roland Barthes chamava de “mitologia”: a narrativa da letalidade do COVID-19 como uma fatalidade do mundo natural dos micro-organismos. Uma fatalidade que apenas joga sobre a população o peso das omissões deliberadas e irresponsabilidades dos governos comprometidos com a agenda das reformas econômicas neoliberais. Transformando o isolamento social em imperativo moral. Ocultando a ação biopolítica: controle social e garantia da liquidez da banca financeira.

sábado, maio 02, 2020

Cinegnose faz um pequeno inventário da recorrência de sonhos na quarentena COVID-19


Não é apenas a nossa consciência que desperta para o atual momento da pandemia global. Também os nossos sonhos estão traduzindo o momento difícil pelo qual passamos. Nesse momento, psicólogos, historiadores, artistas e estudiosos de diversas áreas estão percebendo a recorrência de símbolos nos sonhos que se assemelham historicamente aos períodos de guerra ou totalitarismo político. Começam a surgir esforços para a criação de banco de dados em todo o mundo, com relatos de sonhos da COVID-19. Por exemplo, pesquisadores da USP criaram o “Inventário dos Sonhos”, enquanto na Universidade de Harvard temos o projeto “Pandemic Dreams” com relatos de sonhos de todo o mundo. “Os sonhos são o sismógrafo do presente”, como afirmava a berlinense Charlotte Beradt em seu livro “Os Sonhos do Terceiro Reich”. Assim como o psicanalista Carl Jung nas análises dos sonhos de seus pacientes, ambos anteviram a ascensão do nazismo. Por isso, também esse Cinegnose iniciou um pequeno inventário de relatos oníricos da quarentena. Nessa postagem, uma análise das primeiras recorrências simbólicas do nosso material pesquisado. Estaríamos diante de um sonho/pesadelo coletivo?

quinta-feira, abril 30, 2020

Em "Domain" pandemia realiza projeto oculto de isolamento social das novas tecnologias


Nos agora longínquos anos 1990 surgia a World Wide Web, sob a promessa de que seria uma gigantesca biblioteca universal e que promoveria a “inteligência coletiva”. Isso tudo ficou para trás, quando a WWW se impôs como uma nova sociedade mediada tecnologicamente, isolando os indivíduos absorvidos pelas telas dos seus dispositivos móveis. Porém, uma pandemia global de gripe ameaça destruir a humanidade, confinando ganhadores de uma loteria mundial promovida pela OMS em bunkers subterrâneos. Sobreviventes, unicamente conectados por câmeras e telas numa nova Internet pós-apocalíptica. Uma situação que ironicamente põe em prática o isolamento tecnológico que já existia no mundo da superfície. Esse é o filme independente “Domain” (2016) que, assistido no momento atual em que estamos sob a urgência sanitária do isolamento social, ganha novos significados. 

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