sexta-feira, julho 07, 2023

'Indiana Jones e a Relíquia do Destino': parapolítica, arqueologia proibida e ocultismo nazi



O gênio de Spielberg com a franquia Indiana Jones foi mesclar a ficção (com o melhor que o cinema americano faz: filmes de perseguição) com um aspecto obscuro da História: a parapolítica (arqueologia proibida e ocultismo nazi). A corrida arqueológica por objetos sagrados com a promessa de adquirir poder mundano. Desde que, em 1939, arqueólogos da Waffen-SS chegaram na cidade sagrada de Lhasa, Tibet. Em “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” (2023), James Mangold faz um respeitoso mix de todos os tropos da franquia. Porém, com uma novidade, um tema da arqueologia proibida: os “Artefatos Fora do Lugar”, relíquias descobertas que parecem estar fora do tempo, que acaba desafiando a cronologia da História convencional. Mas estamos em uma obra de puro entretenimento que evita temas espinhosos. Então, nada melhor do que a velha viagem no tempo e todos os seus clichês. 

A franquia Indiana Jones é fascinante não apenas porque nos mostra aquilo que é a essência do cinema hollywoodiano: filmes de perseguição. Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, 2023), o quinto filme da série, é uma verdadeira montanha russa de perseguições, tanto no presente quanto no passado. Tem até uma perseguição aérea em plena antiguidade grega!

A série Indiana Jones é fascinante, principalmente por mesclar a ficção com um aspecto da História pouco discutido. Talvez por ser considerado pseudociência conspiratória. Mas que teve (e ainda tem) um papel importante: a parapolítica – estranhas histórias de sociedades secretas, ocultismo e arqueologia alternativa se cruzando com intrigas políticas ou guerras. Como foi o fenômeno do chamado “Ocultismo Nazi” na Segunda Guerra Mundial.

A busca por símbolos ou objetos sagrados com supostos poderes lendários e sobrenaturais que poderiam ser usados para conquistar o mundo. Foi pensando nisso que, por exemplo, que no dia 19 de janeiro de 1939, uma expedição de arqueólogos, antropólogos, geofísicos e um fotógrafo da Waffen-SS, a temida divisão de elite nazista, passou pela antiga porta que leva à cidade sagrada de Lhasa, no Tibet.

Acreditavam não só encontrar as tribos arianas originais (os lendários antepassados da raça alemã), mas também os poderes sobrenaturais representados pela suástica que se transformou no símbolo do Terceiro Reich.

O ocultismo nazi, o leitmotiv que serve de fundo para a franquia Indiana Jones, foi construída com base nas ideias das sociedades Vril e Thule (cujo maior entusiasta era o líder SS Heinrich Himmler) era um mix de mitologias e lendas que tomou como base Madame Blavatsky, Lobsang Rampa e outros mitólogos da mítica terra de Shangri-La, no remoto Tibet.

Um ocultismo misturado com pretensões geopolíticas, que implicava na busca também de relíquias sagradas (p. ex., Santo Graal e a Lança de Longino – a arma usada pelo centurião romano Longinus para perfurar o tórax de Jesus durante a crucificação) na promessa de adquirir poder mundano.

No primeiro filme e terceiro filme da franquia, Indiana Jones luta contra arqueólogos nazistas que querem capturar as relíquias judaico-cristãs da Arca da Aliança e do Santo Graal – Indiana via nelas o valor histórico para a humanidade, enquanto para os nazistas apenas armas parapolíticas. 

No quarto filme, duas novidades: no lugar dos nazistas temos como vilões uma arqueóloga soviética. E um “objeto fora do lugar”: a caveira de cristal – dentro da chamada arqueologia alternativa ou “proibida”, os “Artefatos Fora do Lugar” (OOPArt- Out of Place Artifact) são relíquias antigas, descobertas em sítios arqueológicos, que parecem estar fora do tempo ou em contexto não usual e aparentemente impossível, que acaba desafiando a cronologia da História convencional.



E no quinto filme Relíquia do Destino, o mais famoso de todos os OOPArts: a Máquina de Anticítera – para muitos pesquisadores, um verdadeiro computador analógico, descoberto em 1901 nos restos afundados de um navio romano na rochosa ilha grega de Antikythera. Um mecanismo de rodas dentadas que se sobrepunham, com unidades de medidas. Cuja função seria a de prever os movimentos dos astros, fases da Lua, eclipses e determinar as estações do ano.

Seriam necessários mais 1,5 mil anos para que algo parecido surgisse, na forma dos primeiros relógios astronômicos. 

É claro que Indiana Jones é uma produção hollywoodiana feita para entretenimento, e não para colocar em xeque a história cronológica oficial, como pretende a Arqueologia Proibida – comprovar que a nossa civilização não foi a única a evoluir nesse planeta. Os antigos provavelmente encontraram relíquias avançadas de civilizações sofisticadas e extintas, anteriores à nossa época. O que obrigaria a reescrever a cronologia do próprio planeta.

Mas o trio de roteiristas (Jez e John-Henry Butterworth e David Koepp) encontraram uma outra solução para escapar dessas questões espinhosas, sem cair no clichê dos extraterrestres na Antiguidade – como em Indiana Jones e a Caveira de Cristal.

A solução foi criar uma propriedade extra para a Máquina de Anticítera: a meteorologia do Tempo: prever fendas temporais para retornar ao passado.

Pois, então, os nazistas procurarão o mito da segunda chance, tropo clássico em filmes sobre viagens no Tempo.



O Filme

Nos cerca dos primeiros 20 minutos somos maravilhados com um Indiana Jones rejuvenescido pela tecnologia digital: Harrison Ford tão fresco como se estivesse de volta ao Caçadores da Arca Perdida, pulando e correndo em cima de um trem em alta velocidade, batendo em nazistas e tentando recuperar mais uma obra de arte.

Até percebemos algo ligeiramente artificial na tecnologia que rejuvenesceu o ator. Mas o frenesi de lutas e perseguições dos velhos nazistas nos faz esquecer e voltar 40 anos. 

Nada mais oportuno em um filme sobre voltar no tempo – o filme é quase uma máquina do tempo em si mesmo.

Claro, o filme não é sobre o jovem Indiana Jones, mas sobre o envelhecido Dr. Henry Jones, agora à beira da aposentadoria do ensino de arqueologia para sonolentos estudantes do Hunter College, morando solitário em um apartamento sujo de Nova York. Nada que lembre as heroicas aventuras do herói da ciência arqueológica.

O ano é 1969, o homem acabou de andar na Lua e Indy acabou de receber os papéis de divórcio. Em sua vida entra sua afilhada Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), a filha aventureira de seu antigo colega Basil Shaw (Toby Jones, que vimos com Indy naquela sequência de abertura). 

Ela quer arrastá-lo em uma perseguição pela Máquina de Anticítera, que supostamente faz parte de uma engenhoca construída pelo filósofo grego Arquimedes, supostamente com a propriedade de prever fissuras no próprio tecido do tempo, permitindo assim viagens ao passado. 



Ficamos sabendo que o pai de Helena, Basil, ficou obcecado com isso no final de sua vida. 

Mas também vilões estão perseguindo (e, por extensão, Helena e Indiana) está Jurgen Voller (Mads Mikkelsen), um ex-nazista que desde então se tornou um cientista premiado no programa espacial dos EUA – uma alusão ao também ex-nazista engenheiro de foguetes e, na época, diretor da NASA, Werner von Braun. 

Voller espera usar o mostrador de Arquimedes para voltar no tempo para impedir que a Alemanha perca a guerra. 

Não demora muito para acompanharmos uma série de perseguições, pulando continentes e mares de maneiras bem familiares para os fãs da franquia. O filme revisita todas as sequências que tornaram célebres Indiana Jones: seu pavor por cobras (dessa vez inúmeras lampreias, quando mergulha para encontrar a metade da máquina de Arquimedes); a cena clichê do chicote ineficaz diante de inúmeros revólveres sacados pelos vilões; cavernas estreitas de onde caem assustadores aracnídeos; traições etc. E uma participação especial do ator Antonio Banderas como um velho amigo pescador grego.


A linha do tempo fechada – Alerta de Spoilers à frente 


Como um bom filme hollywoodiano sobre viagem no tempo, temos o mito da segunda chance: Voller está determinado a encontrar as duas metades do mecanismo de Anticítera para retornar ao passado e alterar a História com a vitória de Hitler. 

Mas a questão espinhosa da Arqueologia Proibida é potencial: como esse computador analógico foi parar na Antiguidade grega? Seria uma tecnologia em estágio inicial criada por Arquimedes e abreviada pela invasão dos romanos, como sugere ao final a cena de uma batalha naval entre gregos e romanos?



Mas os roteiristas são mais astutos: se é um filme sobre viagem ao passado, porque não usar um recurso utilizado no filme clássico Em Algum Lugar no Passado (1980): o paradoxo do relógio que cria aquilo que em Física chama-se CTC (Closed Timelike Curve), linha do tempo fechada.

Nesse clássico de 1980 há uma questão que assombra os fãs: onde foi fabricado o relógio? Se o leitor considerar a linha do tempo do relógio, irá formar um circuito fechado muito parecido com um bambolê – Elise teria o “primeiro” relógio em 1912, e em seguida entregaria para Richard em 1972, de modo que ele volta no tempo para dar-lhe de volta em 1912. O relógio existiria sem nunca ter sido criado. 

A mesma coisa ocorre com a Máquina de Anticítera: Indiana Jones retoma o artefato dos nazistas, para entregar nas mãos do próprio Arquimedes, durante a invasão romana. O resto já sabemos: um centurião romano roubará a máquina e o navio afundará. Para o dispositivo ser encontrado em 1901. E Basil lutar contra o nazista Vollen pela posse das duas metades do Anticítera. E tudo recomeçar em 1969 com Helena arrastando Indiana Jones para mais uma aventura.

Mas, afinal: quem fez o mecanismo que parece estar fora do tempo e do espaço?

Indiana nada mais faz do que cumprir uma predestinação. E também, como um bom blockbuster (ou “flopbuster” – parece que as bilheterias não estão pagando o altíssimo custo da produção), a narrativa deve ser amarrada dentro do clichê da quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem.

Acompanhamos mais de duas horas de perseguições e sucessões de quebras de ordem para tudo retornar ao seu lugar: a predestinação e a inevitabilidade do destino.


 

Ficha Técnica

 

Título: Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Diretor: James Mangold

Roteiro: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp

Elenco:  Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, Mads Mikkelsen

Produção: Lucas Film, Walt Disney Pictures, Paramount Pictures

Distribuição: Walt Disney Pictures

Ano: 2023

País: EUA

   

 

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