O palhaço do crime está de volta. Só nesse mês de março, dois episódios
em países diferentes tiveram o Coringa como elemento motivador em situações
violentas: um adolescente abriu fogo em uma escola na França após posar armado
e mascarado como o Coringa em fotos no Facebook; e um homem carregando uma
espada e maquiado e fantasiado como o vilão do Batman foi preso pela polícia caminhando
ameaçadoramente pelas ruas em uma cidade na Virginia, EUA. São mais casos de
uma extensa lista daquilo que os psicólogos chamam de “Efeito Copycat” (efeito
de imitação) iniciado com o filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008) e a
controversa morte de Heath Ledger que interpretava o Coringa. Uma extensa lista
cujo caso mais famoso foi o Massacre de Aurora (2012) no qual o atirador dizia
ser “o verdadeiro Coringa”. Pesquisadores em Sincromisticismo acreditam que o Coringa é
um arquétipo vivo, uma forma-pensamento. Se no passado, esses arquétipos eram
dissipados em rituais sagrados, hoje tornam-se narrativas midiáticas
repetitivas cuja energia psíquica procura receptores vulneráveis para serem
“descarregadas” em ações catastróficas e imprevisíveis.
“Se coincidências são apenas coincidências, por que parecem ser tão
planejadas?”(Agente Especial Fox Mulder, “Clyde Bruckman’s Final Repose”, 1996,
Arquivo X)
"Os Pensamentos são coisas" (antigo aforismo oriental)
Mais uma vez o
palhaço do crime que assombra as HQs e as telas do cinema, O Coringa, retorna
como “motivação” de estranhos comportamentos violentos e anômicos. Só nesse mês
de março foram dois episódios.
Kylian Barbey, um adolescente de 17 anos
abriu fogo em uma escola (o Liceu Alexis de Tocqueville) na cidade de Grasse,
Riviera Francesa, no dia 16 de março. Armado com dois revólveres, além de um
rifle de caça, uma mochila contendo granadas falsas e um dispositivo explosivo
caseiro, feriu um professor e três estudantes. Ele é filho do político local
ultra-direitista Franck Barbey.
Como sempre no perfil dos protagonistas
dessas tragédias, Kylian foi descrito como um jovem tímido, e que ninguém
poderia imaginar que fizesse algo assim. Porém, tinha dificuldades para se
integrar na escola e tinha maus relacionamentos com alguns dos seus colegas.
Kylian era obcecado pela tragédia
norte-americana do Massacre de Columbine (1999). Sua página do Facebook trazia
várias imagens mórbidas e violentas com screenshots do vídeo “Tiros em
Columbine” e o vídeo de um homem com uma máscara macabra ao estilo da banda nu
metal Slipknot com uma arma descarregada que finge atirar no espectador e
depois na própria cabeça.
Além da página apresentar na cabeçalho de
página a foto do Coringa de Heath Ledger no filme Batman O Cavaleiro das Trevas e a frase de Oscar Wide: “Dê para um
homem uma máscara e ele se tornará quem realmente é”, além de uma foto sua com
uma máscara do próprio Coringa.
O Coringa andando pelas ruas
Uma semana depois, dia 24 de março, Jeremy
Putnam, 31, foi preso em Winchester, Virginia (EUA) acusado de estar vestindo uma máscara em
público – nesse estado, acima de 16 anos é considerado crime usar máscara ou qualquer
outro acessório que cubra parte substancial do rosto é oculte a identidade. Com
exceções de festas tradicionais que envolvem fantasias como o Halloween.
Em torno das duas horas da tarde a polícia
local recebeu uma série de ligações de moradores assustados relatando um homem
suspeito com uma maquiagem de Coringa, vestindo uma capa preta e carregando uma
espada. A polícia também relatou que tem recebido nas últimas semanas outras
ligações de supostas outras pessoas usando fantasia de Coringa.
O Coringa de Dendermonde
A lista de copycats (efeito de imitação)
envolvendo o Coringa é extensa, sempre em torno do lançamento do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e
a emblemática morte do ator Heath Ledger cuja performance foi considerada a
melhor representação do palhaço do crime na história do cinema.
Um ano após o lançamento do filme e a morte de
Ledger, houve o caso do “Coringa de Dendermonde”, na Bélgica em 2009. Com uma
maquiagem semelhante com a do Coringa, Kim de Gelder entrou em uma creche
armado com facas (arma predileta do Coringa), ferindo crianças e adultos. O
mais significativo é que o sobrenome “de Gelder” é um anagrama do sobrenome do
ator Ledger.
De Gelder era descrito pelos colegas como um
“movie freak” e “viciado em filmes”.
Em 1 de setembro de 2008, em Johanesburgo, Morné Harmse, um
aluno de 18 anos de idade em sua escola na África do Sul matou um aluno com uma
espada e, em seguida, cortou três outros. Harmse usava uma máscara de
palhaço e carregava outras máscaras supostamente inspiradas pelo grupo
Slipknot. Segundo relatos, o assassino também falava em uma voz que
procurava imitar o Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas.
O casal de Coringas assassinos de Las Vegas
O mais famoso copycat foi o chamado Massacre de Aurora em
2012 quando James Holmes disparou dentro de uma sala de cinema no Colorado
(EUA) na estreia de Batman: O Cavaleiro
das Trevas Ressurge. Vestido como o personagem em meio a fãs também
vestidos como os personagens do filme, ao ser preso disse: “Eu sou o Coringa!”
– clique aqui.
Em junho de
2014, Jerad e Amanda Miller tomaram as ruas de Las Vegas totalmente intenção de
causar estragos. Armado com uma espingarda, um revólver e várias armas, o
casal atirou em dois policiais que almoçavam. Depois de matá-los, fugiram
para um Walmart onde mataram outra pessoa que tentou pará-los. Cercado
polícia, Jerad foi baleado e morto, enquanto Amanda se matou cabeça.
O casal
pretendia provocar uma “revolução contra a tirania”. Jerad postou uma
série de vídeos do YouTube vestidos como o Coringa, em que ele confirmou o seu
desprezo pela aplicação da lei.
Heath Ledger, Jared Leto...
Como já discutimos em postagem anterior, a
trajetória do personagem do Coringa das HQs ao cinema é marcada por medo e
conflitos com relatos de dificuldade dos atores encarnarem o personagem – de transtornos
nas vidas pessoais a problemas psíquicos em exemplos como de Jack Nicholson,
Mark Hammil (deu voz ao personagem em animações) e o ápice com a morte trágica
de Heath Ledger. Além de relatos dos mesmos transtornos com o ator Jared Leto
nos sets de filmagem de Suicide Squad
– clique aqui.
Para os pesquisadores em Sincromisticismo, o
Coringa é mais do que um personagem ficcional: é um arquétipo vivo (a
personificação sombria do arquétipo do Trapaceiro – o “Trickster”), uma
forma-pensamento – criações mentais capazes de criar formas autônomas no Plano
Astral e, depois, no contínuo atmosférico midiático – sobre isso clique aqui.
O Efeito Copycat e a máscara do Coringa
E para a Psicologia é um padrão do chamado
efeito copycat, efeito de imitação de atos criminosos e assassinos em série no
qual o agente tem um nítido interesse no sensacionalismo provocado pela
publicidade de suicídios, assassinatos e depredações.
Embora as origens desse efeito estejam na
onda de suicídios na Europa após a publicação do romance de Goethe em 1774, The Sorrows of Young Werther (no qual o
protagonista romântico se mata), foram nos anos 1990 que o efeito copycat
cresceu com episódios violentos em escolas e o sensacionalismo midiático em
torno desses eventos – o filme policial satírico Assassinos por Natureza (1994)
de Oliver Stone expressava muito bem como psicóticos podiam se transformar em
estrelas midiáticas nos programas sensacionalistas.
Para o psicólogo Nigel Barber (“Copycat
Killing”, Psychology Today), ao lado da
publicidade, a despersonalização é outra característica importante. Lembrando a
frase de Oscar Wide citada pelo imitador do Coringa Kylian Barbey, passamos a
maior parte a vida usando máscaras para exercer papéis sociais, sejam
profissionais ou familiares.
Até para destruirmos as máscaras sociais que
nos confinam, e causam o famoso “mal estar da civilização” descrito por Freud,
precisamos de outras máscaras: paradoxalmente o copista supostamente busca a si
mesmo e a revanche contra a sociedade despersonalizando-se e assumindo o
alter-ego do Coringa – tenta se auto-afirmar por meio da publicidade do ato
criminoso e simultaneamente despersonaliza-se assumindo a persona do Coringa.
O arquétipo do Coringa
A questão é que, pelo ponto de vista
sincromístico, a persona do Coringa carrega um poderoso arquétipo que se
transformou numa egrégora de energia psíquica que necessita ser descarregada,
assim como a descarga elétrica de nuvens carregadas.
No passado os arquétipos
eram revividos em narrativas mitológicas e rituais mágicos e religiosos que
garantiam, por assim dizer, um distanciamento entre as dimensões sagradas e
profanas, mito e cotidiano, fazendo a energia psíquica contida no arquétipo ser
consumida através da catarse ou pelo frenesi das festas até a sua
dissipação. Lembre das máscaras carnavalescas expressando arquétipos cuja
energia é dissipada no frenesi do Carnaval que subverte os papéis cotidianos.
Hoje, esse papel de
revivência dos arquétipos está no contínuo midiático. Porém sem o
distanciamento dos rituais do passado, mas agora pela repetição irrefletida de
clichês. Como
pesquisadores sincromísticos apontam, a energia viva, psíquica desses
arquétipos não mais se dissipa, mas transformam-se em formas-pensamentos –
criações mentais que utilizam matéria fluídica capazes de criar formas
autônomas no Plano Astral.
Sua energias não mais se dissipam como em rituais no passado, mas agora são continuamente
alimentados e materializados pela indústria do entretenimento, criando egrégoras de formas-pensamento que do Plano Astral atingem o Plano
Físico, criando estranhas “conexões significativas” imprevisíveis quanto aos
efeitos.
Os primeiros a
sentir o impacto são os próprio atores, tomando contato com essas máscaras e
formas-pensamento em estado psíquico bruto – até para dar mais “realismo” e
“naturalismo” às atuações.
E depois, os
espectadores que, em dadas circunstâncias (vulnerabilidade mental ou suicidas
em nível inconsciente) podem se transformar em verdadeiros fios condutores
através das quais as energias psíquicas das formas-pensamento periodicamente se
dissipem.
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