Um curta que é um prato cheio de alusões a mitos alquímicos e à essência
sombria dos contos de fadas originais, perdida desde as adaptações comerciais
da Disney: é o Curta da Semana do “Cinegnose” – “Rabbit” (2005) do animador
inglês Run Wrake. Um conto de fadas invertido onde as crianças tornam-se vilãs
em uma narrativa surreal onde os pequenos protagonistas descobrem uma
fantástica maneira de transformar moscas em joias – um homúnculo viciado em
geleia de ameixa vermelha.
Os contos de fadas
sempre tiveram a tradição de colocar crianças em situações de perigo para
ilustrar alguma verdade moral como, por exemplo, os apuros de João e Maria com
a bruxa que queria comê-los ou do Lobo Mal que vitimara a vovó e se preparava
para abocanhar a Chapeuzinho Vermelho.
O curta Rabbit do falecido animador inglês Run
Wrake inverte tudo de forma estranha e ambígua. Esse pequeno conto começa
fazendo alusão ao início da narrativa de Alice no País das Maravilhas: um casal
de crianças aparentemente inocentes com rabo de cavalo e bochechas vermelhas vê
um coelho correndo e passam a persegui-lo. Após mata-lo, encontram no seu
interior um homúnculo dourado dançante que tem um estranho poder mágico: ele
transforma insetos em jóias. O que desperta a cobiça naquelas crianças que
achávamos inocentes: eles já se imaginam pequenos reis.
Nesse conto de
fadas às avessas os vilões são as próprias crianças.
Manipulando o
homúnculo através da geleia de ameixa vermelha (o pequeno ser adora a iguaria)
as pequenas crianças têm um plano: matar um a um os animais da fazenda onde
vivem para atrair moscar para transformá-las em uma montanha de joias.
As ligações com a
sociedade de consumo é a uma associação que podemos facilmente fazer.
A animação tem um
curioso estilo retro de livros ilustrados infantis ou rótulos de doces da
década de 1950.
Também o curta Rabbit nos faz lembrar do lado sombrio e
desagradável dos contos de fadas nas suas versões originais que a Disney
escondeu nas suas versões comercialmente mais palatáveis. E Rabbit o faz de forma impiedosa:
crianças com aspecto inocente batendo com bastões em animais mortos e os
cortando ao meio para atrair mais moscas e joias. O que cria um violento
contraste visual entre a inocência da estética retro de livros infantis e a
ambição adulta das crianças.
O curta ainda chama atenção para dois aspectos: primeiro, o típico humor
negro inglês que tematiza o mito da inocência infantil. Desde Freud o mito
rosseauniano de que o homem nasce “puro” e é
corrompido pela sociedade foi colocado em xeque – Freud descobriu na infância
uma vida emocional tão ativa e complexa quanto na vida adulta.
E segundo, uma surpreendente alusão a dois mitos da Alquimia: a
transmutação e a figura do homúnculo. Transmutação de metais inferiores em ouro
(no curta moscas viram joias) e a possibilidade do homem igualar-se a Deus
criando artificialmente uma vida humana. Mas o que deveria ser uma jornada de
conhecimento espiritual pode transformar-se em ambição e egoísmo.
Ficha Técnica |
Título: Rabbit
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Diretor: Run Wrake
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Roteiro: Run Wrake
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Elenco: -
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Produção: Animate!
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Distribuição: Channel 4 Television Corporation
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Ano: 2005
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País: Reino Unido
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