quarta-feira, outubro 28, 2015

Curta da Semana: "Rabbit" - Alquimia e a essência sombria dos contos de fadas

Um curta que é um prato cheio de alusões a mitos alquímicos e à essência sombria dos contos de fadas originais, perdida desde as adaptações comerciais da Disney: é o Curta da Semana do “Cinegnose” – “Rabbit” (2005) do animador inglês Run Wrake. Um conto de fadas invertido onde as crianças tornam-se vilãs em uma narrativa surreal onde os pequenos protagonistas descobrem uma fantástica maneira de transformar moscas em joias – um homúnculo viciado em geleia de ameixa vermelha.

Os contos de fadas sempre tiveram a tradição de colocar crianças em situações de perigo para ilustrar alguma verdade moral como, por exemplo, os apuros de João e Maria com a bruxa que queria comê-los ou do Lobo Mal que vitimara a vovó e se preparava para abocanhar a Chapeuzinho Vermelho.

O curta Rabbit do falecido animador inglês Run Wrake inverte tudo de forma estranha e ambígua. Esse pequeno conto começa fazendo alusão ao início da narrativa de Alice no País das Maravilhas: um casal de crianças aparentemente inocentes com rabo de cavalo e bochechas vermelhas vê um coelho correndo e passam a persegui-lo. Após mata-lo, encontram no seu interior um homúnculo dourado dançante que tem um estranho poder mágico: ele transforma insetos em jóias. O que desperta a cobiça naquelas crianças que achávamos inocentes: eles já se imaginam pequenos reis.

Nesse conto de fadas às avessas os vilões são as próprias crianças.


Manipulando o homúnculo através da geleia de ameixa vermelha (o pequeno ser adora a iguaria) as pequenas crianças têm um plano: matar um a um os animais da fazenda onde vivem para atrair moscar para transformá-las em uma montanha de joias.

As ligações com a sociedade de consumo é a uma associação que podemos facilmente fazer.

A animação tem um curioso estilo retro de livros ilustrados infantis ou rótulos de doces da década de 1950.

Também o curta Rabbit nos faz lembrar do lado sombrio e desagradável dos contos de fadas nas suas versões originais que a Disney escondeu nas suas versões comercialmente mais palatáveis. E Rabbit o faz de forma impiedosa: crianças com aspecto inocente batendo com bastões em animais mortos e os cortando ao meio para atrair mais moscas e joias. O que cria um violento contraste visual entre a inocência da estética retro de livros infantis e a ambição adulta das crianças.

O curta ainda chama atenção para dois aspectos: primeiro, o típico humor negro inglês que tematiza o mito da inocência infantil. Desde Freud o mito rosseauniano de que o homem nasce “puro” e é  corrompido pela sociedade foi colocado em xeque – Freud descobriu na infância uma vida emocional tão ativa e complexa quanto na vida adulta.

E segundo, uma surpreendente alusão a dois mitos da Alquimia: a transmutação e a figura do homúnculo. Transmutação de metais inferiores em ouro (no curta moscas viram joias) e a possibilidade do homem igualar-se a Deus criando artificialmente uma vida humana. Mas o que deveria ser uma jornada de conhecimento espiritual pode transformar-se em ambição e egoísmo.


Ficha Técnica


Título: Rabbit
Diretor: Run Wrake
Roteiro: Run Wrake
Elenco: -
Produção: Animate!
Distribuição: Channel 4 Television Corporation
Ano: 2005
País: Reino Unido

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