No momento em que estamos em mais uma edição do reality show "Big Brother Brasil" na TV Globo é sempre oportuno rever o filme "A Noite dos Desesperados" como um contraponto crítico que mostra o início em que a indústria do entretenimento explorará "in natura" os dramas pessoais de desespero e dor. Mas será que a visão crítica do filme ainda se aplica ao atual mercado de celebridades em que virou os "reality Show"?O blog "Cinema Secreto: Cinegnose" vai conferir. E também na sessão "Em Observação" a comédia francesa "Perdido em Dois Mundos". Leve e despretensiosa, mas que parece que pode render mais com temas potenciais como universos paralelos e mundos espelhados e/ou invertidos, tema recorrente na cinematografia atual.
Diretor - Sydney Pollack
Plot - Baseado no romance de Horace McCoy passado era da Depressão norte-americana, a narrativa retrata os angustiantes seis dias da maratona de um concurso de dança, destacando as fantasias, ilusões e loucura dos jovens na Chicago dos anos 1930. A história começa com Robert Syverton (Michael Saeeazin) em um julgamento por um assassinato cujos detalhes permanecem vagos.
Saga então muda para o Salão de Danças de Chicago onde uma maratona de dança está prestes a começar. O protagonista é Gloria Beatty (Jane Fonda), um resistente aspirante a atriz, que substitui logo no início o seu parceiro original por Robert. Solitária e desajustada, Gloria é uma mulher forte e que parece gostar de mostrar seus argumentos para os outros participantes.
Durante a narrativa testemunhamos mortes, a auto-destruição, depressão profunda e manifestações de comportamento animalesco brutal. Por que eles estão fazendo isso ? A motivação parece ser a mesma: três refeições por dia e uma chance de ganhar um prêmio em dinheiro de US $ 1.500 em um momento em que o país sofre com o gave desempregom e altas taxas de crime e suicídio.
Por que está "Em Observação"? - Assistir a esse filme parece ser oportuno em um momento em que o Reality Show Big Brother da TV Globo passa a monopolizar a pauta das sessões de variedade e sites sobre os mexericos de famosos da TV. E, mais do que isso, torna-se pauta das conversas do dia-a-dia da audiência (infelizmente ainda grande) desse gênero de programa.
O romance de Horace McCoy de 1935 tornou-se um dos prediletos dos escritores e filósofos existencialistas franceses que viam na obra não só uma alusão ao pior que o capitalismo americano poderia produzir, mas também um mergulho nas motivações humanas para frazer frente a momentos de dor e desespero. Até Charles Chaplin, que havia comprado os direitos do livro, pensava fazer um filme sobre a obra.
Filmes como "A Noite dos Desesperados" são interessantes por tematizar uma fase da indústria de entretenimento onde concurso e quizz shows começam a tornar o sofrimento humano em matéria-prima para o entretenimento de massas. O momento em que a Grande Depressão americana foi um ótimo ponto de partida ao oferecer in natura histórias pessoais de muitos dramas, conflitos e lutas pela sobrevivência.
Qual a semelhanças e diferenças entre esse período e os atuais reality show onde os participantes não só lutam por um grande prêmio em dinheiro mas, também, como porta de entrada paa o mercado de celebridades? Já abordamos o tema "Reality Show" em duas oportunidades (Do projeto Biosfera 2 ao reality show "Big Brother" e Em "Dead Set" o Reality Show ri de si mesmo) onde relacionamos o a inspiração para o surgimento do gênero televisivo ao projeto científico "Biosfera 2" onde em 1991 cientistas foram confinados em uma gigantesca redoma que reproduzia os principais biomas do planeta. Tudo sob a vigilância de milhares de sensores eletrônicos.
Por isso, "A Noite dos Desesperados" pode trazer subsídios para levar o tema para um outro campo: a cultura das celebridades baseada na exploração do lado mais sobrio da natureza humana - egoísmo, amoralidade e agressividade.
O Que Promete? - À época o filme recebeu indicações de melhor atriz (Jane Fonda), melhor atriz coadjuvante (Susannah York), direção de arte, figurino, edição, trilha sonora e roteiro adptado, ganhando apenas o de melhor ator coadjuvante (Gig Young). As performances dos atores são igualmente fortes não só de Jane Fonda (seu primeiro papel drmático fazendo uma mulher auto destrutiva e amarga até então conhecido pelo seu papel no filme "Barbarella") mas da anfitriã de cerimônias do concurso carismática e malciosa, mas fora dos holofotes apresenta uma melancolia amarga para o mundo. Para o crítico Mitchell Beaupre "a direção de Sydney Pollack dá ao filme a sensação da própria maratona. Podemos sentir os dias e as semanas passando e como os participantes tornam-se cada vez mais fracos, cansados e sem esperanças" ( Letterboxd).
Diretor - Daniel Cohen
Plot - Este filme francês conta a história de Rémy
Bassano (Benôit Poelvoorde), um restaurador de obras de arte, sem personalidade
e sem ambições. Ele tem mulher, Lucile (Natacha Lindinger) e dois filhos. Tudo se começa a descontrolar na sua vida - uma
inundação no seu atelier, a perda dos quadros, e para piorar a situação a sua
mulher quer divorciar-se dele e impingir-lhe o seu novo namorado na sua própria
casa.
Quando repentinamente ele é sugado para um
outro mundo - um mundo paralelo. A população de um lugar chamado Bégaméni pensa
que é ele quem vai salvá-los do tirano chamado Zotan que os escraviza. É a partir daí,
odiando cada vez mais o seu mundo em Paris, Rémy quer ficar mais tempo no outro,
pois se torna no líder dessa população. Rémy começa a ficar perdido entre dois
mundos.
Por que está "Em Observação?" - O filme é uma comédia leve e despretensiosa, porém possui alguns temas considerados de alto potencial de discussão para esse blog:
a) a realidade multifacetada - uma vida ordinária que esconde universos alternativos;
b) a conexão entre os dois mundos é estabelecida por um protagonista com experiências de vida invertidas: na vida "real" é fraco e impotente e na realidade alternativa um corajoso herói.
c) mundos espelhados ou/e invertidos parece ser um tema recorrente na cinematografia recente. Filmes como "Another Earth" (2011) e "Upside Down" (2012) - já analisados por esse blog - são exemplos recentes.
O Que Promete? - Para muitos críticos, apesar da despretensão e da risada fácil, o filme pode resultar em muito mais ao mostrar o protagonista como um exemplo de ser humano que quer fugir para um outro mundo para fugir dos seus problemas ao invés de enfrentá-los. Mas o blog suspeita que o filme contenha muito mais do que o tema do escapismo - o filme tem o potencial de tematizar a relatividade da noção de "realidade".