domingo, abril 29, 2018
Com elegância e decadência a modernidade aguarda o nazismo na série "Babylon Berlin"
domingo, abril 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A série mais cara de televisão alemã, a produção Netflix “Babylon Berlin”
(2017-) cria para o espectador uma estranha
sensação de atualidade. É ambientada na Berlin do final de década de 1920,
coração da modernidade urbana do cinema e dos clubes de jazz. Mas também da
hiperinflação, pobreza, racismo, drogas, filmes pornográficos e a ascensão de
grupos proto-nazistas. Subprodutos do envenenamento psíquico da República de
Weimar na qual comunista e bolcheviques são o pretexto para destruir uma jovem
democracia. Um jovem inspetor de polícia dá uma batida e descobre um estúdio de
cinema onde eram produzidas versões de contos bíblicos, com muito sexo e
pedofilia. Mas o fio da meada que o policial puxará o levará a um obscuro submundo
no qual se esconde todo o mal psíquico que fará um país cair nos braços do
totalitarismo.
sábado, abril 28, 2018
Trompete invade link da Globo e abre perspectivas na guerra semiótica
sábado, abril 28, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A invasão de um solo de trompete num link ao vivo do “Jornal da Globo” entoando o refrão de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” é mais uma mostra da eficiência da estratégia de guerrilha antimídia do “culture jamming” (trolagem) – tática anárquica de criar ruídos, atrapalhar ou interferir no fluxo normal da informação. No atual cenário de guerra híbrida (demonstrado pela imediata criação de uma “cinderela de esquerda” pelo BBB18 após a ocupação do “tríplex do Lula”), a trolagem do link ao vivo da Globo demonstra seu poder de fogo por potencialmente mobilizar elementos semióticos de opinião pública fundamentais: clima de opinião, importância e ambiguidade, ironia e sarcasmo e trolagens multi-culturais. Eficácia que só aumentaria através de uma espécie de “temporada de caça aos links ao vivo da grande mídia”, ação de guerrilha midiática que atingiria o ponto fraco da TV atual: apesar do seu “tautismo” crônico, a TV tem necessidade de abrir pequenas janelas (blindadas) para o mundo. Afinal, ela vive do álibi da informação e entretenimento.
Cinegnose discute "bolhas virtuais" e obscurantismo no "Poros da Comunicação"
sábado, abril 28, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que a Internet deixou de
ser uma janela aberta para o mundo para se converter numa bolha virtual dentro
da qual cada um de nós vive uma realidade simulada? Por que os algoritmos que
animam essa bolhas parecem conhecer mais de nós que nós mesmos? E de que forma
a motivação mística tecnognóstica anima esse cenário tecnológico, ameaçando criar
novas formas de obscurantismo? Essas foram as interrogações que esse humilde
blogueiro levou para o sexto programa “Poros da Comunicação”, transmitido ao
vivo pela TV FAPCOM na última quinta-feira (26)
com o tema “Tecnologias e o Sagrado: um Novo Obscurantismo?”. Assista à
gravação do debate aqui no “Cinegnose”.
quarta-feira, abril 25, 2018
Editor do "Cinegnose" participa de debate sobre tecnologias, sagrado e obscurantismo
quarta-feira, abril 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nessa
quinta-feira (26/04) esse humilde blogueiro participará de debate transmitido
ao vivo pela TV FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação cujo tema
é “Tecnologias e o Sagrado: um novo obscurantismo? A transmissão ocorrerá pelo
canal do YouTube da TV FAPCOM e terá início às 14h – clique
aqui para acessar o canal da TV FAPCOM.
Também
participarão do debate os professores e pesquisadores Ciro Marcondes Filho
(mediador, ECA/USP/FiloCom), Carlos Eduardo de Souza Aguiar (FAPCOM), Marcella
Faria (FAPCOM) e Jorge Miklos (PUC/SP).
Como os leitores mais antigos do Cinegnose devem saber, este humilde blogueiro levará as reflexões
em torno dos conceitos desenvolvidos aqui como Tecnognosticismo (o “pós-humano”)
e Cartografias e Topografias da Mente – o esforço multidisciplinar
envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência
Artificial e Teoria da Informação para, além de desvendar o funcionamento da
mente, também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender
a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente,
manipulá-la e controlá-la.
Além disso, compreender as motivações místicas ou religiosas por trás dessa nova forma
de engenharia social – a religião do Vale do Silício (a “religião das máquinas”,
a que se refere o cientista computacional Jaron Lanier), teurgia, alquimia e
cabala.
Poderiam essas motivações políticas e imaginárias por trás das tecnologias atuais uma nova forma de obscurantismo? A racionalidade caindo sob o encanto do mito?
Poderiam essas motivações políticas e imaginárias por trás das tecnologias atuais uma nova forma de obscurantismo? A racionalidade caindo sob o encanto do mito?
O Programa “Poros
da Comunicação” (sempre transmitido ao vivo pelo YouTube, agora na sexta
edição) é uma parceria da FAPCOM com o FiloCom, que é um núcleo de estudos
filosóficos da comunicação da ECA/USP. Foi Fundado em 2000 com o objetivo de
realizar pesquisas, encontros e publicações relativas ao modo filosófico de
entender os fenômenos da comunicação.
A FiloCom tem
vínculo internacional com pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Europa e
EUA.
terça-feira, abril 24, 2018
O império contra-ataca na guerra semiótica: Globo faz a Cinderela de esquerda no BBB18
terça-feira, abril 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dentro da atual guerra semiótica, a Globo foi rápida após acusar o
golpe da invasão tática do “tríplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e Frente Povo
Sem Medo. Três dias depois, a emissora simplesmente promoveu uma militante
petista (Gleici Damasceno, a jovem acreana “feminista e militante”, como
descreveu o programa) a nova milionária do BBB18. E de quebra, como vice, um
refugiado sírio. Resposta semiótica
direta e incisiva: entrou no “controle de danos” após a prisão de Lula
(compulsivamente a Globo tenta aparentar agora imparcialidade). Ao mesmo tempo
em que utilizou a arma ideológica tão antiga quanto a própria televisão
brasileira: narrativas da “Rainha por um Dia” e “Boa Noite Cinderela” do velho
Silvio Santos desde décadas atrás – reciclar miseráveis (e agora também
militantes de esquerda) em exemplos de imparcialidade e evidências do outro
lado da moeda da meritocracia: a sorte e oportunidade. E a esquerda tenta pegar
carona em Gleici: “Quando é no voto, a gente sempre ganha”, “Gleici campeã, deu
PT” etc. Parece que a vitória da ocupação do triplex não ensinou nada...
domingo, abril 22, 2018
A família do século XXI em cacos na série Netflix "Perdidos no Espaço"
domingo, abril 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Toda refilmagem revela o espírito de época quando comparada com o
original. É também o caso da série Netflix "Perdidos no Espaço" (Lost In Space, 2018), nova versão
da série clássica de TV dos anos 1960 – que já contava com um longa-metragem em
1998. Agora os Robinsons não são mais a família nuclear perfeita do sonho
americano, mas uma família à beira da separação que tenta reunir os cacos
enquanto enfrenta os perigos de um planeta desconhecido. O novo “Perdidos no
Espaço” revela o espírito de época do século XXI: o militarismo e a amoralidade
do vilão. Além da relação histérica com o objeto do desejo, traço psíquico da
cultura contemporânea: só voltamos a desejar aquilo que amamos na eminência da
sua perda com a morte ou a destruição.
quinta-feira, abril 19, 2018
Ocupação do triplex: pontos para a esquerda na guerra semiótica
quinta-feira, abril 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Finalmente a esquerda marca pontos na atual guerra semiótica no front
do campo simbólico da sociedade (grande mídia + opinião pública): a ocupação do
indefectível “triplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e a Frente Povo Sem Medo
apresentou todas as características de um petardo semiótico: Detonação,
Letalidade, Dilema Midiático e Dissonância Cognitiva. Uma ocupação curta (pouco
menos de quatro horas), mas o suficiente para a grande mídia viver um dilema e
dar uma guinada gramatical no seu discurso, como se sentisse o golpe. Mas o
melhor dessa bomba semiótica foi como a mídia corporativa mordeu a isca (o
álibi) para a ocupação revelar o seu verdadeiro propósito: a filmagem no
interior da verdadeira caixa preta em que se tornou o imóvel. Revelando a
dissonância entra as narrativas jurídico-midiática e da oposição. Uma ação
simbólica bem-sucedida que revela outras questões. Entre elas, a possível
criação de um grupo de inteligência semiótica para multiplicar essa ação
prototípica.
segunda-feira, abril 16, 2018
Niall Ferguson: baixa educação e ressentimento alimentam extremismo e guerra híbrida
segunda-feira, abril 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Historiador escocês, professor de Harvard e nome que esteve na lista
das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”, Niall Ferguson
afirmou: parcelas menos educadas da população tendem a aderir a discursos
extremistas de direita como solução para crise. Em passagem em evento promovido
pelo banco Itaú em São Paulo, Ferguson referiu-se como a baixa qualidade
educacional cria a percepção de que “o mundo não funciona” e a fácil aceitação
de que pessoas sozinhas com soluções extremistas resolveriam problemas como
criminalidade e imigração. Apesar de ser um intelectual muito solicitado como
palestrante em eventos corporativos, a fala de Ferguson revelou como a baixa
qualidade educacional cria o ressentimento: a matéria-prima psíquica da qual se
aproveitou a guerra híbrida brasileira. Mas agora, discursos extremistas de
direita brasileiros estão prontos para oferecer novos bodes expiatórios para
direcionar o ressentimento de jovens universitários que sentem que o “mundo não
funciona”: a distância entre o diploma conquistado com esforço e a realidade
profissional precarizada. Pauta sugerida pelo nosso leitor Paulo Manetta.
Niall
Ferguson não é apenas um historiador escocês, professor na Universidade de Harvard
e palestrante bastante requisitado na Europa e Estados Unidos. E que passou
esse mês aqui pelo Brasil no evento Macro Vision, promovido pelo banco Itaú em
São Paulo. Ele também é um “think tank” (instituição ou personalidade
especializada em influenciar a opinião pública e decisões políticas), que já
esteve na lista das 100 pessoas mais influentes da revista americana Time.
Ferguson
costuma vender o diagnóstico de que o mundo ocidental está em decadência: a
democracia, o capitalismo, o respeito às leis e a sociedade civil estão em
crise e que as políticas dos governos dos EUA e Europa só pioram a situação.
Como
não poderia deixar de ser, por onde passa diz que a solução é aquilo que as
atentas audiências formadas por CEOs e banqueiros já pensam: limitar o governo
e desregulamentar o mercado. Em outras palavras, Niall Ferguson é aquele que
atira primeiro a pedra na vidraça para depois tocar a campainha da casa para
vender seguro – a estratégia da “vidraça quebrada”.
Mas às vezes devemos ficar atentos às falas desses intelectuais insiders que acenam soluções neoliberais
para a banca. Muitas vezes apresentam dados cuja interpretação é “invertida”: apontam
para tendências e fenômenos sociais muitas vezes verdadeiras, porém não como
denúncia de uma realidade que precisa ser mudada. Mas como prospecção de
matéria-prima para futuras ações de guerra híbrida.
Baixa educação e populismo de direita
Em declaração ao jornal Valor
Econômico, Ferguson apontou que as experiências recentes do Brexit e das
eleições americanas de 2016 sugerem que a parcela menos educada da população
tende ao populismo de direita como solução para as crises – clique aqui.
“O que vimos é que pessoas de mais baixa educação têm maior
probabilidade de votar no populismo de direita. Isso se mostrou verdadeiro em eleições
europeias recentes”. Para Ferguson, “pessoas com maior educação tendem ao
centro, seja de esquerda ou direita, porque o mundo funciona para essa parcela
da população, que por isso é favorável à manutenção do status quo”.
E completou: “As pessoas que não se beneficiam do status quo são
atraídas por quem diz que pode mudar o sistema, que pode sozinha resolver o
problema, seja de imigração ou criminalidade”.
Segundo Ferguson, sempre após as crises o populismo de direita tende a
ter bom desempenho. E alerta os brasileiros: “imagino que o pesadelo de vocês
seja, com a ausência de Lula, uma disputa entre Bolsonaro e o substituto de
Lula”.
“O mundo não funciona”
Fica claro que o conceito de “baixa educação” não se refere a uma
insuficiência de nível escolaridade formal, mas à precarização da qualidade. Por
exemplo, conseguir um diploma de ensino superior em faculdades privadas de
baixo nível ou em cursos EAD acessíveis ao nível de renda. Como o pesquisador
escocês aborda no livro “The Great Degeneration: How Institutions Decay and
Economies Die” – veja “US education and economy are on the skids, says britsh
historian” In: Mercatornet, clique aqui.
Isso talvez explique o porquê de Bolsonaro ter melhor resultado entre os
mais escolarizados (aqueles que completaram o ensino superior) segundo pesquisa
Datafolha (clique aqui e aqui). Além da pesquisa apontar que 60% dos eleitores do parlamentar de
direita serem jovens – entre 16 e 34 anos.
Nem tampouco essa “baixa educação” tem a ver exclusivamente com a
desinformação que levariam jovens a serem seduzidos pelo canto da sereia dos
discursos extremistas – repostas simples baseadas em soluções finais do tipo
“subir a Rocinha dando tiros” como defendeu certa vez Jair Bolsonaro.
A chave de compreensão do diagnóstico de Niall Ferguson está na
percepção dessas pessoas de que, para elas, “o mundo não funciona”, apesar da
escolaridade superior conquistada a muito custo e motivada pela crença da
justiça do sistema meritocrático.
A percepção de que “o mundo não funciona” deixa de ser uma questão
eminentemente sociológica para entrarmos no campo explosivo psicossocial –
campo embrionário do fascismo que sempre esteve vinculado com o ressentimento
do indivíduo contra uma sociedade injusta que parece sempre burlar as regras do
jogo.
Os anos de governos lulopetistas das políticas de inclusão de estudantes
no ensino superior (crescimento de 65%, e destes 75% em instituições privadas, setor
que se tornou um parceiro do governo federal) criaram expectativas para a
chamada “Classe C” de que estava entrando no jogo da meritocracia em condições
de igualdade. Como reza a boa ideologia do mérito e do empreendedorismo.
Mas essa inclusão quantitativa não foi acompanhada pela qualificação das
escolas de ensino superior. O que significa que a conquista do diploma
universitário não significou necessariamente a conquista de empregos
qualificados ou uma carreira bem remunerada com perspectivas de crescimento
profissional.
Ressentimento e precarização
Pesquisadores como Giovanni Alves observaram que o modelo
neodesenvolvimentista conduzido pelos governos do PT basearam a inclusão social
através do mercado de consumo e da precarização do trabalho. Uma nova geração
de trabalhadores cujas noções de cidadania e trabalho passaram muito mais pelas
ambições por consumo do que pelos valores de classe social, direitos de
trabalho e sindicalização – leia ALVEZ, Giovanni, “Neodesenvolvimentismo e
precarização do trabalho no Brasil” – clique aqui.
E os diplomas conquistados em faculdades com educação também precarizada
fechou essa conta que mais ampliou expectativas do que as satisfez. Jovens
diplomados foram jogados em um mercado de trabalho que confundiu ícones de
softwares, sistemas operacionais e aplicativos como um verdadeiro saber
profissional. Quando na verdade não passavam de trabalho simplificado,
rotinizado e fragmentado, pronto para ser controlado e monitorado por gestores.
E nesse gap entre o diploma e
a realidade precarizada (carreira frustrante de baixa remuneração) está o mal
estar psíquico do ressentimento – a humilhação e revolta de que “o mundo não
funciona”, a percepção genérica de que “tudo que está aí” está errado.
Pronto! Temos a atmosfera psíquica perfeita que busca bodes expiatórios.
Apenas aguardando uma tradução em uma bomba semiótica, em um slogan, em uma
guerra híbrida.
Em postagens anteriores este Cinegnose
vem apontando que a combinação explosiva de meritocracia com ressentimento
motiva a atual guerra simbólica empreendida pelo complexo
jurídico-policial-midiático cujo ápice foi a prisão de Lula e a sua tradução
cinematográfica: o rebento de José Padilha, a série Netflix O Mecanismo – veja links abaixo.
Para o ressentido, o bode expiatório da corrupção é mais atraente do que
as críticas dos juros altos, das políticas
econômicas antinacionalistas, do neoliberalismo ou do sucateamento proposital
do patrimônio público para as privatizações serem aceitas como fato consumado –
de novo, a “estratégia da vidraça quebrada”.
A vantagem é que a corrupção pode ser midiaticamente personalizada em
políticos com rostos, partidos etc. – serem demonizados, caçados, presos em
espetáculos de meganhagem policial ao vivo na TV, com armas e carros negros
reluzentes. Alívio psíquico regressivo (sádico-masoquista) para o
ressentimento.
Crítica ao juros alto ou perda da soberania nacional são abstratas
demais para um ressentido.
Com a prisão de Lula (vendida a um preço simbólico muito baixo, sob a
égide da “rendição”) como o epílogo ideológico da Lava Jato, restam os
discursos extremistas de direita, como o de Jair Bolsonaro, herdarem o
ressentimento de uma massa de jovens universitários. Frustrados porque o “mundo
não funciona”.
De tudo isso, ficam duas questões que sempre atormentaram pesquisadores
como esse humilde blogueiro: por que historicamente a frustração social sempre
foi melhor traduzida politicamente como ressentimento pelos discursos
extremistas de direita? Por que até aqui o ressentimento nunca foi revertido em
frustração que motivasse uma crítica ao verdadeiro mecanismo, o sistema reprodutor
da desigualdade?
O fato é que diagnósticos como os de Niall Ferguson não são usados para
a transformação social. Mas para a prospecção de novas oportunidades no atual
quadro de guerra híbrida em escala planetária.
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sábado, abril 14, 2018
Filme "Thelma" faz versão muito além do terror de "Carrie - A Estranha"
sábado, abril 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma nova produção do cineasta dinamarquês Joachim Trier (de filmes
cult como “Oslo” e “Mais Forte Que Bombas”), dessa vez o diretor cria sua própria versão de “Carrie – A
Estranha” (1976) do mestre Brian De Palma. Em “Thelma” (2017) vemos o despertar
da sexualidade e do desejo de uma jovem educada por toda vida para ser uma
cristã devota. Longe de casa, estudando em uma universidade Thelma vê crescer
uma atração homoafetiva por uma colega, ao mesmo tempo que crises epiléticas
prenunciam poderes paranormais que eventualmente descobrirá. Mas ao contrário
do clássico de Brian De Palma, marcado pelo terror, “Thelma” se desloca para o
gênero fantástico: o despertar emocional de uma jovem extremamente reprimida cuja luta
interior criará emoções tão estressantes que romperão o próprio tecido da
realidade. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
quarta-feira, abril 11, 2018
Vazamento de áudio de Chico Pinheiro foi um não-acontecimento
quarta-feira, abril 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dentro da caixa de ferramentas da guerra semiótica, o dispositivo do vazamento é o mais manjado. Porém, continua eficiente, como demonstraram os vazamentos de
Edward Sowden e o papel que desempenharam na guerra hibrida brasileira.
Vazamentos sugerem espontaneidade, acidente ou um escorregão de alguém
boquirroto. Na verdade, criam dissuasão, cortina de fumaça e, se voltada
diretamente para o oponente, desmobilização. Como simulação para conseguir um
determinado efeito midiático na opinião pública e um perfeito
não-acontecimento. Depois do “vazamento” do áudio do jornalista global Chico
Pinheiro no WhatsApp, criticando a cobertura da emissora e elogiando Lula, a
esquerda se alvoroçou: Pinheiro detonou a Globo! Uma voz dissonante! etc. Tal
como o “vazamento” do vídeo de William Waack, este do Chico Pinheiro tem timing
e um conteúdo que ajuda ainda mais a iconificar a figura de Lula, para
retirá-lo do campo da guerra simbólica.
domingo, abril 08, 2018
Na prisão de Lula mais uma vez a esquerda perde a guerra semiótica
domingo, abril 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Do significado da data da prisão de Lula determinada por Moro (06/04, dia
da morte do “Patriarca da Independência”, José Bonifácio); passando pelo
destino do comboio que levava Lula para a PF no bairro da Lapa (ao invés
de Congonhas, evitando que a militância petista entrasse em rede nacional
fazendo protestos na entrada do aeroporto); e chegando aos planos de câmera de
TV do helicóptero decolando, conduzindo o prisioneiro e no segundo plano prédios com luzes piscando em apartamentos que comemoravam o desfecho. Todos os detalhes revelaram a elaborada guerra
semiótica do complexo jurídico-policial-midiático. A resposta de Lula e do PT
foi rápida e promissora: se encastelar no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
sugerindo a estratégia de empate e desobediência civil. Para cobrar um alto preço
simbólico pela rendição. Mas acabou cedendo à indefectível narrativa da “luta e
resistência” e abandonou o campo de batalha semiótico, em rede nacional. Mas os
eventos deixaram mais uma vez nu o jornalismo da TV Globo ao dificultarem o
acesso da emissora às informações diretas do centro da crise em São Bernardo.
sábado, abril 07, 2018
A última interface da humanidade no filme "OtherLife"
sábado, abril 07, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“OtherLife” (2017) é um filme australiano independente (disponível na
Netflix) que aborda o tema da realidade virtual, mas não através da perspectiva
da simulação através de um software. Mas a realidade virtual como uma ideia
química e biológica. Mais precisamente, por meio de um “software biológico”: se
as nossas memórias são resultantes de complexas reações químicas, poderiam ser
codificadas e transformadas na última interface da história da tecnologia: a
bioquímica-digital. Uma droga na qual a realidade virtual comprime o
tempo-espaço, lembrando a abordagem de “A Origem” de Nolan: um minuto do tempo
real corresponderia a um ano de “férias” virtuais em praias paradisíacas ou nas
montanhas nevadas de cartão postal. Para pessoas “sem tempo para ter tempo
livre”, como anuncia a startup que promove o produto “OtherLife”. Mas conflitos
corporativos, além do drama pessoal da cientista criadora da droga virtual, tornarão a
interface “OtherLife” em um jogo perigoso. Filme sugerido pelo nosso emérito leitor Felipe Resende.
domingo, abril 01, 2018
Curta da Semana: "The Kiosk" - a crítica da vida cotidiana
domingo, abril 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um curta que é inspirado da própria experiência de vida da diretora, Anete
Melece. “The Kiosk” (2013) é um curta de animação sobre a difícil busca do
equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. E a ainda mais difícil busca da
satisfação no trabalho. Com um raro senso de comédia estética e visual, “The
Kiosk” nos mostra uma protagonista literalmente presa no seu local de um
trabalho alienante, monótono e sem sentido. Um acidente força a protagonista
enfrentar uma jornada que transformará sua vida. Ou será que apenas realizou um
sonho dirigido pela mídia e o turismo? O curta aborda temas que envolvem a
“sociologia do cotidiano” do francês Henri Lefebvre – a “cotidianidade” como um
fenômeno das sociedades modernas: de um lado a rotina, tédio e monotonia dos
dias de trabalho. E do outro, as fantasias e compensatórias do que foi outrora
o “tempo livre”, hoje chamado “lazer”.
sábado, março 31, 2018
Em "Infinity Chamber" o homem enfrenta a versão mais diabólica de HAL-9000
sábado, março 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde o duelo mortal entre o astronauta Dave Bowman e o computador
HAL-9000 no filme “2001” de Kubrick, o cinema não havia conseguido repetir uma
luta tão icônica entre a inteligência humana e a artificial. Isso até o filme
“Inifinity Chamber” (2016), na qual o homem enfrenta a nova geração da IA: os
aplicativos e algoritmos capazes de aprender até o ponto em que poderiam saber
mais sobre nós do que nós mesmos. Um homem é raptado em uma cafeteria, para
acordar em uma cela high tech observado por uma câmera de teto: é o olho
artificial de um computador chamado Howard. Sua função: mantê-lo vivo, para
escanear suas memórias e fazê-lo repetir mentalmente em infinitas vezes o mesmo
dia em que foi raptado, para tentar achar a evidência da sua ligação com um
grupo terrorista. Um filme sobre tecnologia, sonhos e memória. Uma metáfora de
como atuais aplicativos que fazem a mediação dos nossos relacionamentos são apenas
pretextos para escanear nossos sonhos e pensamentos.
sexta-feira, março 30, 2018
Episódio "O Mecanismo" revela a inépcia da esquerda com a comunicação
sexta-feira, março 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como era de esperar, a reposta da esquerda a “O
Mecanismo” foram denúncias contra o conteúdo factual da série brasileira. Mordeu a isca jogada pelo
diretor José Padilha e suas eminências pardas da atual guerra híbrida: de que a
série era supostamente “baseada em fatos reais”. E começou a acusar o
“assassinato de reputações” ao não respeitar “o tempo que os fatos ocorreram”,
condenar a “distorção da realidade” e produzir “fake news”. Foi como se a
esquerda levantasse a bola no outro lado da rede para o adversário dar uma
violenta cortada. Como uma “obra de ficção”, a série deve ser criticada no seu
próprio campo semiótico: a Operação Lava Jato foi um mero pretexto para o
roteiro explorar a combinação explosiva de ressentimento com a meritocracia.
Combinação que fez recentemente as ruas encherem de camisas amarelas batendo
panelas. Como não consegue se descolar da visão conteudística da comunicação, a
esquerda é incapaz de lutar no mesmo campo simbólico no qual Netflix milita.
Além de oferecer mídia espontânea a uma série tosca e malfeita.
segunda-feira, março 26, 2018
Nietzsche explica "O Mecanismo": série explora o veneno psíquico nacional do ressentimento
segunda-feira, março 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O diretor José Padilha rebate às acusações de “Fake News” à série brasileira
Netflix “O Mecanismo” alegando que é uma obra de ficção: uma “dramatização” da
Operação Lava Jato. Porém, como obra de ficção, Padilha atirou no que viu e
acertou no que não viu: sem a prisão de Lula, planejada para a semana do
lançamento de “O Mecanismo”, a série foi deixada por si mesma. Sem o apoteótico
final que a impulsionaria, a série revelou ser feita do mesmo material de
propaganda indireta da atual guerra híbrida brasileira – o envenenamento
psíquico pela doença do ressentimento. Como narrativa ficcional, “O Mecanismo”
nada mais é do que uma tentativa de transformar ressentimento, ódio e
frustração dos protagonistas em valores estoicos, nobres e patrióticos. A
grande “virtude” de “O Mecanismo” é ser uma prova de como a “doença do
ressentimento”, a “condição mais perigosa do homem” para Nietzsche,
transformou-se em matéria-prima de propaganda política indireta.
sábado, março 24, 2018
"La Antena", um filme sobre como o monopólio midiático nos rouba a voz e as palavras
sábado, março 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme obrigatório para estudantes de graduação em Comunicação.
Influenciado pelo cinema “noir” e pelo expressionismo alemão do clássico “Metrópolis”,
o diretor argentino Esteban Sapir fez o filme “La Antena” (2007): uma curiosa
estética inspirada no cinema mudo e metalinguagem das histórias em quadrinhos.
Um filme crítico sobre os meios de comunicação, a imaginação e as palavras. Em
uma cidade escura e invernal todos ficaram sem voz. O Sr. TV, dono de um
monopólio televisivo (o Canal 9) tem um malévolo plano para dominar todos os
cidadãos: sequestrar A Voz, a única pessoa que conservou o dom da fala. Para
transformá-la na atração principal da sua emissora enquanto ele arquiteta outro
plano ainda mais sinistro: roubar as palavras, para completar o seu regime de
Telecracia. “La Antena” é uma provocativa metáfora dos monopólios
latino-americanos de comunicação e de como a mídia é usada como arma para
sustentar regimes totalitários.
domingo, março 18, 2018
Sapos verdes e a execução de Marielle: sobe o grau da guerra semiótica brasileira
domingo, março 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um dia o industrial sem indústria e rentista Paulo Skaf lançava a
campanha “Chega de engolir sapo” (ironicamente contra os juros altos) em frente
ao prédio da Fiesp diante de um enorme batráquio verde inflado. E no dia
seguinte a vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco era executada com quatro tiros
certeiros na cabeça. Intensifica-se a guerra semiótica com a ocupação do campo
simbólico da sociedade pela direita. No primeiro caso, principalmente pela
ironia dos autores da campanha, uma mensagem prá lá de ambígua que ainda tenta
surfar na onda anti-PT/Lula, pela proximidade do “grand finale” da sua prisão.
E no trágico episódio do Rio, uma vítima exemplar, escolhida a dedo, para
detonar a “bomba identitária”, ato inaugural (assim como o “laboratório” da intervenção
no Rio) para “melar” a eleição desse ano através do discurso da ameaça de um
inimigo interno: o crime organizado. Fator até aqui ignorado pelos analistas
políticos, mas que tem parte importante na guerra semiótica brasileira, desde
os ataques de 2006.
sábado, março 17, 2018
Em "Corpo e Alma" a gnose possível através de um sonho lúcido
sábado, março 17, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, o filme húngaro “Corpo e Alma” (Teströl és Lélekröl,
2017), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um conto bizarro e
brutal sobre amantes em um matadouro de gado: um casal de funcionários que
consegue se encontrar apenas quando dormem, no mundo dos sonhos. Mais
exatamente, em um sonho recorrente: um veado e uma corça procurando folhas
verdes em uma paisagem de inverno coberta pela neve. A diretora Ildikó Enyedi
faz uma incursão no dualismo gnóstico Corpo/Alma: a matéria como uma prisão do
espírito. E o sonho como o meio para superar essa divisão. Sem incorrer
nos clichês hollywoodianos e motivacionais do tipo “todos os sonhos são
possíveis!”. Mas através da imersão em um tipo especial de sonho: o sonho
lúcido. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quarta-feira, março 14, 2018
" La Casa de Papel", segunda temporada: crítica brasileira não quer entender a série
quarta-feira, março 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a crítica europeia sobre a série da TV espanhola “La Casa de
Papel” (2017) é diversificada, a crítica brasileira da mídia corporativa
rejeita em bloco a produção do canal Antena 3. “Arremedo de Tarantino”, “série
absolutamente ridícula” etc. dão o tom, enquanto para os espectadores
brasileiros a série se transformou em um fenômeno. Os críticos da grande mídia
descontextualizam a atual safra de produções espanholas que tematizam as
consequências sócio-econômicas da crise do euro e da especulação financeira no país,
para ficarem no confortável discurso do “gosto ou não gosto”, tomando como
termo de comparação para análise os próprios clichês que Hollywood faz das
produções fora do seu eixo. Principalmente na segunda temporada, a série assume
o manifesto político contra o rentismo, a especulação e o fetichismo do
dinheiro. Talvez porque seus patrões também sejam rentistas, os críticos tentam
exorcizar de “La Casa de Papel” o fantasma do mal-estar que paira sobre a
Globalização: com a financeirização, as fronteiras entre legal e ilegal, crime
e virtude ou bem e mal desapareceram.
quinta-feira, março 08, 2018
Do futebol argentino, uma lição de guerra semiótica para as esquerdas brasileiras
quinta-feira, março 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “hit
de verão” começou nos estádios argentinos, como protesto contra suposto
favorecimento do Boca Junior na Federação de Futebol pela influência do
presidente Mauricio Macri. Um canto ofensivo que ultrapassou o futebol e nos
últimos dias se propagou para eventos culturais, shows de rock, memes e redes
sociais. Se há apagão ou um trem do metro quebra, indignados os argentinos
começam a cantar o “hit do verão”, canalizando o descontentamento. Um pequeno
conto sobre guerra simbólica na política: como o protesto transcende o futebol
e se transforma numa bomba em potencial. Enquanto isso no Brasil, um apagão de
quase uma hora no Pacaembu fez crescer um coro anti-Globo da torcida do Santos,
ao vivo na TV. Prontamente retalhado com a demonização da organizada “Torcida
Jovem” nos telejornais da emissora. Apenas a esquerda brasileira não percebe
esses sintomas simbólicos do descontentamento e como a grande mídia contra-ataca
sempre ganhando por WO a guerra semiótica. “Somente se ataca símbolos a partir
do simbólico”, afirma o pesquisador argentino Javier Bundio. Mas nunca as
esquerdas pensaram em ocupar esse plano da sociedade. Será que o papel da
derrota e da vitimização sempre lhes cai bem na velha narrativa de luta e
resistência?
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