segunda-feira, junho 09, 2014

Conceito "Cinegnose" é agora verbete em nova edição do Dicionário da Comunicação

O conceito criado por esse humilde blogueiro e a razão da existência desse blog – a noção de “cinegnose” – foi transformado em verbete no “Dicionário da Comunicação – segunda edição revista e ampliada”, lançado na semana passada pela Editora Paulus. Juntamente com os verbetes “filme gnóstico” e “adgnose”, também criados nas pesquisas do blog, o "Dicionário da Comunicação" organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho abre a oportunidade para que as pesquisas sobre as confluências entre Gnosticismo, Cinema e Comunicação que foram iniciadas pelo “Cinema Secreto: Cinegnose” se fortaleçam e ganhem espaço dentro dos estudos científicos da área. As pesquisas iniciadas por esse blog se juntam, portanto, às pesquisas da chamada Nova Teoria da Comunicação: o estudo do fenômeno comunicacional como acontecimento e transformação pessoal e coletiva. E para o blog, a abertura para fenômenos espirituais como a gnose.

Na semana passada foi lançado em São Paulo o Dicionário da Comunicação - segunda edição revista e ampliada, pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho da ECA/USP. Esse humilde blogueiro fez parte dos 80 colaboradores nacionais e internacionais que trouxeram novas correntes de pesquisas e olhares para a comunicação, incluindo diferentes linhas de pensamentos.

Nesta nova edição do dicionário esse blogueiro que escreve essas mal traçadas linhas foi convidado a transformar em verbetes alguns conceitos desenvolvidos por esse blog dentro do nosso projeto de convergência dos conceitos da Teoria da Comunicação e Cinema com o Gnosticismo: “adgnose”, “filme gnóstico”, “cinegnose”, “arquétipos contemporâneos”, “agenda tecnocientífica”, “cinema esquizo”, além de conceitos tradicionais da ciência da comunicação como “agenda setting” e “mitologia” – no sentido dado pelo semiólogo francês Roland Barthes.


Presença do organizador do Dicionário, o
Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho
Na edição anterior de 2009 já havíamos escrito o verbete “tecnognose”, o primeiro verbete referente às pesquisas sobre Gnosticismo, tecnologia e cultura desenvolvidos por esse blog.

A publicação desses verbetes derivados das nossas pesquisas entre Gnosticismo, Comunicação e Cinema é importante, pois busca tornar mais precisos conceitos que trabalham em um terreno muito movediço como a percepção, o imaginário, o psiquismo e o espiritualismo. Acreditamos que a Comunicação é um fenômeno que vai muito além da técnica de transmissão de mensagens de um emissor para um receptor. Mais do que estudar processos de transmissão, as novas teorias da comunicação tentam cercar e isolar fenômenos cada vez mais incorpóreos como “espírito”, “força cega”, “corpo sem órgãos”, “contínuo midiático atmosférico” etc.

Merleau-Ponty e a segunda metafísica:
nova teoria da comunicação
Há uma dimensão metafísica na Comunicação que necessita ser explorada. Mas essa natureza metafísica não deve ser tomada no sentido tradicional platônico como busca de essências atemporais que estariam acima esse mundo. O desafio é inserir os fenômenos da Comunicação naquilo que se chama a segunda metafísica representada por escritores como Marcel Proust e pensadores como Henri Bergson e Merleau-Ponty: encontrar na própria experiência ou percepção uma dimensão pré-cognitiva e extralinguística, uma dimensão metafísica paradoxalmente presente na própria experiência sensível.

Para os propósitos desse blog, essa “dimensão metafísica” que estaria presente no fenômeno da Comunicação envolveria não somente aspectos perceptuais ou de afecção, mas além disso, uma dimensão mística ou oculta. Esse blog em muitos momentos vem procurando fazer essa conexão da Comunicação com o sincromisticismo, parapolítica e Gnosticismo como abordado em algumas postagens como a discussão da série espírita Nosso Lar com a Comunicação e Política (clique aqui para ler) ou as dicussões sobre sincromisticismo, efeito copycat e a mídia (clique aqui para ler)

Vamos fazer um pequeno resumo dos principais conceitos-chave criados por esse blog e que foram transformados em verbetes na nova edição do Dicionário da Comunicação.

1- Adgnose


Abordagem publicitária contemporânea em que narrativas e de técnicas de linguagem audiovisual mobilizam, através de recursos retóricos, um conjunto de símbolos arquetípicos que serão traduzidos como “motivações”; fonte de energia psíquica que é aprisionada e aglutinada em narrativas e imagens que configura uma nova ideologia do consumo, agora sintonizada com o imaginário do autoconhecimento e autoajuda.
Na adgnose temos a imaterialidade plena do produto. Para além dos valores e estilos de vida, algo mais profundo, no espírito, deve ser mobilizado: os arquétipos, quer dizer, símbolos do inconsciente coletivo aglutinadores de anseios, dúvidas e esperanças mais profundas da espécie humana, tal como sugerido pela psicologia profunda de Carl G. Jung. Vivenciar um arquétipo seria como conectar-se a uma rede simbólica do “inconsciente coletivo”. Sobre esse conceito leia: “Adgnose: a engenharia do espírito na Publicidade”.

2 – Agenda tecnocientífica


A agenda tecnocientífica sugere a hipótese de uma consonância entre o conjunto de temas e narrativas de produções cinematográficas e audiovisuais e o escopo tecnocientífico da sua época, criando uma verdadeira agenda onde imaginário e tecnociência passam a manter múltiplas correspondências.

A cinematografia deste início de século parece expressar nas suas narrativas fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea em que não apenas generaliza o modelo computacional como se fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. Trata-se do esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, cibernética, inteligência artificial e teoria da informação para desvendar não só o funcionamento da mente como também procurar um modelo de simulação que permita compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas também, principalmente, manipulá-la e controlá-la. São filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais. Sobre esse conceito leia: “Geografias interiores: cartografias e topografias da mente”.

3 – Cinegnose


Dentro dos estudos sobre as conexões entre o cinema e o audiovisual com a experiência do sagrado e do religioso, o conceito de cinegnose tem a ver com a possibilidade de a experiência que envolve a recepção tanto do conteúdo ou da forma da narrativa fílmica como da atmosfera criada pela projeção ou pela transmissão do produto fílmico ou audiovisual possam criar estados de transcendência. Trata-se da criação de novos mundos e atmosferas abrindo um espaço cada vez maior para conteúdos que exploram o fantástico, o espiritual, mundos extraterrestres e estados alterados de consciência. Conceito relacionado à tendência dos filmes que trabalham com argumentos, narrativas e mitologias gnósticas cuja busca de iluminação (gnose) do protagonista conduz a diversos conteúdos espirituais e metafísicos.

O cinema contemporâneo vem desenvolvendo narrativas que rompem com o chamado realismo clássico, transcendendo os limites de alguns aspectos da construção tempo-espaço cartesiano-newtoniano, indo além do espaço tridimensional delimitado: mudanças da realidade temporal espacial (Donnie Darko, Kelly, 2001; Feitiço do Tempo, Ramis, 1993), descontrução da realidade consensual (Matrix, irmãos Wachovski, 1999; Quero ser John Malkovich, Jonze, 1999), inter-relações de fatos normalmente percebidos como eventos discretos e sem causalidade (Magnólia, Anderson, 1999; Timecode, Figgis, 2000) e natureza relativa da percepção da realidade (Amnésia, Nolan, 2000). Sobre esse conceito leia: “A experiência cinematográfica pode ser transcendente?”.

4 – Cinema Esquizo


Conjunto de filmes marcado por narrativas paranoicas e protagonistas psiquicamente instáveis e marcados pela revolta e cinismo. Ao mesmo tempo, esses filmes também ganhariam força pelos traços esquizoides presentes no próprio dispositivo cinematográfico, linguagem e recepção cinematográfica.

Basicamente, Hollywood permitiu, em três momentos, a produção dos filmes esquizos: primeiramente, no filme noir das décadas de 1930-40 (em que surgiram os três modos de representação do mal-estar contemporâneo na figura de três protagonistas arquetípicos contemporâneos: o viajante, o detetive e o estrangeiro. Depois, nos anti-heróis revoltados, desequilibrados e cínicos dos anos 1970 - de Sem Destino (Hopper, 1969) a Scarface (Brian de Palma, 1983) – e, por fim, no último revival nas décadas 1990-2000, representado pelo súbito interesse de produtores de Hollywood por escritores gnósticos como Philip K. Dick e Cornac McCarthy. Nesse grupo constam respectivamente O homem duplo (Linklater, 2006) e A estrada (Hillcoat, 2009), e roteiristas como Charlie Kauffman – de Quero ser John Malkovitch (Jonze, 1999) e Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Gondry, 2004. Com temas profundos, simbologias e iconografias gnósticas*, os diretores como David Lynch - Inner Empire (2006) e Mulholland Drive (2001) - e Scorsese (Ilha do Medo, 2010). Sobre esse conceito leia “Uma história do cinema esquizo”.

5 – Filme Gnóstico


Conjunto de filmes de variados gêneros cuja característica unificadora é a recorrência de “elementos gnósticos” correspondentes tanto às narrativas míticas cosmogônicas e morais dos principais pensadores do gnosticismo histórico (Basilides, Valentim e Mani), como a diversos simbolismos místicos ou esotéricos associados ao sincretismo do chamado gnosticismo hermético.


A produção cinematográfica principalmente norte-americana recente conta com diversos filmes que giram em torno dessa mitologia. Os temas incluem, frequentemente, conspirações cósmicas, universos paralelos, amnésia e paranoia. Demonstra um interesse por uma ambivalente relação entre o sujeito e a realidade, consciência (especialmente alterada por estados de consciência iluminados) e revolta contra sistemas autoritários de controle. Filmes como Cidade das sombras (Dark City, Proyas, 1998), a Vida em preto e branco (Pleasantville, Ross, 1998), Show de Truman (Truman Show, Weir, 1998), Vanilla Sky (Vanilla Sky, Crowe, 2001), entre outros, apresentam uma ideia geral de que o mundo que percebemos é uma ilusão criada por alguém que não nos ama e que a chave para revelar a ilusão e descobrir a realidade reside numa forma de autoconhecimento ou iluminação. Sobre esse conceito leia: “Cinema Secreto: Cinegnose faz a lista dos melhores filmes gnósticos”.

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