sexta-feira, março 15, 2013

Mas afinal, quem é o dono do hardware?

Após resultados positivos nas investigações sobre a interface cérebro/máquina, o cientista Miguel Nicolélis vai além: em artigo publicado na “Cientific Reports” anuncia o sucesso na conexão entre cérebro/cérebro. O arco de benefícios iria desde aplicações médicas como reparos eletrônicos em tecidos cerebrais até o surgimento do primeiro “computador orgânico”, uma Internet formada por cérebros conectados em tempo real. Essas promessas tecnocientíficas adquirem um aspecto messiânico ao serem divulgadas pela mídia de forma descontextualizada e solta em uma espécie de vácuo das boas intenções. Mas quem financia a pesquisa? Qual o destino dessas descobertas ao transformarem-se em comodities em uma sociedade de mercado? Para além das aplicações pontuais, que tipo de paradigma ou modelo de individualidade as neurociências repercutem na cultura? E o principal: mas afinal, quem é o dono do hardware?


Nicolélis tem nobres intenções: ele quer fazer tetraplégicos andarem através da interface cérebro/máquina e tecidos cerebrais lesionados se reconstituírem através da tecnologia e plasticidade inerente às redes neuronais. Nicolélis se deixa fotografar com camisas discretamente abertas para que possamos perceber uma camisa verde e amarela por baixo. Ele faz questão de declarar que todo o know how tecnológico dos laboratórios da Universidade de Duke nos EUA foi trazido para o Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte. Nicolélis é um nacionalista, sinal do crescente protagonismo do Brasil no cenário internacional após anos de governo Lula e Dilma.

Os avanços tecnocientíficos parecem estar acima de qualquer juízo de valor ou crítica por serem o resultado prático do esforço coletivo do intelecto humano. Esses avanços fascinam pela potencial utilidade e benefícios que podem trazer ao gênero humano: quem poderá ser contra a possibilidade de paralíticos voltarem a andar e cérebros lesionados recuperarem suas funções?

segunda-feira, março 11, 2013

Em Observação: "Black Mirror" (2011-2013)


Nosso leitor Nelson Job indicou a série inglesa exibida no Channel 4 “Black Mirror”. Com duas temporadas compostas por três episódios cada, nos apresenta as potencialidades sombrias de tecnologias já existentes como biochips, Internet e mídias sociais. Criada pelo jornalista e roteirista Charlie Brooker (notável pela sua crítica ácida aos formatos televisivos como em “Dead Set” onde zumbis invadem um reality show) “Black Mirror” está “Em Observação” pelo Blog por dois motivos: primeiro: por fazer uma crítica midiática-política-social de tecnologias portáteis atuais (aplicativos, widgets, apps etc.) que querem fazer nossa identidade e, segundo, a irônica condição dessa série: feita por uma produtora que pertence ao grupo Endemol, notória pela criação de games televisivos e reality shows como o “Big Brother”, formatos criticados pela própria série.

sexta-feira, março 08, 2013

Quem você vai encontrar depois de morrer?


As representações da vida pós-morte no cinema são um verdadeiro sismógrafo do que se passa entre os vivos aqui na Terra. As sucessivas mudanças das representações cinematográficas do céu e da morte ao longo das décadas parecem refletir ansiedades culturais, avanços tecnológicos e importantes fatos históricos. Ao fazer um cruzamento do conto “Os Fantasmas de Scrooge” de Charles Dickens com a chamada “Teoria dos Seis Graus de Separação” o filme “As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu” (Five People You Meet In Heaven, 2004) comprova essa tese ao nos apresentar um cenário pós-morte onde pessoas criam seus próprios “céus”, como fossem anjos decaídos imersos em si mesmos. Seria o reflexo da virtualização atual do eu no ciberespaço onde avatares se transformam em espécies de divindades criadoras?

As representações do cinema sobre a existência pós-morte revelam muitas mais as mazelas da vida terrena do que qualquer verdade extra-corpórea. Como nenhum cineasta conseguiu voltar da morte com takes para um documentário sobre a vida após a morte, o tema acabou tornando-se um espelho das ansiedades culturais, avanços tecnológicos e crises religiosas e espirituais de cada época.

Apesar das representações do céu, da morte, e da existência pós-vida se alterarem de acordo com o imaginário de cada época, uma fórmula básica se mantém, a partir da qual se criam diversas narrativas e variações: personagem principal morre, chega no “céu” (algum espaço intermediário entre a Terra e o céu, limbo, ante-sala celestial ou a própria plenitude celeste etc.)  e é submetido a algum tipo de julgamento (revê sua própria vida, mentores ou entidades superioras o julgam, retorna para a vida para uma “segunda chance” etc.).

segunda-feira, março 04, 2013

Blog "Cinegnose" foi tema do Terceiro "Hangout Gnóstico" da Sociedade Gnóstica Internacional


Neste último domingo (03/03) tive a honra de ser entrevistado no “Terceiro Hangout Gnóstico” dentro do tema “Cinema Gnóstico” e as contribuições que esse blog tem oferecido ao campo das discussões sobre o  gnosticismo. O evento é uma iniciativa da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) que aproveita a ferramenta Hangout do Google + (sistema que permite videoconferências) para aproximar as pessoas objetivando construir uma comunidade em torno da espiritualidade gnóstica.

Seu presidente, Giordano Cimadon, define essa iniciativa como “uma forma de promover um contato entre gnósticos de diferentes partes do mundo e estabelecer um formato mais atualizado de apresentação da cultura gnóstica”.

Na entrevista acompanhada de debates e questionamentos, pude descrever a trajetória do blog “Cinema Secreto: Cinegnose” como uma resultante do projeto de mestrado sobre o Cinema Gnóstico, a evolução desse gênero cinematográfico até a atualidade e a possibilidade de a mídia cinematográfica possibilitar a experiência da gnosis, projeto atual de doutorado onde procuro relacionar esta experiência transcendente com o “acontecimento comunicacional” e suas potencialidades políticas no sentido de quebra de uma ordem do cotidiano do espectador - assista ao hangout completo no vídeo abaixo.

domingo, março 03, 2013

Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado


Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?

Em uma aula da disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70, apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e, principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que, ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop. Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.

sexta-feira, março 01, 2013

A urgência da destruição no cinema norte-americano

O poder financeiro e tecnológico da indústria cinematográfica norte-americana parece ter uma relação direta com a escala de destruição exibida em seus filmes: de catástrofes em proporções planetárias a micro-desastres cotidianos como perseguições seguidas de explosões e choques de automóveis, destruição de bens e descartabilidade de objetos. Em um pequeno insight solto  em uma frase do livro clássico “Monopoly Capital” de 1966 os economistas Paul A. Baran e Paul M. Sweezy sugerem uma conexão entre essa verdadeira cultura da destruição fílmica e a chamada obsolescência planejada, estratégia dos oligopólios e monopólios de propositalmente fabricar e distribuir produtos que em pouco tempo ficarão obsoletos ou não-funcionais, forçando o consumidor a adquirir uma nova geração de produtos evitando, assim, a estagnação dos mercados. Poderiam as destruições em série no cinema ser a proto-narrativa que naturaliza e torna aceitável essa descartabilidade generalizada de bens? Ou seria apenas a expressão de um “espírito de época”?

Em uma curtíssima passagem que mais parece um insight inserido no final de uma frase, os economistas Paul Baran e Paul Sweezy no livro “O Capitalismo Monopolista” fazem uma surpreendente conexão entre a necessidade de o capital criar obsolescência e descartabilidade dos produtos nos seus esforços por vendas e a obsessão do cinema norte-americano em explorar o tema da destruição generalizada em muito dos seus filmes. Os autores jogam no ar a sugestão de um interessante sincronismo entre um fato econômico e a verdadeira cultura da destruição que marca os filmes norte-americanos: filmes-catástrofes, perseguições que terminam em colisões e explosões, incêndios, desmoronamentos, monstros ou aliens que destroem cidades, sinistros de todas as espécies que levam a destruição de bens e propriedades em larga escala etc.

Cenas de destruição ou descartabilidade generalizada de bens como roupas e automóveis são inseridas em narrativas dos mais diversos gêneros cinematográficos desde formas explícitas (os filmes-catástrofes sobre o fim do mundo) ou formas mais sutis: para onde vão as roupas “civis” do homem-aranha e do super-homem após as suas transformações em becos e cabinas telefônicas? Não importa o gênero de filme: sempre estará lá uma cena de colisão de automóveis, um incêndio, a descartabilidade ou perda de objetos ou bens como automóveis, roupas e casas que parecem não incomodar muito os personagens. Tudo parece que poderá ser reposto ou reconstruído rapidamente.

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Oscar de melhor filme para "Argo": os EUA elogiam sua principal arma, a ilusão

Premiado com o Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e edição, o filme “Argo” (2012), dirigido e estrelado por Ben Affleck, se integra a uma tendência atual de filmes voltados aos anos 1970 (“Super 8”, “Um Olhar do Paraíso” etc.), dessa vez recriando a trama real do resgate pela CIA de seis diplomatas americanos durante a revolução iraniana de 1979 liderada por Ruhollah Khomeini. O filme parece confirmar uma estratégia de resposta imaginária da indústria do entretenimento a cada crise: se nos anos 80 reagiram com a nostalgia das décadas de 1950, agora diante da crise financeira global temos a nostalgia pelos temas da década de 1970. Tudo isso como espécie de reafirmação patriótica: “Sim! Ainda somos poderosos, mesmo com toda crise financeira real ainda dominamos o mundo imaginário, a nossa maior arma”.

A década de 1970 não foi fácil para a política externa norte-americana: a humilhante retirada do Vietnã, a escalada da crise do petróleo e, para culminar, a crise dos 52 diplomatas norte americanos mantidos como reféns por 444 dias após a embaixada dos EUA no Irã ser invadida por uma massa enfurecida em plena revolução iraniana de 1979.

Paralelo a esses problemas do mundo real, sabemos que, mais do que qualquer outro lugar no mundo, os EUA produziram uma cultura onde o entretenimento invadiu todos os setores da sociedade até o momento em que as pessoas passam a ser felizes por reviverem fragmentos do passado por meio das imagens ao invés de enfrentar a realidade diária.

É notório como a indústria do entretenimento norte-americana responde no plano do imaginário às crises políticas e econômicas vividas pelo país desde os anos 1970: primeiro, retornando a imagerie da década de 1950 como os anos dourados e míticos fundadores da autoconfiança americana – desde à retro-fantasia de Star Wars, filmes como “De Volta para o Futuro”, “Peggy Sue Got Married”, “Grease”, “American Graffity”, “Forrest Gump”, “Pleasantville” etc. À crise de autoconfiança, a indústria do entretenimento sugere uma nostalgia paradoxal: ter saudades de épocas que, afinal, não vivemos.

Em resposta à crise financeira global iniciada em 2008 após a explosão da bolha imobiliária nos EUA, Hollywood empreende uma nova onda nostálgica, dessa vez voltada aos anos 1970-80: filmes como “Super 8” (um mix de “Os Goonies” com “ET”), “Um Olha do Paraíso”, “Black Dynamite”, “The Runways” e todo o pastiche dos anos 1970 de “Kill Bill” de Quantin Tarantino.

sábado, fevereiro 23, 2013

O evangelho do capitalismo tardio no filme "Rede de Intrigas"


Vencedor de quatro Oscars em 1977, “Rede de Intrigas” (Network, 1976) de Sidney Lumet foi interpretado na época apenas como um drama sobre “o primeiro homem a morrer por causa dos baixos índices de audiência”. O filme estava à frente do seu tempo com um tom de sátira cínica e trágica que profetizava uma nova forma de sensacionalismo midiático bem diferente da velha “imprensa marrom”: uma espécie de sensacionalismo ecumênico, o novo evangelho da nova ordem mundial que estava sendo instaurado – a Globalização. Para compreender totalmente o quão profético foi o filme “Network”, somente através do conceito de “capitalismo tardio” tal como desenvolvido pelo economista marxista belga Ernest Mandel em 1972.

- Olá, eu sou Diana Cristensen, uma racista escravizadora do circo do Tio Sam.
- E eu sou Laura Hobbs, uma negra suja e comunista.

O insólito diálogo acima entre a executiva da rede de TV norte-americana UBS com uma líder ativista radical de esquerda ao se conhecerem para fechar o acordo sobre a exibição no horário nobre do programa chamado “A Hora Mao Tsé-Tung” , é um dos cínicos e irônicos momentos do filme “Rede de Intrigas” de Sidney Lumet. Para conseguir audiência a executiva não hesitará em exibir vídeos gravados pelos próprios guerrilheiros do Exército Ecumênico de Libertação assaltando bancos e cometendo atentados.

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

A experiência da bicicleta na música e no cinema


Qual a representação do imaginário da bicicleta na música e no cinema? Para nossa surpresa encontramos uma conexão sincromística entre estas representações que relacionam a bicicleta com um particular estado de consciência (pelo seu singular design que funde homem e máquina) e o gnosticismo do pensador Basilides: o alterado estado mental de "suspensão" que permitiria silenciar o ruído da linguagem para que ouçamos o espírito.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Em Observação: "The Five People You Meet In Heaven (2004)

Indicado pelo nosso leitor Hudson Bonomo, "The Five People You Meet In Heaven é uma adaptação para a TV do best-seller publicado em 2003, cujo roteiro contou com a participação do próprio autor Mitch Albom. O filme interessou o Blog por prometer "uma nova perspectiva sobre a morte e o sentido da existência", como afirma o autor. Vamos conferir e ficar atentos, principalmente, à representação do céu que o filme faz: desde 1998 com o filme "Amor Além da Vida" precebe-se uma transformação das representações cinematográficas sobre a morte e o céu em relação aos filmes clássicos sobre o tema. Vamos conferir para um futuro artigo



segunda-feira, fevereiro 18, 2013

A religião da América profunda no filme "O Mestre"


Indicado a três Oscar (melhor ator, atriz e ator coadjuvante) “O Mestre” (The Master, 2012), inspirado claramente na trajetória do fundador da Cientologia L. Ron Hubbard, trata sobre a relação entre o carismático líder de uma seita (“A Causa”) e um seguidor decadente, violento e alcoólatra. Mas sentimos o tempo inteiro que alguma coisa de mais interessante foi deixada de fora, algo que o diretor Paul Thomas Anderson apenas sugere sem aprofundar: o ressentimento de uma América profunda que produz seitas na mesma velocidade que surgem atiradores matando pessoas nas universidades americanas.

Conta-se que Freud, ao avistar o porto de Nova York e a Estátua da Liberdade em 1908 na sua única visita aos EUA, teria supostamente comentado a Carl Jung ao seu lado: “Eles não sabem que trazemos a peste”. Freud acreditava que retiraria os norte-americanos do conforto das tradições ao fazê-los reconhecer nelas a origem das doenças do psiquismo.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

A Semiótica das fotografias corporativas


As chamadas fotografias corporativas acabaram se tornando um subgênero fotográfico, onipresentes em banco de imagens, templates de blogs e sites, slides de apresentações de qualquer natureza e, claro, no endomarketing de empresas. Fotos onde são mostradas pessoas em situações positivas, motivadas, otimistas e de boa fé. De “tecnologia de poder” que busca criar a autoimagem e justificativa de instituições totais como empresas, hoje esse estilo de composição fotográfica invade outros campos como educação, saúde, internet e publicidade. São tidas como fotos “inspiradoras” e “motivacionais” em apresentações e treinamentos de Recursos Humanos. Porém, não resistem a uma análise semiótica, capaz de explicitar toda a carga de mitologia, estereótipo e retórica a partir da qual são estruturadas.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Origens míticas e mágicas do Belo e da Arte


Limpando o sótão de casa e tentando dar uma ordem nas pilhas de livros e papéis, para minha surpresa acabei encontrando os originais de um texto datilografado que foi a base de uma palestra dada por mim na Associação Santista de Dança lá pelos meados da década de 1980. Lembro-me que o tema proposto era “O Belo e a Arte” e fazia parte de uma semana cultural promovida pela Associação. É um texto de juventude, bem radical, raivoso e adorniano – fiquei pensando: “pobres daqueles que ouviram essa palestra...”. Ironias à parte, o texto procurava tratar sobre o destino da noção de Belo em uma sociedade de consumo que a explora como “álibi” para dar um rótulo “nobre” ao objeto artístico mercantilizado. O argumento é que com a sua mercantilização, esvazia-se a dimensão utópica e crítica da noção de Belo desde suas origens míticas e mágicas. As referências do texto são basicamente Theodor Adorno e Max Horkheimer do livro “A Dialética do Esclarecimento” e do italiano Massimo Canevacci e sua visão de uma antropologia marxista do livro “Antropologia do Cinema”. Confira abaixo e vejam o que vocês acham...

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Em Observação: filmes esperados para esse ano


Dois filmes estão sendo muito aguardados por esse blog: “Escape from Tomorrow” e “The Designer”. O primeiro foi apresentado em janeiro no Sundance Festival e o segundo está ainda em fase de finalização e edição. O primeiro foi considerado um filme perturbador para muitos críticos (filmado sem autorização na Disney World poderá enfrentar problemas com o departamento jurídico da empresa no momento da sua distribuição) sobre uma narrativa paranoica e psicótica em meio a Mickey Mouses e Buzz Lightyears do parque temático; e o segundo um filme que aprofunda o lado sombrio da evolução simbiótica entre vídeo games e seus usuários. "Escape from Tomorrow" dependerá de distribuidoras que tenham coragem para encarar os advogados da Disney e "The Designer" com certeza chegará aos cinemas. Vamos torcer!

Cine PorTATIL: "Django Livre" e "À Procura de Eric"



Nossa colaboradora Tati Rossano assistiu a mais dois filmes e enviou seu comentário: o último filme de Tarantino e indicado ao Oscar “Django Livre” (Django Unchained) e “À Procura de Eric” (Looking For Eric, 2009), um filme sobre a relação de um jogador do Manchester United, Eric Cantona, e seu fã. Uma história de drama, amizade e futebol.
Tati do Cine PorTATIL

Em Observação: "O Mestre" (2012)


Indicado aos Oscars de melhor ator e atriz/ator coadjuvantes "O Mestre" está "Em Observação" pelo Blog pelo fato de a crítica especializada observar que o filme não só faz uma alusão à Cientologia (seita popular entre atores de Hollywood) mas por fazer um mergulho nas origens de como a cultura popular americana foi construída por um estranho mix entre a chamada "religião americana" (Mormismo, sulismo Batista, Pentencostalismo e autodivinização) com seitas e literatura de autoajuda. Junta-se a tudo isso a crença no "pensamento positivo" como um místico encontro do homem com o divino. 

sábado, fevereiro 09, 2013

O mito da segunda chance no filme "Perdido Entre Dois Mundos"


Uma comédia leve e despretensiosa. Não fosse o filme francês “Perdido entre Dois Mundos” (Les Deux Mondes, 2007) estar inserido em uma recente recorrência de filmes que desenvolvem o tema da “segunda chance”, passaria despercebido. Mas não é o caso.  A cinematografia recente vem intensificando a exploração do tema em que se narra a possibilidade de o protagonista ter uma segunda chance (seja através do  deslocamento no tempo ou migrando para mundos alternativos) para se redimir de erros do passado ou do presente. Nesses filmes a fuga para outras dimensões não é mera fantasia escapista para atender aos sonhos dos espectadores. Pretendem ser “inspiradores e motivacionais” para convidar os espectadores à necessidade de transformações íntimas, segundo produtores e diretores. Essa tendência cinematográfica realmente seria “inspiradora” ou apenas refletiria um mal estar psíquico numa cultura influenciada por modelos de sucesso e bem estar da literatura de autoajuda e motivacional?

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Bem Vindos ao Cine PorTATIL com "Amour" e "Les Misérables"

O blog inicia hoje uma nova sessão: Cine PorTATIL com a nossa colaboradora Tati Rossano (entenderam o trocadilho?). Ela é publicitária, designer gráfica e especializada em redes sociais. Além disso, é uma apaixonada por cinema. Por isso Tati pretende falar sobre Cinema do ponto de vista do espectador, um olhar mais imediato da recepção do filme, sem pretensões de análises rigorosas e técnicas. 
Tati do Cine PorTATIL
Em outras palavras, escrever sob o calor do instante; aquele momento em que o filme termina, as luzes acendem e nos perguntamos: “gostei ou não gostei?”. Por isso "Cine PorTATIL" será uma coluna com drops informativos que darão dicas rápidas sobre filmes para quem gosta de cinema e não necessariamente entende dele.



quarta-feira, fevereiro 06, 2013

O fator humano diante do fim do mundo no filme "Last Night"


(À esquerda - "The Old Man's Boat and the Old Man's Dog",
Eric Fischl, 1982).
Habitualmente nos filmes-catástrofes hollywoodianos temos muita ação, destruição e explosões que acabam desviando a atenção do espectador do sintoma cultural que representa a recorrência do tema fim do mundo no cinema. Ao contrário, no canadense “Last Night” (1998) a narrativa disseca uma variável que nenhum filme-catástrofe desenvolve: o fator humano. No filme não há ônibus espaciais, generais estressados ou cientistas heroicos. Apenas pessoas comuns que tentam realizar seus últimos desejos antes do fim. E esses desejos transformam-se em termômetro do mal estar cultural que estava por trás da histeria midiática do “novo milênio” no final do século XX.

domingo, fevereiro 03, 2013

Mitologia e religião no Oscar 2013 em uma sociedade cética


O nosso leitor Giordano Cimadon da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba indicou o artigo de S. Brent Plate (professor de Estudos Religiosos da Hamilton College – EUA) “Religion at Academy Awards” sobre a intensa presença de temas, símbolos e alegorias religiosas nos filmes que estão disputando o Oscar desse ano. Para Plate, a indústria do entretenimento parece ultrapassar as instituições religiosas como a principal criadora de mitos e rituais em uma sociedade que, paradoxalmente, cresce o espírito de ceticismo e aversão às religiões organizadas. Filmes como “As Aventuras de Pi”, "Django Livre”, “Indomável Sonhadora” e “The Master” exploram antigas simbologias míticas como as da água, enchentes e caos, e bíblicas onde compaixão, vingança e justiça divina se entrelaçam de forma inextrincável.

sábado, fevereiro 02, 2013

Blog continua em manutenção!




Após uma primeira derrota por goleada para códigos HTML, CSS etc. esse humilde blogueiro ainda pouco familiarizado com esses códigos inventados por um maligno computador demiúrgico conseguiu finalmente tornar razoavelmente funcional a nossa nova plataforma do blog. Ainda estamos arduamente trabalhando nas alterações. Por isso nos desculpamos pelas possíveis mudanças repentinas, disfunções e páginas que eventualmente possam ficar "fora do ar".

quinta-feira, janeiro 31, 2013

NOSSO BLOG VAI FICAR EM MANUTENÇÃO!

A partir das 7h desse sábado (02/02) o blog "Cinema Secreto: Cinegnose" ficará em manutenção. Esse humilde blogueiro tentará domar os esotéricos códigos Html, CSS etc., para colocar o blog em uma nova plataforma, mais atraente e interativa. A expectativa é que até às 12h do sábado o blog já esteja de cara nova e funcionando direitinho. A necessidade de uma nova plataforma decorre do novo projeto editorial que criará sessões fixas (ou "retrancas" como falam os jornalistas) para o conteúdo do blog abordar tanto os tradicionais artigos de natureza opinativa, análise científica e de pesquisa quanto textos com notícias, dicas e "drops" informativos.

terça-feira, janeiro 29, 2013

Em Observação: "Last Night" (1998)




Nosso leitor Joari Carvalho nos oferece mais uma indicação para a sessão “Em Observação”: o filme “Last Night” (1998). Só pelo fato de ser um filme canadense que trata de um tema tão “blockbuster” e hollywoodiano já desperta o interesse pelo potencial de oferecer ao espectador uma visão alternativa para o tema: o fator humano. Não há pirotécnicas, efeitos especiais, Armagedon ou ônibus espaciais enfrentando asteroides. Apenas pessoas comuns sem passado e futuro tentando realizar os últimos desejos a seis foras do fim do planeta. “Last Night” entra na mira do “Cinema Secreto: Cinegnose” por tratar desse tema tão recorrente na cinematografia que podemos considerá-lo um sintoma coletivo de algum mal estar psíquico: por que essa presunção da catástrofe em relação ao futuro? Por que o futuro é encarado como uma contagem regressiva? Por que o futuro é sempre pensado como subtração e não como adição, acumulação ou construção? O que torna ainda o filme mais interessante é que à época do seu lançamento uma série de sinistras profecias cercava o final de milênio, entre ela o chamado “bug do milênio”, uma espécie de bomba relógio informática que prometia levar o mundo ao caos na virada para o século XXI.

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Cinema e agenda tecnocientífica em "Mulher na Lua"

“Mulher na Lua” (Frau im Mond, 1929), último filme mudo de Fritz Lang (“Metrópolis, 1927), foi o primeiro esforço no cinema em abordar o tema da viagem espacial de forma séria e cientificamente crível. E também o primeiro exemplo de convergência entre a agenda tecnocientífica e o cinema: Hermann Oberth, presidente da Sociedade Alemã para a Viagem Espacial, não só deu consultoria científica como construiu um protótipo de foguete para as filmagens. Acreditava que Lang daria publicidade e dinheiro à causa da viagem espacial, uma verdadeira mania popular na década de 1920 na Alemanha. Mas, secretamente, as estórias sobre “perigosas vacas lunares” e “naves misteriosas entre os anéis de Saturno” das HQs e pulp fictions da época prepararam o imaginário das vanguardas artísticas para a irracionalidade e destruição dos mísseis V2 de Hitler.

sábado, janeiro 26, 2013

"A Noite dos Desesperados" em um mundo sem coração

Em épocas de reality shows como “Big Brother Brasil” é oportuno assistir ao filme “A Noite dos Desesperados” (They Shoot Horses, Don’t they?, 1969) baseado em um livro que tornou-se um dos prediletos dos filósofos e escritores existencialistas franceses por aprofundar as motivações humanas diante da dor e sofrimento. A cena descrita pelo filme (o início da indústria de entretenimento na época da Grande Depressão americana dos anos ’30) possibilita uma rica comparação com o gênero reality show atual: se no passado o espetáculo sado-masoquista ainda tinha o componente trágico da ritualização de um destino comum a todos (dor e sofrimento em um mundo sem coração), agora é mais perverso: os espetáculos de “sacrifício de cavalos” são promovidos como lições morais em um mundo aparentemente livre e democrático que ofereceria chance a todos tornarem-se celebridades.

Por três refeições por dia, a promessa de um prêmio de 1.500,00 dólares e algumas moedas jogadas pela plateia, dezenas de casais desesperados em plena Grande Depressão dos anos 1930 nos EUA decidem participar de um concurso de danças em um velho salão em Chicago. Na verdade será uma desumana maratona de seis dias até que o último casal sobreviva após passar por dores físicas, desconforto, humilhações e indignidades, monitorados por médicos e enfermeiras cujo papel básico é o de manter os participantes de pé à todo custo para manter a adrenalina do show.

Seu mestre de cerimônias e empresário chamado Rocky (Gig Young, premiado com um Oscar de ator coadjuvante), filho de um charlatão que fazia shows de simulação de curas em parques de diversão, usará as lições aprendidas para manipular emocionalmente os participantes: “isso não é um concurso, é show. As pessoas não estão nem aí para o vencedor. Querem ver um pouco de sofrimento para que se sintam melhor!”, dispara cinicamente Rocky a certa altura do filme.

A narrativa é repleta de pequenos dramas pessoais amplificados pela depressão econômica e desemprego: uma mulher grávida e seu marido que veem no grande prêmio a esperança de dar uma vida digna ao futuro filho; uma fútil atriz que vive a esperança de que na plateia esteja um caçador de talentos de Hollywood; um orgulhoso marinheiro veterano da I Guerra Mundial que tenta provar que ainda é capaz; uma mulher sobrevivente das ruas chamada Gloria Beatty (Jane Fonda) vê seu parceiro desistir por motivos de saúde na última hora.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

A esperança pós-apocalíptica no filme "A Estrada"

A Estrada (The Road, 2009) é um filme do gênero pós-apocalipse que você nunca viu, baseado no livro de Cornac Mcarthy e premiado em 2007 com o prêmio Pulitzer. Ao contrário de filmes com a mesma temática como “O Livro de Eli” (The Book of Eli, 2010), a esperança dos protagonistas não está em livros sagrados ou em Deus. A fé perdida deve ser buscada no "fogo do coração": em um mundo arrasado por um evento apocalíptico só resta a busca em si mesmo e na lembrança daquilo que foi perdido que não está nesse mundo, mas em algum lugar idílico no "Sul" para onde os protagonistas tentarão chegar percorrendo uma estrada de provações.

O mundo como conhecemos foi destruído por algum evento apocalíptico indeterminado. O resultado é a morte progressiva do planeta: com exceção dos seres humanos, animais e o reino vegetal estão morrendo em meio a terremotos e a uma insistente chuva que cai num mundo cada vez mais cinzento e gelado. Sem alimentos, grupos se organizam em gangs em busca de combustível e de outros seres humanos para serem canibalizados. Aqueles que não recorreram ao suicídio lutam para não serem capturados por essas gangs e sobreviver sem comer seus semelhantes.

Um homem (Viggo Mortensen) tem apenas seu filho (Kodi Smit-McPhee) para a companhia nesta terra árida. A mãe (Charlize Theron) se matou, e a única esperança de sobreviver ao inverno eterno é atravessar o país em direção do litoral e rumar para o sul. Ao longo de seu caminho deverão enfrentar a constante ameaça das gangues canibais e os perigos de um planeta que está morrendo.

Esse plot parece ser familiar: mais um filme pós-apocalíptico na linha de “Mad Max” ou do recente “O Livro de Eli” (aliás, como os norte-americanos gostam de destruir o próprio país nos filmes!). Porém, sua narrativa glacial e precisa, com uma constante atmosfera de horror pelos recorrentes sinais de canibalismo generalizado  torna “A Estrada” um filme pós-apocalíptico como jamais vimos.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Em Observação: "A Noite dos Desesperados" (1969) e "Perdido Entre Dois Mundos" (2007)

No momento em que estamos em mais uma edição do reality show "Big Brother Brasil" na TV Globo é sempre oportuno rever o filme "A Noite dos Desesperados" como um contraponto crítico que mostra o início em que a indústria do entretenimento explorará "in natura" os dramas pessoais de desespero e dor. Mas será que a visão crítica do filme ainda se aplica ao atual mercado de celebridades em que virou os "reality Show"?O blog "Cinema Secreto: Cinegnose" vai conferir. E também na sessão "Em Observação" a comédia francesa "Perdido em Dois Mundos". Leve e despretensiosa, mas que parece que pode render mais com temas potenciais como universos paralelos e mundos espelhados e/ou invertidos, tema recorrente na cinematografia atual.

domingo, janeiro 20, 2013

A mitologia da Queda é renovada em "Upside Down"

Ao mesclar ficção científica com romance, “Upside Down” (uma co-produção Canadá/França dirigida pelo argentino Juan Diego Solanas) dá nova roupagem aos mitos da Queda, tão antigos quanto a humanidade: relatos míticos que tentam relacionar a dor e sofrimento à queda da humanidade de um estado de pureza e inocência. Em um engenhoso roteiro, Solanas constrói uma versão literal da Queda ao criar um universo onde a Lei da Gravidade ao mesmo tempo une e separa dois planetas que não possuem céu ou horizontes, mas apenas a versão invertida da sua própria sociedade: o opulento mundo “de cima” que sempre faz lembrar a pobreza do mundo “de baixo”. Mas um amor proibido desafiará a gigantesca corporação que mantém essa ordem através da exploração da energia e dos meios de comunicação.

Os mitos da Queda são tão antigos quanto a história humana.  Das tradições das religiões abraâmicas (que se referem a um estado de transição humana da inocência e obediência a Deus para um estado de culpa e pecado) às heresias gnósticas (a Queda como uma catástrofe de dimensão cósmica da qual o homem tenta se libertar), são relatos que tentam explicar a origem de tanta dor e sofrimento humanos que teria iniciado em algum momento posterior a Criação.

A esse mito associa-se o de uma “Era Dourada” derivada da mitologia grega e de diversas lendas que via o início da humanidade como um estado ideal quando o gênero humano era puro e imortal. Isso criou o arquétipo do “mito das origens” presente em obras como a do filósofo francês Rosseau que vai, por exemplo, influenciar teorias psicopedagógicas: a infância como um momento de feliz  espontaneidade e pureza que será perdida na entrada da fase adulta.

Pois o filme “Upside Down”, uma coprodução Canadá/França dirigido pelo argentino Juan Diego Solanas, vai não só se inspirar nessas fontes míticas como também vai dar uma nova roupagem, dessa vez literal a essa “Queda” – associá-la às leis gravitacionais através de um engenhoso roteiro que parte das seguintes premissas:

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Marxista anteviu a "matrix" na crise da física



Morto aos 30 anos na Guerra Civil Espanhola em 1937, o pensador e poeta marxista Christopher Caudwell produziu uma instigante análise sobre a crise na física na década de 1930 (a rejeição de Einstein e de outros físicos ao Princípio da Incerteza de Heisenberg) sob o ponto de vista do materialismo dialético. Caudwell em sua obra “A Crise na Física” anteviu o que denominou como “tela de fenômenos” criada pela “metafísica da física”, uma filosofia inconsciente que aprisionaria a Física em uma verdadeira “Matrix” de categorias mentais que aprisionariam a realidade dentro do restrito modelo do determinismo e do mecanicismo cujas origens estão nos fundamentos do modo de produção capitalista.

A carreira de teórico da cultura do marxista inglês Christopher Caudwell foi realmente muito breve. Dois anos depois de iniciar uma série sistemática de análises marxistas sobre diversas áreas morreu lutando na Guerra Civil Espanhola no primeiro dia da batalha de Jarama em 1937 quando tinha tão somente 30 anos. Mas foi o suficiente para produzir um respeitável livro sobre física do ponto de vista do materialismo dialético marxista chamado “A Crise na Física” e quatro outros trabalhos sobre crítica cultural – “Ilusion and Reality”, “Romance and Realism” e ensaios no campo na História, Psicologia e Religião agrupados em um único livro intitulado “Estudos Sobre Uma Cultura Agonizante”. No Brasil esses trabalhos foram reunidos em uma coletânea em 1968 sob o título “O Conceito de Liberdade” publicada pela editora Zahar.

Certamente o trabalho mais instigante foi “A Crise na Física” pelo seu poder de síntese e uma ousada aplicação do método dialético marxista em um campo aparentemente distante da economia política: a Física. Caudwell de dispôs a analisar os fundamentos de uma crise que saia do campo restrito dos físicos e chegava à opinião pública – as descobertas dos jovens físicos como Heisenberg, Schrödinger e Eddington combatidas por Einstein e Planck, isto é, a descoberta de que os princípios de determinismo e a causalidade estavam sendo expulsos da física e que a “velha guarda” ainda procuravam manter a “metafísica da física” representada pelos princípios newtonianos.

domingo, janeiro 13, 2013

"Aventuras de Pi" mostra visão alternativa do Sagrado


Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “As Aventuras de Pi” (Life of Pi, 2012) surpreende ao nos oferecer uma visão alternativa sobre a experiência do Sagrado, bem diferente de filmes como “Cloud Atlas” e todos os clichês new age sobre sinfonias e harmonias cósmicas: uma experiência baseada no simultâneo fascínio e  terror ao descobrir que o universo nada mais é do que o resultado de sucessivas camadas interpretativas, relatos de diversas religiões que o protagonista busca por toda vida. Lá fora estão apenas os espelhos e o vazio – no filme representados pelo mar, o céu e um tigre, companheiros de jornada de Pi - que refletem de volta os signos que criamos na esperança de dar um sentido ou propósito a um cosmos hostil e violento.

sábado, janeiro 12, 2013

Em Observação: "Mulher na Lua" (Frau im Mond, 1929)

Como já discutimos em várias oportunidades aqui no blog, há muitas convergências entre as agendas tecnológicas (militares e de controle social) de governos e corporações e a indústria cinematográfica. O filme mudo "Mulher na Lua" de 1929 do diretor Fritz Lang ("Metrópolis" e "Doutor Mabuse") no início da ascensão do nazismo é um desses exemplos. O filme surge na onda de uma verdadeira mania por foguetes e naves espaciais na Alemanha que, mais tarde, resultaria nos foguetes V1 e V2 com bombas que explodiriam na Inglaterra. Outro exemplo foi "2001", Uma Odisséia no Espaço de Kubrick em 1968 com consultoria da NASA. Um ano depois a agência espacial americana chegaria na Lua. O filme promete uma fascinante viagem ao nascimento de dois gêneros que marcariam a história do cinema: o filme noir e a ficção-científica.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

A dialética da libertação no filme "O Golpista do Ano"

Todas as interpretações dos críticos sobre “O Golpista do Ano” (I Love You Phillip Morris, 2009) parecem se esquecer de uma frase dita pelo protagonista que é o grande mote do filme: “ser gay é realmente muito caro!”. A ironia social contida nessa frase refletiria uma espécie de “dialética da libertação” recorrente em cada movimento de contestação: dominação-rebelião-dominação. Assim como na História cada contestação a um sistema de dominação traria dentro de si a contra-revolução, da mesma forma o movimento progressista LGBT ironicamente se transformou no modelo ideal de consumidores em uma sociedade de consumo globalizada: consumidores perfeitos porque liquidaram simbolicamente a ordem patriarcal estática e anacrônica para os propósitos de um novo capitalismo caracterizado pela fluidez generalizada de valores, corpos e informação.

“A indignação contra a manipulação é o último scoop patrocinado pela ideologia” (Massimo Canevacci, Antropologia do Cinema)

Steven Russell (Jim Carrey) sempre foi homossexual. Mas todas as características desejadas de uma vida familiar bem sucedida ajudaram a encobrir isso: ex-oficial da polícia, honesto, pai de família exemplar, bem-casado e religioso. Mas um violento acidente de carro sacode sua vida o suficiente para decidir não mais sustentar a farsa e joga tudo para o alto para fugir no mundo e assumir seu verdadeiro Eu, que é ser um homem gay.

Muda-se para Miami onde conhece seu namorado chamado Jimmy (Rodrigo Santoro) e passa a viver um luxuoso “gay life style” desfilando com coloridas roupas de grife e conduzindo dois mini pinchers através de alamedas repletas de bares, restaurantes e lojas. E qual o único problema dessa nova vida? “Ser gay é realmente muito caro!”, conclui Steven.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Gnose e viagem no tempo em "Safety Not Guaranteed"

Ao contrário dos filmes tradicionais sobre viagem no tempo onde a atração principal são sempre os aparatos tecnológicos, no filme independente “Safety Not Guaranteed” (2012) a máquina do tempo é apenas o pretexto para a narrativa apresentar insights reveladores do estranhamento de pessoas em relação ao mundo moderno e nas maneiras de escapar e expressar seu descontentamento. E também diferente dos clichês da “segunda chance” nas viagens ao passado, nesse filme a suposta existência de uma máquina do tempo é a oportunidade de uma espécie de “transcendência espiritual mundana” baseado na ruptura da prisão existencial de “perdedores” em uma sociedade vazia de sentido.

Viagem no tempo é um tema recorrente no cinema. Na concepção clássica encontramos até os anos 1970 o viajante como uma mera testemunha de eventos do passado e do futuro que não podem ser alterados. Os protagonistas lutam contra a seta do tempo e podem até morrer, mas fatos providenciais sempre impedem que a História seja alterada. A série de TV “O Túnel do Tempo”(1966-67) ou o filme “Um Século em 43 minutos” (1979) são bons exemplos.

A partir da trilogia “De Volta para o Futuro” nos anos 1980 temos uma viagem no tempo paradoxal: podemos voltar ao passado e criarmos futuros alternativos, novos presentes e até confrontarmos com o “paradoxo dos gêmeos”. O cinema passa a explorar o tema da “segunda chance”: a viagem no tempo torna-se uma esperança para alterarmos as causas dos maléficos efeitos que enfrentamos. Dor, culpa, arrependimento poderiam ser consertados, às vezes com nefastas consequências como no filme “Efeito Borboleta” (Butterfly Effect, 2004).

Já o filme independente “Safety Not Guaranteed” (um típico produto do Instituto Sundance), primeiro longa de Colin Trevorrow, parece criar um contraponto nessa trajetória do Tempo no cinema: o filme não é sobre viagem no tempo, mas é de viagem no tempo no sentido mais amplo do termo. A possível existência de uma máquina do tempo serve apenas de pretexto para os protagonistas revelarem em relação ao passado nostalgia, experiência de perdas, culpa e remorso. Ao longo da narrativa vemos ambíguos indícios ou pistas sobre a construção de uma máquina do tempo, o que parece ser apenas mais uma estória que revela a problemática relação dos protagonistas com o passado.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Em Observação: "Upside Down" (2012)

Filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho através do Facebook, "Upside Down" (2012) com Kirsten Dunst e Jim Sturguess facilmente foi classificado como "Em Observação": um homem procura em um universo alternativo um antigo amor da juventude. O filme parece promissor na nossa busca em mapear elementos gnósticos, místicos e esotéricos na cinematografia atual: universos distópicos, mundos alternativos, amnésia, corporações/demiurgos repressores etc. Parece seguir a linha de "Another Earth" (2011), uma tendência atual onde temas sci fi são mero pano de fundo para o romance, drama ou temas de autoconhecimento como a questão da "segunda chance", questionamentos sobre a noção de "realidade" e o despertar de si mesmo do sono da ignorância. Então, prezados leitores e seguidores desse humilde blog, façam como Joari Carvalho e enviem sugestões de filmes que mereçam ficar "Em Observação" para futuros artigos.

domingo, janeiro 06, 2013

Em Observação: "Safety Not Guaranteed" (2012) e "As Aventuras de Pi" (2012)

“Em observação” é a nova rubrica para classificar filmes que podem ser de interesse para o “Cinema Secreto: Cinegnose”. Filmes “suspeitos” de explorarem elementos gnósticos, místicos ou esotéricos. Temas ou narrativas que se enquadrem nos enfoques semióticos, sincromísticos, psicanalíticos ou cinegnósticos das análises desse blog. Serão assistidos e avaliados. Se aprovados se tornarão tema dos nossos artigos.
Para nossos leitores e seguidores será uma sessão para se atualizar sobre lançamentos e filmes clássicos ou simplesmente esquecidos na história do cinema e que merecem uma análise mais atenta.

sábado, janeiro 05, 2013

Tudo é humano, demasiado humano em "Cloud Atlas"

Como um produto hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.

“O que tentamos foi fazer uma história sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).

O filme “Cloud Atlas” (com o infeliz título em português “A Viagem”, que vamos ignorar nessa postagem) dirigido pelo trio Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) e Lana e Andy Wachowski (trilogia “Matrix”) é um exemplo magistral de como a indústria de entretenimento equilibra-se em uma corda bamba entre o impulso metafísico em lidar com antigas simbologias dos antigos mistérios sejam pagãos ou gnósticos (que no final procuram capturar o desejo por liberdade e transcendência dos espectadores) e a necessidade de fazer um produto que se adapte às convenções ideológicas do gênero blockbuster.

Nas quase três horas de duração, entramos em pânico na primeira meia hora ao não entendermos nada sobre o propósito de cada uma das seis estórias narradas de forma entrelaçada e aparentemente aleatória. Aos poucos vamos ligando os pontos e passamos a saborear a brilhante montagem das sequências. Como o próprio David Mitchell (autor do livro no qual se baseou o filme) afirmou, a chave é o tema da reencarnação. Um empreendimento difícil e arriscado ao entrelaçar eventos ao longo de cinco séculos, em diferentes gêneros (sci fi, drama, espionagem, policial etc.) com os mesmos atores vivendo papéis, personagens, sexo e raças diferentes, sugerindo as diversas existências numa espécie de jornada cósmica de almas imortais.

terça-feira, janeiro 01, 2013

A Gnose de Ano Novo no Filme "A Roda da Fortuna"

Vale a pena assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será passado. Por isso, “A Roda da Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.

O Tempo é o principal tema do filme. Tudo começa quando vemos o presidente das Indústrias Hudsucker (Norville Barnes), nos últimos minutos de 1958, abrindo a janela do seu escritório no 44o andar para cometer suicídio. Com grande inventividade narrativa, o tempo para e temos um flashback da sua carreira: como ele subiu tanto para cair tão rápido?

Incerteza, sincronicidades, carma, a responsabilidade ética e moral das ações. Todos esses temas que marcam a filmografia dos irmãos Coen estão presentes nesse filme (o próximo seria o premiado “Fargo” de 1996). Mas em a “Roda da Fortuna”os Coen aprofundam no arquétipo que estrutura todos esses temas: o Tempo.

Norville Barnes é um idealista recém-formado estudante de administração que chega à Nova York vindo do interior. Com uma invenção na cabeça que, acredita, fará sua fortuna (um círculo desenhado num papel – “para crianças, claro”, diz) quer começar de baixo para honestamente subir na carreira.

Paralelo a isso, após o bem sucedido presidente das Indústrias Hudsucker (Waring Hudsucker) estranhamente cometer suicídio, o conselho de administração, liderado por Sidney Massburger (Paul Newman) surge com um brilhante plano para enriquecer a todos: nomear um idiota notório para dirigir a companhia, trazendo pânico para os acionistas que se desfariam dos seus papéis. Imediatamente os membros do conselho comprariam de volta as ações desvalorizadas a centavos para, dessa forma, deter o controle e os dividendos da empresa que rapidamente voltaria à lucratividade de antes após a deposição do presidente fantoche.

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